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quinta-feira, 15 de novembro de 2018

BRAZIL: TEMPOS DE VIVER...


GENTILEZA URBANA
Foto Marina da Silva BH transporte público: sofrência!
 Marina da Silva
Segunda-feira: comecei pegando no tranco. Fim de semana prolongado, xô preguiça! Sorri ao ler no jornal do ônibus que gentileza urbana é não soltar pum! He, he, he.
Terça-feira: barraco na reunião; para dar conta de Tati só dando uma de Tigrão!
Quarta-feira: fico sem telefone. Em desabalada carreira, ensaboada, pelada e não querendo perder a chamada, o danado escorregou-me das mãos indo se espatifar no chão!
Quinta-feira: chego ao ponto atrasada e milagrosamente meu ônibus está lá e relativamente vazio, sou a última a embarcar. O motorista acelera e para não cair seguro a alça de proteção o que irritou profundamente um indivíduo que me aplicou um safanão e logo no braço operado. Resmunguei alto:
 _ Credo um estúpido quase me arranca o braço só porque demorei um pouco para não cair do lotação enquanto pedia uma informação?!
Alguém se vira - o estúpido; era uma senhora magricela de jeans, camiseta, cabelo Joãozinho parecendo um moleque.
_ Você estava impedindo a passagem! Encarou-me amarrando uma tromba.
_ Foi um milésimo de segundo para uma informação! Respondi espantada.
Ela atrevida dando de ombros:
_ Eu sou de idade!
Calei, dei uma nova olhada nela e não vi nenhuma senhora idosa, caquética, caindo aos pedaços. Vi sim, uma mulher abrindo passagem com muita energia e correndo para ocupar o último lugar vazio no ônibus.
Apelei:
_ Olha aqui! Isso aqui é um coletivo, mas não um transporte de gado. Ninguém precisa se comportar como boi ou vaca!
Fez-se um silêncio pesado e tive a impressão de ter gritado. Fiquei vermelha de vergonha, mas realmente estava indignada. Aí um rapaz me surpreendeu:
_ Senhora, sente-se aqui! E a quinta-feira foi salva.
Foto Marina da Silva. BHTRANStorno e BRT um sistema ultra...passado para mais de 3 milhões de habitantes, sem contar habitantes da RMBH-região metropolitana de Belo Horizonte. Felicidade pode estar num degrau da porta do busão.

Sexta-feira: perdi a hora, peguei ônibus lotado, uma hora em pé, aos trancos e barrancos e manobras arriscadas, num trajeto alterado pela duplicação da Antônio Carlos. Mas... It’s Friday!
Sábado: esqueço o tênis dentro do carro a caminho da academia. Corro rapidinho até a C&A da Paraná para comprar um parcelado. No trajeto ocorre algo inesperado:
_Tiu, titiu, titiu! Alguém vindo em minha direção chama por um cão. Levanto os olhos e levo uma ofensa gosmenta na cara.
_Cachorra!
_ Ah não! Duas vezes na mesma semana? Encarei o panaca pançudo cara de sapo e fuzilei-o com um olhar AR-15, apontei-lhe a minha bazuca e enfiei-lhe o dedo do meio pelas fuças!
_ Valeu loura! Alguém aplaudindo a resposta tão ofensiva quanto a do desgraçado.
_Gentileza urbana! Ô semana! Mais uma e jogo na lata de lixo uns cinco mil anos de civilização.
Domingo: rezo, oro e não boto o pé para fora de casa.


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