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quarta-feira, 1 de abril de 2015

BRAZIL: CIRURGIA É...ADRENALINA PURA!

ADRENALECTOMIA

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Sérgio Antunes de Freitas

Fui submetido a uma cirurgia, cujo nome intitula este texto. É tão difícil a palavra, que a gente só consegue escrever uma vez!
Com esse nome feio, retira-se a adrenal, glândula também conhecida como suprarrenal, pois fica acima do rim, em decorrência, por exemplo, de um tumor benigno na maioria dos casos. Atualmente, também na maioria dos casos, a intervenção é executada mediante a laparoscopia, técnica pouco invasiva, que exige apenas três furinhos no bucho do cidadão.
Como não costumo ganhar na loteria, a minha cirurgia foi a de ventre aberto, por força das circunstâncias. Sabe como é: adrenal, aventura, esporte radical, adrenalina, essas coisas!
Antes do evento, recomendei aos meus familiares e amigos próximos: - Não quero visitas no hospital, nem em casa, nem telefonemas de ninguém. Não avisem ninguém. Perto de mim, só a equipe médica e os familiares que vão cuidar do moribundo.
Fui execrado! Chamaram-me de antissocial, bicho-do-mato, insensível, extraterrestre, neurótico, psicótico, antibiótico!
Entretanto, justifico facilmente minha falta de glamour.
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Não vim ao mundo a passeio. Vim por turismo! E isso, embora seja lazer, exige respeito ao lugar alheio. Daí minha preocupação em mudar os costumes que julgo errados. Um deles é a tradicional visita a doentes.
Dos tempos do Brasil ruralista, vem o costume de visitar a comadre enfermiça. Você encontra a mondronga com uma cesta de plástico no braço, a mesma que já esteve pendurada no mourão da pocilga, do galinheiro, carregou filhotes de cachorros, e pergunta aonde ela vai.
- Eu vou visitar a Comadre Zainha que está de cama. Vou levar um doce de cidra que ela adora, um de casca de mamão e uma goiabada.
- E o que ela tem? - pergunta-se.
- Parece que é uma tal de “diabetis”!
E existe o engraçadinho, aquele infeliz que até anota piadas para fazer o enfermo rir. Depois, ele vai embora com o sentimento do dever social satisfeito e o mazelento passa a noite rolando de dor com os gases abdominais.
Muitas vezes, os telefonemas atenciosos, longos e em quantidade levam ao mesmo resultado.
A medicina deveria ser mais rigorosa e proibir a “visitinha amiga” em qualquer caso de convalescença.
Oras, todos sabem, a pessoa encontra-se debilitada e mais sujeita a uma infecção, uma virose, um resfriado trazido pelo carinho dos muito amigos, que dispõem de toda a vida para demonstrar seu afeto!
E aí, podem perguntar, quando o encontro deve ser liberado?
Sob o aspecto clínico, é o médico quem determina, claro! Entretanto, isso não é suficiente!

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Além desse limite, é o paciente que deve dizer quando vai liberar o “social” e deve ser no momento em que ele tenha a certeza de poder tossir ou espirrar, sem sentir dor nenhuma.
Imagina um acesso de tosse com trinta pontos recentes na barriga! Prestaram atenção nisso, fumantes?
Tive a mais absoluta certeza da importância de alterar esses maus costumes em meu terceiro dia pós-cirúrgico.
Ao iniciar um banho cuidadoso, veio uma vontade imensa de espirrar. Eu até plantei bananeira no box, para evitar o infortúnio!
Consegui evitar a tragédia e, pela primeira vez na vida, não senti aquela frustração dos tempos de normalidade.
Enfim, meus amigos, comadres e compadres, não estou me desculpando por não ter avisado vocês de minha internação. Apenas justificando, de forma coerente com meus princípios.
Dentro de mais alguns dias, você poderão me visitar sem problemas. Podem até trazer uns doces da roça, curau, pamonha, empadão goiano, pão de queijo, cuscuz nordestino, cuscuz paulista, pernil, queijo fresco, licor de jabuticaba, frutas cristalizadas, legumes em conservas, bolo de mandioca, pudim de leite, suco de graviola, bombom de cupuaçu. Ah! E uma cachacinha bem brasileira!
Não se acanhem!

Sérgio Antunes de Freitas
31 de março de 2015

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