CHOQUE NO CONGRESSO NACIONAL
www.google.com.br/images
Sérgio Antunes de Freitas
Fui visitar um amigo, paciente de sérios problemas cardíacos. Todos esperam, após uma cirurgia prevista para breve, sua volta à normalidade e, claro, à mesa do boteco!
Por enquanto, porém, ele precisa de muitos cuidados, como o uso constante de um desfibrilador portátil.
Trata-se de um aparelho eletrônico que identifica arritmias perigosas e, caso aconteçam, dispara uma corrente elétrica, responsável por fazer o coração voltar ao normal. Tecnicamente, esse retorno é chamado de cardioversão.
A carga disparada tem uma potência de 300 a 400 joules. Não é possível saber quantos volts isso siginifica, como popularmente se avalia um choque elétrico, mas é violento. O sujeito senta!
Ele me contou ter sido salvo umas poucas vezes pelo aparelho, mas o tratamento é tão desgostoso, que já não sai de casa, para evitar problemas maiores.
Na última vez, estava no Congresso Nacional, por força de sua profissão, quando sentiu um início de taquicardia.
Procurou rapidamente um local para se apoiar e avisou, aos amigos próximos, o provável desfecho, em razão das experiências anteriores.
Todos dele se acercaram e um garçom, observando a situação, gentilmente, ofereceu-lhe um copo de água.
Ao entregar o copo, os dedos dos dois se entrelaçaram, exatamente no momento da emissão elétrica disparada pelo desfibrilador.
A gravata-borboleta do moço foi parar lá na Ala Senador Afonso Arinos!
A bandeja parou no gabinete da liderança da oposição, mas não machucou ninguém, pois estava vazio fisicamente e politicamente.
www.google.com.br/images
Também os copos de cristal voadores não acertaram em ninguém, pois já era quarta-feira e os parlamentares, seus assessores e convidados voavam para suas bases eleitorais, assim como os copos, mas com pouso suave. De coincidência mesmo, entre copos e passageiros, só o prejuízo ao erário.
O caso me levou a uma sensacional idéia, com o perdão da imodéstia.
Poderia-se inventar um desfibrilador parlamentar!
A coisa funcionaria da seguinte forma: ao ser eleito, o indivíduo receberia o aparelho portátil, com os eletrodos ligados ao seu tornozelo. Poderia ser em outro local mais apropriado!
Quando ele apresentasse uma atividade cerebral mais ativa no circuito de recompensa cerebral, região relacionada à sensação de prazer, ou houvesse um aumento substantivo em sua taxa de dopamina, o que seria indícios de expectativa do desvio de recursos financeiros, ocorreria a descarga. O plenário pareceria uma panela de pipocas!
Aqueles falsos apertos de mão? Nem pensar!
Alguns deputados e senadores sérios, pois eles existem, sim, diriam que a idéia não é bem-vinda, pois esses não poderiam sequer sonhar com uma daquelas moças bonitas, colhedoras das assinaturas de apoio a projetos de lei e comissões de inquérito.
Mas, podemos afirmar, o prejuízo compensaria! A corrupção no Poder Legislativo desceria a graus nunca vistos na história deste país. Ô, frase bonita!
Na maior parte dos dias de minha vida, eu passei em frente aos edifícios do Congresso Nacional e olhei, com tristeza, aquela magnífica obra de arquitetura. Mas, dele, parece emanar fluídos negativos, estranhos e decepcionantes para o povo brasileiro, embora haja esperanças no futuro, como profetizou JK.
Parece também que seus trabalhadores e frequentadores mantém vínculos não de amizade, mas de interesses os mais “políticos” possíveis.
Quando sou obrigado a adentrar os prédios, chego a considerar estranhos os semblantes e os comportamentos das pessoas, embora, sem dúvidas, sejam espaços democráticos.
Anteontem, passei lá perto e vi, em uma das portarias, um sujeito andando de costas e jogando os braços pra cima, de modo disrritmado.
Contudo, esse, eu não estranhei. Sem dúvidas, era aquele garçom!