BRAZIL
FAVELIZANDO: POR QUE FAVELA?
Cnidoscolus
phyllacanthus (M.
Arg. & Pax et Hoffm.) conhecida por favela ou faveleira é uma planta
arbórea, xerófila, lactescente, que possui pelos urticantes (OLIVEIRA et al.,
2008). Possui várias utilidades, dentre elas a produção de sementes
comestíveis, remédios, lenha, madeira para construção, forragem para bovinos e
pequenos ruminantes sendo também utilizada para a recuperação de áreas
degradadas (ARRIEL et al., 2004). http://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/ovinos-e-caprinos/potencial-forrageiro-da-faveleira-como-alternativa-alimentar-na-dieta-de-pequenos-ruminantes-no-semiarido-brasileiro-80407n.aspx
Marina da Silva
FAVELA. Apesar de palavra
linda, ter uma belíssima sonoridade e se ligar ao nome de uma planta, a Favela
ou Faveleira, que, em épocas de seca no nordeste, salva os rebanhos, acolhe-os
na sua sombra e os alimenta, no Brasil tornou-se xingamento, sinônimo de
pobreza, miséria, fome, bandidagem, violência. Mas além de todas estas mazelas,
morar em favela significa viver em risco permanente de enchentes, inundações,
desbarrancamentos, deslizamentos, desmoronamentos, mortes em períodos de chuvas de verão ano após ano.
Favela é precariedade, desabrigo e perrengue! É renda baixa e/ou ausência de
renda; é baixa qualificação formal; é amargar a parca ou nenhuma presença do
Estado Legal em infra-estrutura de mobilidade, saúde, educação, transporte
público, saneamento básico como água, luz, esgoto.
Favelado tem cor e é
invisível aos olhos do governo e do restante da sociedade; é mão-de-obra
barata, é exploração e exposição a riscos de vida constante, dia após dia. É
ser alvo das milícias de narcotraficantes ilegais e legalizadas pelos governos municipais,
estaduais e Federal, que fazem vistas grossas, usam e abusam dos pobres
brasileiros pobres: homens, mulheres, crianças, idosos!
http://www.luisprado.com.br/ Escadaria Morro da Providência, Rio de Janeiro, a primeira favela brasileira.
Favela, faveleira,
favelado, escancara para quem tem olhos, enxerga e vê a brutal desigualdade econômica-social-política-cultural
brasileira onde muitos vivem “sem ter o que comer”!
“Moradia popular em
propagação”, as favelas, no início geograficamente horizontalizada nas grandes cidades e
metrópoles; atualmente passa pela propagação vertical no Brasil B dos Bric’s, PIB- produto interno bruto de trilhões de
dólares e o mínimo como salário! Apesar de “invisível”, as favelas e suas
populações crescem geometricamente a cada boom de crescimento econômico. Aglutinam-se,
verticalizam-se, formam imensos aglomerados nos morros, acompanhando rios,
riachos, córregos! Rio, Sampa, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre, Recife,
Curitiba, Fortaleza, enfim, em todas as 27 capitais, nos 5560 municípios e no
DF-Brasília!
Foto Marina da Silva. Vista parcial da PPL- Pedreira Prado Lopes. Mai/2012. Antes da Word Cup.
Quantas favelas, aglomerados de favelas existem no país? Quantos
amados brasileiros vivem em favelas nesta terra varonil? 12 milhões de famílias
ou cerca de 36 a 50 milhões de brasileiros, como apregoa os dados oficiais e
oficiosos? Toda a Nova Classe Média Brasil do século XXI?
A favela não é fenômeno
exclusivo do Brasil! Entender a “favelização” no mundo atual quer nos países desenvolvidos, subdesenvolvidos e/ou
em desenvolvimento quer seja capitalismo híbrido como o chinês é necessário
recuar historicamente ao surgimento do modo de produção capitalista, sua
expansão e “espalhamento” pelo planeta, o fenômeno da urbanização e formação simultânea de
uma enorme população destituída de tudo, e que possui de seu, apenas sua prole e
força de trabalho para ser vendida, explorada, recebendo o mínimo para a
própria subsistência e reprodução, século após século, como assalariado.
Salvo
as experiências do Estado de Bem Estar Social [welfare state] em alguns países
europeus no pós Segunda Guerra Mundial, a desigualdade social, a concentração
de riquezas num pequeno pólo da sociedade e o enorme fosso entre ricos e pobres
são condições necessárias à existência do capitalismo.
“Quem foi que disse que
miséria é só aqui? Quem está pensando que não se chora miséria no Japão?”
A
favelização ainda é resultante dos “cercamentos” de terras para a agricultura,
pecuária, indústrias, extração da madeira, mineração, especulação imobiliária, “grilagem”
de terras, desterritorialização por catástrofes naturais, guerras, e pela
explosão da superurbanização.
Favela Paraisopolis, Morumbi. Foto: Jorge Maruta/Jornal da USP. Vista parcial de Paraisópolis, São Paulo. SP Brasil.
“As favelas de São Paulo -
meros 1,2% da população em 1973, mas 19,8% em 1993 – cresceram na década de
1990 no ritmo explosivo de 16,4% ao ano”. Afirma Mike Davis em Planeta favela.
As favelas são altamente
estigmatizadas e alvos fáceis de exploradores quer de igrejas, políticos,
polícias quer dos narcotraficantes! PCC, CV, ADA, UPP, PPP; cada qual tem sua
área, sua empresa, seu rebanho, seu curral eleitoral e domínio de favelas!
Miséria, violência,
segregação! O governo se cala e colabora na exploração e confinamento de
imensos contingentes populacionais nas favelas brasileiras! Cada qual no seu
quadrado, verdadeiros guetos e campos de concentração reavivados, contendo
imenso exército de mão-de-obra barata, desqualificada, expropriada, explorada,
etiquetada para seus donos!
Foto Marina da Silva. PPL. Pedreira Prado Lopes. Belo Horizonte, MG. Brazil. E cores vivas para a World Cup 2014!
“Eu
só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci e poder me
orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar”.
E
tem a fome, moradias precárias em áreas de risco, vítimas da própria condição do
“ser favelado” e expostos diariamente a grandes violências oficiais e de
narcos! Onde está o Amarildo? Desapareceu e as câmeras de vigilância da polícia
mostra o “fenômeno Amarildo” em cores, no Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa
que possui cerca de 700 favelas! As
favelas brasileiras, além das desgraças naturais sofrem naturalmente com
incêndios criminosos e com limpezas urbanas, verdadeiros despejos humanos, como
por exemplo, o que ocorreu recentemente com a favela Vila Autódromo RJ.
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/20/politica/ OLIMPÍADAS
RIO 2016 » Remoções na Vila Autódromo
expõem o lado B das Olimpíadas do Rio.
"Nenhum tornado passou por aqui. A comunidade de cerca de 550 famílias de baixo rendimento foi removida voluntariamente ou involuntariamente por causa da construção do Parque Olímpico, o principal centro das competições das Olimpíadas do Rio de Janeiro, que começam a 5 de Agosto. Chega-se ali atravessando a Barra da Tijuca, na zona Oeste do Rio, em toda a sua longitude de shoppings de inspiração norte-americana e condomínios – uma hora de congestionamento, no mínimo, para quem vem da zona Sul. Novos condomínios de luxo foram erguidos nos últimos anos, como a “vila”, intitulada Ilha Pura, onde os atletas olímpicos vão ficar alojados. Toda esta área em torno da Lagoa de Jacarepaguá sofreu uma intensa transformação urbanística, que continua em curso. Torres de múltiplos andares eclodiram no meio do mato. A avenida de acesso ao Parque Olímpico está a ser ampliada e pavimentada. As nove instalações desportivas do Parque Olímpico – onde serão disputadas 16 modalidades – estão praticamente concluídas. Não há como chegar lá sem ver a Vila Autódromo. Ou que resta dela: uma dezena de casas de tijolo dispersas entre ruínas e bananeiras, terra revolvida com pilhas de entulho, poças de água povoadas de mosquitos. E graffiti: “Não vamos sair!” http://www.publico.pt/mundo/noticia/vila-autodromo-a-favela-que-se-recusa-a-desparecer-por-causa-das-olimpiadas-1724706
www.google.com.br/images. Copa da CORRUPÇÃO!
As
remoções das limpezas urbanas não são
recentes no Brasil; datam do início do século XX e é a forma preferida para
acabar com as favelas que "enfeiam" as cidades - incêndios deixam fumaça nas cenas de
crimes - e com elas os pobres e miseráveis que nelas vivem! Também não é
exclusividade do Rio de Janeiro e sim a prática habitual dos políticos
brasileiros atolados em atos de corrupção e conluio com ruralistas, usineiros,
banqueiros, especuladores imobiliários, empreiteiras especialmente, para tomar
as propriedades dos moradores das favelas, taxando toda a população favelada do país de "invasores".
https://www.google.com.br/search?q=FAVELA+CABEÇA+DE+PORCO/ RJ: Cortiço conhecido como Cabeça de Porco abrigava cerca de 4 mil pessoas (Foto: Marc Ferrez)
Para
aqueles que pensam que as favelas tem “origem” apenas em invasões ou no
“romantismo político” como afirma o governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral-
PMDB, uma leitura rápida de Mike Davis lhes dará conhecimento de como surgiu o
“Planeta favela” no mundo e especialmente no Brasil!
Belo
Horizonte é talvez a cidade-modelo quando o assunto é banir os pobres do mapa e
urbanização não-dependente de industrialização! Desde a construção, a capital
de um dos mais ricos estados do Brasil, Minas Gerais, foi idealizada sem a
presença de pobres e miseráveis, enfim, dos trabalhadores, a mão-de-obra que
construiu a “Cidade Jardim”. Veja BH na
planta, cidade construída para no máximo 42 mil habitantes e que atualmente
possui cerca de 2.502.557 milhões/habitantes e 326 favelas nos dados oficiais.
As várias intervenções urbanas para duplicação da avenida Antônio Carlos, cerca de 3.9 Km e mais de três "intervenções", só nos anos 2000, ao contrário do esperado deixou muitos horizontes favelas expostos: Pedreira Prado Lopes, Complexo de favelas Cachoeirinha, Favela Del Rey, favela Humaitá, Vila Santa Rosa, favela vila Real, Felicidade, etc, etc. E por mais que os "administradores e seus projetos urbanos" queiram l"impar o tecido urbano" pela simples remoção das favelas, elas brotam e crescem rumo ao céu. Por que recusar a existência das favelas? Esta não era a pergunta adequada no "confrontamento governo/ favelas"...
Foto Marina da Silva. Trecho da favela Vila Maloca que ladeia a BR 262 e o viaduto São Francisco. BH.MG