SENHAS DE INSEGURANÇA
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Sérgio Antunes de Freitas
Já não é possível guardar na memória tantas senhas necessárias ao nosso acesso virtual às contas bancárias, cartões de crédito, redes sociais, escolas, laboratórios, redes de trabalho e outros, em razão de uma vida moderna plenamente informatizada.
E disso podemos tirar uma conclusão: quanto menos importante é uma senha, mais complexa é a sua utilização.
Talvez a do banco seja a mais importante de todas e, no meu caso, é a mesma há mais de vinte anos, sem nunca ter apresentado qualquer problema de segurança.
Já outras, como as dos aplicativos que uso no trabalho, sou obrigado a atualizar todo mês.
Esse não é o único problema. A toda hora, os responsáveis pela “política de senhas” criam uma nova restrição.
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Quando aparece a frase “troque a sua senha”, nosso mundo começa a desabar. Bate a insegurança. Será que vou conseguir?
Colocamos um conjunto de caracteres e lá vem a restrição: “a senha não pode ser igual, no todo ou em parte, às últimas oito senhas”. E eu vou lembrar, pombas?
Ou aparece: “a senha não pode ter caracteres repetidos”.
Ou, ainda, “a senha deve ter obrigatoriamente letras e números”.
Não podem ser nomes dos meses, nomes de frutas, verduras, nomes de jogadores de futebol nem ídolos das novelas. Também não pode ser o apelido da mamãe de quem inventa essas coisas.
As crianças que se ocupam dessa gerência lúdica não devem ter estudado análise combinatória. Quanto mais restrito é o universo de possibilidades, maior é a probabilidade de descoberta de uma senha, ou seja, eles jogam contra o patrimônio. No fundo, só querem brincar de adedonha.
Enquanto isso, o ráquer – aportuguesei – já pulou a exigência de senhas e transferiu dinheiro público para seu primo, em quantidade comedida, para não ser descoberto pelas auditorias ou controladorias.
Como não devem ter muita coisa para fazer, esses meninos inventam outros absurdos, muito provavelmente para justificarem seus salários.
Há meses, em uma dessas mudanças, apareceu mais um filtro: “a senha não pode conter parte do seu nome”. A parte eram as letras “de”, uma preposição!
Dom Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, se vivesse hoje, precisaria recorrer à National Aeronautics and Space Administration - NASA, todo mês, para descobrir uma nova palavrinha que satisfizesse às expectativas dos garotos.
É tradicional, com razões históricas, a exigência de letras minúsculas para a composição dessas palavras secretas e já estamos acostumados com isso. Mas é bom desacostumar!
www.google.com.br/images. A geração senha, ops, Y!
Na renovação da senha de um determinado aplicativo que uso no trabalho, apareceu um aviso, após a minha primeira tentativa: “Esta senha é muito fraca”. (Meu Deus, agora vou ter que dar comida pra elas?)
Depois de várias ligações telefônicas mal atendidas, um espírito abençoado me explicou o segredo. Era necessária a inclusão de, pelo menos, uma letra maiúscula.
Já deve ter algum danado desses imaginando uma coisa assim, que ele batizaria de Sistema de Senhas Seguras. Ou Sistema 3S. A palavra sistema, seguida de uma sigla, é mágica!
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Inicialmente, o usuário, com uma senha atualizada mensalmente, entraria em uma página que permitisse uma nova composição, apenas para aquele único acesso, cujas exigências mudariam, randomicamente, de hora em hora. Após sua aplicação, teria que responder a algumas perguntas só de seu conhecimento pessoal como o nome da mãe, nome do pai, número do chassis de seu veículo, nome da atendente do convênio que o recepcionou pela última vez. Aí, ele deveria datilografar as letras que aparecem num rabisco, onde não se consegue discernir se é v, w, m ou o. Acertada a questão, o infeliz poderia, blasfemando, entrar no sistema para atender ao mando urgente do seu chefe, que já estaria para demiti-lo.
E podemos concluir outra característica nessa história.
Como convivem e se espelham na linguagem dos computadores, esses meninos sabem raciocinar com rapidez e precisão, mas não pensam.
Sérgio Antunes de Freitas
31 de março de 2013