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quarta-feira, 1 de julho de 2015

BRAZIL: "Eu pedi a São João que me arrumasse um matrimônio...Isso é lá com Santo Antônio!


Viva Santo Antônio! Vivaaaa!
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Sérgio Antunes de Freitas

À medida que eu me aproximava, a figura se tornava mais caricata. O indivíduo estava sentado na grama, debaixo de uma pequena árvore, com toda a indumentária de um franciscano: as sandálias, o cinto de corda e o corte do cabelo!
Chegando mais próximo ainda, três sabiás pousaram em seus ombros e cabeça. Mas seu semblante continuava triste.
Cheguei perto e perguntei: - Tudo bem, amigo?
Ele balançou a cabeça vagarosa e negativamente.
- Como você se chama, amigo?
Ele respondeu com um sotaque lisboeta: - Dizem que fui batizado com o nome de Fernando Martins ou Fernando de Bulhões, mas ninguém tem provas disso. No mundo afora, me chamam de Santo António de Lisboa, por lá eu ter nascido, ou Santo António de Pádua, por lá eu ter morrido. Aqui no Brasil, me chamam apenas de Santo Antônio – com sotaque brasileiro na última frase.
Pensei tratar-se de um alucinado, mas continuei a conversa: - E qual a razão de sua tristeza?
Então, ele contou seu martírio: - Quando cheguei ao Brasil, construíram igrejas em minha homenagem. Nas fazendas, havia igrejinhas só para mim. Ou oratórios, em lugares de destaque na casa principal. Minha imagem estava em escapulários, broches, santinhos de papel, carregados nas bolsas e carteiras, também nos quadros em paredes das casas humildes. Mas, depois, passaram a me colocar na cozinha, atrás do filtro. Ou dentro do armário; e eu fico igual macarrão, por anos com o cheiro horrível de alho e óleo.
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- Eu morri em 1231 – continuou a falar. Mas, em 1668, me recrutaram e me assentaram praça. Cheguei a tenente-coronel, nomeado já aqui no Brasil. Justo eu, que sempre preguei a paz, fui relacionado com a guerra. Pior é que os senhores escravagistas invocavam meu nome para recuperarem negros fugidos. Aqui, ó, que eu ajudava! Talvez por conta dessas patentes militares pós-morte, dizem alguns que eu sou Ogum, o deus da guerra, no Candomblé. Pára com isso! Eu sou um instrumento de paz. Também já disseram que eu sou o Exu, o deus da comunicação. Disso eu gostei, pois fui um grande orador, admirado até pelo padre Antonio Vieira.
Aproveitei para tentar melhorar sua auto-estima: - Viu? Muita gente admira você!
Mas ele desconversou: - Fui um dos intelectuais mais notáveis de Portugal, em minha época, lá por 1220. Dei aulas em universidades francesas e italianas. Fui o primeiro Doutor da Ordem Franciscana, mas as pessoas só se lembram de mim como santo casamenteiro. Completamente equivocados, pois nem eu mesmo resolvi meu problema. Todo mundo sabe que eu ia me casar com a filha de João, mas o traíra do Pedro fugiu com aquela falsa, na hora de ir pro altar.

E veja só o que passo por conta disso – falou revoltado. Dias desses, uma solteirona feinha, feinha, mas isso eu não condeno, inculta, mal arrumada, mal cuidada, veio em minha direção, sonhando em casar com um galã da novela. Imagina a fila? Percebi que ia passar o resto de sua vida emborcado em um copo d’água. Ajoelhei e, fervoroso, rezei: - Pai, hoje, sou eu quem precisa de um milagre!
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Eu já estava convencido de que se tratava, de fato, do santo! E ele prosseguiu com sua catarse.
- Eu fico indignado, quando alguém está com um problema de difícil solução e uma carola de quinta categoria aconselha: - “Dá uma surra no Santo Antônio”. É mole? Ou, então, tiram o Menino Jesus dos meus braços e eu fico procurando o moleque, até que o problema seja resolvido. Não são devotos, são chantagistas!
Transtornado, contou: - Estou procurando um bom advogado, que entre com um pedido na Igreja, para a minha desbeatificação e minha descanonização. Cansei! Tenho certeza que meu colega de Ordem, o Papa Francisco, não vai indeferir meu pedido.
Mas preciso de dinheiro para o pagamento das custas. Por isso, fui a uma igreja e pedi uns trocados. Não sabia que era um templo evangélico! O pastor me disse não acreditar em mim nem na minha imagem. Saí humilhado!
Nesse ponto, meu coração amoleceu e eu comecei a conversar com ele sobre a filosofia maravilhosa de São Francisco de Assis, com quem ele disse ter convivido.
De repente, vi um terceiro se aproximar, olhando para mim. E quando olhei de lado, o Santo havia sumido. E eu falando sozinho!
O cara se aproximou e me perguntou: - Tudo bem, amigo?
Pensei rapidamente e respondi: - Sim, não me estranhe, eu sou ator de teatro e costumo vir aqui repassar meus textos. Pode ouvir se quiser!
Abri os braços e comecei:
Onde está a linha da minha vida, Eurídice?
Os versos e os números na roleta...
Mas já não dizem mais o que um dia eu disse:
- É preciso saber tudo para que esqueça!

Sérgio Antunes de Freitas
27 de junho de 2015

segunda-feira, 29 de junho de 2015

BRAZIL: DE CRISE EM CRISE..."a corrupção é endêmica."

RUMOREJANDO

http://rimasprimas.blogspot.com.br/


PEQUENAS CONSTATAÇÕES, NA FALTA DE MAIORES
Constatação I (“Quadrinha para se declamar, quando houver
 uma infiltração na sua casa”, de autoria do meu grande
 Amigo Sérgio Antunes de Freitas).
A água é um bichinho danado!
Entra por um buraquinho qualquer
Pode até escolher o lado.
Pois sai por onde quiser!
Constatação II
Marcelinho Carioca, depois de uma breve passagem como comentarista
 esportivo, quando comemorava, como jogador do meu Corinthians,
 a vitória de um campeonato do seu time, colocava uma faixa de
 “Atleta de Cristo” na sua cabeça. Durante as partidas distribuía pontapés, 
chutes nos adversários como se eles fossem os vendilhões do templo...
Constatação III (Dúvida crucial via pseudo-haicai).
Tento desvendar um mistério
Devo me casar
Ou entrar num monastério?
Constatação IV
Quando o obcecado leu na vitrine da livraria a chamada de um livro 
Introdução auspiciosa”, incontinente pensou: “Passível de mal-entendido”.
Constatação V
E como apregoava outro obcecado – nada a ver com o anterior – filosófica
 e didaticamente: “A gente tem que ser favorável à mudança de posição. 
Afinal, não adianta querer repetir as emoções anteriores porque elas 
nunca se repetem”.
Constatação VI (De conselhos úteis).
Data vênia, como diriam nossos juristas, mas Rumorejando achou que,
 na época, S. Excia. a Ministra do Turismo, Marta Suplicy, ao invés de 
recomendar “relaxa e goza” para quem tomou ou ainda toma um chá de 
até 12 ou 24 horas nos aeroportos, poderia objetivamente recomendar
 o seguinte: Que os passageiros antecipem suas viagens em 24 horas
 para, desse modo, chegariam em tempo para seus compromissos. De nada!
Constatação VII
Deu certa vez na mídia: “Mantega nega caos, ‘problema’ é o fluxo de passageiros”.
 O Ministro da Fazenda acha que crise aérea é o "preço do sucesso" da economia.
 Data vênia, como diriam nossos juristas, mas Rumorejando acha que S. Excia., 
na suas assertivas terrivelmente infeliz, quis dizer, em outras palavras, que há
 bens que vêm para o mal. Coitado... de nós todos.
Constatação VIII
A frase do Ministro Mantega, ainda segundo a mídia da época,
 suscitou o seguinte comentário do relator da CPI da crise aérea 
na Câmara, Marco Maia (PT-RS): "É melhor que o ministro fique 
calado. Em vez de ajudar, só atrapalha o processo com essas
 declarações. Foi um comentário desnecessário, descabido e fora 
de propósito", afirmou. Data vênia, como já foi assinalado anteriormente, porém Rumorejando acha que não somente o Ministro foi infeliz como
 também o da Saúde que, ano passado, asseverou que não havia
 problema na sua pasta. Nossos políticos acham, como tantos, que 
pimenta nos olhos dos outros é refresco. Nos olhos, porque
 somos educados...
Constatação IX (Dúvida crucial via pseudo-haicai).
Foi a cartomante
Que não atinou que o marido
Tinha uma amante?
Constatação X (Truco dramático). 
[Para os meus amigos Ernani Buchmann e Gerson Barão.
 Também para Nireu Teixeira e Vitor Marcassa (ambos in memoriam)].
Fui convidado
Pra jogar um truco
Na casa de gente fina:
Plantas ornamentais
E outros que tais
Por todo o jardim.
Jasmim-do-campo e bejuco*
Era o que não faltava.
O baralho era de plástico
O que produziu em mim
Um efeito bombástico.
Meu parceiro
Sempre foi bem-educado
E meu grande companheiro
Pediu, quando solicitado,
A se pronunciar o que queria.
“Uma simples cerveja
Não muito gelada, mas fria”.
Eles alegaram
Que não havia
E se serviria um vinho.
Por educação,
O sócio aceitou
Mesmo achando que não combina
Com tal tipo de carteado.
O vinho era francês
De boa cepa
E ele ficou numa embriaguez
Que ao invés de piscar para mim
Passou a fazê-lo pra ricaça
Que felizmente, como o maridão,
Levou como pirraça.
Os adversários
Era o casal de anfitriões
Que sempre jogaram juntos
E que tinham como assuntos,
O comentário de cada jogada.
Às vezes discutiam
E até bramiam
Na discussão
Até que ela se enganou
Numa mão
E ele não perdoou.
Depois daquela jogada
Ficaram de mal
E nunca mais se falaram
Então se divorciaram.
Coitado!
Coitada!
Quanto à moradia
Acabou vendida
Para um casal que nem sabia
Que truco se joga com baralho
O que culturalmente
Era no seu currículo algo falho,
Um atraso de vida
E assemelhados
Tão-somente.
Coitados!
*Bejuco = Substantivo masculino. Botânica.
1. Bras. Amazonas. Rio de Janeiro. Mato Grosso. Arbusto ou trepadeira 
da família das bignoniáceas (Callichlamys latifolia), de flores amarelas e 
frutos capsulares.
2. Bras. Amazonas a Santa Catarina. Trepadeira da família das 
bignoniáceas (Paragonia pyramidata), de flores amarelo-enxofre,
 róseas ou violáceas, e frutos capsulares.
Constatação XI
Quando o obcecado leu na mídia que “nos primórdios da vida, havia muito
 sexo e nada de predadores” comentou: “Hoje em dia é completamente o 
revés. Ainda bem que pessoas como eu, que não são predadores, se ocupam
 da manutenção de que a outra parte continue em diligente vigência”.
Constatação XII
Deu certa vez na mídia: “Yahoo! diz que oferta da Microsoft de US$ 44,6 bilhões 
subestima a empresa”. Data vênia, como diriam nossos juristas, mas Rumorejando 
acha que os valores em discussão subestimam a América Latina, o Caribe, a Asia
 e a África pelo número de pobres que os povos desses países possuem. 
É muito dinheiro na mão de poucos...Como sempre...
Constatação XIII (Teoria da Relatividade para principiantes),
É muito melhor tomar uma cerveja gelada, oferecida por uma senhora gata, 
do que, na Inglaterra, uma quente, ofertada por rainhas, princesas, 
príncipes ou alguém de sangue vermelho mesmo.
Constatação XIV
É um pesadelo escutar, todos os dias, em muitos decibéis o carro 
apregoando seus sonhos...
Constatação XV
Em certos setores de certos países, a corrupção é endêmica.
Constatação XVI
Deu na mídia: “Políticos japoneses fazem dieta para conscientizar população”. 
Será que os políticos brasileiros não poderiam, pelo menos, deixar de dar 
maus exemplos? Quem souber a resposta, por favor, comentários no blog.
 Obrigado.
Constatação XVII
Cachorro. Além de se comunicar latindo, também o faz através
 do idioma rabês.
Constatação XVIII
Quando o convencido leu na revista Isto É as declarações da 
atriz Thaila Ayalla: “Eu sou viciada em sexo, e se fico uma semana sem, 
viro mulher-aranha. Seria bom se eu tivesse sete namorados à minha disposição”, 
estufou o peito, cuspiu para o lado e, do alto da sua empáfia, proferiu grandiloquente:
 “Se ela me tivesse como seu namorado, ela dispensaria os outros seis almejados. 
Não é à-toa que eu sou como certas hipotecas: única – no caso, único –,
 intransferível e especial”.
Constatação XIX
Quem vai pagar os prejuízos da Petrobrás?
Constatação XX

Poeminha massageador

Ganhei uma medalha de ouro
Quando a gatona me disse:
“Você é meu maior tesouro”.
Eu, modesto: “Não diga asnice”.

“Não é tolice o que eu falei
Tampouco é sandice
Eu sempre te amei
Mesmo com a tua estultice”.

Diante de tanta convicção
Mesmo sem saber o significado
Daquela nova expressão
Eu fiquei lisonjeado.

Quando olhei no dicionário
Que pode ser estupidez
Não achei nada extraordinário
E não foi a primeira vez...

Constatação XXI
E como poetava o obcecado, nada a ver com o outro da 
outra constatação acima:
Resisto a um assédio
Quando ela não me interessa
Mas aceito quando é remédio
Na base do ‘que vá’, ‘vamos nessa’
Pra melhorar o meu já alto promédio
Mesmo que a gata não seja uma peça.
Constatação XXII
Acho muita graça
Quando, ela, toda rebolativa,
Toda cheia de empáfia
Por mim passa
Com um ar de altiva,
Recitando Cora Coralina
A poetisa goiana tão viva,
Tão doce e tão prendada
E tão ferina,
Querendo a atenção chamar
Talvez, quem sabe, me impressionar,
Sem conta se dar,
Que a simplicidade
Da grande autora
Estava distante da vaidade
E sem dúvida em versejar
Uma senhora doutora.
Cara menina
Não esqueça
Que a arrogância,
O pedantismo,
A jactância,
O pernosticismo
Não levam a nada.
E para que ninguém te abomine
Não faça que este, digamos, assim
Escriba termine,
Como costuma sempre no fim,
Empregando a palavra “Coitada!”
Constatação XXIII (Passível de mal-entendido).
-“Vizinho eu preparei isso pra misturar com a sua mandioca”.
Constatação XXIV (De uma dúvida crucial). 
Se Robin Hood poderia ser considerado uma espécie pessoa da 
Esquerda ao roubar dos ricos para dar aos pobres, numa aparente 
distribuição da renda, os da assim se considerando de Esquerda que 
estão no Poder e assaltam, como no caso da Petrobrás, podem ser 
considerados que passaram para o Centro ou à Direita? Quem souber
 a resposta, por favor, comentários no blog. Obrigado.
Constatação XXV
Não se pode confundir prometo com brometo, muito embora ambos 
ou ambas sejam prejudiciais à saúde de um vivente, senão vejamos: 
Brometo, segundo o dicionário Aurélio quer dizer: Substantivo Química.
2. Restrição. Qualquer de certos brometos, como os de sódio, potássio 
e amônio que, adicionados à alimentação em prisões, navios de guerra, 
etc., eram usados como sedativos, e de uso, hoje em dia, condenado.
Prometo = Do verbo prometer. Comumente utilizado por políticos, em
 época de campanha política, inserido na frase “se eu for eleito, eu prometo”
 e segue-se uma mentirada sem tamanho e claro que não pode ser levado 
a sério, embora seja por incautos. Tampouco a cantada que diz; Eu prometo 
que depois a gente casa. As demais diferenças, Rumorejando deixa de
 enumerar por falta de espaço no blog. Obrigado pela compreensão.
RICOS & POBRES
Constatação I
Rico vive absorto; pobre, displicente.
Constatação II 
Rico vence a inércia; pobre é preguiçoso.
Constatação III
Filho de rico é superativo; de pobre, é malcriado.
Constatação IV
Rico compila; pobre, copia.
Constatação V
Jurista rico usa a expressão “Data vênia”; jurista pobre,
 “Salvo melhor juízo”. (Dúvida crucial: Jurista pobre?)
Constatação VI
Rico toma champanhe; pobre, escuta da polícia: “Me acompanhe”.
Constatação VII
Rico ultrapassa. Apenas, ultrapassa; pobre ultrapassa dos limites.
Constatação VIII (Colaboração do Amigo Alcy Xavier
 “que ouviu de um cliente de um bar na Chinatown curitibana”).
Rico é deficiente químico, pobre é pinguço”.
Constatação IX
Rico correndo é atleta; pobre correndo é que a polícia vem atrás.
Constatação X
Rico subtrai; pobre, surrupia.

E-mail: josezokner@rimasprimas.com.br
Site: www.rimasprimas.com.br 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

BRAZIL: Pelé, faz um gol para mim?

O PAI DO PELÉ

www.google.com.br/images. O filho do Sô Dondinho começando a brilhar no time Noroeste da cidade paulista de Bauru.

Sérgio Antunes de Freitas

Fui provocado pela notícia de que um jornalista famoso procura por histórias do pai do Pelé.
De histórias, o filho é recordista, mas o pai também merece muitos encômios, na forma de lembranças.
Resolvi, então, contar um episódio que se passou há mais de meio século e, acredito, sou o único vivo que presenciou.
Foi em agosto de 1961, quando eu tinha sete anos.
Seu Dondinho trabalhava no Centro de Saúde de Bauru, juntamente com meu pai, dentista. Se não me engano, ele era motorista da entidade pública. Por isso, nos conhecíamos e eu encontrava-o às vezes.
Eu morava na Rua Alfredo Ruiz, n.º 3-47, e ele morava próximo, na Rua 7 de Setembro, em uma casa que hoje está praticamente em ruínas, mas deveria ter sido transformada em museu do Rei do Futebol, trazendo vantagens turísticas para a cidade. Lamentavelmente, não houve dirigente público com essa visão.
Seu Dondinho costumava passar em frente a minha casa, para ir ao Bar do Seu Justino, que ficava na esquina, no lado oposto e no quarteirão de baixo. Sempre elegante, preferia camisas azuis claros, se minha memória não falha. Ou terno branco, com chapéu também branco.
www.google.com.br/images. O rei Pelé.


Quando o via, atravessava a rua correndo e pedia: - Seu Dondinho, quando é que eu vou conhecer o Pelé?
Ele sempre se dirigia a mim e a outras crianças com um sorriso carinhoso e palavras de esperança, prometendo que atenderia, quando fosse possível. Como se dizia na época, era um “gentleman”!
Muitas vezes, quando estava no bar com seus amigos, eu levava uma folha de papel, para fazer o famoso bolão, no valor de um cruzeiro, do próximo jogo do Noroeste, o time da cidade no Campeonato Paulista.
Todos eles davam palpites absurdos, com resultados de 8X7, 9X9, 11x4, para se divertirem comigo. Na inocência de criança, quando ninguém acertava, eu devolvia o dinheiro para cada um, em vez de fazer o papel de banca de jogo e ficar com o dinheiro. Eles riam e me mandavam entregar o dinheiro para o Seu Justino, que sempre me retribuía com um refrigerante de guaraná.
Naquele mês, quando soube que o time do Santos iria jogar no domingo contra o Noroeste, fiquei ansioso por apresentar o bolão ao seu Dondinho. E ele cravou 7X1 para o time do seu filho, justificando: - Desta vez, eu aposto contra o Noroeste, claro!
Eu assisti ao jogo e o placar foi exatamente esse, com quatro gols do Atleta do Século.
Na segunda-feira, após uma vigília no portão de casa, corri para entregar o dinheiro a ele, que não aceitou, dizendo que havia jogado para mim.
E os seus amigos adoraram zoar: - Que isso, Dondinho? Mandar o filho fazer quatro gols, só para ganhar o bolão do Serginho? Vamos denunciar na Federação!!!
Mas isso aconteceu um ano depois de ele ter cumprido sua promessa.
Em abril do ano anterior, ele havia dito para meu pai me levar à sua casa, pois o Pelé havia tido uma permissão para resolver problemas pessoais em Bauru e, no dia seguinte, jogaria contra o Botafogo do Rio, no Maracanã.
No encontro, ele disse que faria um gol para mim.
No dia seguinte, eu e meu pai grudamos no aparelho mais importante da casa, para ouvir o jogo pela Rádio Nacional. Em entrevista antes do jogo, o Pelé confirmou que havia prometido fazer um gol para um garotinho de Bauru.
Meu pai vibrava mais do que eu!
Eu adormeci logo depois, mas, na manhã seguinte, corri para perguntar ao velho sobre o resultado do jogo e sobre meu prometido gol.
Meu pai me informou que o jogo havia sido 3X0 para o Botafogo!
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www.google.com.br/images. O seca-pimenteira que impediu o gol do garotinho de Bauru. O cara é tão chato que "Chato" sobe nele e desce vazado! rsrsrs

E concluiu, bem-humorado: - Tu seca até o Pelé, heim?
Foi quando eu aprendi que há coisas que só acontecem para o Botafogo do Rio. Ou para quem joga ou torce contra ele!

Sérgio Antunes de Freitas

21 de junho de 2015

terça-feira, 23 de junho de 2015

BRAZIL. DEMOCRATIZAÇÃO LIFE STYLE $1.99: A FADIGA E O LUXO!


FADIGA DE LUXO E FADIGA DO LUXO
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www.google.com.br/imagem. Luis XIV, o Grande, o Rei sol.
Marina da Silva

Para quem acredita que uma coisa e outra são a mesma coisa saiba que o risco de estar redonda e globalmente enganado é altíssimo! Buscar compreender  o complexo fenômeno Fadiga de luxo e Fadiga do luxo não é preciso uma gramática sobre preposição, artigo, contração e ambiguidade dos conectivos de ligação “de” e “do”, mas é condição essencial entender o contexto histórico, econômico-social-político, cultural, etc, onde tais expressões ganham “corpo e alma” e fazem algum sentido no processo de construção da sociabilidade humana sob a égide do capitalismo, ou seja, do modo de produção de mercadorias de valor de troca sendo o dinheiro a mercadoria que compra qualquer mercadoria e o trabalho humano a mercadoria que produz valor acima do seu valor, gerando o lucro dos capitalistas. É nesse sistema que, principalmente nos séculos XVII e XVIII, que luxo é esplendor, raridade, nobreza, preciosidade, elegância, único, exclusivo, inédito, histórico! Fadiga de luxo é viver por viver o melhor, o super, hiper, mega, plus que o dinheiro e o poder podem reservar a poucos! É ser mais que um rei, é brilhar como o sol rodeado e desfrutando tudo do bom, melhor, excelente como Luis XIV, o Rei Sol, rei da França e Navarra de 1643 até sua morte em 1715!


www.google.com.br/images. Palácio de Versalhes, dormitório da rainha.


Majestosa, exclusiva, preciosa, limitada, personalizada, original, pura, requintada, exótica é a Fadiga de luxo deste período banhada em muito ouro, prata, incrustada de rubis, diamantes, esmeraldas, especiarias de toda parte do mundo conhecido, cultura, filosofia, refinamento de culinária, bebidas, vestuário, jóias, calçados, educação, transporte e brinquedos de luxo, culto as belas artes, arquitetura, classe! Quanto mais caro, suntuoso, luxuoso e ricamente único, mais esplendor, glória, poder! A Fadiga de luxo é para pouquíssimos e curada em viagens ao estrangeiro, estadias nos Alpes, caçadas nas vastíssimas propriedades rurais, jogos e passeios nos belíssimos bosques, campos e jardins, verdadeiras obras de arte, filosofia, ciência! Veludo de Utrecht, cristais da Bhoemia, especiarias das Índias, enxovais de Limoges, sedas e porcelanas da China, vinhos de Champagne (Krug, Don Perignon, Veuve Clicquot), cervejas belgas, relógios suíços, Whisky escocês, tecidos ingleses, sapatos italianos...


www.google.com.br/images. Vista parcial dos Jardins do palácio de Versailles.


Reis, imperadores, clero, nobreza,  e a alta burguesia dotada de títulos nobremente comprados se esfalfam na ostentação, bom gosto, dia e noite em todas as estações do ano numa tarefa fatigante e extenuante e realizada com refinado prazer em festas, jantares, saraus, jogos, viagens...Um luxo! 
Foto Marina da Silva. Belo Horizonte. Minas Gerais. Brazil. É o Estado mineiro um dos melhores campos de observação científica do país para o fenômeno Life Style $1.99.

Já a Fadiga do luxo é uma expressão contemporânea, século XXI, intimamente ligada ao Life style $1,99* criado a partir do boom tecnológico/científico que permitiu a fragmentação de todas as fases produtivas e mesmo da produção inteira e sua transferência e dispersão geográfica para áreas fartas em matéria-prima, mão-de-obra barata e/ou escrava, ausência de sindicatos e legislação trabalhista e muitas benesses e isenções fiscais dos Estados hospedeiros. A nova fase de globalização (produção, mercado, pessoas) e das intervenções e ingerências neoliberais comandadas pelo Fundo Monetário Internacional-FMI nas economias soberanas, na administração e orientação de concentração de riquezas e na pressão e insistência nas privatizações e  cortes nos gastos sociais dos governos estrangulou a classe abastada e a classe média clássica e promoveu o desemprego em escala global, a pobreza e miséria de milhões de seres humanos! 
Gerenciar e dominar países subdesenvolvidos era e é muito comum no cotidiano dos povos terceiro-mundistas, Brazil incluso, mas inacreditavelmente  foram expandidos e impostos [com anuência dos Estados da União Européia] aos países de Primeiro Mundo, economias enfraquecidas principalmente após a super crise financeira mundial de 2008 com epicentro nos Estados Unidos e que atingiu sem dó nem piedade os países da União Européia [Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda, Itália] a partir de 2011 tornando genérico o receituário do Consenso de Washington da América Latina para todo  Primeiro Mundo Desenvolvido!
Foto Marina da Silva. Paris, outubro 2007. Turistas do mundo "subdenvolvido" comprando bolsas Louis Vuitton falseta vendida por ambulantes asiáticos e africanos no largo de Sacre Coeur. Detalhe: mercadoria com qualidade para primeiro-mundistas!

Com o fim da "Era de ouro" do capitalismo (pós Segunda Grande Guerra à meados dos anos 1960) e a super explosão tecnológica (robótica, transporte, informática, bioengenharia, mecanização com base na microeletrônica, etc) a taxa global de lucros despenca vertiginosamente! Aumenta a competição pelos mercados e o capital produtivo é suplantado pela especulação financeira. A produção de massa fordista/taylorista entra em colapso e novas formas de produção compõem a reestruturação produtiva, a gerência, o trabalho levando a um aumento exponencial do desemprego, das relações precárias de trabalho, rebaixamento salarial, "terceirização do modo de vida" em países que serviam de modelo de desenvolvimento econômico e social para o resto do mundo!
www.google.com.br/images. Massificação de produtos de baixa qualidade [matérias-prima suspeitas de contaminação, por exemplo, uso indiscriminado do plástico e fibras sintéticas].

"A China virou a fábrica mundial, a Índia o escritório mundial e o Brazil o celeiro do mundo" (commodities agrícolas, recursos minerais) um imenso continente fornecedor de produtos primários"! O Primeiro Mundo foi produzir na China e o que era luxo transformou-se em lixo genérico, falseta, pirata! A consequência  desta reorientação da produção? Tudo o que é original, exclusivo, único, personalizado, puro, precioso, requintado, histórico pode ser copiado, falsificado!

Foto Marina da Silva. Comprado por mim no Shopping Oiapoque, Belo Horizonte, Minas Gerais. Brazil. O shopping ilegal mais legal de Belo Horizonte. Nike, Vitoria Secret, Louis Vuitton, D&C, Chanel, Christian Dior, Hugo Boss, Lacoste, Christian Lobotin:  tudo se compra em ambulantes, camelôs, feiras shopping e shopping de importados!


A "corrupção e corrosão" do caráter da produção de mercadorias engolfou as relações de trabalho e as relações humanas. A corrupção se espalhou da "fábrica invadindo as casas", a administração, os políticos, os capitalistas( alto grau de corrupção e roubo dos cofres públicos), os pobres brasileiros pobres, miseráveis e até a antiga classe média clássica! A pobreza e miséria material e espiritual tomou o mundo de assalto! Fenômeno conhecido e classificado como "democratização" genérica da vida" na mídia brasileira é na verdade a imposição socialista do capitalismo comunista e seu Life Style $1.99: chulo, pirata, falseta, genérico made in condições desumanas,  degradantes e corrompidas!
Democratização do luxo, fadiga do luxo é na verdade um subterfúgio, uma imensa cortina de fumaça para velar e justificar uma fase de concentração de riqueza no Brazil e no mundo nunca dantes vista. Duzentos milhões de habitantes, 54 bilionários na revista Forbes, entre eles, Jorge  Paulo Lemann [US$25 bilhões], o mega capitalista que transformou a cerveja num líquido redondo e que só Deus sabe o que fará com o sanduba após garfar empresas no ramo  junk food!
Foto Marina da Silva. Paris vista parcial da Torre Eiffel; Bel Horizonte, paisagem (vista) comum nas cidades brasileiras, principalmente nas capitais. Mega mansões rodeadas por imensas favelas.

 "Primeiro mundo virou piada no exterior..." o sonho brasileiro de país primeiro-mundista para todos nunca passou de sonho, mas a "terceirização" do Primeiro Mundo para o Life Style 1.99 é o pesadelo atual e ninguém consegue acordar!


"Ao longo dos últimos anos tem-se observado duas correntes divergentes quando o assunto é discutir a melhor definição para luxo. Existe a corrente dos que afirmam que luxo é acessível e que estaria ao alcance de todos os consumidores e aqueles que são enfáticos em afirmar que o luxo é para poucos, seguindo a corrente francesa de pensamento, com os autores Lipovetsky (2002), Castarède (2005), Allérès (2000), Ferreux (2008) e Roux (2005). A corrente contrária geralmente empírica e composta pelo meio empresarial que se apresentam como estudiosos do luxo, trazendo dúbia interpretação do que realmente é o luxo. Alguns chegam a apresentar sensata dificuldade no modo que o caracterizam, dando-se a entender que o luxo, na pluralidade das vezes tornou-se caracterizado como algo acessível às classes emergentes, e consequentemente algo a ser em breve popularizado."http://catolicaonline.com.br/revistadacatolica2/artigosv3n5/artigo06.pdf Luxo: is not for all.Tarcisio Campanholo, Solon Bevilacqua

Mosaico a partir de www.google.com.br/images. DEMOCRATIZAÇÃO? LUXO ACESSÍVEL? POPULARIZAÇÃO DAS MARCAS DE LUXO OU CRIME?


O esmagamento das classes médias tornou produtos luxuosos, de alta qualidade em um sonho quase possível parcelado no cartão de crédito ou carnezinho. Fadiga do luxo é uma expressão "chique" inventada para dar conta da miséria espiritual e material que se abateu pelo mundo a partir dos anos setenta, século XX. A fadiga do luxo envolve um processo gravíssimo de despersonalização, indiferenciação, massificação, miserabilidade espiritual e material sufocando os desejos e extinguindo e/ou limitando o "querer, o desejo" pelo rico, exclusivo, requintado, especial, original, luxuoso! Envolve um encarceramento, controle e domínio da liberdade em todas as suas facetas e possibilidades.