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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

BRAZIL. EMILY EM PARIS...COMÉDIA?

 

EMILY EM PARIS

www.google.com.br/images. Elenco da série.  Irreprochável. Quer saber quem é quem? Assista.


Marina da Silva

 

Emily em Paris é o nome de uma série norte-americana - foi produzida antes da pandemia Covid-19 – e que  estreou em outubro de 2020 nos Estados Unidos e no Brasil1, se não me falha a memória, entre final de 2021-2022 pela Netflix. No país das novelas, Brasil, a série televisiva é classificada como comédia romântica, uma novela da Globo do horário das 19H e poderia ser vista somente como um pouco de humor para aguentar a dor e luto do genocídio cometido pelo governo #bolsonarogenocida durante a pandemia Covid-19 no Brasil (abr./2020-2022). Rir é o melhor remédio - diz o dito popular - e Emily em Paris é só mais uma comédia bobinha. Mas será?

Vamos com Emily Cooper (Lily Colins) uma jovem século XXI desvelar a trama ou o enredo da série. Emily trabalha numa corporação estadunidense de marketing e propaganda de Chicago, Illinois - Grupo Gilbert, e, apesar de sua inexperiência, foi escolhida por sua chefe Madeleine Weeler (Kate Walsh, atriz da série 13 Reason why ou Os 13 porque)2 para substituí-la na filial francesa Savoir, marketing voltado para o mercado de luxo, nec plus ultra, recentemente incorporada pela Gilbert.

www.google.com.br/images. A chefe de Emily, a fenomenal atriz Kate Walsh a principal causadora de risos!

Emily, uma ofice-girl*, trainee que cuida do cafezinho e casaco da chefe, é escolhida como substituta de Madeleine Weeler, personalidade do Ano, chefe-diretora do grupo Gilbert para ser a nova chefe em Paris, a cidade das Luzes, berço dos ideais republicanos, da Revolução francesa  e dos ideais liberté, igualité, fraternité, do humanismo, enciclopedismo? Berço de Rosseau, Diderot, Saint-Simon, da potência imperial de Napoleão, de grandes autores como Balzac, Vitor Hugo, Zola, Guy de Maupassant? Estranho. Só pode ser comédia.
Sim, foi este  grande estranhamento: a cara-de-pau da Emily, que não fala francês e nada ou pouco sabe sobre a França em geral e Paris em particular, que aceita prontamente sub-chefiar a equipe francesa de marketing de luxo quem me fez seguir esta saga. Só pode ser piada, certo?
https://www.pods.com/blog/2021/02/chicago-living/. Chicago...UAU!
Quer conhecer, viver, morar em Chicago?  

 
"Chicago é a cidade berço dos arranha-céus. O primeiro arranha-céu do país foi construído lá, no ano de 1884, com 10 andares e estrutura de aço."https://engenharia360.com/chicago-historia-arquitetura-urbanismo/

Linda, histórica, riquíssima, fundada em 1837 (186 anos), cerca de 2.7 milhões de habitantes. Chicago é a terceira mais populosa  cidade dos EUA. Mistura o histórico e o contemporâneo (downtown) e a riquíssima área dos subúrbios. Chicago é conhecida pela Universidade de Chicago, Big Tech companies, pelo Chicago Bulls -basquete NBA; fatos históricos tristes de racismo contados em filmes de Hollywood como Chicago em chamas. E claro tem muita História além deste parágrafo. As imagens da abertura mostram a ultra moderna cidade de Chicago, abarrotada de edifícios altíssimos e Emily fazendo “cooper”, toda aparatada com celular e aplicativo de performance. Para quem conhece  História e Geografia a narrativa se explicita já nesta abertura: Novo mundo e Velho mundo, mas ambos países, duas potências capitalistas imperialistas aonde o Velho mundo foi superado e destruído nas duas grandes guerras do século XX - Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e Segunda Guerra Mundial (1938-1945).

https://www.tudosobreparis.com/historia. Tudo sobre Paris é um quase nada de uma cidade fundada no século IV ac. Sim, Paris é velha e não há como estudar a História mundial sem falar da importância de Paris.

Emily é o frescor, a juventude, o “novo mundo” liberal que, na década dos anos 1970 passa a se impor na chamada  vaga e/ou revolução neoliberal e que chega ao século XXI ultra neoliberal, anarco-capitalista-conservadora-libertariana (uma paradoxal designação) globalizado, neocolonialista, imperial, fascista, extremista aonde a disputa para manutenção dos EUA como potência única no mundo se dá sobre os mesmos e velhos fundamentos:  individualismo exacerbado, egoísmo, competição, lucro a qualquer preço, ganância,  aposta,  risco, criatividade (retorno a práticas selvagens),  livre mercado,  propriedade privada, liberdade irrestrita (o mesmo que desregulação do mercado, estado mínimo) e a visão vale tudo dos jovens bilionários das big tech do Vale do silício. Com a supremacia do capital financeiro sobre o capital produtivo o planeta passa a viver com crises produzidas em Wall Street onde fortunas somem, bilionários brotam na manipulação da economia digital, interconectada em moedas nunca vistas.3 O grande exemplo do século atual foi o mega roubo de Wall Street, a grande especulação financeira, conhecida como crise suprime)4

www.google.com.br/images. Emily em Paris me  remete  a série Black Mirror  temporada 3 episódio Nosedive. Imperdível crítica sobre o dilema social que se tornou a vida  vigiada no ciberespaço

"Paris foi fundada no século III aC na île de la Cité por uma comunidade de celtas. Eles eram um grupo de pescadores tribais chamados de Parisii que, empurrados pela emigração para as margens do Sena, fizeram um assentamento permanente lá e lucraram com a fertilidade e o clima temperado da área. Além disso, as ilhas do Sena pareciam o lugar perfeito para esta pequena comunidade estabelecer sua capital. "http://www.paris-city.fr/GB/paris-city/au-fil-du-temps/histoire.php

Emily se apresenta ao novo posto de trabalho com antecedência e é recepcionada como um Et, uma intrusa, arrogante como a potência Number One com sua naturalidade fingida e ofensiva. Há um grande choque cultural entre o velho mundo e novo mundo; entre o life style $1,99*, genérico, de massa contra o estilo exclusivo, raro, luxuoso; o comum versus o elegante; o sofisticado versus a vulgaridade da ostentação. Emily sequer percebe este contraste e confronto cultural. Ela vê Paris com olhos de turista que tudo fotografa e cria  hastag #EmilyemParis no seu perfil Instagram e vê suas curtidas e seguidores crescerem na velocidade norte-americana, isto é, velocidade da luz. Sua admiração vazia de conteúdo em pontos turísticos históricos representa apenas a ostentação para mostrar que está na caríssima cidade de Paris, a Paris para poucos, povo francês “de segunda classe”, incluso.

Emily é o fast life, drive-thru Mc Donald’s, o mundo do consumismo desenfreado sem tempo para se deliciar com uma pausa para um vinho, um cigarro, um bate-papo com os colegas no intervalo do trabalho. A primeira temporada é riquíssima: de diálogos, confrontos de dois mundos diferentes, narrativas e de visões que se chocam, de culturas e ideais diferentes, de visão de empresas, de  relações e gerência do trabalho que  não/ou se misturam na vida pessoal. As crônicas na mídia brasileira chamam de meros clichês e está aí um motivo para não acreditar nesta prescrição e ver com olhos críticos a comédia romântica de Emily em Paris.

A animosidade entre o velho e o novo se põe no relógio, ops, celular, na obsessão da jovem por horários, e atividade física. Emily é o novo Forrest Gump, toda a riqueza histórica, arquitetônica de Paris lhe é invisível e sua câmera capta apenas superficialidades e suas caras e bocas em selfies. As locações são reais, belíssimas, tem uma carga histórica que povoa a literatura francesa. A imagem vendida de Paris é superficial, as "Luzes" hoje são representadas pela iluminação da Torre Eifeel. Dá para rir muito na série, mais com o elenco da Savoir.

www.google.com.br/images. Este trio é fantástico, proporciona ótimas risadas: Philippine Leroy-Beaulieu (Sylvie é Paris encarna o espírito complexo da cidade, o riso chic, elegante, mordaz e ácido); Samuel Arnould (Julian, seria "Emily" bem vestida, looks maravilhosos), Bruno Gouery (Luc,  personagem misteriosa que fala o que os outros não expressam verbalmente, deixa escapar segredos intencionalmente, e o conspirador). 


Emily  é o tipo ideal de trabalhador: workahoolic, ela não distingue entre tempo de trabalho e tempo de vida; trabalho e diversão/lazer. Ela está ligada na tomada 24H por dia, 7 dias por semana initerruptamente. Emily confunde soiré  - festa, jantar, encontro a partir do fim de tarde e noite com serão o mesmo que extensão da jornada de trabalho noite adentro, sem sábado, domingo, feriados, férias. Toda a energia de Emily é voltada para trabalhar como um robô para ter o mérito de chegar a uma sub-diretoria, sub-chefia crendo na fake doutrina self mad do American dream, sua vida e alegria acontece em torno do trabalho até quando está apenas compartilhando “suas descobertas” como a delícia de um croissant ou sua pisada na merda de um cachorro de madame, suas corridas pelas ruas e praças famosas, qualquer descoberta é um choque compartilhado nas redes sociais. Os trava-línguas  na pronúncia ou o gênero de um substantivo  vira guerra caricaturada da língua francesa: un e une; le (artigo definido) usado num substantivo feminino vagin: le vagin e não la vagin. E fica hilário a ligação direta para cultura wikipédia: a pronuncia vagin (vajan) remete Emily ao famoso personagem de Vitor Hugo Jean Valjean (jan vajan) Os miseráveis; Normandia lembra o dia D?

O novo é público, superficial, espiritualmente pobre e compartilhado com bilhões de seres humanos no ciberespaço, onde predominam pets, dancinhas coreografadas no Tik Tok, haters, fakenews,5 apostas absurdas como enfiar um celular na vagina ou ânus.6 Até mesmo as interações humanas de amizade, família, amor são pobres, não forjam laços verdadeiros e podem ser feitas à distância sem aproximação física como na cena tosca de Emily fazendo sexo virtual e ficando na mão, ops, vibrador que não respeitou a voltagem do antigo prédio e deu um curto geral na vizinhança.

Duas narrativas de vida estão se confrontando, muito caricatural, na série. Qual mundo(ou livre mercado) vencerá  no século XXI? O pobre, genérico, fake, pirata, consumismo de massa e globalizado pelo “novo mundo” veloz, furioso, desregulamentado, meritocrático, desindustrializado, mundo financeirizado e do mercado especulativo, ultraliberal libertariano autoritário, do estado mínimo militarizado, de superconcentração de riqueza nos 1% bilionários como Elon Musk ou o  velho mundo, das mercadorias raras, caríssimas, de altíssima qualidade e para poucos e aonde ainda resistem a separação fábrica e casa; trabalho e vida; direitos trabalhistas, salários, jornada de trabalho e lazer, soberania mesmo que vigiada pelos EUA, relações humanas e relações de trabalho mais ricas que ainda permitem forjar laços humanos fortes?

 

www.google.com.br/images. Roupas, sapatos, bolsas, sandalias, botas, boinas, e um sem número de acessórios, incluso o chaveiro torre Eifeel.

Nos dez primeiros episódios da primeira temporada toda esta discussão acima é velada por paisagens turísticas de Paris, pelo guarda-roupas super fashionista: Emily vestida para trabalhar. Emily é um cabide, um corpo para mercadorias da cabeça aos pés, a garota propaganda ambulante de várias marcas famosas vendendo produtos nas suas redes sociais, isto é, nas redes de Mark Zukerberg tal qual Anastasia Steel, a pobre virgem que se apaixona pelo bilionário Mr. Grey e se rende às mercadorias de luxo em mais de 50 tons de cinza.Se pararmos para pensar um pouco no lugar onde Emily mora em Paris, um loft(?) de uns 40 metros quadrados, antigo quarto para criados da nobreza francesa, perguntaríamos: onde diabo esta mulher guarda tantos calçados, bolsas, roupas de grife famosas? Mas há ainda muitas questões postas nesta primeira temporada e virão no texto a seguir. Aguarde porque a estória continua no episódio 2 da 1ª temporada.

 

 (continua)  A FEBRE EMILY EM PARIS NO CIBERESPAÇO BRASIL.

 

 "Em tempos de pandemia, ver uma série “água com açúcar” deixa o coração quentinho, e foi isso que eu fiz no final de semana: maratonei a série “Emily in Paris”, da Netlix (que também fala do meu trabalho, e por isso virou post aqui rs). Quem me acompanha lá no instagram viu alguns recortes que eu fiz enquanto assistia, mas agora eu sentei pra escrever sobre o figurino da série Emily in Paris e o que a gente pode aprender com isso!" https://vestindoautoestima.com.br/figurino-da-serie-emily-in-paris/

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Fonte

*Emily Cooper aparece - na T1Ep1- correndo atrás da chefe, pegando seu casaco, trazendo o café, mas é uma funcionária promissora, tem MBA- master em propaganda e comunicação de massa em redes sociais, consumidores do ciberespaço.

** Life style $1,99 é uma neologismo, uma expressão cunhada ou apropriada por mim na busca de compreensão, aprender e apreender as mudanças que ocorrem com a chamada “3ª revolução tecnológica” a partir da reestruturação produtiva com base na microeletrônica, robótica etc, que afetaram o mundo do trabalho e as relações sociais de produção, levando à corrosão e corrupção da construção da sociabilidade humana que se pôs no pós-II Guerra Mundial, conhecida como estado keynesiano ou estado de bem-estar social.

 

1.Emily em Paris. Netflix (2020) https://www.netflix.com/ 1

2. 13 Reasons why, Netflix 3. A grande aposta/ The big short (2015) filme sobre a mega crise Subprime (roubo do povo estadunidense) e que destruiu empresas, levou a bancarrota várias economias de países da União Europeia.

4. FERGUNSON, Charles H. O SEQUESTRO DA AMÉRICA. Como as corporações financeiras corromperam os Estados Unidos. Ri de Janeiro: editora Zahar, 2013.

5. Sobre o dilema das redes sociais ver: PRIVACIDADE HACKEADA/ THE GREAT HACK https://www.netflix.com/ e THE SOCIAL DILEMMA https://www.netflix.com/watch/ Documentários Netflix

6. Sobre o tema ver O HOMEM MAIS ODIADO DA INTERNET. Documentário Netflix https://www.netflix.com/watch/81413925?trackId=254761469

 7. Trilogia 50 tons de cinza, filmes disponíveis na Netflix



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