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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

BRAZIL: BOLSONARISMO parte 1

 TRUMPISM, SALVINISMO, BOLSONARISMO: CONTRA-ATAQUE TOTALITÁRIO NEOLIBERAL

Marina da Silva

De cara você pensa que vou malhar o Judas, ops, bolsonaro, mas não...ou talvez. Certo é, quero falar da política ou melhor, da necropolítica neoliberal preconizada e receitada  ao mundo para uso na pandemia COVID-19; mas antes, vamos ao "fôlego neoliberal na segunda década do século XXI" onde, numa jogada fenomenal, os grandes capitalistas, destaques para os banqueiros financistas e especuladores de Wall Street, aqueles que criaram a mega crise financeira "subprime" (2008, epicentro nos Estados Unidos), não só se deram bem como de quebra fortaleceram e se apossaram da desilusão e desconfiança nos políticos e na política contra o Estado para fortalecerem seu poder.

"No outono de 2008, a crise hipotecária subprime (...) levou ao desmantelamento de todos os grandes bancos de investimentos de Wall Street, com mudanças, fusões forçadas ou falências."1

Pasmos, norte-americanos e europeus, os mais atingidos pela quebra do sistema, se viram roubados pelos bancos, corretoras imobiliárias, seguradoras e especuladores financeiros que aplicaram um super golpe contra  povo e  Estado.Os ricos foram socorridos pelo Estado, o povo pagou literalmente o pato. 2011 é o marco histórico das manifestações Ocuppy Wall Streetque se iniciaram nos Estados Unidos e se espalharam por toda a União Europeia.  Basta! Socorreram bancos, os 1% ricos que criaram a crise, fizeram feirão de aquisições dos falidos, concentraram mais riquezas e preparam um novo golpe pagando com o "dinheiro público" altíssimos bônus aos executivos enquanto os norte-americanos, impotentes, se culpavam pelo próprio fracasso e perdas  sem se darem conta  de que o mito americano dos "pais fundadores- "american dream" que criaram do nada e no meio do nada uma nação sem ajuda do Estado é a maior das farsas norte-americanas.

"Occupy Wall Street (em português: Ocupe Wall Street), conhecido pela sigla OWS, é um movimento de protesto contra a desigualdade econômica e social, a ganância, a corrupção e a indevida influência das empresas - sobretudo do setor financeiro - no governo dos Estados Unidos. Iniciado em 17 de setembro de 2011, no Zuccotti Park, no distrito financeiro de Manhattan, na cidade de Nova York, o movimento ainda continua, denunciando a impunidade dos responsáveis e beneficiários da crise financeira mundial. Posteriormente surgiram outros movimentos Occupy por todo o mundo."idem

Foi um golpe financeiro abjeto, uma acumulação espúria por expropriação e\ou "despossessão"dos 99% população. To big to fail,  grande demais para falir, o mantra criado e alimentado por Wall Street para continuar espoliando as pessoas e exigir socorros do Estado veio abaixo quando a farra de distribuição de bônus deixou escancarada a função primordial do Estado no capitalismo, em tempos de crise ou não: favoritar os 1% ricos e socializar as perdas para o povão. Empreendedorismo é isto: risco, apostas e se você tem a liberdade para fazer negócios arriscados (ou não) tem responsabilidade e culpa de sua falência.5  Claro que esta lógica prescrita por L.  Mises, Milton Friedman e  F. Hayek no manual "O caminho da servidão" vale  apenas para os 99%,  os cidadãos e cidadãs comuns, classe média, trabalhadores legais e ilegais e uberizados. 

https://www.gettyimages.pt/fotos/occupy-wall-street 17- setembro-2011

"Nenhum outro país desenvolvido, nem mesmo a Grã-Bretanha com sua tradicional divisão social, chega perto das extremas desigualdades de renda e riqueza dos Estados Unidos em 2012. Entre 2001 e 2007, os anos da grande bolha financeira, os 1% superior das famílias americanas ficou com metade do crescimento total de renda do país. Não costumava ser assim; a mudança começou nos anos 1980." 6
À descrença,  desconfiança e desesperança na política e nos políticos tradicionais (o único tipo de político que existe) juntou-se o rancor, a raiva e o ódio, excelentes motores revolucionários para mudar a coisa toda (fim do capitalismo ou distribuição mais equitativa), mas, foram capturados, canalizados para uso estratégico e marketing político de conservadores da direita e esquerda ultraliberais. "O ódio como política" foi usado através do discurso populista "politicamente incorreto" (contra políticos "tradicionais") e abriu espaço para o desabafo e insatisfação popular totalmente deturpado e direcionado para racismos: contra negros, imigrantes ilegais e legais latinos e asiáticos (especialmente contra mexicanos e chineses),  mulçumanos, contra mulheres, comunidades Glbtqia+, contra democratas progressistas (favoráveis ao aborto e casamento homoafetivo) contra a social democracia, socialismo, comunismo e qualquer apelo pela ação intervencionista e reguladora do Estado no  livre mercado, propriedade privada, lucro.O caos financeiro e social (desemprego, endividamento, perda de renda, destruição de famílias, etc)  formou um solo super fértil para parcelas ultra  conservadoras e radicais, totalitárias, racistas, reanimando grupos fascistas-nazistas com presença maciça de militares e religiosos.
Ao final dos anos Noventa do século passado, as práticas neoliberais prescritas ao mundo capitalista a partir de 1973 (início da revolução neoliberal no Chile com o golpe e ditadura militar de Pinochet; 1979 Margareth Thatcher no Reino Unido; 1980 Reagan nos Estados Unidos) davam sinais de esgotamento, principalmente na América Latina com a criação  em 2004 da ALBA ou "alternativa bolivariana"  e eleições de presidentes mais à esquerda:
"O conceito básico da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alianza Bolivariana para los Pueblos de Nuestra América) é a ajuda mútua entre os países situados na América Latina e Caribe, buscando aumentar a integração econômica, política e social entre estes territórios." 8

A "despossessão" provocada intencionalmente pela crise subprime 2008 levou nações da União Europeia  (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália, citando algumas)  à falência e à vergonhosa submissão ao FMI, ao Banco Mundial, ao Banco Europeu - Fundo Europeu de Estabilização Financeira e Mecanismo Europeu de Estabilidade da Zona do Euro.O ódio, rancor, descrença e o discurso "politicamente incorreto" (violência, armamentismo, racismos, xenofobia, misoginia, Glbtqia+fobia, etc) foram potencializados pelo uso geopolítico e geoestratégico das nascentes redes sociais no início do século XXI através de compartilhamento, venda e roubo de dados privados de usuários  por hackers, grupos empresariais corporativos, políticos e/ou religiosos corruptos e  conservadores e milícias neoliberais ultra direita e seus institutos e fundações (Ex. Instituto Mises, irmãos Koch, Goldman Sachs), pelo próprio dono do Facebook Mark Zuckeberg.10 A novidade da internet, redes sociais e a parca legislação para crimes  no ciberespaço e a potencialidade  inimaginável de usos de tudo isto criou o "dilema social"11 do século: A quem pertence o século XXI?

***

Com a Rússia quebrada economicamente e o o império soviético desmantelado a partir da queda do muro de Berlim, reunificação da Alemanha seguida pelas guerras nacionalistas no leste europeu e retorno ao mapa geopolítico anterior ao tratado de Versalhes tudo o que se esperava era o domínio da super potência estadunidense no planeta por mais um século, solitariamente. Ledo engano! O mundo já se preparava para o século XXI 12 há umas boas décadas do século XX com mudanças drásticas no processo produtivo (revolução tecnológica, reestruturação produtiva, informatização, robotização, redução de plantas industriais, mecanização com base na microeletrônica,  novas matérias-primas, desterritorialização e  relocalização industrial, possibilidade de uso de mão-de-obra barata ou trabalho análogo ao de escravo em várias partes do planeta), globalização e revolução neoliberal.13 Enquanto os soviéticos decaiam nos anos Oitenta, os NIC's- Novas Nações Industrializadas (sigla em português) brilhavam no sudeste asiático aumentando a competitividade pelo mercado mundial, assim como a ascensão da China e Índia. Em 1999 a China foi aceita na Organização Mundial do Comércio, tornando uma potência industrial, comercial e polo de atração de capitais, a fábrica do mundo.14 Os Estados Unidos entraram num processo irreversível de desindustrialização, desemprego estrutural, aumento do capital financeiro e crises especulativas em Wall Street e empobrecimento de sua população.15 Para os estadunidenses o cenário era "O fim dos empregos, Adeus ao Trabalho  e perda de hegemonia na Ordem Mundial", um imperativo da Condição pós-Moderna, diz David Harvey.16 Tudo foi agravado para a potência Number One, a polícia do mundo, com sua intromissão e guerras pelo controle do petróleo no Oriente Médio desde os anos Setenta e nas guerras neste território contra Irã e Iraque nos anos Noventa, Dois Mil. No cenário doméstico os Estados Unidos iam de mal a pior a partir do momento que corporações neoliberais tomaram literalmente o poder,17 nada de lobbing político, os executivos e Ceo's, destaque para bancos, tomaram o poder de assalto e deram fim "ao american dream".  O ataque de 11 de setembro de 2001 e a super bolha imobiliária que explodiu no colo dos americanos em 2008 foi só a pá de cal na  curta hegemonia de estrela solitária do poder mundial dos Estados Unidos. A partir de 2010 a guerra é a mesma contra os comunistas, só que a potência é outra: a China. A eleição de Barack Obama, o primeiro negro na presidência dos Estados Unidos tinha tudo para garantir fôlego, manutenção e retomada da hegemonia  dos Estados Unidos se, republicanos conservadores ultra-liberais da escola de Murray Rotbart, o ultra radical dos Radicais pelo capitalismo18, não tivessem um plano de dominação que levava em conta a destruição total do Estado sob o comando de asnos palhaços:  nos Estados Unidos, o apresentador, showman Aprendiz, Donald Trump. O que se seguiu foi a comédia do século em termos geoeconômicos e geopolíticos com direito a invasão do Capitólio em 06 janeiro de 2021 após a derrota de Trump para Joe Biden. Como isto foi possível?

(Continua parte 2)

Fonte

1. HARVEY, David. O ENIGMA DO CAPITAL. E as crises do capitalismo. São Paulo, SP: Boitempo, 2011.

2. Sobre o que aconteceu ao povo estadunidense assista os documentários: SAVING CAPITALISM,  A LAVANDERIA; A GRANDE APOSTA, INSIDE JOB. Netflix

3. Sobre OCCUPY WALL STREET ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Occupy_Wall_Street 

4. HARVEY, David. O ENIGMA DO CAPITAL. E as crises do capitalismo. São Paulo, SP: Boitempo, 2011. "Harvey  cunhou a expressão "acumulação por despossessão (ou expoliação) para definir as práticas fundantes da busca por lucro no neolibealismo, incluindo a financeirização, a manipulação de crises e a privatização".

5. SENNETT, Richard. A  CORROSÃO DO CARÁTER. Consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Disponível na Web.

6. FERGUNSON, Charles H. O SEQUESTRO DA AMÉRICA. Como as corporações financeiras corromperam os Estados Unidos. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2013.

7. HAYECK, F. O CAMINHO DA SERVIDÃO.

8. ALBA. https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,para-entender-os-blocos-regionais-da-america-do-sul,70002765085; https://brasilescola.uol.com.br/geografia/alca-x-alba.htm; https://brasilescola.uol.com.br/geografia/blocos-economicos-america-latina.htm

9. FERGUNSON, Charles H. O SEQUESTRO DA AMÉRICA. Como as corporações financeiras corromperam os Estados Unidos. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2013.P:

10. Sobre o tema ver: THE GREAT HACKER. Netflix

11. Assistir documentários: THE GREAT HACKER; SOCIAL DILEMMA, Netflix

12. KENNEDY, Paul. PREPARANDO PARA O SÉCULO XXI

13. RIFFIKIN, J. O FIM DOS EMPREGOS.

14. A nova ordem mundial chinesa https://youtu.be/Dh9QA7hd9pQ

15. SMIL, Vaclav. MADE IN THE USA: the rise and the retreat of American manufacturing. ISBN 978-0-262-31675-0  ebook 

16. HARVEY, David. A CONDIÇÃO PÓS-MODERNA

17. FERGUNSON, Charles H. O SEQUESTRO DA AMÉRICA. Como as corporações financeiras corromperam os Estados Unidos. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2013.P:

18. DOHERTY, Brian. RADICALS FOR CAPITALISM: A freewheeling history the modern american libertarian movement. ebook

(continua, parte 2)

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