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sábado, 1 de julho de 2023

BRASIL. CÂNCER DE MAMA VINTE ANOS DEPOIS: ESCRITATERAPIA

 ESCRITATERAPIA

Marina da Silva

Escritaterapia é um neologismo criado ou roubado por mim em algum momento de 2003 durante a radioterapia, uma fase do tratamento do câncer de mama que me acometeu e tratei durante  2002 - 2003. Escrever como uma forma de lidar com o medo da doença e a depressão; uma  cura através da escrita.

Provavelmente esta terapia começou com os que moravam nas cavernas e dumeidunada, uns 10-15 mil anos depois,  usei para me salvar de mim, àquela época cheia de metástases psicológicas, expressão que também me apropriei de um paciente em tratamento de câncer de próstata. Eitcha depressão dusinfernú!

Dos escritos tirei trechos e montei um livro para dar um feedback ao mastologista, Dr. Gabriel de Almeida Silva Jr em agradecimento pela sugestão de "escrever" um livro para me ajudar com a depressão e resistência aos antidepressivos. Eis um "Capítulo" do que escrevi e resgatei hoje para partilhar com vocês todis, meus amiguix.

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03-08-2003

LXIX. FOME DE ESCREVER

Comecei a escrever em fevereiro e de lá pra cá foram mais de "trocentas" páginas do caderno. De inicio comecei no meu caderno de Filosofia, no espaço entre as anotações, só que não conseguia parar de escrever e o caderno acabou. 

Passei então para umas folhas velhas, restos de caderno de Amanda e também enchi páginas. A medida que escrevia ia desafogando a alma e ficando mais leve quando passava para o papel toda raiva, mágoa, ódio, medo...

Numa sexta, depois da aula de violão de minha filha passei numa destas lojinhas no centro de "1,99" e comprei um cadernão. tinha resolvido após reler alguns trechos escritos que ia organizar tudo em um só lugar e queria mais espaço para escrever.

A ideia que parecia boa tornou-se um tormento, pois fazem dois meses que estou "passando a limpo" o que escrevi. Não tinha ideia do tanto que escrevera. Passei a levar o cadernão para o trabalho e escrever nas horas vagas entre os pacientes.

Consigo escrever pouco pois  me dói o punho, o antebraço, o braço, a mama.

"Por que você não digita?" Perguntou minha amiga M. quando lhe contei e lhe mostrei o que venho chamando de "Bíblia" de tão grande que é, com o Antigo e o Novo Testamento. O problema é que sinto mais dor ao digitar e gosto de escrever, sinto a mão como uma extensão do meu cérebro.

A última vez que escrevi foi 19 de junho depois de largar de vez a psicanálise e então tentei acelerar no cadernão para continuar desabafando. tenho tanta coisa pra escrever só que ter que passar a limpo tá me enchendo!

Hoje não aguentei e acabei escrevendo estas páginas. O motivo foi uma conversa que tive com Magda e Beth, minha irmã.

Ao mostrar Magda o cadernão e comentar sobre o que estou escrevendo ela perguntou com o mesmo entusiasmo de Dr. Gabriel, por eu não transformava em livro e mandava para uma editora? Eles fariam a "limpeza" no texto e veriam o que dava para publicar.

"Não dá, é muito pessoal, igual a um diário. Respondi-lhe. Eu escrevo na primeira pessoa e cito nomes de todo mundo, inclusive o seu!"

"Muita gente escreve na primeira pessoa!" Retrucou.

"É, os gênios Machado de Assis, Marx ou os desavisados tipo Sula Miranda (esta escreveu um livro, não sei se na primeira pessoa)". Revidei.

"Você quer ler o que escrevi sobre você?"

Fomos para a copa e enquanto ela tomava café leu as duas últimas escritas recentes. Voltou entusiasmada reafirmando que eu deveria escrever o tal livro. A noite em casa, comentando com Beth dei-lhe as mesmas páginas para ler e ela apesar de ter ficado triste tambem tinha a mesma opinião. Não só eu, mas também G deveríamos escrever sobre o que passamos para ajudar outras pessoas.

Perguntei a ele o que achava e ele me disse que não gostaria de escrever sobre isto, mas achava a ideia sobre mim boa.

A noite folheando uma revista Marie Claire de 1995 li um depoimento de vida e pensei que talvez este pudesse ser o canal. Muita gente compra e lê revistas e esta estava na maioria dos consultórios e clínicas que eu frequentei neste perrengue.[...]

06-03-2004

Foi a pior ideia que tive na vida e ainda por cima esqueci de colocar meu nome e endereço. Pode?!




  




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