LIFE STYLE $1,99: A REVOLUÇÃO NA MODA
www.google.com.br/images. Escolinha do professor Raimundo, décadas instruindo o povo a ser $1,99, subdesenvolvido, vira-lata. Tal pai tal filho!
Marina da Silva
Diga-me com o que andas e te direi quem tu és!
Até poucos anos atrás, ali ainda nos
anos noventa, o chique, o fashion era sair pelas ruas desfilando marcas tal
qual gado, totalmente etiquetado. O indivíduo era se ostentasse o que tinha ou
fingia ter: carrões, motos com mais de 500 cilindradas, roupas de grifes
famosas, sapatos, cintos, bolsas, mochilas de marca, jóias.
Visitas eram recebidas para uma
exibição, um show de importados: tecnologias de ponta e tudo comprado no primeiro mundo! Um bom anfitrião levava
um a um dos convidados para um city-tour pela casa, apontando aqui ou ali
marcas, preços, a origem. E tudo terminava com uma passada nos banheiros e
closets da família. E isso tudo mudou? Bem, quase...O mundo sim, vinha mudando.
Devagar nos anos sessenta, setenta e vertiginosamente a partir dos anos
oitenta, noventa. Era da globalização! No Brasil, após os últimos e demorados e
asquerosos suspiros da ditadura chega ao Planalto dom Pixote de las manchas,
com sua armadura collorida, dando cavalo-de-pau em altas ondas de jet-ski e na
sua miopia tupiniquim chamando o brasileiro de Jeca, nossos carros de carroças e louvando e bem dizendo e adorando
os de lá, civilizados do primeiro mundo
- que através dos rombos de sua lança neoliberal- iam abrindo as portas e as
pernas do Brasil aos estrangeiros.
www.google.com.br/images. Afff até viagra falseta!
Que maravilha! Podia se comprar uísque
escocês legítimo nos camelôs com certificado ISsO não é do Paraguai! E com o
uísque, muitos outros importados, inclusive carrões. O fusca foi ressuscitado!
E nesta chuva de mercadorias... Ora,
qualquer um podia ter algo importado. Achava-se de tudo em qualquer esquina:
tênis Nike, bolsas Louis Vuitton, relógios Rolex, tapetes persas, vodka russa,
vinhos da adega de Mme. Clicquot. Mas a alegria durou pouco! Como provar que o
meu é autêntico e não genérico?
Ou pior, como ter certeza que a loja "elegantérrima" que revende famosos estilistas europeus não está me passando as
pernas com genéricos vindos lá de Itabaianinha, Sergipe ou de qualquer outra
cidade do nordeste, para onde fugiram os empresários escravocratas, alegando que o Custo Brasil inviabilizava a competição?
Paga-se um Armani e veste-se um Armando nacional e importado?
Como sobreviver numa festa onde um
rico tradicional olha suspeito para o seu Rolex só porque você é um pobre rico
emergente? Como ser original num mundo assim tão falsificado?
www.google.com.br/images. Cult, fashion, chic, cool e caro!
Eureka! A solução estava no Jeca! Surge a moda $1,99: esmolambada,
esfarrapada, calçando conga, kichute, chinelos e precatas de tiras de câmara de
ar e pneu velho, combinando acessórios e tudo o que se possa pensar de lona
velha, chita, mata-borrão, americano-cru ou qualquer material barato como saco
de açúcar, saco de aninhagem e até mesmo pano de chão! Jeans velhos, sujos de tinta, rasgados são fashion e quanto mais rasgos...mais caro. O pobre ficou chique!?
Claro...que não!
O pobre se ferrou como sempre;
usando chinelo vagabundo, mas pago a peso de euro! Todo mundo anda de Nike, Rolex e Victor Hugo
e qual deles não é genérico, verdadeiramente falsificado, pirateado? Tudo que é
original pode ser clonado aqui, ali, acolá, no Paraguai, na China, aonde Judas
perdeu as botas e até nos quintos dos infernos! A autenticidade se desmancha no
ar! Uma promiscuidade generalizada que sai das fábricas, invade as casas
apossando de tudo e por todos, ou pela maioria justificada!
Ferra-se o rico, ferra-se o pobre. E
a classe média? Estrangulada, arrochada, descapitalizada, distribuída num
alfabeto de misérias de A a Z, morando no Leblon, Vieira Solto, Rocinha,
Alagados ou PPL- pedreira Prado Lopes, esta continua a mesma: comendo angu,
pagando caviar e seguindo o ritmo ditado pelas novelas. Saindo esfarrapada no
maior salto alto, de lona velha, Havaianas falsetas, o nariz empinado, na
bolsa, caneta e caderneta contando trocados e eternamente no cheque especial
e/ou carnezinho, dependurada e pagando o pato!
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