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quinta-feira, 15 de julho de 2021

BRAZIL: BRAZUCAS E BRAJECAS

 BRAJECA

Sérgio Antunes de Freitas

 

Brazuca é um nome usado no exterior, para designar coisa ou pessoa oriunda do Brasil.

Em alguns casos, é depreciativo ou zombeteiro! Em outros, é dito pelos próprios brasileiros no exterior com algum orgulho.

Muitos vão viver em países estrangeiros e, por desconhecimento dos costumes locais, acabam cometendo gafes, significando falta de educação, mesmo sendo engraçadas às vezes. Coisas de brazucas!

Com o tempo, principalmente se estiverem em países desenvolvidos, vão se aculturando e se mimetizam como se fossem gentílicos. Perdem o sotaque, passam a gostar da culinária típica e a torcer pelas equipes esportivas do país.

Quando se adaptam em definitivo nesses países, tarefa fácil em bons locais, não voltam mais para a terra natal, mesmo com o incômodo das saudades.

Já aqui, no solo pátrio, temos uma outra categoria de brasileiros, os brajecas.

Esses protótipos de personagens do cineasta Amácio Mazzaropi vivem, geralmente, em cidade provincianas, consideradas o centro do mundo por eles.

E, mesmo vivendo em metrópoles, continuam sendo caipiras, não no sentido romântico dessa palavra, refletidora da simplicidade, do bucolismo, do sorriso fácil, da simpatia, da gentileza, da humildade, do acolhimento, da hospitalidade, mas na acepção da ignorância política e social.

Os brajecas, por exemplo, admiram os militares, dizem. É medo, mas eles não confessam ou nem sabem disso, por ser um sentimento inconsciente. Então, sonham em ver os brajequinhas seguindo a carreira de Caxias ou semelhantes.

Modernizados, assistem ao jornal de TV, leem algum pasquim local e recebem as mensagens de “zap-zap” do tiozão. Nelas, acreditam sem questionamentos. Amam quem concorda e odeiam quem discorda de seus conteúdos.

Com toda essa instrução de altíssimo nível, entendem absolutamente tudo do universo.

Pela ecologia, cuidam de passarinho em gaiola e levam o cachorro para passear.

Discursam sobre Dinamarca, Venezuela, Cuba, China, como se tivessem morado nesses países por mais de 10 anos em cada um e conhecessem profundamente as suas histórias. Quando alguém cita a Constituição Federal, nunca lida por eles, no artigo relativo ao respeito à autodeterminação dos povos, encerram o assunto, dizendo: - Besteira! Essa Constituição foi feita por comunistas.

Mesma resposta para a Declaração Universal dos Direitos Humanos, também

nunca lida.

Mas são viajados, sim! Vão para praias e, chegando lá, primeira medida, postar uma selfie com o oceano ao fundo. Fazem isso para ver sua imagem e pensar como são felizes e bem sucedidos. E para mostrar aos amigos! Seus espaços nas redes sociais são uma espécie de coluna social personalizada.

No exterior, também vão em grupos ou excursões. Há uma certa preferência por Miami, para aquisição de eletrônicos e enxovais. Aproveitam para admirar as exuberantes tecnologias e as pistas de asfalto “que parecem um tapete”. Carros modernos e combustíveis baratíssimos. Eles veneram carros e motos!

Na Europa, cansam de tirar fotos iguais às da Internet e das comidas nos restaurantes. Nos castelos, boquiabertos, sentem-se como se estivessem em bailes das cortes no século XIX.

Brajecas sonham em ser nobres, não cidadãos.

Quando voltam, dizem maravilhas da educação do povo, dos transportes públicos de boa qualidade, da segurança pública de alto nível, naqueles países visitados. Mas são incapazes de lutar pelas mesmas coisas aqui no Brasil, onde são conservadores. Retornam às suas bolhas, como se tivessem apenas visto um filme em três dimensões.

Contudo, na atualidade, eles são muito parecidos com outros brasileiros de mesmas condições financeiras e de vida semelhante.

Como diferença, não têm o mínimo discernimento do que seja país desenvolvido e subdesenvolvido nem compreensão do que seja política pública ou justiça social.

Nem têm autonomia intelectual.

 

Sérgio Antunes de Freitas

Julho de 2021

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