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domingo, 28 de abril de 2019

BRAZIL: VIVER ESTRANHO

ESTRANHO
Marina da Silva

Estranho. Não posso perder esta palavra.
Sentimento estranho,
Estranhamento da vida, de tudo, de coisa, de gente.
Remete-me imediatamente a render, rendição, rendida.
E estou assim, estranha, sem fé, deprimida, politicamente falando.
Golpe, golpes, mais golpes, outro golpe.
Carga pesada demais. Sou Atlas e suporto o mundo.
Um imenso Nimbus cumulando minha vida.
Trovoadas, choques, raios, golpes estranhos. 
Quanto posso aguentar dentro de mim sem explodir 
Ou me implodir em cacos.
Dou-lhe uma palavra: compartilhar, dividir.
Choro, corro, grito, corro, socorro, s.o.s, alguém 
Help me please. Help us.
Teimosia em poupar, proteger, guardar...
Quem é que vai me proteger? 
Posso me proteger de mim mesma
Tecendo, renda, rede, retificando nas tramas de cordas
Nós górdios e não tenho espada afiada. 
Fio grosso, bolor, fungos, craca, couraça.
Voo vou renda véu de seda pura nobre.
Sou o fio mais forte do mundo no casulo.
O que estou fazendo de mim?
Por que insisto em fazer isto comigo?
É viver, minha vida problemática problematizando problemas meus, minhas dores, dores do mundo.
Preciso ser estranha, preciso de golpes, problemas para me tornar dia-a-dia humana.
Hu-ma-na. 
Fazer de mim mais humana numa existência diversa, múltipla aceitação.
Minhas teias, nossas rendas, fios embolados, estranhos conectados em nuvens.
Muitas vezes enormes nimbus instáveis, trovões, raios de  gente igual a mim.
Preciso de estranhos, estranhar a estranheza e buscar humanos
Que como eu se quebram e não se rendem. Jamais.
Estranho.

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