Roubrasil
Sérgio Antunes de Freitas
A Praia do Francês, em Alagoas, tem esse nome por que servia de ponto, na época colonial, para os franceses contrabandearem o pau-brasil. Ainda existem as ruínas do que foi um leprosário, lá construído pelos próprios franceses, como estratégia de guerrilha, pois a notícia da existência de leprosos no local aterrorizava possíveis invasores. Na verdade, os franceses só traziam, para o local, pessoas portadoras de um tipo de lepra não contagiosa.
Deste país que representa
Uma praia do francês,
E o povo se acha esperto,
Corrupção violenta!
Austeridade em escassez,
Roubrasil é o nome certo.
No público e no privado,
Gatunagem não tem hora.
Por dentro, rapam de um lado,
Outros, do lado de fora.
E tem até uns folgados,
Que faturam dos dois lados.
Afana, o velho prefeito;
Capianga, o vereador;
A coisa parece doença
Nem reza brava dá jeito.
Bispa os crédulos, o pastor;
E o juiz vende sentença.
Na política, então,
Não existe adversário.
Com discurso denigrinte,
Ladrão acusa ladrão.
Só quem perde é o erário
E o pobre contribuinte.
É saqueio, é furtadela,
É transação obscura!
É mão leve, é mão de gato,
É esbulho em aquarela.
Até furta-cor anda escura,
Pois foi furtada, de fato.
O imposto tira do povo.
O bolso não fica ileso.
O povo sonega o imposto.
E lá vem tributo de novo!
O comércio adultera no peso.
É pilhagem pra qualquer gosto!
Escorcha, o fiel diretor,
Bifa, o desembargador,
Pois sabem que estão por cima.
Desfalca, o governador,
Surrupia, o senador.
Pra isso, não falta rima.
Malversar, no presente,
É o verbo mais usual.
E nisso há muita indolência!
Coisa pra lá de indecente,
É procurador e fiscal
Cardando na sucumbência!
Há esquemas cartoriais,
Bandos em formação
E aplicação perdulária
Nas ações oficiais,
Falcatruas na fundação
Da lida universitária.
Também o desvio legal
Com solenes tratativas,
Virou moda, no momento.
Sem apoio concional,
Carreiras corporativas
Avançam no orçamento.
Alegam os marajás
Que precisam de bons ganhos
Para não sofrer tentação
Do fórum de Satanás.
Princípios honestos estranhos!
Pois Homem não cede, não!
Sórdidos, ignóbeis,
Torpes, mucufas, tratantes,
Velhacos solertes, asnilhos!
Não sabem os desprezíveis,
Que roubam, ignorantes,
O futuro de seus filhos.