HELLO PRIVILEGE, IT’S ME, CHELSEA1
Bem amigues, aviso:
“Esta não é uma
História de ficção, qualquer semelhança não é mera coincidência - guardadas as
devidas proporções - e para conhecê-la, apreendê-la, entendê-la e mudar a
postura frente ao mundo e promover uma outra construção de sociabilidade mais
humana e menos exterminadora de humanos aonde quer que isto aconteça é condição
necessária abrir a mente e proporcionar mais de cinquenta tons de
preto às ideias e ideologias entronizadas, enraizadas, cristalizadas pela
dominação de sociedades e estudar, ouvir, conversar, debater, querelar,
rumorejar sobre “como o racismo construiu” tal sociedade onde as “ideias foram
colocadas de cabeça para baixo”.2
Isto posto, mais uma
explicação: ao assistir o documentário de Chelsea Handler uma grande comoção me
tomou e visualizei a empreitada como uma via
crucis ou via dolorosa pela História dos Estados Unidos que ela parece desconhecer totalmente e deparar com com histórias de muita dor e sofrimento, tragédias, crimes e
mortes praticados e/ou impingido aos pretos na América, a nação que vende ao
mundo o mito da missão divina de levar aos povos a liberdade, a civilização, a
democracia, o american dream possível
a qualquer ser humano... só que não.
“Nenhum país desempenhou
papel tão decisivo na ordem mundial contemporânea(...) Os Estados Unidos ao
longo de sua história tem desempenhado papel paradoxal na ordem mundial: se
expandiu através do continente alegando um Destino Manifesto (...) um projeto
de disseminação de valores que, na sua visão, todos os povos aspiravam
reproduzir.”3
De início julguei que Chelsea estava fazendo comédia...ruim of course. Que merda é esta de andar pelo Estados Unidos perguntando sobre privilégio branco? De onde ela tirou isto? Ela mesma responde: após a publicação do livro Uganda Be Kidding Me, Best Seller NYtimes recebeu uma enxurrada de críticas que lhe pareceu um despropósito, pois “à época tinha certeza que podia colocar este nome sem nenhuma consequência.”
Chelsea Handler, branca de
berço, vinha vivendo distraída sua branquitude e privilégio branco, trabalhando
duro por um lugar ao sol fazendo piadas contra o "politicamente correto" o que aditivou o racismo nazifascista e nunca se importou com as demais pessoas do seu país
ou de Uganda. Afinal como canta Chico César em Mama África4: " deve ser legal ser
negão no Senegal. ”
Este tipo de comportamento da comediante só é passível de entendimento descolonizando o pensamento de séculos de
enraizamento do capitalismo e liberalismo econômico, ou seja, os valores, a ética, a moral burguesa
capitalista. É necessário estudar, buscar saberes, conhecer, ouvir, criticar a economia, política, cultura, filosofia, sociologia, enfim, os pilares que fundamentam o sistema de produção capitalista, a economia liberal e o neoliberalismo: propriedade privada, livre mercado, lucro, individualismo, egoísmo, Estado mínimo, zero regulação das atividades econômicas e financeiras entre outros valores. É cada um por si num mundo que divide as pessoas em vencedores e
fracassados e o vencedor leva tudo. I'm the best, Fuck the rest!
Claro que com o parco
conhecimento da História do próprio país Chelsea apanha muito da mídia; tanto
que resolveu estudar, ops, fazer um documentário para descobrir o que é
branquitude e privilégio branco, mas com profundidade abaixo de zero.
SEGUNDA ESTAÇÃO DOLOROSA: O QUE É PRIVILÉGIO BRANCO?
A resposta é altamente complexa. Então querido
leitor, você:
“Responde? Passa? Ou pede
ajuda aos universitários? ”
Chelsea Handler reconhece “sei que nada sei” e ela nada sabe mesmo e vai aos universitários num meeting semanal OPEN MIC NIGTN - USC STUDENT GROUP. Sim, excelente ideia, mas será que vai dar certo se intrometer com alunos NÃO BRANCOS do curso de Direito da USC altamente consciente da condição desumana dos pretos nos EUA? Semanalmente, Jody Armour, preto, professor de Direito promove um encontro de estudantes, operários da palavra, onde alunos se expressam através do rap, cantam, declamam poesias ou fazem prosas. Chelsea já experimentou o rap com o seu motorista e guarda-costas preto, Billy, e admite que como rapper ela se sai melhor fazendo piadas. O motorista sorri sobre o interesse de Chelsea ir a um encontro com estudantes pretos falar de...privilegio branco. Como assim? Os brancos não sabem que são privilegiados? Muita hora nesta calma e muita História para entender o “privilégio branco, o desprivilegio preto, a negritude, a branquitude.”5 Dar nome às coisas, fatos, fenômenos e realidades sociais não explica absolutamente nada ou realidade alguma. Não vou dar spoil, mas a “segunda estação dolorosa” é imperdível. Chelsea Handler entrou perdida e saiu desnorteada com a descoberta: o racismo não acabou nos Estados Unidos, antigamente nação conhecida como a América, potência Number One. Sim companheiro, camarada existe racismo nos EUA. Hein? Por onde andava Chelsea, a bela adormecida, que não percebeu, viu, participou do fortalecimento dos racistas WWW- supremacistas brancos no século XXI que levaram a Casa Branca o supremacista branco Donald Trump? De que lado ela estava?
"Os EUA pertencem aos homens brancos." Diz Richard Spencer,6 supremacista branco e apoiador de Donald Trump, eleito presidente dos Estados Unidos (2016). Apesar da extrema-direita estadunidense aditivada com bilhões de dólares de megabilionários como Bezzos, Zuckerberg, Elon Musk, Peter Thiel sustentar que racismo nunca existiu e que esta pauta de diversidade racial, identitarismo, gênero e bláh são modismos e tem nos professores esquerdistas, comunistas - que infestam as universidades e escolas dos EUA - os únicos e grandes culpados de levantar esta querela onde ela não existe e nunca existiu.
"O facto é que os americanos ficaram confortáveis com o racismo que reside logo abaixo da superfície da nossa política - para ser aditivado sempre que um político ou uma comunidade precisasse dele, ou algum incidente racista o exumasse apenas para que o enterrássemos mais uma vez. O resultado foi uma ilusão que nos cega para o que realmente estava a acontecer mesmo diante dos nossos narizes e nas nossas cabeças – acreditávamos que o nosso país se tinha tornado menos racista, porque não éramos tão descarados como antes."7
É mesmo, não existe racismo
nos Estados Unidos e olha que foi um general golpista brasileiro,
vice-presidente do despresidente, o Inelegível genocida quem garante que foi aos EUA e
não viu racismo algum. A inteligência, infelizmente ou não, não é um atributo dos
militares brasileiros, um bando de pé-de-chinelo parasitando o país e o povo e
sempre pronto a dar golpes na democracia a mando dos EUA, ajudados pela Elite do atraso8 subserviente e canalha usando a desculpa
esfarrapada, mas em uso no século XXI: medo e terror dos comunistas. Os comunistas vão fechar
igrejas, tomar casas, comer criancinhas, vão tornar as bandeiras nacionais vermelhas. No Brasil existe racismo e ele está na mídia diária há décadas, aonde apresentadores de programas sensacionalistas como Datena, Siquera Jr, Wallace Rocha9 pedem diariamente a pena de morte aos pretos, bandidos por natureza e DNA e são atendidos com chacinas nas favelas e aglomerados e conjuntos populares por polícias civis, militares, policiais milicianos e chefes do narcotráfico.
Voltando ao documentário...
Chelsea caiu de paraquedas no
“meeting” e ouviu verdades duras e desconfortáveis dos universitários pretos:
“Para onde vou? Não sou
bem-vindo aqui. O que é o privilégio branco? Porra, olhe em volta, o que não é
privilégio branco? (...) Muita gente me diz que o racismo acabou ou estou
exagerando nesta escravidão moderna. Só o que posso fazer é rir e perguntar a
eles: o racismo acabou? Não, não pode ser.”
Pois é, a comediante, escritora, apresentadora, atriz Chelsea Handler, 48 anos de branquitude não sabia que ser branca nos Estados Unidos é privilégio e mais, privilégio branco. Sinto que Chelsea jamais poderá ser a mesma...comediante. “Quero ser uma pessoa branca melhor com pessoas não brancas”, diz. Chelsea quer usar sua voz, sua visibilidade e notoriedade para abrir mentes e corações.
Parafraseando o cantor Ney Matogrosso10: “Quem foi que disse que miséria é só aqui? ”
Dear Chelsea Handler, você
tem a faca e o queijo, ops, a Coca-Cola e o sanduiche nas mãos porque, segundo o professor Jody Armour a “comédia incisiva” [besteirol excluso] ajuda
as pessoas refletir criticamente. E de quebra provoca risadas. Como?
Quem foi que disse que nunca
existiu racismo nos Estados Unidos? Quem foi que disse que o racismo nos
Estados Unidos acabou? Peter Thiel11, fundador da
Pay Pal, dono da Palantir e outras empresas, super bilionário, branco há 57
anos, culpa os professores comunistas, esquerdistas que procuram cabelo em ovo:
A diversidade é um mito! O problema é que o “mito” choca com a realidade para
todos aqueles que tem olhos e enxergam, tem ouvidos e ouvem: black lives matter;
I can brief.
“Sua voz será sempre ouvida.
Seu livro se chama “Uganda Be kidding Me”. Sinceramente não gosto do título,
mas você pode fazer. Pode fazer o que quiser. Só quero que saiba que temos que
fazer um jogo diferente (...) nossas vozes e perspectivas são limitadas. ”
Para acabar com o racismo [que não existe]
algumas questões perpassam as mentes dos bilionários supremacistas brancos ativistas políticos: É
possível exterminar todos os pretos dos Estados Unidos? Ou pelo menos
exterminar todos os pretos do Silicon Valey? Eis duas das utopias do vale do
silício, outras envolvem criar colônias em Marte, comprar uma ilha e ocupar só
com brancos...
“Um megabilionário que não usa a política para
ganhar dinheiro, mas sim que emprega bilhões de dólares para fazer política.
Não é de se estranhar que ele seja o homem que quer “emancipar os ricos ‘da
exploração dos capitalistas pelos trabalhadores’”. Ele é Peter Thiel (1967),
alemão de nascimento, criado na África do Sul e americano por adoção.
Mas é claro que os que querem exterminar e/ou expropriar e explorar a mão-de-obra de pretos nos Estados Unidos representam apenas 1% da população estadunidense. o problema é que estes 1% concentram toda a riqueza e poder para manter os pretos no seu quadrado: gente inferior, inumanos, animais selvagens.
“Meu nome é Chelsea Handler. Eu sou branca até
não poder mais. E estou interessada neste assunto. Estou filmando um
documentário sobre este assunto, privilégio branco. Porque eu cresci sem nunca
pensar que sou branca, porque nunca tive com o que comparar. E só quando fiquei
bem de vida que pude olhar em volta e pensar: tem alguma F* errada aqui.”
Chelsea realmente precisa de ajuda e quem poderá salvá-la? ESCOLA, ESTUDAR. O conhecimento liberta. Dizem. E é Tim Wise, professor, escritor, ativista branco, expert em privilégio branco e branquitude, claro que vem escurecer as ideias de Chelsea!
“O privilégio branco é um problema dos brancos com consequência para os não brancos” diz Wise - os brancos não conhecem a realidade do próprio país, de que o privilégio branco torna insuportável a vida de pretos. As pessoas precisam pensar e não pensam e entender que privilégio é o outro lado da opressão e da discriminação”. Finalizo com esta fala de Tim Wise.
Aguarde a terceira via dolorosa em busca
do saber A HISTÓRIA CONTINUA...
Fonte
1. HELLO PRIVILEGE. It’s me,
Chelsea. https://www.netflix.com/watch/80244973?
2. SILVA, Marina da. Privilégio branco. Parte 1
3. KISSINGER, H. ORDEM MUNDIAL (recurso eletrônico). RJ: Editora
Objetiva, 2015. Trad. Claudio Figueiredo. 1ªedição.
4. Canção Mama África. Chico
César
5. Os termos “privilégio
branco, desprivilégio preto, negritude, branquitude” estão presentes no documentário
Hello Privilege, It’s Me Chelsea.
6. A AMÉRICA PERTENCE AOS BRANCOS. https://www.intercept.com.br/2016/12/09/a-america-pertence-aos-brancos-diz-fundador-do-movimento-de-extrema-direita-pro-trump/
7. GLAUDE JR., Eddie S. Não deixe que os fanáticos barulhentos o distraiam. O verdadeiro problema da América com cortes raciais é muito mais profundo.https://time.com/5388356/our-racist-soul/
8. SOUZA, Jesse. A ELITE DO ATRASO. Recomendo leitura.
9. TORRES, Thiago -CHAVOSO DA USP: POPULISMO PENAL MIDIÁTICO https://youtu.be/GrzZ87-yIAo?si=czwsIbd0xXi1Bpgh; JORNALISMO POLICIAL PORQUE VOCÊ DEVERIA PARAR DE ASSISTIR https://youtu.be/WjQfEDIXwTc?si=_RpSiPnOlC7qFV4t; sobre programas sensacionalistas no Brasil que banalizam o genocídio de jovens pretos com o jargão"bandido bom é bandido morto"; CPF cancelado ver: documentário Netflix BANDIDOS NA TV. Wallace de Souza, político apresentador acusado de planejar assassinatos que ele transmitia no programa de TV;
10. Ney Matogrosso. Canção Miséria no Japão
11. Sobre Peter Thiel: livro On The Diversity Myth, Corrupt
Institutions, Woke Capital, Loss Of Religion, & China; https://outraspalavras.net/outrasmidias/peter-thiel-o-sombrio-capitalista-militante/; https://newrepublic.com/article/168125/david-sacks-elon-musk-peter-thiel;
https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=p8X9kdL9oIk&ab_channel=PirateWires