PRIVILÉGIO BRANCO
“(...)quem
quiser saber por que
e não quiser se arrepender
não pode acreditar em tudo
tem que acreditar em algo
se não tiver instinto
se não estiver atento
se ficar com medo no exato momento
alguém muito à toa soa o alarme
veste o uniforme e transforma tudo em exceção
tem que pagar pra ver
tem que ver pra crer
quem viver verá
a cara desses caras num museu de cera”.
Engenheiros*
Bem amigos...
Esta não é uma História de ficção,
qualquer semelhança não é mera coincidência - guardadas as devidas proporções -
e para conhecê-la, apreendê-la, entendê-la e mudar a postura frente ao mundo e
promover uma outra construção da sociabilidade mais humana e menos
exterminadora aonde quer que isto aconteça é condição necessária abrir
a mente e proporcionar mais de cinquenta tons de preto às
ideias e ideologias entronizadas, enraizadas, cristalizadas pela dominação de
sociedades e estudar, ouvir, conversar, debater, querelar, rumorejar sobre
“como o racismo construiu” tal sociedade onde as “ideias foram colocadas de
cabeça para baixo”1.
Isto posto vamos ao PRIVILÉGIO BRANCO2!
* Museu de cera.
https://www.vagalume.com.br/engenheiros-do-hawaii/museu-de-cera.html
HELLO PRIVILEGE, IT’S ME, CHELSEA3
www.google.com.br/images. The best seller NYTimes
Marina da Silva
Chelsea Handler é uma atriz, escritora,
comediante Stand Up branca, judia e linda como ela mesmo se
define no documentário produzido por ela para Netflix buscando entender o que é
esta tal branquitude e o privilégio branco que a coloca de imediato
nesta jornada como a classe “lixo branco” ou quando a pessoa entra no processo de
autoconhecimento de si, do outro e do lugar que ela está e atua no mundo. Branca,
judia e linda. Judeus tem dinheiro, muito dinheiro e estes são mitos que ela
diz ter sempre ouvido, mas não foi sua realidade, conta em shows Stand Up com
humor ácido. Ela faz parte dos primos pobres dos judeus ricos
dos Estados Unidos, uma família de classe média que trabalhou e lutou muito
para sustentar os filhos:
“(...) um trabalho na Starbucks e, por
sorte havia um caça-talentos do Jamba Juice e do Noah’s Bagels (...) Ninguém me dá
nada. É constrangedor chegar na escola de hebraico numa lata velha. Eu vim do
nada. Meu pai vendia carros usados.”
Atualmente Chelsea é sucesso como
atriz, apresentadora de TV, comediante e escritora Best-seller New York Times.
Não li seu livro The Best-Seller, mas fiquei curiosa.
“Branca, linda, tagarela e isto é
recompensado em Hollywood.”
Por tagarela leia-se: ela com seu humor
tem na ponta da língua o “discurso politicamente incorreto” ou a retórica
“daquilo que jamais deveria ser explicitado” para ganhar almas e mentes: os
vícios, ódio, raiva, rancor, ressentimento que no século XXI, ficando só nestas
duas décadas, será a arma política propagandística que reavivará, fortalecerá e
está sendo usada pela extrema-direita nazifascista mundial para garantir a
super, hiper, mega, plus, blaster concentração de riquezas nos 1% bilionários
do planeta que se auto intitulam liberais-libertarianos-conservadores e
lutam selvagemente pelo “livre mercado, propriedade privada, ganância,
individualismo egoísta, enfim, neoconservadores dos 99% no máximo com o mínimo
e que levam o neoliberalismo ao extremo4 para criar e manter uma casta de
plutocratas (clássicos como os Rockefeller’s ou os bilionários do Silicone Valey como Bill Gates, Mark Zuckerberg Bezzos, Elon Musk, Peter Thiel e outros sem classe alguma, mas trilhardários) num Estado
Mínimo; o mesmo “Estado Anárquico contínuo” aonde, prega o líder atual
deste Movimento, Steve Bannon, é necessário destruir tudo para construir o caos
perfeito para a exploração e expropriação absolutista mais selvagem
do capitalismo. E o uso da internet e redes sociais são as armas e ferramentas
perfeitas para infiltrar o vírus da destruição através de dissonância
cognitiva, manipulação psicológica, divisão de nações em bolhas de ódio
e manipular e alterar e destruir as ditas democracias e ideias socialistas, coletivistas, comunistas
por dentro.
www.google.com.br/images. Steve Bannon vice
presidente da empresa Cambridge Analytica foi/é o homem por trás da máquina de
ódio para destruir democracias em eleições democráticas até nos EUA, país
democrático par excellence. Só que não.
“Eu nunca questionei nada porque achei que merecia tudo. Sou claramente beneficiada pelo privilégio branco”, diz Chelsea na sua mansão às câmeras enquanto uma mulher mestiça vai espanando o pó invisível em móveis limpíssimos para a captura dos melhores ângulos da ostentação de riqueza dos vencedores do “American dream”: vim, vi e venci, ops, nesta terra tudo que se planta, dá, oops, América, o paraíso onde todos os seus sonhos se tornam realidade (com muito trabalho, esforço, criatividade, luta e dispêndio de vida!) Só me faltou citar a obra de Max Webber5: Os sonhos se realizam só para os brancos predestinados na lógica, moral e ética do protestantismo. Salve Calvino!
Chelsea Handler está no grupo daqueles
que estão numa jornada de conhecimento, reconhecendo sua ignorância do por quê
o mundo é assim? Por que tem isto na América, a potência Number One [em
decadência]? Não será uma empreitada fácil para ela, eu você e todo o mundo; não
será uma aventura Jornada nas estrelas, mas sim, uma
jornada espaço-temporal-social-econômica-política-histórica, etc., dolorosa,
com veias e feridas abertas, muita injustiça, abusos, dor, sofrimentos físicos
e psicológicos, crimes de todas as espécies, assassinatos e eliminação de
pessoas com "Um defeito de cor",6 pessoas de pele preta [mas não
somente estas] e uma reação brutal contínua que começa com o fim da escravidão
estadunidense, várias lutas e reações, contrarreações para voltar e/ou
manter a escravidão e exploração dos pretos alienados, assimilados ou não e
seus Movimentos pelos Direitos Civis e direitos de viver nos Estados
Unidos.7
“Quero saber como ser uma pessoa branca
melhor com pessoas não brancas”. Chelsea ainda não sabe que sua jornada
nas estrelas, na verdade será uma “Via Crucis” dolorosíssima de
aprendizagem e autoconhecimento. Vamos às estações de dor e agonia para
qualquer um que se atreva a encarar verdades históricas dos afro-americanos
oficialmente E DELIBERADAMENTE tornadas invisíveis e/ou hediondas, grotescas, e
claro, com toda a devoção ao cristianismo.8
PRIMEIRA ESTAÇÃO. Comédia versus comédia: QUAL É O PROBLEMA
DOS PRETOS?
Chelsea não faz esta pergunta de cara na
cara de dois trabalhadores, um casal que como ela atuam na comédia Stand Up e o
encontro se dá no Comedy Union. Esta questão está no documentário “Stamped from
the begging” e é feita às personalidades intelectuais ativistas: “Você pode me
dizer qual é o problema dos pretos?”
Estupor e pasmo perpassam as faces atônitas das
pessoas entrevistadas: Qual é o problema dos pretos? Oi, pensei: Are you
kidding me?
"O problema dos pretos? O que quer
dizer com isto? Qual é o problema dos pretos?"
O mesmo pasmo recebe Chelsea dos comediantes, beges, passados e ocos, sentados à sua frente. Ela insiste: "Quero falar dos brancos... Chelsea se perde, tenta fazer piada; uma gafe terrível e abominável sobre “um homem ter morrido dentro da moça preta num show” e recebe generosidade, sim, e elegância. Eu teria partido para uma voadora e B.O - boletim de ocorrência. What hell is this?
Para responder Chelsea vou apropriar a
fala do professor José Geraldo de Souza Jr., emérito e honorável professor
da UNB na CPI sobre MST à deputada federal extrema-direita nazifascista
caroline de toni, um ser desprovido de inteligência. O professor José Geraldo do
alto de sua imensa elegância e bondade respondeu à deputada bolsonazifascista assim:
"(...) os indígenas, quando
Colombo chegou não viram as caravelas, não viriam. Elas estavam lá fundeadas,
mas não havia cognição para poder representar cerebralmente uma imagem que era
absolutamente incompatível com o quadro mental de uma cultura que, é, não tinha
elementos para visualizar. (...) a gente só vê o que tem cognição para ver. Eu
não tenho como discutir com a deputada [Chelsea] porque sua visão de mundo, a
sua percepção ou cosmovisão só lhe permite ver o que a senhora tem na sua cognição.
Então a senhora vai ver não é o que existe, mas o que a senhora recorta da
realidade. A realidade é recortada por um processo cognitivo de
historialização.”9
Dear Chelsea, esta é a resposta que lhe cabe, pois você se propôs a
entender, descobrir qual o problema dos pretos e chegou chegando no maior salto
alto, chutando a porta, montada no seu processo cognitivo atrofiado pelo privilégio
branco, mas quer ajudar os brancos a compreender o desprivilégio preto:
“Quero falar dos brancos. Digam o que acham dos brancos neste ramo.
Acham que é uma vantagem ser branco?”
É constrangedor, mas o casal preto explica a “via crucis” que os pretos
fazem para serem comediantes. Preto tem que ter QI: Quem Indica, dá aval, ajuda
para que consigam um teste na indústria do entretenimento.
“Vou falar uma coisa - começa o comediante - Acho que há diferentes “versões
da pessoa branca, alguns brancos” Ele é interrompido por Chelsea a sabe-tudo: “privilégio
branco.” Ele continua a aula: privilégio branco, mas estamos falando dos brancos
em geral...Eu diria que temos alguns brancos no entretenimento que não tem
consciência de certas oportunidades que são mais fáceis para eles...”
“Estas pessoas precisam entender, especialmente pessoas brancas, que
vocês sabem de onde vem, qual a sua História. Sabe para onde vão porque sabem
de onde vieram”.
Senta que lá vem aula, a tragédia das pessoas de pele preta nos Estados
Unidos.
“Nós não sabemos. Temos que fazer teste de DNA para saber de onde viemos
e ainda não saberemos se somos parentes de reis, rainhas ou se fomos camponeses
(...) Vocês sabem, é o privilegio que vocês tem.”
Só por estas falas do casal de comediantes, da moça, todo o resto do
documentário precisa ser assistido.
***
SEGUNDA ESTAÇÃO: HELLO PRIVILEGE, IT’S ME, CHELSEA.
(Continua)
Fonte
1. MARX, Karl; ENGELS, F. A ideologia alemã [I - Feuerbach] .São Paulo:
editora HUCITEC, 1999.
2. Sobre privilégio branco significado vou me apropriar de fala de uma entrevistada do documentário de Chelsea Hander: privilégio branco é o desprivilégio do preto.
3. HELLO PRIVILEGE. It’s me,
Chelsea. https://www.netflix.com/watch/80244973?trackId=14170286&tctx=2%2C5%2Cea81e7d6-29c6-462b-b647-e0ced8381d55-514565274%2CNES_BC624FC9AFEA6A7A36A2F4BF1CC24D-B9F225DDE3A711-304ABC9FC3_p_1706178758041%2CNES_BC624FC9AFEA6A7A36A2F4BF1CC24D_p_1706178758041%2C%2C%2C%2C80244973%2CVideo%3A80244973%2CminiDpPlayButton
4. DORHET, Brian. Radicals for Capitalism. A freeweeling History
of the Modern american Libertarian Moviment. 2007, e-book. Recomendo
leitura.
5. WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
Recomendo leitura
6. GONÇALVES, Ana Maria. Um defeito de Cor. São Paulo: Editora Record,
2006
7. Sobre essa História dos Estados Unidos da América recomendo
documentários Netflix: AMEND: The Figth for América https://www.netflix.com/watch/; STAMPED FROM THE BEGINNING https://www.netflix.com/watch/
8. SOUZA, Jessé. Como o racismo construiu o Brasil. Rio de Janeiro:
Estação Brasil, 2021. e-book
9. CPI sobre o MST- Comissão parlamentar de inquérito contra o Movimento
dos Trabalhadores Sem Terra.
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/parlamentar-de-inquerito/57a-legislatura/cpi-sobre-o-movimento-dos-trabalhadores-sem-terra-mst
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