OS PRÓXIMOS QUATRO BILHÕES: o estudo e o paradoxo.
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Marina da Silva
Para começar necessitamos do Aurélio, o pai
dos burros, para saber o que é mesmo um paradoxo. Tem cara de palavrão, mas é o
“conceito daquilo que é ou parece contrário ao senso comum”. Mas vamos entendê-lo melhor analisando os
resultados de um estudo realizado pelo IFC (Corporação Financeira
Internacional) instituto privado ligado ao Banco Mundial e BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento) sobre como a pobreza mundial é um mercado potencial
de capital, ou seja, a pobreza pode gerar muita riqueza. Como? Este é o tal
paradoxo!
www.google.com.br/images"Notícia relançada pelo The Economist:pela primeira vez na História, o número dos pobres diminui em todos os lugares".
Então, a crise global afinal faz bem? Mais desgraçadas as economias, melhor a vida de todos? E todos os novos desempregados?"
Diz o estudo que “as quatro bilhões de
pessoas que vivem na pobreza tem um poder de compra de 5 trilhões de dólares”! Pasmem!
Os quatro bilhões de pobres que correspondem a 72% da população mundial é um
mercado subestimado, “significativo e mal alimentado”! Quatro bilhões de
pessoas, vivendo abaixo da linha da pobreza, isto é, tendo de sobreviver com
1,5 a 4 dólares por dia, podem enriquecer ainda mais os poucos ricos do mundo!
É um paradoxo!
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O levantamento do IFC, unha e carne ao
Banco Mundial/BID entrou fundo na pobreza, rastreou, mapeou, fez gráficos e
chegou aos seguintes dados: geograficamente, a maior concentração de pobres
está na Ásia e Oriente médio – são 2,86 bilhões de seres humanos que podem ser
explorados e gerar um mercado de 3.47 trilhões de dólares. Trilhões!
www.google.com.br/images. China comunista, 2ª potência capitalista do planeta: enjaulando a pobreza!
Em seguida
vem a mama África, com 486 milhões de pobres e um mercado potencial para 429
bilhões de dólares; depois a América latina com 360 milhões vivendo na pobreza,
mas um mercadão potencial para U$509
bilhões e por último o leste europeu, que tem 254 milhões de pobres que
espremidos podem chegar a uns U$ 458
bilhões. Brincadeira? Não! E a coisa pode ser mais sinistra se levamos em conta
que o conceito de pobreza varia e muito de país para país. Se o pobre no Brasil
é assim imagina na África!
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O estudo aconselha aos capitalistas a
investir na penúria. A conclusão é que “a pobreza dos quatro bilhões“ pode
enriquecer as empresas e seus clientes” e isso porque existe um tal “custo
adicional ligado à pobreza” ou seja, “os pobres têm frequentemente acesso aos
produtos e serviços mais caros, de menor qualidade, e às vezes em condições
difíceis e até impossíveis”! Como isto é possível?
www.google.com.br/images: "Para levantar o número de brasileiros em extrema pobreza, o IBGE
levou em consideração, além do rendimento, outras condições como a
existência de banheiros nas casas, acesso à rede de esgoto, água e
energia elétrica. A pesquisa também avaliou se os integrantes da
família são analfabetos ou idosos.Os dados do instituto apontam que os 16,267 milhões de
brasileiros extremamente pobres estão concentrados principalmente na
região Nordeste, totalizando 9,61 milhões de pessoas..."IBGE/2010
Tem várias modalidades e
nomes: no Brasil, populismo,
clientelismo, dar o peixe e alguns cultos vêm chamando de “Estatização da
pobreza” ou seja, programas sociais de combate a fome, miséria, doenças,
medidas paliativas como o bolsa-escola, bolsa-família, vale-gás, cesta básica,
etc.)enfim: BOLSA-ESMOLA; no primeiro mundo (EUA, Europa) existe um mínimo social e programas para
complementá-lo; na África impera as campanhas humanitárias de combate a fome,
Aids e outras misérias através de ONG’s, OG’s e organismos internacionais como
a FAO( Org. para Agricultura e Alimentação), ONU( Org. Nações Unidas), OMS(Org.
Mundial de Saúde). E o pobre ainda dá seu jeito em bicos, biscates, trabalho
informal, ilegal.
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Que a riqueza se assenta na exploração de
bilhões de seres humanos que têm de garantir a existência com o mínimo é fato
conhecido, palpável e visível, mas daí a colocar isso numa pesquisa e mostrar
que ainda é possível tirar mais dos pobres, é abjeto!
www.google.com.br/images "Especulação com preços dos alimentos provoca fome no mundo". E os maiores ESPECULADORES são J.P. Morgan, Goldman Sachs, Barclays. TV5 Monde/14-09-2012
Estatizar a pobreza é na
verdade uma acumulação capitalista selvagem sobre as mazelas sociais provocadas
pelo capitalismo. O problema da pobreza pode se deduzir, é a educação,
principalmente, matemática e econômica, pois os pobres têm muito pouco e ainda
gastam mal. Quer ver? Gastam: US$ 2,85 trilhões em alimentação; US$ 433 bilhões
com energia, US$ 332 bilhões em moradia, outros US$ 179 bilhões em transporte,
desperdiçam US$ 158 bilhões na saúde, US$ 20 bilhões com água e somente US$ 51
bilhõezinhos com tecnologia de informação, leia-se celulares!
Foto Marina da Silva. Trabalhadores informais; catadores de materiais recicláveis presos a uma rede de exploração verde que inclue o serviço de limpeza urbana de Belo Horizonte. Se não fossem os catadores teríamos que morar na capital do lixão a céu aberto, pois em BH a limpeza urbana é de QUINTA categoria realizada por TERCEIRZADAS!
Para os experts do IFC /Banco Mundial/BID, o negócio é
redirecionar estes gastos! É muito dinheiro mal investido, principalmente nessa
mania que pobre tem de comer! Detalhe: pode parecer mera coincidência entre
estudos como este e a atual especulação sobre a crise global dos alimentos _
que vem levando as nações estocarem alimentos como arroz, trigo, milho gerando
elevação de preços _ e a grande fome século XXI. Mas...será?
www.google.com.br/images. "O Cassino do Sistema Alimentar Global – o direito à alimentação deve estar acima da fome de lucros"
No fundo, lendo a
reportagem sobre o estudo “Os próximos quatro bilhões”, a impressão que se tem
é que os investidores irão fazer uma caridade imensa, voltando seus olhos e
garras sobre os miseráveis do planeta!
"Em ‘The Food Bubble: How Wall Street Starved Millions and Got Away with
it’ (A Bolha Alimentar: como Wall Street levou milhões à fome e
conseguiu sair impune) — uma matéria de capa da Harper’s — Fredirick
Kaufman afirma: “A história dos alimentos teve uma transformação
sinistra em 1991, numa época em que ninguém estava prestando muita
atenção. Naquele ano, o Goldman Sachs decidiu que o nosso pão de cada
dia poderia ser um excelente investimento”."por Vandana Shiva