GRILO POLÍTICO
Sérgio Antunes de Freitas
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Ontem, quando me dei pela situação, quase de madrugada, só eu estava
acordado em casa.
Eu via um jornal na televisão, no qual aparecia um deputado federal
discursando na tribuna da Câmara. Era aquela ladainha costumeira, demagógica,
destituída de qualquer novidade ou verdade. Do ponto de vista sonoro, nenhuma
harmonia e aquele rítmo tradicionalmente pobre.
Desliguei o aparelho, fechei portas e janelas, como de costume, e fui me
deitar placidamente.
Já deitado, ouvi a cantiga de um grilo. Ele deveria estar justamente na
sala, pela proximidade do ruído.
De primeira, veio uma piadinha previsível na minha cabeça: - Será que eu
me esqueci de desligar a televisão?
Ora! São sons da natureza, pensei depois. Eu não teria o desplante de me
levantar e matar um inseto indefeso, só por que ele estava me incomodando um
pouquinho.
Tentei me abstrair do barulho e dormir simplesmente.
Alguns minutos depois, veio a dúvida: - O silêncio da noite está
tornando o ruído mais audível ou o grilo se empolgou? Será que chegaram outros
grilos apoiadores na platéia?
Levantei-me da cama e fui à sala, não para matar o bichinho, mas para
espantá-lo ou colocá-lo para fora de casa sem ferimentos.
Aí, ele se calou, o que é lógico, quando um perigo se aproxima dessas
criaturas pequenas.
Procurei o orador e não o encontrei em lugar algum.
Votei com o relator e voltei para a cama. E ele voltou a guizalhar.
É! É assim que se diz do som estridente emitido pelos grilos ou
cigarras. Talvez, também, parlamentares!
Já era uma hora da manhã e eu comecei a me preocupar com a relação entre
tempo de sono e disposição matinal. Pôxa, eu pago meus impostos corretamente e
ainda tenho que ouvir isso?
O grilo não parava. Voltei para a sala e ele voltou a se omitir, em uma
atitude que considerei rasteira, sem nobreza, sem dignidade, ferindo o decoro.
Meio que perdi o sono e fiquei procurando o inseto, também no sentido
de insignificante, desprezível, como são alguns indivíduos depois que se
elegem.
Assim como a maioria do povo brasileiro, ninguém da família havia
acordado. Só eu que não descansava.
Duas horas da manhã, o despertador fantasiado de bomba-relógio, e eu
retornei à cama, sempre esperançoso, sem desistir nunca.
Como dizia a poesia, veio um profundo silêncio. Entrei no segundo
estágio do sono, em direção ao décimo-quinto.
Pensamentos desconexos, imagens sem significado, relaxamento total e
cri-cri-cri...
- Agora, esse grilo intratável pulou o corguinho! Eu vou matá-lo.
Arrasto todos os móveis da sala, acordo todo mundo no edifício, enfrento o
síndico, a associação de defesa dos animais, a polícia florestal, a vigilância
do Congresso, o exército do Vaticano, mas extermino esse nojento.
Claro, o marginal se fez de morto, mais uma vez!
Lamentei minha ignorância. Se eu tivesse estudado mais, conheceria a
filosofia e o comportamento desse ortóptero infeliz, podendo, assim,
enfrentá-lo com mais recursos. Talvez abrindo a porta certa que o induzisse a
sumir. Talvez produzindo um ruído ou perfume que o confundisse e o levasse à
meditaçao em silêncio.
Acabei acertando, sem querer. Dormi no sofá, com a luz acesa, porém com
o merecido silêncio dos bons. E o grilo caladinho, como se tivesse viajado para
visitar suas bases. Covarde!
Acordei sonado, mas ainda olhei nos cantos da sala, para ver se
encontrava o transgressor em algum gabinete.
Tudo bem! Dessa vez, ele escapou. Mas se a coisa se repetir, vou
encontrá-lo e fazer com ele exatamente e sadicamente aquilo que tenho vontade
de fazer com os corruptos de nossa República.
http://flitparalisante.wordpress.com/2012/03/13/bem-vindo-ao-clube-demostenes-torres-mais-um-promotor-de-justica-secretario-de-seguranca-amigo-da-contravencao."O senador esqueceu que defensores da lei não podem ter bandidos de estimação"
Sérgio Antunes meu filho,
ResponderExcluirDe tudo que já li de sua pessoa, essa crônica(apólogo(?)- depois que li lembrei Machado de Assis, Millôr) está perfeita e deliciosa e cai como uma luva para esse momento de alta corrupção no Brasil. E também pensei que para acabar como o grilo da corrupção talvez fosse melhor "dedetizar" os políticos corruptos, umm ddt-binladen! he, he, he. Parabéns! Bj. Marina