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domingo, 9 de janeiro de 2011

LIBERDADE AINDA QUE TARDIA!

BATTISTI: A COISA É NOSTRA!
Marina da Silva

Ou era para ser até que uma disputa de ego midiático agudo de uma elite jornalística resolveu ter uma crise de auto-afirmação e impor sua paz (de voz comandada) que reina há anos, desde o fim da ditadura militar e começo do império do pensamento único ou 1,99. Um domínio não somente nos meios de comunicação, diga-se de passagem, mas principalmente nele, um meio geoestratégico vital que controla e dita as informações doadas aos brasileiros.
E um probleminha de nada, doméstico, de asilo político ou não a Cesare Battisti _ “ex-militante de extrema-esquerda” da PAC- Proletários Armados pelo Comunismo _ virou um qüiproquó dos diabos com a Itália e o mafioso Sílvio Berlusconi, seu maestro.
99.99% dos brasileiros, uns 192 milhões de indivíduos, se perguntados fossem quem é Battisti, de cara responderiam: um atacante do Milan, o artilheiro argentino Batistuta, o Batigol, um confinado do BBB11 ou uma personagem destas novelas globais de imigrantes italianos!
Mas o que passaria despercebido aos brasileiros virou mania nacional, ou seja, novela! O Brasil tomou conhecimento do “ex-terrorista da esquerda italiana” e assassino Battisti vivendo nas terras brasilis em janeiro de 2009 quando Tarso Genro, ministro da Justiça, contrariando uma patrulha de justiceiros concedeu status de refugiado político a Cesare, ex-ativista italiano, apresentado pela mídia, sabe-se lá porque, como um mero assassino terrorista sanguinário vermelho, cruzamento do nazista Josef Mengele com Osama Bin Laden.
Berlusconi apelou, gritou, xingou e apoiado na mídia “de um país de dançarinas” (leia-se prostitutas) que pôs lenha e pilha, um erro capital (a decisão de um ministro está sendo contestada no STF-Supremo Tribunal Federal) quer a extradição de Cesare a qualquer custo e pra ontem, o que agride mortalmente nossa Carta Magna gerando uma crise de soberania, ferindo princípios fundamentais de nossa Constituição de 1988 (Art. 1º, inciso I; Art. 4º, incisos I,II,III,IV,VI,IX e especialmente inciso X) e a legislação sobre asilo político, refúgio, Lei n° 9.474/1997, que “define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências”:

“Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:
        I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país”;

Celso de Melo, ministro do STF já pensa “não ser incoerente mudar a lei de refúgios” para atender Don Berlusconi.
Pode  Berlusconi, chefe de uma nação que é menor que Minas Gerais e três vezes menos populosa que o Brasil, este sim, uma das seis maiores potências do planeta na atualidade _ o sétimo PIB (Produto Interno Bruto) no ranking mundial em 2007 _ passar incólume por cima de nossas leis e nossa Carta Maior? Claro...que não!!!
E é este incidente diplomático _ levado ao paroxismo pelos ditos donos da verdade, os papas da intelectualidade brasileira e seu complexo holofote _ que deve ser enfrentado pelo nosso Supremo Tribunal Federal.
Um tiro no pé que saiu pela culatra e atingiu os fundilhos de Berlusconi, um verdadeiro pé no saco, que resolveu dar uma de poderoso chefão sobre o Brasil acionando o Parlamento Europeu para ter na bandeja a cabeça do Battisti.
Como o Brasil deve se posicionar sobre este assunto, uma vez que a ação de um Ministro de Estado da Justiça foi desqualificada pela mídia? Abaixar a cabeça postar-se de quatro, levar um sermão passando por cima da própria Constituição e leis enfiando o rabo entre as pernas, a viola no saco deixando o Parlamento Europeu e Sílvio palpitarem num Estado de Direito que sequer é membro da UE-União Européia?
O Parlamento Europeu deve dar pitaco, se tiver jurisdição, somente na sua jurisdição, ou seja, nos 27 países membros da UE! E agora José?
Como diria Lula, se lhe fosse dada oportunidade: esses caras f...geral com a bicicleta! Eles que refaçam seu discurso e mostrem o que o homem realmente é ou rebolem para que ele seja: um criminoso camaradas, oops, companheiros, mas político vá bene!
E como há males que vem para bem... Bem vindo de volta à cena o pensamento crítico, coerente, compromissado com a verdade e a luta pela liberdade! E Xô essa paz sem voz (pela ausência de liberdade, pelo terror e violência das armas) e a paz com voz (submetida, covarde, genérica e falsificada) que já há bastante tempo jogou no marasmo e mesmice nossa imprensa tornando-a sem sentido ou razão de ser, vivendo e vendendo uma informação descaracterizada a partir de 1,99!
“O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou na manhã de hoje (31) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não conceder extradição ao ex-ativista de esquerda italiano Cesare Battisti.” 31-12-10

“O presidente Lula encerra o mandato com uma decisão vergonhosa — a de não extraditar o terrorista e assassino Cesare Battisti para a Itália, como mandaria a legislação, o bom senso, o sentimento de justiça e as relações com um país amigo” R. Setti. Revista Veja. 07-01-11.

“O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, determinou hoje que o ex-ativista italiano Cesare Battisti permaneça preso na Penitenciária da Papuda, em Brasília (DF). Peluso rejeitou o pedido dos advogados de Battisti para que ele fosse solto, já que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu último dia de governo, decidiu que o ex-ativista não deveria ser extraditado para a Itália. No despacho de três páginas, Peluso mantém a prisão e, diante da urgência do assunto, determina que o processo seja encaminhado ao relator do caso no STF, ministro Gilmar Mendes, “que reapreciará os pedidos se for o caso”. 06-01-11

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

CONTO DE NATAL

Conto de Natal
Marina da Silva
Do meio do nada! Era assim que o Natal chegava a casa; sempre da mesma forma, inesperada, repentina, as crianças inquietas remexendo formigueiros, brincando de rouba-bandeira, pegador, esconde-esconde, trepando nas mangueiras ou sentadas a sombra do gigantesco jatobá, despendendo horas a fio a comer os frutos e criar brinquedos com as cascas.
_Quem quer ir no mato buscar uma “gaia” para a árvore de Natal? Na cabeça da meninada estava dada a largada para as festas de Natal: a árvore, o presépio,  a Missa do Galo, a Ceia, as pastorinhas, a folia de Reis e quem sabe... até presentes! Procurar uma “gaia”- era assim que a mãe falava do galho de árvore que através de suas habilidosas mãos se transformaria na árvore mais importante e fantástica do mundo: a árvore de Natal. Ir ao mato era rotina, uma atividade constante em busca de lenha para o fogão, esterco de vaca e cavalo para a horta, perseguir os bichos, pegar frutos, caçar passarinho, tomar banho nos riachos, brincar! O dia da árvore de Natal era especial! A mãe e as outras mulheres reuniam o bando de Lampião e Maria Bonita e munidas de facão e trapos partiam cerrado adentro rodeadas pelas crianças a procura da mais bela “gaia”! O cerrado era o lugar mais rico do mundo, cheio de bichos diferentes e de  árvores tortas,  troncos retorcidos como se tivessem sido desenhadas pelas crianças. E quanta fruta gostosa! Enquanto a garotada se divertia catando coisas, brincando na água, comendo frutas, as mulheres se espalhavam pelo mato cada uma a procura de sua “gaia” de Natal. De tardezinha, o sol frio e quase alaranjado, a árvore com seus galhos limpos, o bando voltava para casa levantando a poeira vermelha da estrada no trote despreocupado das “precatas”. E as alegres comadres cantavam canções das pastorinhas e do “bate o sino pequenino” perseguidas pelas algazarras das crianças que sempre distorciam alguns cantos pra fazer chacotas, palhaçadas.
Bate o sino pequenino
No grupo escolar
Tá chamando a macacada para merendar
A merenda é boa, boa pra chuchu
Te arroz com sapo, assado de urubu
E pra sobremesa, olha só que prato
Tem suco de mosca e pudim de carrapato.
E o cardápio variava com inclusão de lesmas, bicho morto e até catarro. Eca! No dia seguinte começava a magia: o galho recebia camadas de tinta luminax prata para imitar a neve e em tempos de vaca gorda a mãe fazia a neve cobrindo a sua  “gaia” com flocos de algodão. Terminada esta etapa uma primeira caixa saia do alto do guarda-roupa e vinha para o chão da sala aonde uma a uma as bolinhas de Natal iam saindo desembrulhadas do jornal velho e iam tomando seu lugar na árvore. Era um ritual delicadíssimo e só a mãe tinha autorização de tocar nas bolinhas, todas de vidro, muito frágeis e todas trabalhadas cada qual com uma história de como chegou até a caixa de Natal. Mesmo quebrada, se o estrago não era grande, a mãe mantinha como tesouro suas bolinhas de Natal.
_ Mãe, Sô Divino mandô saber se a gente vai receber os folião! Receber a folia de Reis para saudar o menino Jesus na sua casa era o que a mãe mais prezava.  Tem que comprar um garrafão de vinho – avisava ao marido – vou fazer uns doces e alguma coisa salgada! Sagrada – dizia a mãe – receber os Reis Magos na sua casa era coisa sagrada! Então começavam os preparativos do presépio e uma segunda caixa descia do alto do armário: fulano vá pedir uns sacos de cimento e um pouco de areia pro seu Jaime do “moxarifado”; sicrano pega capim seco e o vidro dos marinheiros, que era o arroz em casca resultado da cata diária no preparo do almoço; beltrano vai comprar a tinta preta e luminax dourada! No canto da parede aos poucos ia surgindo a gruta onde a Virgem Maria deu a luz a Jesus, o Cristo salvador do mundo! “O nosso Menino nasceu em Belém, nasceu tão somente para querer o Bem”  e ao som das músicas natalinas, Jesus na manjedoura velado por Nossa Senhora, mãe de Deus e por São José ia tomando seu lugar no centro da grutinha. Tinha ainda uma vaquinha deitada, um burrinho cinza com a crina e o rabinho preto, os três reis magos: Baltazar, Gaspar, Belchior. Tinha os camelinhos com duas corcovas, o anjo da Anunciação bem no alto e perto dele o galinho vermelho tão pequenininho, um carneirinho branco e a estrela-guia. Uma orquestra invisível de sons permanentemente a tocar violinos, piano, violas, sanfonas, xique-xique feito com as tampinhas de cerveja, triângulo, pandeiro, um concerto celestial invadindo a casa do pasto! E a gente ao passar pela sala ficava olhando abismado o brilho encantador das bolinhas de vidro e sua magia de transformação: como aumentava o nariz, os olhos e a boca da gente? Como cabia a sala inteira numa bolinha tão pequenininha? Como um só toque na bolinha puxa-puxa podia fazer ondas tão lindas? E quem colocou o Sagrado Coração de Jesus daquela forma escavando uma gruta dourada na bolinha? Tira a mão daí menino! Não tira os bichos do lugar que eu coloquei! Onde já se viu? A vaca e o burrinho ficam cuidando da entrada da gruta! Quem foi que mexeu nos reis magos? Hoje o Natal chega como um dia comum de ir ao mato, sem muita magia e como mera obrigação fica até mesmo sem graça! Não existem mais as bolinhas de vidro e as de plástico, isopor, linhas são tão práticas... Mas não tem o mesmo brilho do vidro ou mesmo qualquer trabalho de arte! E pior, não acabam nunca, assim como o pinheiro prático, econômico verde, branco ou prata, coisa que nem é de verdade da vida da gente! Mas Natal é luz, alegria, magia! A magia hoje vem das luzes e não mais da procura, captura e confecção da árvore que de tão iguais e pasmacentas podem se comprar na drogaria perto de casa! Mas tem luzes! Um Natal de luzes multicoloridas, cascatas de luzes, luzes pisca-pisca, luzes rendadas, quilômetros de luzes descendo do topo do teto dos shoppings, luzes cobrindo fachadas, o carro dos bombeiros, o próprio papai Noel. Luzes que enrodilham abraços e deixam alegres as árvores das ruas e praças! Luzes do lado de fora, árvores de Natal imensas feitas de luzes, luzes e alta tecnologia! É Natal! Nasceu o menino Jesus, vamos festejar com alegria! Será que Papai Noel recebeu minha cartinha? Feliz Natal!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A ARMAÇÃO CHINESA

A ARMAÇÃO CHINESA

Marina da Silva

Que uma boa dona-de-casa é também uma excelente economista é sabido em todo o mundo. E foi assentada nesta qualidade, que, após cálculos e estudos sobre custo/benefício, investimento/retorno, lucro/prejuízo e principalmente, não ficar pagando mico, é que mesmo antes do início das chuvas me preocupei em me armar com uma peça autêntica, original, enfim, um bom guarda-chuva.
 Desfiz de toda a cacaria de sombrinhas 1,99, aquelas compradas quando o tempo muda de supetão, em qualquer lugar e tomei opiniões sobre onde achar um produto de qualidade e principalmente durabilidade. Não que eu tenha tantas restrições aos produtos chineses, mas sombrinhas e guarda-chuvas não é a praia deles. E basta sair num dia de chuva, postar-se num ponto alto de algum edifício do centro e dar uma olhada para baixo para se identificar a armação chinesa. O tecido ainda passa, mas a armação só serve para nos matar de raiva e passar vexame.
É um festival multicolorido de sombrinhas escangalhadas – feio e lastimável. E isso sem contar o que acontece quando se enfrenta chuva e ventania: nasce do nada um exército de espadachins!
Então peguei endereços de lojas tradicionais em venda de bons produtos e lá fui eu comprar o meu guarda-chuva. Entrei numa loja e a aparência nobre e as garantias convenceram-me a pagar à vista. Era um produto nacional, de uma empresa paulista, que vendia um dos melhores produtos do país! O vendedor excitado citou-me  nome, endereço, o CGC e o CPF da fábrica e do dono.
Saí de lá feliz e pronta para uma dança na chuva! A estréia foi boa: uma chuva média e senti que havia comprado uma armadura resistente. Mas não é que em menos de um mês, entre abrir e fechar, o meu lindo, autêntico e original guarda-chuva – crack- quebrou uma haste da armação.
Só dei pelo acontecido quando cheguei em casa a noitinha e fui abrí-lo na área para secar. Que decepção! Que dor no coração! Meu guarda-chuva que valia meia dúzia de sombrinhas da China!
_ Vou ao PROCON! Pensei chateada. Mas como não tinha passado nem um mês achei melhor voltar lá na loja e reclamar da qualidade dos guarda-chuvas e sombrinhas; vai ver que foi um acaso! Só que por curiosidade, tive a idéia de olhar o endereço da fábrica paulista na etiquetinha. Meu queixo caiu! Fiquei pasma, passada com o que estava escrito na tira branquinha:
_ Fabricado na China 100% poliamida. Importado por Ronche.... e Cia Ltda. CGC 64.018.../....-..
_ Putz! Sentei-me no sofá desolada. Caí em mais um negócio da China!



quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

DE SALTO ALTO

DE SALTO ALTO
Marina da Silva


É inegável que um salto alto, em geral, deixa a mulher elegante; principalmente um salto fino, agulha. Raramente uma mulher, em nome da beleza e elegância, não lança mão de um saltinho. Mas aqui em Beagá, a capital mineira, andar num salto alto muitas vezes é arte, manha, um alto risco que pode acabar numa tragédia ortopédica ou mesmo um TC – traumatismo craniano.
Ao turista pode parecer deselegante ver da janela do carro ou ônibus a profusão de chinelos, rasteirinhas, sapatos baixos, tênis e salto Anabela, hoje acompanhado pelo Plataforma, um salto tão grande e desajeitado como uma plataforma  petrolífera da Petrobrás. Mas não sabe ele o drama das mulheres que se atrevem a caminhar pela cidade, em qualquer uma de suas nove regionais, num salto alto! E isto porque o estado precário e calamitoso de nossas calçadas, aqui conhecidas como passeios, faz do uso do salto alto uma verdadeira aventura radical, uma guerra contra buracos e traumatismos dia após dia.
Parece e é visível que em Beagá as regras para se fazer calçadas não são cumpridas! Os passeios são deploráveis, cada um faz do seu o seu jeito e se tem a impressão que os mesmos são feitos com as sobras e restolhos da construção do imóvel. Então ocorre uma profusão de passeios inacabados, esburacados, desnivelados, feitos com mistura de vários entulhos da obra e ninguém, institucionalmente falando, fiscaliza a construção, os reparos e a manutenção dos passeios! Verdade seja dita, há boas calçadas aqui, ali, acolá e na parte central da cidade que vem passando por processos de revitalização lentíssimos, um verdadeiro caos e sempre próximo às eleições. Mas não é a regra e sim a exceção! Mas também vale relatar que a qualidade e durabilidade das obras em alguns pontos... deixa pra lá! Não é esta Coca-cola toda!
É difícil ser elegante de salto alto numa cidade serrana, mas nos passeios de Beozonte torna-se uma tarefa hercúlea, uma exposição constante a tombos, quedas, fraturas, contusões, ao ridículo e chacota de todos.
O salto alto para a elegância da mulher é tão fundamental, que muitas, paradoxalmente, se orgulham de rodar a baiana, desmanchar um barraco sem descer do salto! Fato um tanto difícil para as belo-horizontinas que andam dando quebras na coluna, seqüelas de uma pólio tardia ocasionada pelos passeios da cidade, o que faz a mulher daqui parecer deselegante, para não falar jeca.  E é por estas e muitas outras mazelas de nossas calçadas que não se devem julgar as mulheres pelo que se vê da janela.
Há que se andar para crer? Então coloque um salto e venha se arriscar nos passeios de Belô e assim entenderá porque, muitas vezes é comum ver pela cidade, homens e mulheres atolados, praguejando contra céus e infernos e de quebra poderá aprender o que é um trupicão, topada, catar mamonas, catar cavaco, cair em mata-burro e descobrir que o nosso why (uai) é o inexplicável por quê? de mineiro!

Foto: Avenida Brasil uma das mais belas avenidas de Belo Horizonte, foto tirada na área hospitalar. 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

PODER FEMININO

PODER FEMININO
Marina da Silva
Female Power  é o título de um artigo publicado na revista britânica Economist (30-12-09) sobre o crescimento da força de trabalho feminina nos últimos 50 anos nos países capitalistas avançados e potências emergentes, especialmente nas últimas décadas do século XX. O fenômeno da feminização do mercado de trabalho deslancha uma revolução no mundo do trabalho e nas relações sociais como um todo e ocorre pari passu com a revolução tecnológica e globalização dos mercados que configuram a acumulação flexível, atual fase de acumulação de capitais. Em alguns países a PEA- População Economicamente Ativa já chegou a 50% ou superou a força de trabalho masculina (Estados Unidos e Inglaterra). As mulheres vêm quebrando os laços de dependência econômica masculina; destruindo o mito “isto é trabalho para homem”; assumindo o controle financeiro da casa, da sua educação e dos filhos, tomando posse do próprio corpo e sexualidade. Vivemos um momento de transição onde a mulher assume sua vida e constrói uma identidade social própria independente de autorização masculina, o que, infelizmente, não ocorre sem conflitos.
A entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho data do pós Segunda Grande Guerra, mas elas sempre trabalharam fato passível de verificação através da história da civilização.
Com o advento do capitalismo, lá estavam as mulheres sendo exploradas ao lado de crianças e homens. São as mulheres a maior força de reconstrução da Europa no pós-guerra, e as alemãs, neste momento, nos dão o mais belo exemplo da potencialidade feminina.
O fenômeno atual ou a invasão feminina no mercado de trabalho é um importante salto que vem desencadeando uma grande revolução no mundo. O poder feminino se espraia para todas as esferas da vida e cria “ondas” de atritos, choques, conflitos e confrontos com valores profundamente arraigados no universo, até poucas décadas, dominado exclusivamente pelos homens que detinham a renda e poder sobre o corpo, alma e a vida da mulher.
Esta revolução vem se delineando a meio século trazendo alterações profundas na construção da identidade social da nova mulher: polivalente, multifacetada, multifuncional, tornando complexa e conflituosa as relações, escolhas e interações na família e demais grupos sociais.
Onde está o poder feminino? E que revolução é esta onde às mulheres são destinados os trabalhos precários, os mais baixos salários e relações e condições de trabalho difíceis? Jornadas extensas, autoritarismo, locais insalubres e o mais dramático: exposição constante ao sexismo (guerra entre os sexos), assédio moral e/ou sexual, sub representatividade nos altos cargos e salários e na política. Mesmo nos países do Primeiro Mundo recebem menos que os homens na mesma função e com maior escolaridade: nos países da OCDE o salário da mulher é em média 18% menor que o do homem; no Japão e Itália a média ultrapassa os 20%. Dados da OIT (Org. Internacional do Trabalho) denunciam que no Brasil a renda das mulheres brancas, no mesmo nível de escolaridade, é 21% menor em relação aos homens; trabalhadores(as) negros têm renda 50% menor que os brancos (homens e mulheres); e a renda das trabalhadoras negras é 61% menor do que a renda dos homens brancos.
Se no Brasil e Japão é assim, imagine na China, Índia, Malásia, Coréia,Vietnã, etc?
A multimulher é poderosíssima! É uma conquista fenomenal dos capitalistas hodiernos que usam e abusam da força e polivalência das mulheres (trabalham em casa e fora dela), pagando-lhes baixos salários e as igualando aos homens usam-nas para o rebaixamento geral do trabalho  camuflando no discurso do poder feminino  uma apropriação e expropriação da força de trabalho de ambos, uma extração de mais-valia absoluta inimaginável sustentada numa “igualdade” fictícia, de papel! “Apenas 2% dos chefes listados pela Fortune 500 companies e 5 dos 12 no FTSE 100 stockmarket índex são mulheres”!  Para os altos salários e cargos as mulheres são sub representadas e tanto nos Estados Unidos como na Grã-Bretanha recebem 80% do salário do homem. O maior contingente feminino se concentra no Terceiro setor (comércio e serviços). O  Brasil tem 22.7% da PEA no trabalho domestico, são cerca  de 6.8 milhões de pessoas, mais de 90% mulheres, a maioria preta e parda, muitos menores de 16 anos, com baixo nível de escolaridade, 79.9% recebem entre 1 a 2 salários mínimos.
A cada dia cresce no Brasil e no mundo o Home-working -trabalho em casa, muitas vezes envolvendo toda a família (mala-direta, processadores de alimentos, bordadeiras, etc) e o Flexible Working - sem jornada, salário fixo ou piso da categoria, local de trabalho, benefícios  ou proteção social (trabalhadores da Avon e Natura, citando duas gigantes dos cosméticos). Cada vez mais trabalhadores, homens e mulheres, lutam pelo direito a um trabalho abrindo mão dos direitos trabalhistas, muitos premidos pela sobrevivência. A cada dia inventam-se e reinventam-se formas espúrias de expropriação dos trabalhadores mascarando relações de trabalho e burlando o Fisco e a Previdência na falácia do empreendedorismo individual, das falsas cooperativas,  voluntarismo ideológico/religioso, nos agregados à empresas como autônomos ou pessoa jurídica (laranjas), explorando estagiários (trainees). Uma revolução vem ocorrendo no mundo do trabalho, mas a quem ela favorece? Quais as conseqüências sociais, econômicas, culturais, sexuais, reprodutivas, da ocupação cada vez maior da força de trabalho feminina? Qual o tamanho das perdas, danos e ganhos? É o que precisamos discutir! Yes, we can!


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

QUER CONHECER BEAGÁ ATRAVÉS DO MEU OLHAR?

BELO HORIZONTE, BEAGÁ, BELÔ, BEOZONTE radicalmente por Marina da Silva
O QUE AS MULHERES QUEREM...

Marina da Silva

Beleza,
É fundamental, no trabalho,
Receber o mesmo salário e tratamento que os homens em funções iguais.
Usar decotes que valorizem os seios,
Sem que isso signifique estar disponível, desesperada,
Aberta a cantadas ou assédio moral descarado.
O mesmo seja válido para o tamanho e fendas de saias e vestidos.
Não precisar de certificado ISO de inteligência só porque nasceu ou ficou loura,
Não ter que rebolar só porque é mulata ou morena.
Amar, namorar ficar, fazer amor, sexo, transar
Com a mesma constância, fidelidade e seriedade masculina.
Sonhar com Brad Pitt e com muito dinheiro para pagar as dívidas.
Um amor, um corpo sarado, um namô.
Ser múltipla, mas sempre uma a cada vez
Mãe, esposa, amante, dona do lar, profissional de carteira assinada,
Cobrir as jornadas de trabalho dentro e fora de casa e
Ainda, uma vez por mês, ter permissão para uma TPM.
Ter um homem gostoso na cama,
Na lama, na grama, na cozinha encostada no fogão,
Na área, no quintal, no tanque, tanquinho ou numa Brastemp chiquérrima.
Sexo, sexo, sexo, muiiiiiiito sexo.
Ser gostosa, ser amada, ter trabalho, reconhecimento, autonomia, respeito.
Emprego, casa, ser reconhecida na minha arte.
E aí casar, ter filhos, uma família.
Dar o troco na mesma moeda,
Não dar troco, usar outro tipo de moeda.
Ser mãe, sentir as dores do parto,
Não sentir dor nenhuma
Escolher: parto normal ou cesárea?
Ter um dia, não, um mês só pra mim.
Uma noite de sono.
Tomar a iniciativa, pegar
Sem assustar ninguém.
Direitos iguais:
Nas banhas, celulites, flacidez, estrias,
Dar fim na ditadura de beleza feminina.
Sucesso, dinheiro, saúde, Deus primeiramente,
Amor, a paz mundial.
Sair para a balada,
Dançar, beber, acabar-se numa noitada.
Tomar uns chopes com uma amiga sem ser rotulada de sapatão.
Apaixonar, apaixonar por ela, beijar na boca.
Ter um amante, uma paixão enloquecedora.
Dinheiro, sexo, viajar.
Que ele divida as tarefas,
Que me faça um café da manhã ou me convide para um jantar.
Ficar sem compromissos.
Ter um namorado é o mais essencial.
Carinho, romantismo, mais paixão, sensibilidade, atenção.
Receber rosas vermelhas, um cartão. Namorar Roberto Carlos ou Tony Ramos.
Pagar a conta,
Rachar a conta,
 Pagar conta coisa nenhuma, pagar conta é coisa de homem.
Jamais ouvir: _ foi bom meu bem?
Se gostar, ser inteligente, que os rapazes saibam conversar.
O essencial, ser respeitada, não ser chifruda!
Dar chiliques, pitis, rodar a baiana, desmanchar barraco
Sem ser taxada de mal-amada ou precisar de uma analisada.
Ter um playstation e ganhar dos meninos!
Ter valor para os homens,
Não ser tratada como objeto ou um
Filé, simples pedaço de carne.
Preliminares,
Primeiro tempo, intervalo, segundo tempo, prorrogação, disputa de pênaltis,
Nada de morte súbita.
E todos os mais, mas, e, ou, ora, seja, quer, contudo, entretanto...também!