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quinta-feira, 28 de outubro de 2021

BRAZIL: TRUMPISM part 6

 TRUMPISM MADE AMÉRICA... SMALL

Marina da Silva

Part 6

Então...

Se você acompanhou a série de textos sobre "Trumpismo" (partes 1, 2, 3, 4, 5) aqui no blog sabe claramente, ou não, que uso o termo "trumpismo" para designar, na verdade, o que se convencionou chamar de neoliberalismo ou retorno às práticas do mercado econômico livre e todo o complexo processo econômico, político, geopolítico, geoeconômico, geoestratégico, social, cultural, etc que vem no pacote neoliberal dentro do contexto da globalização, revolução técnico-científica aplicada a produção e reflexos no mundo do trabalho, a revolução  dos meios de transporte e comunicação a partir da década de 1970.1

O século XX trouxe sérias preocupações para o sistema e ordem capitalista: intervencionismo2, regulação do mercado econômico, planejamento e gestão através do estado de um sistema que não suporta regulação, demarcação, protecionismo, bloqueios ou entraves de qualquer espécie ao seu crescimento e desenvolvimento. Aliás, o sistema capitalista padece, sofre com esta condição necessária: replicar-se continuamente de forma expandida sobre tudo e todos geometricamente para manter-se vivo e aposta em inovações para manter altas taxas de lucro, mesmo que estas "inovações" sejam, no mundo do trabalho, o retorno à formas precárias e selvagens de exploração da mão-de-obra (práticas que levaram às lutas por direitos sociais e trabalhistas como jornada, salário, etc) como uso de trabalho análogo ao escravo e mesmo a escravidão da mão-de-obra. E o século XX não somente pôs em xeque o capitalismo selvagem como bancou experiências reais de novas ordens para o sistema:

* Primeira Guerra Mundial (1914-1918);

* A revolução socialista russa em 1917 durante a Primeira Guerra Mundial;

* As experiências totalitárias do nacional-socialismo e fascismos (Alemanha, Espanha, Itália, citando os mais importantes); 

* A social-democracia, a anarquia; 

* O crash da Bolsa de NY em 1929;

* O New Deal de F. D. Roosevelt- 1933 como resposta a grande depressão que sobreveio da crise financeira de 1929 (inspiração  Estado Providência de Keynes);

* A Segunda Guerra Mundial e vitória das ideias keynesianas aplicadas na Europa na reconstrução;

* Divisão do mundo em dois blocos: "comunistas X capitalistas e a "Guerra Fria"...etc

Laissez-faire ou a cantilena do mercado livre, isto é, não a qualquer tipo de regulação, intervenção, planejamento do mercado econômico pelo estado (mercado de trabalho incluso), propriedade privada, individualismo extremo, egoísmo, ganância (tudo para mim, nada para os outros); liberdade (fazer o que bem entender com o próprio dinheiro e dinheiro alheio) fundamentos basilares do capitalismo se viram ameaçados com o fortalecimento de ideias socialistas, comunistas, anarquistas, social-democracia e nacional-socialismo.3 Mesmo na "golden age" do capitalismo monopolista, muito louvada pelos "Radicais pelo capitalismo" pasme, o crescimento e desenvolvimento do sistema se dá sob a égide e auspícios do ESTADO.4 Sim, o estado sempre esteve e sempre estará a serviço dos capitalistas, especialmente do grande capital. Alertas sobre os perigos do intervencionismo estatal crescente e sedutor estão presentes nos discursos de políticos e  de economistas. Os principais pensadores ocupados com o perigo eminente do "intervencionismo" são Ludwig Mises e F. A. Hayek da escola austríaca de economia e suas obras são os fundamentos e as bases para retomada estratégica do ideário mercado livre, liberdade, propriedade privada, individualismo, egoísmo no pós - Segunda Grande Guerra. Mises e Hayek compreendem que o caos instalado na Europa pelas  duas Grandes Guerras, revolução Russa e crise de 1929, mais a ascensão dos regimes totalitários impedem e inviabilizam qualquer defesa do livre mercado. Esta é uma causa perdida no Velho Mundo em guerra  e a solução é levar o culto e louvor do livre mercado, o culto do capitalismo radical para longe do palco europeu, para a Terra prometida, a nova Canaã do Novo Mundo, A América, atualmente atendendo pelo singelo nome: Estados Unidos.

Mises e Hayek obtêm apoio financeiro irrestrito, acesso às universidades e mídia e se associam aos "conservadores"5, destaque para Milton Friedman e fundam a sociedade Mont-Pèlerin de defesa global do mercado livre, propriedade privada, individualismo, liberdade e bláh e também aos chamados libertarianos, defensores das mesmas ideias. Na América fincaram bandeira e plantam ideias e passam a colher os frutos a partir da década de 1970. 1973 é o ano marco do início do movimento neoliberal, das práticas neoliberais sendo postas em execução no Chile e na ditadura sanguinária de Augusto Pinochet. Toda esta jornada mundial, muito bem articulada e conduzida, a partir dos Estados Unidos e sob o pretexto de barrar o comunismo e intervencionismo estatal de qualquer especie é contada por Brian Dohert em Radicals for Capitalism. A forma como nova(?) ordem mundial neoliberal se impôs pode ser avaliada nação por nação nos chamados países primeiro-mundistas, nas nações subdesenvolvidas e em desenvolvimento e nas novas nações industrializadas, os tigres asiáticos. Mas a sua perfeição de desenvolvimento é melhor compreendida na nação Number One: Os Estados Unidos a partir do momento em que Ronald Reagan chega à Casa Branca. A era Reagan [1981-1989] ou Reaganomics no plano político-econômico caracteriza-se por: desregulação da economia; desoneração dos grandes capitais e redução de impostos para os ricos; corte brutal dos gastos públicos sociais; aumento dos gastos em defesa, citando os famosos quatro pilares do plano:

"Durante a campanha de 1980, Ronald Reagan anunciou uma receita para consertar a bagunça econômica do país. Ele alegou que uma carga tributária indevida, regulamentação governamental excessiva e programas massivos de gastos sociais prejudicaram o crescimento. Reagan propôs um corte gradual de 30% nos impostos durante os primeiros três anos de sua presidência. O grosso do corte seria concentrado nos níveis de renda superiores. A teoria econômica por trás da sabedoria de tal plano foi chamada DE ECONOMIA DO LADO DA OFERTA ou ECONOMIA DE GOTEJAMENTO."6 Google translation

A era Reagan marca " O fim do American dream."7

O que qualquer indivíduo no planeta Terra pensa sobre a América, os Estados Unidos da América? Sem pestanejar e rapidamente as respostas:

* São os donos do mundo,

* Liberdade,

* Igualdade,

* Cidadania,

* Democracia,

* Oportunidade de ficar rico trabalhando duro (para qualquer ser humano que se aventure legal ou ilegalmente),

* País de Primeiro Mundo, super desenvolvido,

*Inovação, progresso, potência, superioridade tecno-científica, etc e tal.

Todos os "caminhos levam aos Estados Unidos da América"! Parafraseando a conhecidíssima máxima do Império romano. Potência Number One e país dos sonhos! "Nos Estados Unidos há valores como a democracia. Na democracia, a opinião pública tem alguma influência na política. Depois o governo toma as ações determinadas pela população. É o que significa democracia." idem

E o retorno ao mercado livre usou, abusou e fraudou os princípios, fundamentos, retóricas da democracia estadunidense para as grandes corporações apossarem, explorarem e apropriarem o Estado, o povo; as riquezas produzidas concentrando-as num seleto grupo de ricos e bilionários, promovendo desemprego, pobreza e miséria. Uma desigualdade social-econômica-política brutal e sem precedentes na superpotência aditivados e facilitados pelas inovações tecno-científicas nos meios de produção, comunicação, informática, transporte que permitiram redução de plantas industriais, robotização e principalmente, relocalização de indústrias interna e externamente alterando a geografia da produção de mercadorias, precarização global  do mundo do trabalho e do fluxo de capital.8

Concentração de riqueza é concentração de poder político sobre o corpo social e está nos primórdios do capitalismo (transição do sistema feudal para o capitalismo) e especialmente nos séculos XVIII e XIX. Esta concentração de riqueza e poder se torna imensurável no século XX com  a cristalização das práticas neoliberais como ordem dominante: globalização dos mercados, fim do socialismo/comunismo real, superação do capital produtivo pelo capital financeiro especulativo e desvelamento e exposição do fim do sonho americano e do mito da democracia.

A partir do ataque terrorista do 11 de setembro de 2001 as veias dos Estados Unidos ficaram expostas e seu território também e a partir do surgimento e popularização da web e redes sociais como Twitter e Facebook, uma outra história da América passa a ser conhecida por qualquer indivíduo no planeta e não somente na ficção! E agora José?10

MERCADO LIVRE sem peias, bitolas, arreios, entraves, sem governo a partir da década de 197011 levará às crises financeiras que dilapidaram a renda e poupança  do povo, promoveu  absurda concentração de riqueza e um imenso abismo entre pobres e ricos cada vez mais ricos investindo em esquemas ilegais de espoliação e expropriação dos cidadãos e cidadãs, conhecidos agora como Mises os define: consumidores!12 As crises financeiras a partir da década de 1970 são crises inerentes ao sistema capitalista ou são criadas intencionalmente pelos donos do mundo em Wall Street? O capitalismo é para todos ou é só para alguns? Se corporações se apoderaram das eleições e com elas o poder de legislar sobre concentrar as riquezas só para poucos ricos, 1% da população estadunidense, isto é DEMOCRACIA? O Estado dominado pelos 1% ricos é o problema?

A crise financeira de 2008 deixou escancarada a farsa neoliberal sobre: liberdade, democracia e apego ao Estado. O povo estadunidense odeia o Estado, é doutrinamento alienante; mas os 1% ricos amam e louvam o Estado paizão, estado paternalista que salva os ricos e fuck com o povo! TO BIG TO FAIL!  Que país é este, EUA, QUE SOCORRE OS RICOS COM O SUOR, SANGUE, LÁGRIMAS E DESPOSSESSÃO DA  SUA POPULAÇÃO?13

Sim, o Estado a serviço dos neoliberais, a serviço de grandes empresas, corporações, especuladores do mundo inteiro É O PROBLEMA! OS ESTADOS UNIDOS TEM DONO! O "contrato social"14 onde a sociedade entrega suas forças políticas à figura do Estado para administrar em nome de todos, isto é, democraticamente, foi rasgado, quebrado, cagado e mostrou: mais que conflito e contradição o neoliberalismo expõe o que todos estão carecas de saber: existe uma guerra de classes, a classe dos ricos versus  a classe  dos que vivem do trabalho15, ou seja, os 99% da população. E os 1% estão ganhando!

É aqui que entra Donald Trump! Se toda a baboseira de mito dos país fundadores, liberdade, igualdade de oportunidades, American dream, democracia e bláh valesse alguma coisa nos Estados Unidos, Trump jamais seria eleito presidente da potência Number One. Trump é a tragicomédia  do ápice do neoliberalismo nos EUA: corrupção e corrosão do corpo político que se espraia para toda a sociedade. A partir de Trump, as cortinas caíram de vez e com elas todos os mitos da fundação da nação: oportunidade é oportunismo; democracia representativa é farsa, falsa e corrupta;  liberdade para investir o próprio dinheiro é liberdade vale-tudo para 1% ricos, brancos, racistas, misóginos, Glbtqia+fóbicos, xenofóbicos (destaque para mexicanos, asiáticos (chineses), latinos (América central e do Sul) e demais minorias indígenas; o Estado é problema para gastos públicos sociais com a classe que vive do trabalho e um verdadeiro paizão para salvar  e manter o parasitismo neoliberal dos 1% ricos. A MISSÃO CIVILIZATÓRIA16 dos EUA para o mundo é a maior de todas as farsas e Donald Trump é o cúmulo da lorota neoliberal.

MAS POR  QUE DONALD TRUMP?

(SEGUE)

Fonte: 

1. DOHRETY, Brian. Radicals for Capitalism A freewheeling History of the Modern American Libertarian Moviment. BBS Public Affairs. N.Y. e-book

2. MISES, L. Intervencionismo, uma análise econômica. (1940) e-book; Ação Humana: um tratado de economia. 1949. 31ª edição.  ISBN 9788562816390/ e-book;

3. HAYEK, F. A. O caminho da servidão. 1944. e-book

4. BRAVERMAN. H. Trabalho e Capital Monopolista.Rio de Janeiro: editora Guanabara Koogan S.A, 1987.

5. GOLDWATER, Barry M. Conscience of a Conservative. Stellar Classics, 2013. e-book

6. U.S HISTORY. https://www.ushistory.org/us/59b.asp

7. CHOMSKY, Noam. O fim do sonho americano .https://www.youtube.com/watch?v=_FtpgDvWjkQ&list=PLL9nZoHHkbKDIQpjpGMerHPZT4mdUTe3V&index=5&ab_channel=AMentiraemQueVivemos

8. HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992.

9. Sobre o tema ler:   HARVEY, David. O ENIGMA DO CAPITAL e as crises do capitalismo; FERGUNSON, Charles H. O SEQUESTRO DA AMÉRICA. Como as corporações financeiras corromperam os Estados Unidos. Rio de Janeiro: editora Zahar, 2013. E assista os documentários: A CORPORAÇÃO;  INTERN JOB; O FIM DO SONHO AMERICANO; SAVING CAPITALISM. Disponíveis no Youtube e Netflix.

10. ANDRADE, Carlos Drumond DE. 100 POEMAS.Belo Horizonte: editora UFMG, 2002. P.114

11. HARVEY, David. O ENIGMA DO CAPITAL e as crises do capitalismo. 

 Apêndice 2

INOVAÇÕES FINANCEIRAS E O SURGIMENTO DO MERCADO DE DERIVATIVOS NOS EUA, 1973-2009

1970. Início dos certificados de valores mobiliários baseados em hipotecas.

1972. Abertura da Agência de Mercado de Moedas e Futuros de Chicago.

1973. Agência de Opções de Câmbio de Chicago; início do comércio sobre capitais futuros.

1975. Comércio em papéis do Tesouro dos EUA e ações de futuros baseadas em hipotecas.

1977. Comércio em ações de futuros do Tesouro.

1979. Comércio sem regulações e sem prestação de contas legais, especialmente nos futuros de moedas, torna-se prática comum. Surge o “sistema bancário às escuras”.

1980. Novos mecanismos para investimentos em derivativos vinculados a moedas estrangeiras, currency swap.

1981. Criação do seguro sobre portfólios; mecanismos para investimentos em derivativos vinculados a taxas de juros estrangeiras, interest rat swap; mercados de futuro em eurodólares, certificados de depósito e instrumentos do Tesouro.

1983. Mercados de opções em moedas, valores de ações e instrumentos do Tesouro; criação das obrigações de pagamento tendo propriedades como garantia.

1985. Aprofundamento e ampliação dos mercados de opções e futuros; início do comércio virtual e criação de modelos de mercados; criam-se estratégias de arbitragem estatística para derivativos.

1986. Unificação dos mercados de ações, opções e comercio de moedas globais, o Big bang.

1987-1988. Criação das Obrigações de Dívidas Colateralizadas (CDOs), assim como das Obrigações de Ação Colateralizadas (CBOs) e Obrigações de Hipoteca Colateralizadas (CMOs).

1989. Novos mecanismos para investimentos em futuros de taxas de juros.

1990. Criação de mecanismos para investimentos em insolvência no crédito e índices de ações.

1991. Aprovação de veículos de investimento “fora da contabilidade”, também conhecidos como entidades de interesse especial ou veículos de investimentos especiais.

1992-2009. Rápida evolução do volume do comércio por todos esses instrumentos. O volume desse comércio insignificante em 1990, chegou a mais de 600 trilhões de dólares por ano em 2008.

12. MISES. L. AÇÃO HUMANA. e-book

13. Sobre o massacre e roubo dos cidadãos e cidadãs estadunidense e o socorro do Estado aos ricos e especuladores que criam "criam" ou se aproveitam de crises ver: PRINCIPAIS CRISES E AJUDAS ESTATAIS A EMPRESAS, 1973-2009 e, HARVEY, David. O ENIGMA DO CAPITAL e as crises do capitalismo; Apêndice 1; FERGUNSON, Charles H. O SEQUESTRO DA AMÉRICA. Como as corporações financeiras corromperam os Estados Unidos. Rio de Janeiro: editora Zahar, 2013. 

14.ROUSSEAU, Jean-Jacque. O Contrato social. e-book

15. ANTUNES, Ricardo.

16. kISSINGER, H. ORDEM MUNDIAL. e-book

AMEND (14ª EMENDA). Documentário Netflix sobre a luta dos afro-americanos por direitos civis desde a abolição  da escravidão.

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