SUMIU!!!
Por Denise Paiva
Boa tarde pessoal.
O olhar Marina da Silva sobre o Brasil e pelo mundo! AQUI É TOLERÂNCIA ZERO COM A INTOLERÂNCIA, AFINAL SOMOS TODOS HUMANOS!
SUMIU!!!
Por Denise Paiva
Boa tarde pessoal.
BRAJECA
Sérgio Antunes de Freitas
Brazuca é um nome usado no exterior, para designar coisa ou pessoa oriunda do Brasil.
Em alguns casos, é depreciativo ou zombeteiro! Em outros, é dito pelos próprios brasileiros no exterior com algum orgulho.
Muitos vão viver em países estrangeiros e, por desconhecimento dos costumes locais, acabam cometendo gafes, significando falta de educação, mesmo sendo engraçadas às vezes. Coisas de brazucas!
Com o tempo, principalmente se estiverem em países desenvolvidos, vão se aculturando e se mimetizam como se fossem gentílicos. Perdem o sotaque, passam a gostar da culinária típica e a torcer pelas equipes esportivas do país.
Quando se adaptam em definitivo nesses países, tarefa fácil em bons locais, não voltam mais para a terra natal, mesmo com o incômodo das saudades.
Já aqui, no solo pátrio, temos uma outra categoria de brasileiros, os brajecas.
Esses protótipos de personagens do cineasta Amácio Mazzaropi vivem, geralmente, em cidade provincianas, consideradas o centro do mundo por eles.
E, mesmo vivendo em metrópoles, continuam sendo caipiras, não no sentido romântico dessa palavra, refletidora da simplicidade, do bucolismo, do sorriso fácil, da simpatia, da gentileza, da humildade, do acolhimento, da hospitalidade, mas na acepção da ignorância política e social.
Os brajecas, por exemplo, admiram os militares, dizem. É medo, mas eles não confessam ou nem sabem disso, por ser um sentimento inconsciente. Então, sonham em ver os brajequinhas seguindo a carreira de Caxias ou semelhantes.
Modernizados, assistem ao jornal de TV, leem algum pasquim local e recebem as mensagens de “zap-zap” do tiozão. Nelas, acreditam sem questionamentos. Amam quem concorda e odeiam quem discorda de seus conteúdos.
Com toda essa instrução de altíssimo nível, entendem absolutamente tudo do universo.
Pela ecologia, cuidam de passarinho em gaiola e levam o cachorro para passear.
Discursam sobre Dinamarca, Venezuela, Cuba, China, como se tivessem morado nesses países por mais de 10 anos em cada um e conhecessem profundamente as suas histórias. Quando alguém cita a Constituição Federal, nunca lida por eles, no artigo relativo ao respeito à autodeterminação dos povos, encerram o assunto, dizendo: - Besteira! Essa Constituição foi feita por comunistas.
Mesma resposta para a Declaração Universal dos Direitos Humanos, também
nunca lida.
Mas são viajados, sim! Vão para praias e, chegando lá, primeira medida, postar uma selfie com o oceano ao fundo. Fazem isso para ver sua imagem e pensar como são felizes e bem sucedidos. E para mostrar aos amigos! Seus espaços nas redes sociais são uma espécie de coluna social personalizada.
No exterior, também vão em grupos ou excursões. Há uma certa preferência por Miami, para aquisição de eletrônicos e enxovais. Aproveitam para admirar as exuberantes tecnologias e as pistas de asfalto “que parecem um tapete”. Carros modernos e combustíveis baratíssimos. Eles veneram carros e motos!
Na Europa, cansam de tirar fotos iguais às da Internet e das comidas nos restaurantes. Nos castelos, boquiabertos, sentem-se como se estivessem em bailes das cortes no século XIX.
Brajecas sonham em ser nobres, não cidadãos.
Quando voltam, dizem maravilhas da educação do povo, dos transportes públicos de boa qualidade, da segurança pública de alto nível, naqueles países visitados. Mas são incapazes de lutar pelas mesmas coisas aqui no Brasil, onde são conservadores. Retornam às suas bolhas, como se tivessem apenas visto um filme em três dimensões.
Contudo, na atualidade, eles são muito parecidos com outros brasileiros de mesmas condições financeiras e de vida semelhante.
Como diferença, não têm o mínimo discernimento do que seja país desenvolvido e subdesenvolvido nem compreensão do que seja política pública ou justiça social.
Nem têm autonomia intelectual.
Sérgio Antunes de Freitas
Julho de 2021
O QUE NÃO PODE NEM DEVE
Marina da Silva
O que não deve e não pode
vir à luz ou suspeitado nas trevas
Está em todas as bocas
O que se fala em quatro
paredes, o que se trama no escuro e no fundo de uma sala, numa caverna, numa
troca de olhares no parlamento, na alcova de um monarca, em conciliábulos
O que se faz escondido no
banheiro, o que não deve e nem pode sair dos gabinetes, da caserna, QUARTÉIS
Está escancarado nos sorrisos e nos olhos refletidos em mensagens do What’sApp, Facebook, MSN, Google, Youtube, Instagran
Tuitado de lá pra cá de
galáxia em galáxia
Aquilo que deve ser
engolido pelo buraco negro
Está no ciberespaço em
redes interconectadas em todas as línguas, dialetos e linguagens
O que não deve está nas
ruas, está nos outdoors e cartazes espalhados pelas cidades, escrito no cimento
e asfalto
Violência, racismo,
homofobia, misoginia, GLBTQIA+fobia, xenofobia
Morte... cortem as
cabeças, ateiem fogo nos corpos, reduza à cinzas vagabundos, sem-teto, sem-terra, mendigos, favelados, indígenas e quilombolas
Explodam o Supremo
Tribunal Federal
Intervenção militar, fim
da democracia
Culto ao machismo, meninas vestem rosa, meninos usam azul
Estupro e assassinatos de mulheres, meninas e meninos
Bebês, crianças,
adolescentes, adultos e idosos
De todo credo e crença,
cor de pele
Sem distinção de sexo e
sexualidade
Usando cores de bandeira
nacional pintada na cara e na pele
Cantando hino do país e
fazendo dancinhas, aplaudindo descaradamente
Esganaduras, facadas, corpos incendiados junto com suas casas, desfiguração com ácidos, bombas incendiárias, surras, voadoras, tapas na cara
Murros no rosto da
vendedora
E de qualquer um que cobre
o uso obrigatório de máscaras na mortal pandemia
***
Invasão de hospital e
militar cinco estrelas ameaçando enfermeiro que exigiu medidas simples, básicas, USO DE MÁSCARA em uma pandemia que ceifou em poucos meses mais de meio milhão de vidas.
Não use máscaras, não lave
mãos, não tome banhos, não tome vacinas
É só mimimi esquerdopata
Porque não existe
pandemia, o vírus foi inventado na China, a vacina Coronavac vai implantar chip com o vírus
comunista, vai alterar seu DNA
Quem toma vacina vira jacaré, o que cura é cloroquina, gente morre todos os dias, eu não sou coveiro, cada um cuide de seus velhos, sou atleta não pego vírus, é só uma gripezinha
Mito eleito presidente, um asno espalhando mentiras, engavetando contratos de compra da vacina, cobrando propina, CPI da Covid-19, aberta tão tarde, quando atingiu quatrocentas mil mortes
Oitenta, cento e onze e-mails não lidos para
compra da vacina Pfizer, foram engavetados por meses, não foram respondidos pelo general, homenzinho pazuello, general dez estrelas que sentou seu cuzão sobre a liberação de compra das vacinas a mando do ex-capitão genocida
***
#bolsonarogenocida #aculpaédoeleitor cinquenta e sete milhões de votos
Mais de meio milhão de vidas perdidas............; tristeza, luto e dor
Ilícitos na compra de tudo, do hospital de campanha ao oxigênio para respiradores e Manaus, dentro do pulmão do mundo, a Amazônia, chora e sangra de dor.
À violência nossa de cada dia, juntou-se a violência e genocídio dos mais pobres a pandemia Covid-19
***
Oitenta e oito tiros num
cidadão cristão no Rio de Janeiro por um cidadão cristão fardado e armado até os dentes
113 tiros
Cento e treze tiros em
Lázaro queimando arquivo onde não existe mais cerrado, só soja, mineração,
venda ilegal da madeira
A lei e ordem do ministro do
meio ambiente e defesa da Amazônia ricardo salles.
Dois tiros, um nas costas,
outro na cabeça e no B.O da polícia mineira “resistência à autoridade”. Direito de matar num país que é contrário constitucionalmente a pena de morte
Chora pai, chora mãe,
cobram filhas, irmãs, as viúvas inconsoláveis
Quem matou Anderson Gomes e a vereadora Marielle Franco? Onde está Amarildo? E os três meninos onde estão? Quem levou Lucas Mateus, Alexandre e Fernando Henrique de Belford Roxo, Baixada Fluminense?
E a polícia de Minas Gerais ainda recusa o que já é obrigatório: uso de câmeras na lapela da farda.
Filme,
grave, fotografe e jogue nas redes o que eles calam falsificando B.O’s
O tiro atravessou a parede
e matou a criança no pátio da escola, banho de sangue numa incursão contra o
tráfico, tiros na cabeça e nas costas, cotovelos e tórax para proteger as
crianças das drogas na favela Jacarezinho?
Nem todos tinham passagem
na polícia o que não faria qualquer diferença para o delegado civil chefe da
chacina
Eram bandidos e datena
cobra na Tv Bandeirantes anos à fio:
bandido bom é bandido morto!
CPF CANCELADO
Canalha, datena, ratinho,
sikera jr, witzel, crivella, a familícia #b17, verdadeiros canalhas que querem
controle da cocada boa, cocada branca e
cocada preta
***
Anos criando paisagens de
medo e horror, incitando a morte de pretos, pobres, periferias, favelados; é o
estado do Estado da Elite do atraso nos seus braços armados oficiais e
milicianos e na mídia.
A
vida é loka mano, por mais RacionaisMc’s que sejam os
humanos, é muita desumanidade e selvageria ininteligível
Um tiro mata o bandido,
113 tiros matam a humanidade, a justiça, a democracia, o devido processo legal, todo o sistema
judiciário
Predominam vingança,
justiceiros, milícias oficiais nas cinco regiões geográficas em todos os estados, em cada município; é disputa pela mais valiosa mercadoria do mundo: controle
do tráfico de drogas e armas. Banho de sangue em presídios.
***
Violência e ódio, mentiras e maledicências, armas em
uso na política elegem cada vez mais
cristãos: reverendos, pastores, guardinhas de trânsito, policiais civis e
militares, polícia federal, delegados, um exército de rapinagem da mais baixa até alta patente... corrupção
e crimes abomináveis
Tudo à vista, tudo às claras, ameaças de supressão do corpo, morta a Constituição Federal, ameaçam golpe de estado, intervenção militar com mais de seis mil militares em todos os cargos e postos-chaves do poder para o assalto à nação
E os Estados Unidos? Permanecem calados, deixando negligentemente sua super colonia latina aberta para gregos, troianos, ingleses, russos, China e Alemanha.
Ódio, violência, intolerância pulou das ondas dos rádios, das telinhas das tevês para as telas dos computadores e celulares e tablets
A fraqueza e corrupção do
caráter humano, a orgia e culto às mentiras e a abomináveis vícios, os racismos
de cunho nazifacistas aumentam a sede do sangue e corpos dos pretos, pobres,
gays, lésbicas, trans, indígenas e quilombolas, mulheres
Já era ruim quando só a Globo
globalizava paisagens de horror, violência contra ppp’s (pretos, pobres,
periferia), seu culto de racismo tontinho, piada
A internet e as redes
sociais potencializaram o poder de espalhamento em tempo real e em qualquer
espaço do planeta a intolerância e ódio para garantir a Casa Grande dominando A
Senzala
Justificando e cimentando
ou tentando não deixar romper o super concreto incutido na formação social das mentes do Oiapoque ao Chui: aqui o povo é manso, tolo, sub-humanos, povinho
vira-lata, burro, malandro, mau-caráter, preguiçoso e feliz. Bando de macacos!
Espalhar ódio e mentiras
matou a democracia, tão jovem e tão frágil: Cunha é corrupto, mas está do nosso
lado. E qual é mesmo o lado?
Ódio, raiva, rancor,
intolerância, não aceitação da diversidade em nome de um patriarcalismo arcaico e moralismo religioso fake ressuscitado por gente como a pastora damaris que toma Todynho em copo no
formato de piroca usando sempre a cor rosa
***
O que não devia vir à luz hoje está escancarado
O que se deve esconder porque nos vilaniza e nos torna humanos rebaixados orientou o totalitarismo e nazifascismo e ainda no século XX ganhou fôlego no mundo e aqui a partir da eleição de um torneiro-mecânico, sindicalista, nordestino, pobre vai ganhar a república e faixa presidencial via ódio nas eleições de 2018, constitucionais e democráticas.
Rebaixamento de nossas
potencialidades, criatividade, capacidade de inovar e de construir um país mais
humano perdeu espaço
Ganhou a torpeza, a corrupção, a vilania, hipocrisia, maledicência, a canalhice e ganância e a corrupção fardadas ganhou apoio irrestrito
***
E tudo em nome da moral e bons costumes, em nome de Jesus Cristo, da pátria, Deus acima de tudo
gente simples, gente estudada vestiu uniforme de seleção de
futebol e bandeira nacional para combater os corruptos implorou aos militares intervenção já
O pior que existe
apregoado é diuturnamente espalhado nas redes sociais como piada e disputa de
torcida, só que neste estádio de futebol, do outro lado, a torcida falava
de tolerância, direitos sociais e trabalhistas, direito à saúde e
educação de qualidade, combate a fome, melhoria de renda e oportunidades
iguais, proteção às minorias, valores que estabilizam e não desestruturam famílias, cidades, estados, a nação.
O uso do ódio e violência como estratégia política de dominação sobre os 99% da população, gente humilde, baixa formação educacional, cultural, sobreviventes
Miseráveis, trabalhadores
pobres, baixa-renda, uberizados, e até a classe média inclusa - venceu! O diabo venceu e usando Jesus, o Cristo amor,
tolerância.
***
As mesmas táticas
nazistas, fascistas usadas no horror da Segunda Grande Guerra Mundial adotadas,
defendidas e espalhadas pelos neoliberais satanizando Jesus, agora persona non grata e comunista
O retorno ao Velho
Testamento, justifica a teologia da prosperidade e do deus capital, não mais o
bezerro de ouro e sim, o touro de bronze de Wall Street.
Como foi possível? Foi.
Resistir a esta
sociabilidade abjeta é construir um muro adamantino e encarcerar tudo isto de volta de
onde não deveria ter saído
Corte-se a língua e cale-se a voz do ódio e horror nos lares, nos bares, nos becos e nas praças, nas redes sociais
Corte-se os dedos, os
braços que espalham maledicências, a não-ciência, as fake news e portam bandeiras de defesa do indefensável
Corte-se o tórax, o fígado, os rins, os pulmões, as pernas, os pés
Para que não se use camisa da seleção futebol e emporcalhe a bandeira da nação, balance flamas de ódio, soltem balões de intolerância e conservadorismo religioso falseta
Para impedir a corrupção dos humores com ácido no estômago e intestinos, fel no fígado, ódio nos pulmões, rancor e ressentimentos nas veias e tudo de ruim que não se pode filtrar nos rins, interditar no pâncreas, bexiga e sair nos aparelhos excretores.
Jogue-se abaixo o cérebro
apodrecido, purifique-se pulmões contaminados por este ar pestilento e infecto que
vem boca a fora e em dedos ágeis no teclado do computador e celular espalham palavras de
intolerância, ódio, racismos contra o outro que sou eu, mas é diferente de mim.
***
É preciso resistir ao
sistema armado para nos corromper tocado por gente pobre de espírito, desnutrida intelectualmente e de moral e ética desqualificadas que
pregam a destruição e incute em nós uma diferença artificial que sustenta o
capitalismo
Que nos quer egoístas e
gananciosos, individualistas e egocêntricos presos em nossa casca, casco, ostra isolada e desempoderada.
Politicamente incorreto é incorreto politicamente, socialmente, economicamente, humanamente
É contrário a fé cristã, se o Cristo
aceito é Jesus de Nazaré.
É incorreto em qualquer
crença, e elas são milhares pelo planeta, cuja base é o amor, tolerância, a busca
de elevação espiritual.
ROUBARAM MEU VIOLÃO
Por Amanda Aleixo
Sentimento de ser roubado algo de valor sentimental é incrivelmente brutal. Me roubaram meu primeiro e favorito violão. Já estava com o som chiado, algumas partes lascadas, mas era meu melhor som. Aquele que quando estava triste pegava pra tocar uns arranjos melancólicos, também aquele que quando estava feliz sentava por horas e soltava as músicas que enchem meu coração.
Era o violão que contava um pouco da minha história, de quando com seis anos quis tocar a música bicho de sete cabeças, e com meu pequeno tamanho carregava um violão maior que eu. Contava um pouco da minha adolescência com todos os adesivos de super-herói que colei nas suas costas. Contava também os inúmeros encontros com amigos, sítios que fiz com minha galera.
Contava sobre meu aprendizado hoje, era sempre o violão que escolhia para tirar uma música nova, pra levar pra aula de roda de choro. Ter isso roubado de mim é terrível, meu violão é insubstituível.
Já me roubaram celulares, carteiras, tudo recuperei destes. As fotos, conversas, aquilo que me é realmente precioso está salvo em nuvem. Celulares comprei outros, carteiras e cartões arrumei novos, o material é fácil de substituir. Agora meu violão...O som que meu velho e favorito violão faziam nunca mais terei.
O ROUBO
DO VIOLÃO
Marina da Silva
“Mãaaae!” Voz de choro ao
celular.
O coração ficou apertado, aflito.
“Oi meu bem!” Fingindo
calma.
“Roubaram meu violão.”
“Como? Quando? Como foi
isso?” Coração doendo, mas tranquila.
“Sabe mãe, meu primeiro violão?”
Então ela contou como aconteceu o assalto. Ela estava com o violão no
carro e foi encontrar o namorado e amigos.
“Eles arrombaram o
porta-malas e levaram meu violão.” A voz embargada, chorosa. “Não é pelo violão
mãe, é pelo valor sentimental, por toda a minha estória que estava no meu
primeiro violão...”
O primeiro violão. E a memória do fato voltou naquele momento. Ela estava na sala, ferro, tábua de passar e uma enorme montanha de roupas jogadas no sofá de couro amarelo-mostarda ouvindo um CD de Zé Ramalho enquanto a menina brincava no quarto criando estórias com seus brinquedos preferidos. Então começou a tocar uma música instrumental de Zé Ramalho: Bicho de sete cabeças.*
A menina de quase sete
aninhos veio à sala e declarou:
“Mãe eu toco melhor que
ele!”
A mãe sorriu e concordou.
A menina vivia com o violão do pai para cima e para baixo desde que aprendeu a fugir do quarto e se enfurnar na cama do casal escalando o gaveteiro do berço.
“Claro que sim! Você é
minha menina das artes.”
“É verdade mãe! Eu sei tocar melhor que ele!” E ela voltou para seu quarto, nas mãos um boneco Max Steel. Para o aniversário de sete aninhos ela pediu a mãe super animada:
“Mãe me coloca na aula de
violão?”
“Sim.”
E no sábado foram a uma
loja especializada em instrumentos musicais comprar o violão e como a mãe
malhava no Sesc ali pertinho e lá tinha aulas de violão clássico e MPB foram
conhecer o professor Aderson; ela carregando um violão maior que ela mesma, olhinhos brilhando. Um pedacinho de gente vestida com sua roupa preferida: camiseta, calça surfista e tênis.
“Mãe, disse o professor
sorridente, o violão é muito grande para ela. Vamos esperar que ela cresça mais um pouquinho, talvez daqui a dois anos...”
A mãe insistiu:
“Olha professor, ela me
disse que toca melhor que Zé Ramalho e Zé Geraldo, juntos. Você fica com ela,
se não der certo e ela desistir ou não tiver nenhum dom ela sai e o violão vai
para o pai que toca de ouvido.”
O professor topou ficar
com a menina neste mesmo dia; ele tinha um violão menor e ela poderia usar. Ele
esperava que ela desistisse na primeira aula ou primeira semana.
“Dói muito Amanda, vai
machucar as mãozinhas, vai dar calos nos dedinhos viu...”
Mas a danadinha ficou.
Chegava em casa super feliz, dedinhos estropiadinhos e cheio de calos e
treinava religiosamente o “para casa” da aula de violão. Não desgrudava mais do
violão, da pasta de cifras, e um dia apareceu com o violão todo enfeitado.
Fizera uma colagem com quadrinhos, desenhos de violões, guitarras sempre fazendo
suas artes.
“Minha menina das artes”- dizia
a mãe sempre que ela aparecia com uma arte nova:
“Mãe compra aquarela para
mim; mãe compra tintas; mãe compra lápis HD... Mãe me coloca na aula de desenho
do Sesc.”
E os anos iam se passando
e ela pintando, colorindo, desenhando histórias em quadrinhos, tocando violão e cantando Chico Buarque em um dos show de apresentação da escola. E assim, tocando, cantando, desenhando, pintando e fazendo artes crescia, crescia, crescia sempre agarrada ao violão. Outros violões
vieram...
“Mãe vi um cara tocando na
rua e comprei um violão igual ao dele. Uma música linda mãe, no meio da praça e
parei para ouvir." Ela estava em Toledo numa excursão da escola à Espanha.
“Mãaeeee vem cá me ver
tocando piano!”
A mãe ficou abismada,
diminuiu o fogo da panela e foi ver o que era, pois não existia piano na casa.
Encontrou a menina no computador tocando Beethoven no teclado.
Ela sorriu, olhou para a
mãe e:
“Mãe me põe na aula de
piano, tem uma professora no SESC...” No final do curso foi apresentada como
compositora e pianista.
“Mãe eu sei tocar
guitarra.” Aprendeu sozinha e lá foram os três, pai, mãe e menina comprar uma
guitarra. E o vendedor da loja permitiu que ela usasse a cabine onde se testava
instrumentos e ficou encantado com a menina tocando Engenheiros do Hawaii.
"Mãe entrei para aula de violino."
“Mããããaaeee.” Chorando.
Como doeu vê-la e ouvir
sua dor pelo roubo do violão. As lágrimas rolavam dos dois lados remotamente.
“Eu escrevi sobre o roubo
mãe. Roubaram minha vida.”
"Você fez bem em escrever filha."
Era um luto, uma passagem necessária da vida. Escrever sobre ela aliviaria o coração. Não era mesmo pelo violão, era pela linda estória que ele carregava sobre a menina que adora tocar, batucar, soprar e cantar músicas. Esta vivência nenhum ladrão pode roubar.
* Zé Ramalho. Bicho de Sete cabeças (1978). https://youtu.be/NMPVq5-GIbw