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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

BRAZIL: ALEMANHA versus CRISE? I'M THE BEST FUCK THE REST!

paul krugman

 


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04/11/2013 - 14h33

Aqueles deprimentes alemães

Paul Krugman
As autoridades alemãs estão furiosas com os Estados Unidos, e não só por conta da escuta no celular de Angela Merkel. O que está lhes causando raiva, agora, é um (longo) parágrafo em um relatório do Departamento do Tesouro norte-americano sobre política econômica e políticas cambiais. No parágrafo em questão, o Tesouro argumenta que o grande superávit da Alemanha em conta corrente - um indicador amplo quanto à balança comercial - é prejudicial, criando "uma distorção inflacionária na área do euro e também na economia mundial".
Os alemães, zangados, descartaram o argumento como "incompreensível".
"Não existem desequilíbrios na Alemanha que requeiram correção de nossa política econômica e fiscal favorável ao crescimento", declarou um porta-voz do Ministério das Finanças alemão.
Mas o Tesouro norte-americano estava certo, e a reação alemã foi perturbadora. Para começar, foi um indicador da continuada recusa das autoridades econômicas da Alemanha, da Europa como um todo e, aliás, do mundo em geral, de encarar a natureza de nossos problemas econômicos. Além disso, demonstrou a desafortunada tendência da Alemanha de responder a qualquer crítica de suas políticas econômicas se fazendo de vítima.
Primeiro, os fatos. Vocês se lembram da síndrome da China, na qual a maior das economias asiáticas continuava a acumular imensos superávits comerciais graças a uma moeda desvalorizada? Bem, a China continua a manter superávits, mas eles caíram. Enquanto isso, a Alemanha ocupou o lugar que era da China. No ano passado foram os alemães, e não os chineses, que ficaram com o maior superávit mundial em conta corrente. E medido como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), o superávit alemão é mais de duas vezes superior ao da China.
É fato, eu sei, que a Alemanha vem acumulando superávits há quase uma década. No começo, porém, esses superávits eram compensados pelos grandes deficit no sul da Europa, financiados por grandes influxos de capital alemão. A Europa como um todo continuava a ter equilíbrio em seu comércio externo.
Mas veio a crise, e os fluxos de capital para a periferia da Europa estancaram. Os países devedores foram forçados - em parte por insistência da Alemanha - a adotar medidas severas de austeridade, que eliminaram seus deficit comerciais. Mas algo deu errado. O estreitamento dos desequilíbrios comerciais deveria ter sido simétrico, com os superávits alemães encolhendo em companhia dos deficit dos devedores. Mas em lugar disso, no entanto, a Alemanha não conduziu qualquer ajuste; os deficit na Espanha, Grécia e outros países encolheram, mas o superávit alemão não.
Isso fez muito mal à Europa, porque a incapacidade da Alemanha para se ajustar amplificou o custo da austeridade. A Espanha, o mais deficitário dos países antes da crise, serve como exemplo. Era inevitável que a Espanha enfrentasse anos duros, para aprender a viver de acordo com seus recursos. No entanto, não era inevitável que o desemprego espanhol chegasse a quase 27%, e o desemprego da juventude a quase 57%. E o imobilismo da Alemanha contribuiu fortemente para as dores da Espanha.
E também prejudicou o resto do mundo. É pura questão de aritmética: já que o sul da Europa foi forçado a eliminar seu deficit enquanto a Alemanha não reduzia seu superávit, a Europa como um todo vem acumulando grandes superávits comerciais, o que ajuda a manter deprimida a economia mundial.
As autoridades alemãs, como vimos, respondem a tudo isso com declarações raivosas de que a Alemanha se comportou impecavelmente. Lamento mas, a. isso não importa; e b., tampouco é verdade.
Por que isso não importa: cinco anos depois da quebra do banco Lehman Brothers, a economia mundial continua deprimida, sofrendo de persistente escassez de demanda. Nesse ambiente, um país que mantenha superávit comercial está simplesmente se beneficiando da desgraça dos vizinhos. Está desviando dinheiro que poderia ser usado para comprar bens e serviços deles e atraindo-o para sua economia, e com isso está eliminando empregos nos demais países. Não importa que o esteja fazendo por maldade ou com as melhores intenções: é o que está fazendo, sem mais.
Alem disso, a realidade é que a Alemanha não é inocente. O país compartilha de uma moeda com seus vizinhos, o que beneficia muito os exportadores alemães, que formam os preços de seus produtos em euros em lugar de fazê-lo em marcos, uma moeda que a essa altura estaria em disparada. Para evitar uma depressão, o país teria de gastar mais quando seus vizinhos fossem forçados a gastar menos. E não é o que vem fazendo.
As autoridades alemãs não aceitam qualquer dessas coisas. Elas veem o seu país como um exemplo cintilante a ser emulado por todos, e o desagradável fato de que não podemos todos acumular superávits comerciais gigantescos simplesmente lhes escapa.
E o fato é que isso não vale só para os alemães. O superávit comercial alemão é prejudicial pelo mesmo motivo que cortar a assistência alimentar e os benefícios-desemprego nos Estados Unidos resulta em destruição de empregos -e os dirigentes do Partido Republicano são mais ou menos tão receptivos quanto as autoridades alemãs a qualquer pessoa que tente apontar seu erro. No sexto ano de uma crise econômica mundial cuja essência é que não há gasto suficiente, muitas autoridades econômicas continuam a não compreender a realidade. E parece que jamais o farão.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
paul krugman
Paul Krugman é prêmio Nobel de Economia (2008), colunista do jornal "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Um dos mais renomados economistas da atualidade, é autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados.

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