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sábado, 16 de março de 2024

BRASIL. LEVEZA

 

DE PRIMEIRA VIAGEM

Marina da Silva

Não faça isto! Quase grito da janela que por acaso olhei indo em direção ao tanque lavar o pano de chão.

Do alto vejo um homem, uns dois metros e 100 quilos com um bebezinho dentro da piscina

Desajeitado olhando para todos os lados parece segurar nas mãos um alienígena.

Interrompo a faxina, grudo na janela, só tem os dois lá

Agora é com os anjos da guarda

Sim, lições de vida, porque bebês não vem com manuais

O pai molha os pezinhos do bebê que agita os bracinhos comemorando a água

O grandalhão, daqui de cima, parece um gigante desconjuntado

Olhando procurando olhares que não pode ver, mas que a estas alturas rezam a Deus

Ele vem de ré, o bebê flutuando nas manzorras de braços estendidos

Como se fosse um superman-bebê filhote.

Adeus faxina! Estou paralisada.

Ele sai da piscina com o saquinho de batatas e o dispõe num tecido, que de longe parece um lençol ou talvez uma destas toalhas de praia gigante, na espreguiçadeira.

Agradeço ao Gabriel, santo anjo da Anunciação. Penso voltar à faxina.

Muito desconjuntado e desajeitado, ambos, ele dá a volta no pergolado estende o toalhão, volta, centraliza o bebê no alto, sentadinho, a cabecinha dobra-se no peito

S.O.S São Rafael, anjo da vida e da saúde, vai morrer asfixiado

Não posso mais faxinar

São Miguel Arcanjo!

O bebê cai de bruços. A vida sempre vence. Obrigada Santo anjo do Senhor meu zeloso guardador...

Ooops. O pai centraliza o bebê de barriga para cima e vai para a piscina pegar um sol?

São Miguel, São Miguel! Caramba!

Foi por pouco que o bebê não rolou e pah!

O pai volta nas suas passadas gigantes, centraliza de novo o pititico que estava na borda rumo ao chão, mas em vão. Na toalha o bebê está decidido a rolar para o chão.

Ele desiste de tomar um solzinho. Ufffa! Soltei o ar.

 O pai volta com o bebê para piscina, mas antes checa a fralda, não é côco, só um pum.

E começa tudo de novo: senta o bebê na borda, faz o voo superman-filhote de ré, ensaia passinhos nas bordas da piscina, molha só os pezinhos e o bebê se projetando para a água que lhe parece o útero materno.

Claramente ele não sabe o que está fazendo ou o que fazer e pelo olhar parece esperar alguém

Uma ajuda que aparentemente não vem

Estou aqui em cima sorrindo do desengonçado ouvindo Cartola e contando com os anjinhos da guarda do bebezinho e do paizão

Que me lembra meu olhar desesperado no dia da alta e com o meu pacotinho  colocado em minhas mãos para levar para a casa

Mãe de primeira viagem sei muito bem o que vem pela frente

Rolar da cama e poff no chão é de praxe e ainda tem os perrengues do banho, assaduras, dedinhos presos na porta do quarto,  do guarda-roupas,  dedinhos presos na porta ou janela do carro, os mil e um tombos, vacinas, corridas para a emergência...

Enquanto puxo emoções na memória, o desengonçado pai vai para o chuveirão, molha os pés do neném e desiste de se molhar e aguenta a onda de calorão de Beagá.

E ninguém vem ao seu socorro e ele obviamente espera o socorro de alguém.

Então faz tudo de novo um pouco mais confiante como eu que agradeço por ele aos anjinhos

A máquina de lavar apita. Vinte e dois minutos e ele resistiu bem.

Um sorriso de alívio brilha seu rosto e lá está o desconjuntado juntando toalhão, bolsa e bebê num pacote único e indo feliz em direção à área coberta e agora olhando só nesta direção.

Queria lhe gritar: curte o máximo que esta primeira viagem passa rápido demais!

Pego o celular e ligo: filha, te amo muiiiiiiiiiiito.

Marina da Silva

BH 16-03-2024

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