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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

BRAZIL: A JARDINEIRA



A jardineira

 Zé Pi

Lá do alto, me lembro bem, a poeira vermelha anunciava a chegada da jardineira que me encantava em todos os seus detalhes; até o cheiro do vapor de gasolina e poeira pareciam perfumes. Subir na jardineira, abrir e fechar os vidros, ir lá para o fundo e olhar a rua... As casas ficando para trás... Lá do bar do Nô, os parentes acenando para os passageiros nas janelas... Depois, tal qual no poema de Manoel Bandeira, passava cerca, passava árvore, passava poste, passava boi, passava boiada, passava galho de ingazeiro, debruçado no riacho... Realmente dava vontade de cantar, mesmo com lágrimas... Lá do fundo do coração, Meu Deus... 
Pois é, Seu Neném Borges o motorista e o Virgílio do Zé Camilo, o ajudante, carregados de recados, bilhetes, cartas, encomendas, tudo na cabeça, aqui devolve o latão de leite, lá na frente entrega uma peça para o arado, volta correndo e pede para alguém entregar a caixa de remédios para Dona Orora...Relógio a essas alturas vai servir pra que? Pára depois da ponte de madeira do Brejinho da Serra, na beira da estrada, enche um galão d’água e completa o radiador fervendo da velha F8.
A jardineira sempre me devolve à infância, deitar na grama de barriga pra cima, chupando cana, olhando os urubus, as nuvens, passeio no mato, andar de cavalinho nas costas da tia Lídia, colher melão-de-São Caetano, araticum cagão, murici, correr de cobra coral, picada de marimbondo chumbinho, deslizar no lajeado do Córrego da Capivara, voltar cançado, e à noite, olhar o céu e contar as estrelas e tentar entender aquela mancha brilhante que meu avô ensinou ser um caminho de leite.
Mesmo morando num apartamento com uma grande área que até parece quintal, olho para o meu céu de não sei quantas estrelas, fracionado pelos cumes dos prédios, e a paz violentada por turbinas de avião e sirenes de radiopatrulhas.
Encontrei na internet outros meninos “como eu” que sonham com uma jardineira, lá de São Paulo... Como o mundo é pequeno de chão, mas, cheio de corações inundados de infâncias que se foram... Como se foram as velhas jardineiras!



2 comentários:

  1. Gente, que memórias deliciosas!... Lágrimas nos olhos, recordando essas experiências tão saborosas. Tudo narrado de maneira simples e cheia de encanto.
    Ah, jardineira... eu era criança e adorava embarcar, para novas aventuras. A*do*rei! Beijos, Angela
    http://noticiasdacozinha.blogspot.com

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  2. Obrigado Angela, muito obrigado por gostar da minha crônica.Para você um Feliz Natal e 2013 cheio de saude e paz.
    Zé Pí

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