Para entender a liberdade
Seu nome é José Zokner, mas prefere ser chamado, simplesmente, de Juca. Curitibano de nascimento, descendência judaica, tem 74 bem vividos anos.
A julgar pela aparência, lembra o mais célebre eremita, Santo Antão do Deserto. Homem que, dizem, viveu longos 105 anos, boa parte dos quais lançando sementes do Evangelho nas terras áridas da Alexandria e do Antigo Egito, antes de se isolar na inóspita imensidão do Saara, pelos idos de 350 DC. Como Antão, Juca usa barba e cabelos alvos, aparados sem muito cuidado.
Não é só no aspecto físico, entretanto, que os dois se parecem. Juca é ateu, “mas não graças a Deus”, como faz questão de dizer. Quem sabe por isso, cultiva uma arraigada convicção em certos princípios cristãos, como a necessidade de justiça social e de fraternidade entre os homens. “A natureza inventou a lei do mais forte. Só que nós somos racionais”, preconiza.
Causa inveja pelo desprezo com que trata toda sorte de consumismo e modismo. Sua fatiota é franciscana e seu carro é um Corcel II L branco, ano 1980, que não se sente premido a trocar. Usa o celular e o computador do jeito certo – apenas como ferramentas úteis, sem subserviência. Tem uma relação distante com seu aparelho de TV e revela ceticismo com a “aldeia global” de Marshall McLuhan. “A globalização só faz sentido desde que todos possam usufruir dela”.
Mora em um aconchegante sobrado, localizado em um bairro merecidamente chamado de Vista Alegre. Uma casa espaçosa, pavimentada com um mosaico de azulejos pequenos, cheia de janelas voltadas a paisagens de cartão postal, de árvores vetustas, de uma considerável área verde e de um número infinito de delicadas peças de artesanato. Lá, vive na companhia da esposa e de quatro vira-latas, que tirou das ruas para lhes dar casa, comida, carinho – e o seu sobrenome.
Engenheiro civil por formação, Juca renunciou ao descanso que a aposentadoria lhe proporcionaria para ser hábil escritor e um mordaz poeta do cotidiano. Não por acaso. Seu guru é Millôr Fernandes, nosso mais refinado – e irônico- escritor, teatrólogo e humorista.
Com este estilo, por mais de 15 anos, assinou uma coluna na extinta edição impressa do jornal O Estado do Paraná, “Rumorejando”, onde tive o privilégio de conhecê-lo. Escreveu um livro, “Rimas Primas & Outras Constatações”, uma compilação dos seus melhores textos. E criou um blog – http://rimasprimas.blogspot.com/.
Declara-se socialista. Talvez porque, quando visitou Israel, tenha se apaixonado pela utopia dos kibutzim, cujos pioneiros preconizavam Karl Marx e sua célebre frase : “De cada um, de acordo com suas habilidades; a cada um, de acordo com suas necessidades”. Seria adepto do capitalismo, se o regime do lucro não descambasse para a selvageria e não deificasse o Mercado.
Na realidade, Juca é inclassificável politicamente porque é implacável com a casta política e com os ismos de toda ordem. “O proselitismo e, principalmente, o proselitista de qualquer natureza é um chato”, justifica.
Na essência, é basicamente um arraigado defensor da igualdade, dos direitos e garantias fundamentais e da verdade, dotado de inteligência, respeito e sensibilidade únicos em relação ao ser humano. Logo, tem ojeriza à corrupção, à desigualdade, à mentira e à opressão. “O rico é a alavanca do progresso; o pobre, seu ponto de apoio”, repete, inspirado na frase de Arquimedes: “Dai-me uma alavanca e um ponto de apoio que eu moverei o mundo”
Esta imperfeita descrição de José Zokner no espaço virtual da Carta Capital faz sentido porque Juca é alguém cuja história, ainda que brevemente, merece ser contada.
Nada mais justo que homenageá-lo na semana em que o Brasil lembra o Dia da Liberdade de Imprensa. Como se percebe, trata-se de um livre pensador, no sentido lato do termo. Livre das amarras ideológicas, dos apelos comerciais e do pragmatismo da economia de mercado, da mediocridade e da pequenez que inundam o mundo e parte expressiva da grande mídia.
Alguém que vive a liberdade na vida e nas palavras como poucos, de modo especialíssimo, com inteligência e criticismo contundentes, mas também com absoluto respeito ao contraditório, ao outro, aos fatos. “Liberdade de expressão é igual à verdade somada ao bom senso”, ensina.
Juca é um ermitão das idéias – próximo fisicamente do mundo que o cerca, mas distante da maioria no jeito único de ser e de pensar o mundo.
É, ainda, um contraponto à ignorância, à burrice, ao reducionismo e ao cinismo dos medalhões que vicejam na grande mídia e tecem loas à liberdade, mas não sabem exercê-la. Um exemplo vivo de um não jornalista para os jornalistas – e cidadãos – que não entendem o que é a liberdade.
Artífice da palavra, Juca a entende, como ninguém. E, com sua arte, exerce-a com incomum responsabilidade em cada um dos segundos da sua gloriosa vida – que, espero, seja longa, muito longa.
Aurélio Munhoz no Twitter: http://twitter.com/aureliomunhoz
A julgar pela aparência, lembra o mais célebre eremita, Santo Antão do Deserto. Homem que, dizem, viveu longos 105 anos, boa parte dos quais lançando sementes do Evangelho nas terras áridas da Alexandria e do Antigo Egito, antes de se isolar na inóspita imensidão do Saara, pelos idos de 350 DC. Como Antão, Juca usa barba e cabelos alvos, aparados sem muito cuidado.
Não é só no aspecto físico, entretanto, que os dois se parecem. Juca é ateu, “mas não graças a Deus”, como faz questão de dizer. Quem sabe por isso, cultiva uma arraigada convicção em certos princípios cristãos, como a necessidade de justiça social e de fraternidade entre os homens. “A natureza inventou a lei do mais forte. Só que nós somos racionais”, preconiza.
Causa inveja pelo desprezo com que trata toda sorte de consumismo e modismo. Sua fatiota é franciscana e seu carro é um Corcel II L branco, ano 1980, que não se sente premido a trocar. Usa o celular e o computador do jeito certo – apenas como ferramentas úteis, sem subserviência. Tem uma relação distante com seu aparelho de TV e revela ceticismo com a “aldeia global” de Marshall McLuhan. “A globalização só faz sentido desde que todos possam usufruir dela”.
Mora em um aconchegante sobrado, localizado em um bairro merecidamente chamado de Vista Alegre. Uma casa espaçosa, pavimentada com um mosaico de azulejos pequenos, cheia de janelas voltadas a paisagens de cartão postal, de árvores vetustas, de uma considerável área verde e de um número infinito de delicadas peças de artesanato. Lá, vive na companhia da esposa e de quatro vira-latas, que tirou das ruas para lhes dar casa, comida, carinho – e o seu sobrenome.
Engenheiro civil por formação, Juca renunciou ao descanso que a aposentadoria lhe proporcionaria para ser hábil escritor e um mordaz poeta do cotidiano. Não por acaso. Seu guru é Millôr Fernandes, nosso mais refinado – e irônico- escritor, teatrólogo e humorista.
Com este estilo, por mais de 15 anos, assinou uma coluna na extinta edição impressa do jornal O Estado do Paraná, “Rumorejando”, onde tive o privilégio de conhecê-lo. Escreveu um livro, “Rimas Primas & Outras Constatações”, uma compilação dos seus melhores textos. E criou um blog – http://rimasprimas.blogspot.com/.
Declara-se socialista. Talvez porque, quando visitou Israel, tenha se apaixonado pela utopia dos kibutzim, cujos pioneiros preconizavam Karl Marx e sua célebre frase : “De cada um, de acordo com suas habilidades; a cada um, de acordo com suas necessidades”. Seria adepto do capitalismo, se o regime do lucro não descambasse para a selvageria e não deificasse o Mercado.
Na realidade, Juca é inclassificável politicamente porque é implacável com a casta política e com os ismos de toda ordem. “O proselitismo e, principalmente, o proselitista de qualquer natureza é um chato”, justifica.
Na essência, é basicamente um arraigado defensor da igualdade, dos direitos e garantias fundamentais e da verdade, dotado de inteligência, respeito e sensibilidade únicos em relação ao ser humano. Logo, tem ojeriza à corrupção, à desigualdade, à mentira e à opressão. “O rico é a alavanca do progresso; o pobre, seu ponto de apoio”, repete, inspirado na frase de Arquimedes: “Dai-me uma alavanca e um ponto de apoio que eu moverei o mundo”
Esta imperfeita descrição de José Zokner no espaço virtual da Carta Capital faz sentido porque Juca é alguém cuja história, ainda que brevemente, merece ser contada.
Nada mais justo que homenageá-lo na semana em que o Brasil lembra o Dia da Liberdade de Imprensa. Como se percebe, trata-se de um livre pensador, no sentido lato do termo. Livre das amarras ideológicas, dos apelos comerciais e do pragmatismo da economia de mercado, da mediocridade e da pequenez que inundam o mundo e parte expressiva da grande mídia.
Alguém que vive a liberdade na vida e nas palavras como poucos, de modo especialíssimo, com inteligência e criticismo contundentes, mas também com absoluto respeito ao contraditório, ao outro, aos fatos. “Liberdade de expressão é igual à verdade somada ao bom senso”, ensina.
Juca é um ermitão das idéias – próximo fisicamente do mundo que o cerca, mas distante da maioria no jeito único de ser e de pensar o mundo.
É, ainda, um contraponto à ignorância, à burrice, ao reducionismo e ao cinismo dos medalhões que vicejam na grande mídia e tecem loas à liberdade, mas não sabem exercê-la. Um exemplo vivo de um não jornalista para os jornalistas – e cidadãos – que não entendem o que é a liberdade.
Artífice da palavra, Juca a entende, como ninguém. E, com sua arte, exerce-a com incomum responsabilidade em cada um dos segundos da sua gloriosa vida – que, espero, seja longa, muito longa.
Aurélio Munhoz no Twitter: http://twitter.com/aureliomunhoz