A IDADE DA PEDRA
www.google.com.br/images Dos homens e mulheres das cavernas destrinchando nos dentes sua caça, passando pelo uso de talheres até a alimentação dos astronautas...a construção da humanidade e sociabilidade humanas ao longo do tempo.
Sérgio Antunes de Freitas
Muitas filosofias e religiões usam da comparação entre os homens e as pedras para transmitir seus ensinamentos.
Em comum, asseveram que todo homem nasce como uma pedra bruta, a ser lapidada durante a vida, pela observação, pelo estudo, pelo trabalho.
Pedra que rola não cria limo, diz o ditado popular, tentando mostrar, principalmente aos jovens, a importância da paciência, da perseverança, do valor de não agir por impulsos emocionais.
Mas, contrariamente, em outra interpretação, é pelas viagens, pela busca do conhecimento e das verdades, que as pedras, pela rolagem, pelo desgaste de suas superfícies, vão se tornando menos ásperas.
Em toda a história da humanidade, nas construções das diversas civilizações, são usadas pedras em variadas composições arquitetônicas e esculturais. Aos arquitetos cabe procurar suas faces mais semelhantes, mais complementares, para encaixá-las, formando muros e paredes.
Da mesma forma, os homens devem procurar as faces compatíveis de seus semelhantes, para que a proximidade seja efetiva. Assim, as pedras podem ser sobrepostas ou justapostas, com maior segurança. Quanto mais faces lisas, maior a receptividade para o encaixe, para o abraço. As faces onde há divergências, ressaltos, aparentes irregularidades, ficam em posição oposta, onde se encontrarão com outro par compatível.
Dessa forma, são feitos os palácios com a finalidade das artes, dos esportes, das ciências, dos cuidados à saúde dos semelhantes, da educação aos filhos de todos.
Individualmente, cada elemento apresenta claramente suas imperfeições, mas, coletivamente, com objetivos em comum, formam muralhas belas, que duram milênios. É a mais concreta ilustração do companheirismo, da fraternidade, da temperança, da aceitação dos aspectos idiossincráticos de nossos semelhantes.
Nos arcos, as pedras são trabalhadas previamente, assim como no processo de formação de profissionais, para que seus encaixes sejam justos e, perfeitamente, suportem não apenas o próprio peso, mas também o de paredes superiores, formando portas e janelas, necessárias para a passagem da luz, que se espalhará por todos os espaços da construção.
E, se forem pedras bem brunidas, poderão elas próprias refletir a luz que recebem, ajudando a que outros evitem os preconceitos e os erros.
A pedra isolada na natureza acaba sofrendo desgaste por estar mais sujeita às intempéries. Em grupo, não. Por isso, a solidão também é um estado que, embora sofrido, permite o aprimoramento do caráter, elevando, por exemplo, o sentimento de amor ao próximo, em razão de obrigatória meditação.
Muitos usam de subterfúgios, a fim esconder suas imperfeições, mediante o cultivo do consumismo, da vaidade, do individualismo, mas esse é apenas um cimento superficial e frágil que, em pouco tempo, se esfarela, levando o agente ao desapego de bens materiais ou mesmo à ruína, ao colapso de suas estruturas, ao arrependimento.
Interessante é ver quando uma pedra é jogada contra outra. Ambas se lascam, perdendo ângulos e arestas, às vezes, obtidos com muitos sacrifícios do labor. Pode-se comparar o fato às agressões entre os homens, com as conseqüências prejudiciais para os dois lados.
Nas fortalezas, ao longo do tempo, os movimentos imperceptíveis entre os blocos de pedras vão desgastando arestas mínimas, fazendo com que os encaixes se tornem mais precisos e as construções cada vez mais estáveis. É o efeito da amizade entre os homens.
Também com o tempo, o homem virtuoso vai aprimorando o seu caráter, buscando tornar-se um seixo rolado.
Podemos chamar a velhice de idade da pedra.
Mas polida!
E, de tão polida, indefinidamente polida, far-se-á o pressuposto da Gênesis: “No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.”