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domingo, 22 de dezembro de 2013

BRAZIL: PROBLEMA DE VISÃO.

SIGLAS E CÓDIGOS
www.google.com.br/images. Essa   é  a  sigla do  partido liberal  alemão; no  Brazil  FDP é abreviatura sigla   de  um  xingamento,  especialmente  para políticos liberais  ou não!

Sérgio Antunes de Freitas

A sigla é uma usurpadora do código.
A sigla, muitas vezes, é usada para facilitar a referência ao nome do código. Mas não é confiável, é pedante e, às vezes, falsa.
O código, conhecido na linguagem dos sistemas como chave ou chave única, é sincero, preciso, inconfundível.
O CPF, sigla do Código de Pessoa Física, é um código que identifica perfeitamente o Raimundo Nonato da Silva. Existem centenas de Raimundo Nonato da Silva, mas cada um tem o seu CPF, assim como o seu DNA, sigla do ácido desoxirribonucléico.
www.google.com.br/images
Com o código, não há confusão de nomes ou siglas. Mas as pessoas são obcecadas pelas siglas e não são, como deveriam ser, pelos códigos.
Certa vez, um colega da área de informática, conhecida na época por Centro de Acolhimento, Processamento e Seleção de Dados e Informações Fundamentais – CAPI, nome e sigla escolhidos depois de várias e cansativas reuniões de iluminados, me intimou a nomear o sistema com que eu trabalhava.
Expliquei que se tratava de um banco de dados alimentado por informações vindas de um aplicativo, um extrator de dados de um sistema de acompanhamento financeiro da União, ou seja, muito pouco para ser chamado de sistema. Mas ele insistiu que era e que deveria ter um nome.
Para me livrar do sujeito, batizei de Sistema de Extração Rotineira de Administração Financeira, vulgo SERAFIN.
Satisfiz a vontade do indivíduo, acredito, pois ele não mais me procurou.
Agora, fui vítima das siglas novamente, em caso bem mais sério.
Um oftalmologista me prescreveu um exame e o identificou com a sigla HUV.
Ao fazer o pedido de autorização, a atendente do Convênio não sabia do que se tratava e foi pesquisar. Como estava escrita com letra de médico, sugeri que ela procurasse não apenas a sigla HUV, mas a HUU, HVV, HVU, AUV e assim por diante.
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Era HUV mesmo e se referia a um exame denominado biometria ultrassônica. Liguei para o médico e confirmei que se tratava disso mesmo.
Foi difícil encontrar uma clínica com aparelhagem para tal novidade, um exame meio sofisticado.
Enfim encontrada, modifiquei minha rotina e, com a autorização em punho, fui à famosa clínica especializada.
Apresentei-me no balcão e ouvi: - Não fazemos este exame aqui.
- Como assim? Eu liguei para cá e me confirmaram que faziam – protestei.
A interlocutora justificou: - A telefonista deve ter informado errado.
Aí, exagerei: - Também... vocês contratam telefonistas sem diploma de medicina, oras!
Na segunda clínica, me garantiram que faziam o exame e, após cancelar a primeira autorização e obter a segunda, modifiquei a minha rotina e cheguei um pouco antes da hora, como é de meu costume.
Confirmei, com todas as pessoas que apareceram na minha frente, que se tratava do exame prescrito, até que um rapaz me pediu para adentrar uma sala e colocar meu rosto na frente de um aparelho.
Perguntei: - Este aparelho é ultrassônico?
Exame - Orbscan 
"Acuidade visual c/ laser (PAM); Biometria Ultrassônica; Campimetria Computadorizada; Curva Tensional Diaría (CTD); GDX (Analisador de Fibras Nervosas); Gonioscopia; Mapeamento de Retina; Microscópio Especular de Córnea; OCT (Tomografia de Coerência Óptica); Orbscan; Paquimetria Ultrassônica; Retinografia Fluorescente; Retinografia Simples; Teste Ortóptico; Teste de Lente de contato; Teste de Teller; Teste de Ischihara; Teste de Rosa Bengala; Tonometria de Aplanação; Topografia Corneana (Ceratoscopia Computadorizada); Ultrassonografia do Globo Ocular."

Depois da resposta negativa e muitas explicações desnecessárias e decoradas, pedi que olhasse o pedido, pois não era apenas uma biometria simples. Logo depois, veio um médico e me informou que a clínica não fazia o exame pedido e que os funcionários tinham se confundido.
Nem chorei! Voltei para cancelar a guia.
Então, de repente, me telefonaram, informando que uma clínica nova, instalada em prédio de luxo, enfim, fazia o tal exame.
Mesmas histórias: cancelamento de autorização, nova autorização, quebra de rotina, comparecimento antes da hora marcada, confirmação com todos os funcionários etc.
A atendente aplicou um colírio e começou a encostar uma caneta com uma luz parecida com ultravioleta nos meus olhos. O aparelho do qual saía o fio da caneta começou a apitar e espalhar luzes estroboscópicas em seu visor, o que me deixou até meio psicodélico. - Ôba – pensei, se não for ultrassônico, é hipersônico, estereofônico, anacrônico, jônico, daltônico, babilônico, biotônico, catatônico ou coisa assim! E foi uma festa de sons, luzes e cores.
Finda a brincadeira e uma pequena espera, a médica responsável pela assinatura do laudo me chamou em seu consultório. Depois de algumas perguntas sobre o problema oftalmológico em questão, informou: - Senhor, o exame que seu médico pediu é outro e nós não fazemos aqui. O Senhor foi submetido a outro procedimento. Pedimos desculpas!
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Eu fiquei olhando para ela e rindo, pois ela também me parecia psicodélica e surrealista!
Se todos, desde médico até atendente, usassem um código para procedimentos médicos, de preferência impresso, assim como usam o Código Internacional de Doenças, o CID, não seriam desperdiçados recursos e energia à toa. Nem haveria tantos aborrecimentos.
Como diz o humorista José Simão, o Brasil é o país da piada pronta. Acho que também é o da crônica pronta.

Sérgio Antunes de Freitas
15 de dezembro de 2013

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