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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

BRAZIL: TEMPOS DE VIVER...FELIZ RESISTÊNCIA

Você é feliz?
Marina da Silva
Complexa e profunda esta sua questão. Sim. 
Sou feliz
Com todas as dores e cores
Frida Kalo Van Gogh,  cheia de tristezas e incertezas angustiantes
Sou feliz com o tormento juvenil de Pedro Moraleida 
E como ele tento construir minha própria capela Sistina. 
Pinceladas fortes, atrevidas, revoltas e revoltantes
Sensuais e sexualmente selvagens e explícitas.
Sou feliz no exílio com Henfil e na resistência com Chico Buarque.
Porque sei que apesar de você... Sou maluco beleza, Raulzito
Um dia ou outro vem a alegria desapropriando as hienas tristes e os reis do pedaço, donos dos mitos por eles inventados.
Sou feliz nas paisagens de medo e terror e os noturnos de Chopin em Quatro estações Vivaldi
Afinal, brasileira, sou sonora, dançarina, cantante
Sou samba no pé, requebros de Axé, curtida na lambada,
Desafiando e denunciando esta porcaria e indecência de  país tão rico e tão desigual 
Com meu funk, rap, forró, baião e xote, xaxado e sertanejo
E danço triste um forró de Luiz Gonzaga, o Gonzagão, apreciando cachaça com raízes
Recusando esmolas do doutor, meu senhor, sua excelência, quero trabalho sou gente são.
Sou feliz encarcerada ou em eterna fuga Battisti para a liberdade.
Sou feliz nas milhares de dores do parto sem termo e a termo meus filhos e filhas
Sou feliz chorando mulheres assassinadas cruelmente, animalescamente em nome do machismo, mas na esperança Lula talvez desta vez 
Só um prato de comida, um toco de lápis e livro nas mãos, mais médicos, mais vida.
Sou feliz e espero, uma longa  demora, talvez mais um ou dois séculos, talvez milênios para a humanização de homens e mulheres e que possamos construir esta sociabilidade e civilidade lado a lado, juntos e misturados, Eu  big reputation  Taylor Swift, explodindo agudos e requebros Pablo Vittar.
Sou feliz vivendo a sofrência nossa de cada dia amando Romeu sendo Lucrécia escolhendo diariamente entre o sonho e feijão Orígenes Lessa
Dissimulada e com olhos oblíquos de Capitu
Muitas vezes sem arroz, feijão, pão  vendo crianças morrer na porta do SUS
Grito revolta e meu grito de horror é o mesmo de Edvar Munch, terrificante
Tanta fartura, tanta ciência e tecnologia, tanto conhecimento e cultura...
E tanta gente miserável, inteligência esmorecida, amarelada, anêmica
Feliz na sua indiferença, consciência entorpecida, valores éticos e morais invertidos
Felicitando odiadores, torturadores, assassinos, ditadores
E com eles imiscuídos e imersos na corrupção do melhor de cada um e cada qual
Uma corrosão de caráter, opção pela inanição e repetição...eu não gosto de política.
E me perguntam "Você é feliz?"
Sim. É possível felicidade é possível sonho neste mundo Albert Camus
Absurdo e irascível que cultua nazifascismo.
Felicidade é espera, ser feliz em meio a todo este estranhamento e alienação entre nós
E resistir à desumanização sendo e buscando cada vez mais o  humano em mim em nós,
Feliz apenas, feliz apesar de, feliz por ter o direito de ser humano.
Feliz por responder tal questão para mim
Porque felicidade para mim é isto, aquilo, este, outro, aqueloutro,  aqui e acolá
Em todos os lugares e mundos em meio a farturas e vicissitudes, 
no esplendor e nos perrengues. 
Porque posso escolher sempre: ser feliz.
Marina da Silva. Brasil. Janeiro de 2019.

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