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sábado, 26 de janeiro de 2013

BRAZIL: MINAS GERAIS E A GESTÃO DO CHOQUE!




ANÁLISE ECONOMICA

Minas Gerais: a ilusão do déficit zero com o crescimento da dívida pública

Cláudio Gontijo
Doutor em Economia pela New School for Social Research, em New York, NY, Estados Unidos. Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG; Ex-diretor da Fundação João Pinheiro e ex-Chefe da Assessoria Econômica da Secretaria da Fazenda de Minas Gerais durante o governo Itamar Franco. Presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais.

Texto especialmente atualizado e adaptado do livro intitulado “Dívida Pública do Estado de Minas Gerais – A Renegociação Necessária”, de autoria dos economistas mineiros Fabrício Augusto de Oliveira e Claudio Gontijo.


Quando assumiu o comando do estado de Minas Gerais, em 2003, o diagnóstico feito pelo governador Aécio Neves sobre a situação das finanças estaduais foi de que encontrara um estado desmantelado e mergulhado em um quadro de ruína financeira. Tal diagnóstico encontra-se retratado em várias passagens do livro “Choque de Gestão” (2006), como, por exemplo, na página 13, onde, em artigo especialmente para ele elaborado, o então técnico do governo, Antônio Anastasia, afirmara que “Minas Gerais apresentava um gravíssimo quadro fiscal, com expressivo déficit orçamentário desde 1996, pelo que faltavam recursos para todas as despesas, inclusive para o regular e tempestivo pagamento da folha de pessoal”. Ou ainda, na página 15, onde dizia que “não somente enfrentávamos uma crise fiscal, como também a forma de funcionamento do Estado estava obsoleta e bolorenta (...)”. Era esta a mesma situação diagnosticada pelos titulares da Secretaria da Fazenda do estado, como se depreende de passagem também de artigo incluído no mesmo livro: “o estado de Minas Gerais [...] apresentava, na apuração de seus resultados orçamentários de 2002, uma das piores equações fiscais dentre as unidades federativas” (Norman e SEF, 2006).
Diante desta situação, o governo entendeu que não poderia levar à frente qualquer programa de desenvolvimento sem antes promover o saneamento de suas finanças, já que este desequilíbrio operaria, inevitavelmente, como obstáculo para este objetivo. Por isso, concebeu, idealizou e divulgou, para a sociedade mineira, um programa denominado Choque de Gestão, com o qual se propôs, numa primeira etapa, sanear as contas do estado, visando criar as condições minimamente requeridas para se avançar na retomada dos investimentos públicos e, com isso, abrir os caminhos para o reingresso de sua economia numa etapa de crescimento sustentado.

Fabrício Augusto de Oliveira
Doutor em Economia pela Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP; Professor da Escola do Legislativo do Estado de Minas Gerais; Ex-Secretário Adjunto da Secretaria da Fazenda de Minas Gerais durante o governo Itamar Franco. Vice-Presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais.
Sabia-se, no entanto, não ser esta uma tarefa fácil. Tanto isso é verdade, que no Plano Plurianual de Governo (PPAG) do período 2003-2007 – o plano do primeiro mandato do Governo Aécio Neves – seria projetada, para as contas do estado, uma melhoria gradativa de seus resultados orçamentários, prevendo-se que, apenas em 2007, o estado passaria a operar, finalmente, com superávits orçamentários correntes, excluídas as operações de crédito, como mostra a Tabela 1 (Oliveira e Riani, 2006).
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Já em 2004, no entanto, diante dos melhores resultados orçamentários que começaram a ser colhidos, os quais o governo atribuiu aos ganhos mais rápidos do que os esperados com a implementação do Choque de Gestão em curso, com o qual, na campanha de marketing por ele desfechada na imprensa nacional, teria conseguido, em tão pouco tempo, equilibrar as contas do estado e alcançar o cobiçado “déficit zero”, que se tornou o símbolo de uma administração eficiente.
Sem mencionar a situação do estoque da dívida de Minas e dos encargos que representava para o estado e dedicar-se à divulgação da proeza realizada pela sua administração no equilíbrio dos fluxos orçamentários, o governo, com base em um conceito de pouco significado econômico – o de “resultado orçamentário” – lançou uma cortina de fumaça sobre a situação, obliterando os desequilíbrios reais de suas contas, provocados pelos encargos dessa dívida, e vendeu a imagem de competência de sua administração com a implementação do Choque de Gestão. Inaugurou, com isso, um período, que se prolongaria até o final de seu segundo mandato, em 2010, em que se garantiria um grande desconhecimento da situação real das finanças do estado e em que, para assegurar o mito do “déficit zero”, sua administração se eximiria de adotar iniciativas efetivas para o equacionamento de sua dívida.
Na verdade, como se procura discutir em seguida, nem todos os ganhos obtidos neste período podem ser atribuídos ao programa Choque de Gestão, nem os melhores resultados fiscais amplamente divulgados na imprensa nacional, com base no conceito de “resultado orçamentário” podem ser considerados, como o governo procurou transmitir, como se com ele tivesse sido possível alcançar um ajuste estrutural das contas do estado.
O Choque de Gestão e o déficit zero: ilusões contábeis e eficiente política de marketing
Contando com ajuda extra

Uma eficiente política de marketing patrocinada pelo governo mineiro na imprensa nacional deu ao Choque de Gestão notoriedade no País e garantiu aos responsáveis pela sua concepção e implementação dividendos financeiros, pelo fascínio que despertou em muitas administrações, com a sua exportação para outros estados. Segundo a imagem que se vendeu do programa, em apenas dois anos o governo mineiro conseguira sair de uma situação de penúria financeira, equilibrar suas contas, com a geração de superávits orçamentários e recolocar o estado nos trilhos do desenvolvimento econômico. Todavia, apesar dos frutos que com ele foram gerados e das ilusões que foram criadas em torno de seus resultados, é improvável que o mesmo tivesse obtido tanto sucesso se não tivesse contado com a ajuda de outros fatores intervenientes neste processo que não faziam parte de seu arcabouço.
No campo fiscal, o programa procurou conciliar medidas emergenciais com medidas estruturantes. Com as medidas de curto prazo, seu objetivo foi o de dar respostas imediatas para o desequilíbrio financeiro do estado e criar as condições mínimas de governabilidade para a nova administração.

Com as estruturantes, garantir a sustentabilidade fiscal intertemporal e permitir ao estado recuperar sua capacidade de atuar como indutor do desenvolvimento econômico e social. O Quadro 1 lista as principais medidas que foram adotadas no âmbito deste programa.
Por mais força que essas medidas tenham tido para melhorar as finanças do estado, é improvável que teriam conseguido, em tão pouco tempo, mesmo por que muitas delas só se traduziriam em ganhos no médio e longo prazo, retirá-lo de uma situação de aguda crise fiscal e de paralisia da máquina pública e conduzi-lo ao paraíso do equilíbrio intertemporal das contas públicas, como cantado em verso e prosa no livro “O choque de gestão em Minas Gerais” (Vilhena, Martins, Marini e Guimarães, 2006). Na verdade, caso a economia não tivesse apresentado um comportamento altamente favorável a partir de 2003 e uma ajuda extra das receitas extraorçamentárias não tivesse sido dada ao governo, além de se ter contado com a contribuição obtida com a adoção do instrumento da contabilidade criativa, certamente essa história não seria tão exitosa.
Quadro 1 - Governo de Minas: principais medidas adotadas no campo fiscal no âmbito do programa Choque de Gestão
Receitas

Programa Modernizador da Receita:
- -Adoção do Simples Minas
- -Desoneração tributária de 150 produtos da cesta básica
- -Simplificação de procedimentos tributários
- -Inclusão de novas mercadorias no instituto de substituição tributária
- -Adoção de medidas reativas à guerra fiscal
- -Intensificação do combate à sonegação
Revisão e elevação das alíquotas do IPVA, ITCD e das taxas;
Melhoria da receita patrimonial (dividendos das estatais estaduais, remuneração dos serviços bancários, administração da rede bancária da folha de pagamento do estado);
Reajuste no valor da Unidade Fiscal do Estado de Minas Gerais (UFEMG);
Incremento das receitas da administração indireta (fundações, autarquias etc.).
Gastos

Decreto de contingenciamento, em 2003, de 20% das despesas financiadas com recursos ordinários do Tesouro em relação aos valores executados em 2002: redução real de 5,9% das despesas de custeio e de 29,2% dos investimentos;
Congelamento do salário do funcionalismo: queda real de 5% das despesas com salários;
Reforma Administrativa do Estado: redução de 30% no número das secretarias, mediante fusão; exclusão de 1858 cargos comissionados;
Revisão geral e extinção de benefícios do funcionalismo;
Redução dos salários do governador, do Vice, dos secretários de estados e dos secretários-adjuntos;
Centralização da folha de pagamentos do funcionalismo na Secretaria de Estado do Planejamento e Gestão;
Criação do sistema de compras do estado por meio de leilões eletrônicos;
Aprovação das Parcerias Público-Privadas (PPPS), com o objetivo de obter recursos para a realização de investimentos.

Sem contar com um quadro macroeconômico favorável em 2003, quando a economia mundial apenas começava a reencetar a marcha rumo a um período de forte crescimento e a economia brasileira ainda padecia dos efeitos residuais da desconfiança no Governo Luiz Inácio Lula da Silva, o programa de ajuste do governo teve de se apoiar predominantemente no corte dos gastos para diminuir o desequilíbrio fiscal. O período de “caça ao gasto” que marca este ano conseguiu produzir uma queda real de 3,1% das despesas correntes, com o congelamento dos salários do funcionalismo (queda de 5% reais no ano), contração real também de 5,9% das despesas de custeio e de 29,2% dos investimentos. Como as receitas correntes, apesar do baixo crescimento do PIB no ano, cresceram 3,4%, em termos reais, e o ICMS 5,2%, o governo conseguiu, no ano, reduzir o déficit orçamentário potencial de R$ 2,3 bilhões para apenas R$ 227 milhões, o que pode ser considerado um feito, mas que contou com a ajuda de receitas e economia de gastos extraorçamentários, que nada tinham a ver com o Choque de Gestão.
Do lado das receitas, R$ 223 milhões vieram do governo federal, relativos ao ressarcimento de despesas do estado com as estradas federais, que haviam sido negociados no último ano da administração Itamar Franco. Do lado dos gastos, o governo estadual deixou de pagar R$ 250 milhões de encargos da dívida com a CEMIG, referentes à Conta de Resultados a Compensar (CRC), e o governo federal concordou com o seu pleito de abater R$ 119,5 milhões do montante que teria de pagar à União, relativos aos encargos da dívida renegociada, como uma espécie de devolução por ele feito de Bônus que havia emitido e colocado no exterior e que foi incluído na dívida intralimite. Ou seja, sem esses ganhos extras, mesmo o resultado orçamentário teria se revelado bem inferior.
Embora reconhecidamente ajustes fiscais sejam mais bem-sucedidos quando realizados pelo lado dos gastos, como foi feito no primeiro ano do governo, sabe-se também que estes apresentam limites políticos, sociais e econômicos pelo que podem representar para a paralisia da máquina pública e dos investimentos, para a insatisfação do funcionalismo e da população em geral, à medida que prejudicam a oferta de bens públicos. Por essa razão, dificilmente teria sido podido manter essa mesma política por tempo mais prolongado sem o governo se defrontar com fortes questionamentos e mesmo com uma situação que, não se pode descartar, poderia chegar a um quadro de ingovernabilidade.
A melhoria substancial do quadro macroeconômico, a partir de 2004, aliada ao expressivo aumento, em 2003 - depois de passado o quadro eleitoral, dos preços da energia elétrica, combustíveis e comunicações, que respondem, hoje, por 52,2% da arrecadação de ICMS estadual, resolveu essa questão e permitiu, ao governo, mudar a equação do ajuste, deslocando o seu principal instrumento para o lado da receita. A Tabela 2 mostra a importância que o crescimento econômico conhecido pelo estado a partir deste ano propiciou para o seu programa de ajustamento fiscal.
Os ganhos espetaculares de receitas, em termos reais, obtidos a partir de 2004, que em alguns anos foram superiores a 10%, propiciaram, ao governo, não somente avançar na melhoria dos indicadores fiscais, em geral, enquadrar-se mais rapidamente do que se projetava nos parâmetros da LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal e, de quebra, começar a contar com mais recursos para a realização de investimentos públicos, o que já ocorreria com mais força a partir de 2005, quando também se abriram, novamente, as portas para seu retorno ao mercado de crédito. Esta situação mais confortável só seria interrompida em 2009, quando os efeitos da crise mundial deflagrada em 2007/2008 derramaram-se também sobre o Brasil e castigaram com maior severidade as economias com estruturas produtivas em que as commodities têm peso considerável, como no caso do estado de Minas Gerais, prejudicando mais fortemente sua situação fiscal. Em 2010, no entanto, superada a crise do crédito subprime, o PIB voltou a crescer mais fortemente que o do Brasil, impactando novamente de forma positiva as receitas do estado.
Além do crescimento mais espetacular que teve início em 2004, o governo foi beneficiado também, a partir deste ano, com o aumento das receitas das transferências do governo federal provenientes da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre os combustíveis em geral (CIDE-combustíveis), cuja aprovação, na Reforma Tributária de 2003 (EC 42/03), reservou 29% de sua arrecadação para serem distribuídos entre os estados e municípios. Só para se ter uma ideia do que este ganho representaria, cabe registrar que, tendo atingido o montante de R$ 89,2 milhões no primeiro ano da entrada em vigor desta nova regra de partilha daquele tributo, este valor evoluiu para R$145,7 milhões em 2005 e para R$ 131,8 milhões em 2008.2 
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Por outro lado, é importante destacar que a evolução mais favorável dos indicadores fiscais e financeiros da LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal contou também com a ajuda extra do que atualmente é considerado como contabilidade criativa3: pelo menos entre 2003 e 2006, o cálculo realizado pelo Poder Executivo alargou indevidamente a base da Receita Corrente Líquida (RCL), de acordo com os Relatórios do TCEMG – Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais sobre a prestação de contas do governador, o que propiciou a antecipação de seu enquadramento nos limites de gastos com pessoal e endividamento estabelecidos pela LRF-Lei de Responsabilidade Fiscal e, com isso, seu retorno mais rápido ao mercado de crédito4. Embora depois de 2007 tenha se verificado uma convergência entre os valores da RCL calculados pelo Executivo e pelo TCEMG, como mostra a Tabela 3, o fato é que, sem este artifício, os resultados alcançados com o Choque de Gestão não teriam sido tão espetaculares nos primeiros anos como os divulgados pelo governo.
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De qualquer forma, mesmo levando-se em conta que o Choque de Gestão teria, em alguma medida, contribuído para reduzir as dificuldades orçamentárias do estado, considerando os ganhos com ele obtidos tanto pelo lado das receitas como dos gastos, não se pode desconsiderar, de um lado, nem a importante ajuda extra que recebeu dessas outras forças para a sua melhoria, nem, de outro, que, apesar da intensa propaganda oficial, não se conseguiu de fato, retirar o estado do “inferno fiscal” em que se encontrava em 2002, abrindo-lhe, com o programa, as portas do paraíso para o crescimento econômico sustentado, apoiado numa sólida condição fiscal, liberta das amarras do endividamento. Uma análise do desempenho real das contas públicas durante a gestão Aécio Neves confirma que esta situação se encontrava longe de ser alcançada, apesar do discurso triunfante do seu governo.
Desfazendo o mito do Déficit Zero
O conceito utilizado pelo governo do estado de Minas Gerais, durante a administração Aécio Neves, para vender a imagem de que conseguira alcançar o equilíbrio das contas públicas, zerando o déficit público, foi o de Resultado Orçamentário. De fato, analisando os dados da Tabela 4, é possível constatar que, desde 2004, as contas do governo se tornaram superavitárias, à luz deste conceito, depois de amargar seguidos anos de déficit. E ainda que, embora essa inflexão tenha ocorrido neste último ano, já em 2003 o governo começava a colher frutos do ajuste realizado e do ambiente macroeconômico mais favorável, considerando que o déficit potencial projetado de R$ 2,3 bilhões para este ano acabou reduzido a R$ 227 milhões.
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Este é, no entanto, um conceito enganoso - e qualquer técnico mais bem preparado de finanças públicas sabe bem disso -, por incluir, do lado das receitas, as Operações de Crédito, as quais, apesar de constituírem receitas que ingressam nos cofres públicos, representam uma dívida contratada que terá de ser paga no futuro. Por isso, o conceito pode transmitir a falsa imagem de uma situação de equilíbrio, quando, na verdade, essas contas se encontram em desequilíbrio.5
Se excluídas as Operações de Crédito do lado da receita (conforme terceira coluna da tabela), os resultados deixam de se apresentarem tão espetaculares como no quadro anterior, mas, mesmo assim, não há como negar sua evolução mais favorável no período considerado: além de redução expressiva dos desequilíbrios orçamentários após 2003, o estado conseguiu registrar superávits somente em três anos, 2004, 2005 e 2008. O retorno de déficits mais elevados em 2009, 2010 e 2011 pode ser explicado, sobretudo, pelos efeitos da crise econômica mundial que derrubou as receitas do governo, especialmente no primeiro ano.
Um indicador que revela melhor o desempenho das finanças públicas e também a força e consistência do ajuste realizado é o que espelha a capacidade do governo de economizar recursos para efetuar o pagamento dos encargos de sua dívida, de forma a impedir que o seu crescimento, no tempo, se torne motivo de preocupação para seus credores sobre sua capacidade de solvência. Conhecido como Resultado Primário, este indicador, em Minas Gerais, apresentou uma trajetória bastante favorável no período, como se constata na Tabela 5, evoluindo de níveis mais ínfimos nos primeiros anos após a assinatura do contrato da dívida com a União (até 2002) para níveis elevados entre 2003 e 2008, próximos de 10% da Receita Corrente Líquida (RCL) do governo. O declínio registrado neste indicador, em 2009 e 2010, deve-se, como já discutido, à crise econômica, que minou as receitas do estado e reduziu sua capacidade de geração de superávits primários. Estranhamente, este não foi, no entanto, um conceito explorado e divulgado pelo governo para divulgar os bons resultados que vinha obtendo na gestão das suas finanças.
O conceito de Resultado orçamentário, além de conter elementos da receita que podem resultar em equívocos na avaliação do desempenho real das finanças do governo, podendo, portanto, transmitir uma falsa situação de equilíbrio, ainda esconde, no caso brasileiro, por força da legislação e regulamentação do contrato da dívida com a União, despesas incorridas com o pagamento dos encargos dessa mesma dívida, que deixaram de ser pagos e que, por essa razão, não transitam pelo orçamento, sendo diretamente contabilizadas em seu estoque, podendo, portanto, só serem percebidas pela análise de seu balanço patrimonial6. Este fato torna, ainda mais uma ficção, o Resultado Orçamentário, para avaliação do desempenho e do resultado efetivo das contas do governo. Para essa avaliação, que considera, portanto, a totalidade dos encargos da dívida não pagos pelo governo, o conceito relevante é o de Resultado Nominal, que o governo Aécio Neves deixou de divulgar para o público, ao longo de todo o seu mandato, para não prejudicar o mito do déficit zero. 
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A Tabela 6, cujos dados podem ser extraídos, inclusive do site da Secretaria da Fazenda do Estado de Minas Gerais, nos balanços orçamentários e nos Relatórios de Gestão Fiscal, mostram a evolução tanto do serviço da dívida não pago (juros e amortizações) ao longo do período em análise, quanto do Resultado Nominal, o qual revela, efetivamente, se o estado teria, ou não, se defrontado com um desequilíbrio em suas contas. Como se percebe, ao contrário da propaganda oficial, o estado teria incorrido em gigantescos déficits nominais durante toda a gestão do governador Aécio Neves, o que explicaria a manutenção da trajetória preocupante de crescimento da dívida pública também neste período. Tal fato se explicaria, analisado por este ângulo, principalmente pelo montante dos encargos da dívida que deixaram de ser pagos, correspondentes a 59% de seu total, os quais se incorporaram ao seu estoque, projetando encargos crescentes no futuro.
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A expressividade do déficit nominal do governo, o qual tem alimentado o crescimento da dívida fiscal, fica mais evidente quando se considera sua representatividade como proporção da receita. Como mostra a Tabela 7, o déficit nominal, que corresponde, na ausência de outros fatores determinantes, ao serviço da dívida fiscal não pago, atingiu, em alguns anos, como proporção da Receita Corrente Líquida (2001, 2003, 2008 e 2010), percentual superior a 20%. Em relação à Receita Líquida Real, essa proporção é ainda mais expressiva: ultrapassou a casa dos 30% em dois anos, 2003 e 2010 e, em mais (2001, 2004 e 2008), a dos 20%, situando-se em níveis mais reduzidos apenas nos demais anos da série.
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Na teoria das finanças públicas, a dívida só aumenta por quatro motivos: 1) para cobrir desequilíbrios orçamentários provocados por gastos primários superiores às receitas; 2) para a realização de investimentos para os quais não se conta com recursos orçamentários suficientes; 3) para a cobertura de despesas emergenciais e de passivos imprevistos que surgem e para os quais não se conta com dotações orçamentárias; e 4) para o refinanciamento da dívida e de seus encargos, quando não se dispõe também de recursos orçamentários para o seu pagamento.
Até mesmo por força do contrato da dívida assinado com a União, em 1998, o governo do estado tem conseguido, desde a administração Itamar Franco, gerar superávits primários para efetuar, ainda que parcialmente, os encargos financeiros da dívida renegociada. De outro lado, devido à asfixia financeira por ele enfrentada, os investimentos realizados só voltaram a adquirir alguma expressividade a partir de 2004-2005, tendo atingido R$ 3.993,6 bilhões em 2010 e R$ 3.300,2 bilhões em 2011. Mesmo adotando a hipótese bastante simplificadora de que todas as novas contratações de empréstimos realizadas entre 2006 e 2011, que totalizaram R$ 4,0 bilhões, tenham sido destinadas para o seu financiamento, e deduzirmos este montante do estoque da dívida contratual no final de 2011, que chegou a R$ 69,2 bilhões, ainda assim restaria um saldo de R$ 65,2 bilhões, indicando que o seu crescimento não poderia ser explicado por este esforço adicional de investimento.
Considerando, por último, que as despesas emergenciais e o surgimento de passivos contingentes (reconhecimento de “esqueletos”) não têm sido expressivos ao longo de todo este período analisado, o maior crescimento da dívida só pode ser explicado predominantemente pelos seus encargos que, por não terem sido pagos, tiveram de ser refinanciados, expressando o déficit nominal em que teria incorrido o governo.
Diante destes resultados, é possível concluir que o propalado déficit zero da administração Aécio Neves/ Antonio Anastasia, bem como o decorrente ajuste estrutural das contas do estado, não teria passado de um engodo destinado a atribuir-lhe uma aura de competência e eficiência na gestão dos recursos públicos, e que a dívida, indiferente a este anseio, continuou mantendo-se impassível em sua trajetória de crescimento preocupante.
A dívida em expansão, apesar deo déficit zero
Entre 31/12/2002 e 31/12/2011, a dívida contratual (DC) do governo do estado de Minas Gerais evoluiu, em valores nominais, de R$ 34.450,5 milhões para R$ 69.230,4 milhões, como mostra a Tabela 8 -uma variação de 101,0%. A dívida consolidada líquida (DCL), um parâmetro importante na definição do limite de endividamento dos entes federativos, mas impreciso para avaliar a sua efetiva condição, aumentou, neste mesmo período, de R$ 32.941,7 milhões para R$ 61.005,9 milhões, com uma variação nominal de 85,2%. Nesse período, a variação do Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), calculado pelo IBGE foi de 66,9% e o Índice Geral de Preços (IGP-DI), calculado pela Fundação Getúlio Vargas, que é também utilizado como indexador da dívida dos estados com a União, de 97,4%. Isso significa que, em termos reais, considerando qualquer um destes indexadores, a dívida contratual continuou em expansão, apesar dos elevados encargos que o estado vem arcando para o seu pagamento, desde a assinatura do contrato com a União.
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Para avaliar melhor as causas que têm garantido o crescimento da dívida do estado em níveis superiores às taxas de inflação, é importante analisar a sua composição, visando identificar as fontes credoras que mais têm provocado pressões sobre os seus níveis. A Tabela 9 apresenta a evolução da composição da dívida contratual do estado entre os anos de 2002 e 2011, fornecendo elementos para essa avaliação. É interessante notar que tanto a dívida do estado com a União como a dívida do mesmo com a CEMIG conheceu, no período em análise, uma variação superior à taxa de inflação acumulada no período, indicando que ambas aumentaram, em termos reais, apesar do pagamento dos encargos realizados, significando que estes não teriam sido suficientes para se avançar na sua amortização. Apenas a menor expansão das “outras dívidas”, de 16%, vis-à-vis a inflação, permitiu que esta questão não se mostrasse mais grave, embora nos últimos anos da série, por ter o estado conseguido retornar ao mercado de crédito com o seu reenquadramento no limite de endividamento da Lei de Responsabilidade Fiscal, e de ter recomeçado a realizar novos empréstimos, aquelas tenham voltado a crescer. Pelo que representam no conjunto da dívida do estado, algo próximo de 93%, e pela evolução desfavorável para esta questão, tanto a dívida com a União como a dívida com a CEMIG merecem uma análise mais acurada, visando identificar as razões de seu crescimento real.
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No caso da dívida com a União, como visto anteriormente, os elevados encargos incidentes sobre o estoque da dívida renegociada pelo estado (IGP-DI + juros reais de 7,5% ao ano), associados a uma base considerável deste montante, têm feito com que os pagamentos obrigatórios exigidos pelo contrato, 13% da Receita Líquida Real, sejam insuficientes até mesmo para cobrir, em alguns anos, a própria correção da dívida, ocorrendo, portanto, um descolamento entre encargos/pagamentos e garantindo o seu crescimento real no tempo. Só para se ter uma ideia deste descolamento, basta registrar o fato de que enquanto o IGP-DI (que pode ser chamado de índice da “inflação da dívida”) acumulou uma variação de 225,4% no longo período que vai de 1998 a 2011, a do IPCA (o índice da inflação oficial) não passou de 137,2%, enquanto o deflator implícito do PIB (que pode ser considerado a “inflação do produto”) ficou em 195,9%.
Apesar disso, e da importância que representaria para as finanças do estado alterações nestes parâmetros de correção desta dívida, não se tem notícia de que alguma iniciativa mais contundente tenha sido adotada pelo governo de Minas, neste período, visando abrir caminhos para sua renegociação com o governo federal. O que é compreensível em face da fantasia que se criou em torno do mito do déficit zero. Afinal, desfrutando do status que lhe foi conferido pela sua obtenção, insistir nesta questão poderia levar até mesmo à perda de credibilidade do governo neste campo.
Em se tratando da dívida com a CEMIG, a situação chega a ser mais grave não tanto pelo seu montante quando comparado ao da União, mas aos seus custos, que são ainda mais onerosos, o que termina imprimindo-lhe uma velocidade de crescimento maior que a observada para a dívida com a União, mesmo por que o pagamento parcial de seus encargos tem sido bastante reduzido em face de seus encargos totais.
Negociada em 1995 pelo Governo Eduardo Azeredo, com encargos correspondentes à correção pela UFIR e, a partir de 2001, pelo IGP-DI acrescido de juros reais de 6% ao ano, os últimos foram imprudentemente elevados para 12% no final do Governo Itamar Franco, aumentando sobremaneira os seus custos para o estado e para o contribuinte, com o comprometimento de recursos dos cofres públicos para uma empresa que se encontrava com quase 80% do capital privatizado.
Durante o Governo Aécio Neves/Antonio Anastasia, algumas modificações seriam introduzidas nas condições de remuneração dessa dívida, mas em tudo insuficientes para restabelecer as contempladas no contrato original e para aliviar as pressões sobre o endividamento do estado com essa empresa: de acordo com o 4º Aditivo do contrato com a CEMIG, de 23 de janeiro de 2006, manter-se-ia a correção monetária do débito do estado pelo IGP-DI, enquanto os juros reais sobre ele incidentes seriam reduzidos de 12%, que vigoravam desde 2003, para 4,009% ao semestre e 8,18% ao ano, pro rata tempore, capitalizados semestralmente, em 30/06 e 31/12, os quais poderiam ser elevados para 10%, no caso de o estado deixar de pagar três parcelas sucessivas, e para 12% em caso de inadimplemento, de acordo com as condições estabelecidas neste Aditivo. Além disso, para garantir o recebimento das parcelas que deveriam ser semestralmente feitas pelo estado até o ano de 2035, o Aditivo autorizava a CEMIG a reter até 65% dos dividendos de juros sobre o capital próprio a que o estado teria direito sobre os lucros ordinários distribuídos pela empresa, o correspondente a 7,23% do lucro líquido, e, caso estes fossem insuficientes, também dos extraordinários, podendo o percentual retido chegar a 100%, em ambos os casos, ou a 11,12% do total do lucro líquido da companhia. Uma situação tão favorável para a empresa que o Aditivo vetaria a possibilidade de o estado antecipar o pagamento de mais de duas parcelas da dívida, no caso do uso dos dividendos e juros sobre o capital próprio recebidos da empresa, e de mais de três parcelas, caso fossem utilizados, para essa finalidade, recursos próprios8.
Não surpreende, assim, que com a manutenção de encargos tão elevados, apesar da redução dos juros reais contemplada neste 4º Aditivo, a dívida com a CEMIG tenha se mantido numa trajetória de acelerado crescimento, em nível bem superior ao da dívida com a União, com condições menos desfavoráveis, mesmo com o pagamento anual de pelo menos parte de seus encargos pelo estado. Se, com este Aditivo, pode-se considerar que a generosidade dos juros reais de 12% ao ano do Governo Itamar Franco teria sido atenuada, sua fixação no nível de 8,18%, precedido da correção pelo IGP-DI não pode ser vista, também, como se o governo estivesse preocupado em aplicar um verdadeiro Choque de Gestão nesta dívida e em pavimentar o caminho para garantir o ajuste estrutural das contas do estado.
Se os elevados custos dessa dívida se encontram na base deste crescimento, também a insuficiência de pagamentos semestrais/anuais dos encargos em relação aos acordados no 4º Aditivo pode também ter contribuído para essa maior expansão. A análise desagregada dos fatores que teriam contribuído para tanto – correção e remuneração dos valores, montante dos encargos pagos em relação aos devidos, juros moratórios incidentes sobre parcelas em atraso ou não pagas etc. – exige o acesso às planilhas desta dívida, as quais, infelizmente, não estão disponíveis.
Fonte: Revista Mercado comumhttp://www.mercadocomum.com/site/artigo/detalhar/minas_gerais:_a_ilusao_do_deficit_zero_com_o_crescimento_da_divida_publica

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

BRAZIL: A PERFEIÇÃO

PAI DOS ESPERTOS

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Sérgio Antunes de Freitas


Desde que escutei, pela primeira vez, minha primeira professora de português chamar o dicionário de “pai dos burros”, não concordei.
Para os sábios, isso pode até ser uma brincadeira engraçada, pois eles sabem que, quanto mais se estuda, menos se sabe.
Contudo, para uma criança, isso vira uma informação negativa, pois ela entende ser burro quem recorre a uma fonte de saber.
Ademais, cria uma grande dúvida, qual seja, se não devo buscar o conhecimento nos bons livros, como vou aprender?
Talvez aí esteja uma propaganda subliminar da profissão de professor, com a insinuação mercadológica “aprenda comigo e não precisará de outros meios”. Não, não acredito nessa hipótese. Os professores, em geral, são sábios.
Certo é que fui ao encontro do pai dos burros, digo, dos espertos, para esclarecer o verdadeiro significado de uma palavra comum, o vocábulo “perfeito”.
A causa disso foi uma viagem que meu filho fez a uma cidade praiana, por conta de um encontro acadêmico.
Carente de notícias, aqui no interior seco do país, enviei uma mensagem a ele, pelo telefone celular, perguntando: “Tudo bem?”
A resposta demorada chegou curta e significativa: “Tudo. O mar é perfeito”.
A resposta me satisfez, pois refletia sua boa condição física, mental e emocional.
Ensina o dicionário que perfeito é feito até o fim, acabado, bem acabado, incomparável, único, sem-par, excelente, irrepreensível, primoroso, impecável, completo, perficiente.
Normalmente, o verbete qualifica a coisa. Aqui, o mar qualificou a palavra.
                                 
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Assim, fiz uma comparação entre o mar e um automóvel novo, construído pelo homem obviamente, com material futurístico, espelhado, admiravelmente polido.
Como toda modernidade, o carro sairá de moda.
O mar, não!
Com um microscópio potente, poderemos observar as imperfeições na superfície do veículo. Com o mesmo aparelho, poderemos observar mais belezas dos componentes dos oceanos, detalhes invisíveis aos olhos nus.
Mais uma vez, entendi que a diferença na obra é feita pelo talento do Autor.
                                     
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Costuma-se admirar os aparelhos eletrônicos, as vestimentas, as comidas, as obras de arte, sentimentos esses legítimos e compreensíveis. Porém, a perfeição mesmo está na velha goiabeira, na terra granulada e disforme, na chuva criadeira, nos olhos dos bichos, nas células dos insetos, no mistério das estrelas, nos corpos com vida, no infinito da noite, no mar.
E é lamentável saber que se chega ao ponto de uma completa inversão de valores, por conta desses conceitos. Um homem pode matar outro, por conta de um amassado em seu carro, mas não titubeia em derrubar uma árvore centenária com uma moto-serra ou um machado, criados pela sua “genialidade”, sem o menor constrangimento.
Meio atordoado pelo antropocentrismo, fiquei pensando sobre qual obra do homem poderia ser considerada perfeita.
                    
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Definitivamente, as obras humanas, as materiais, são imperfeitas.
As imateriais, como as boas músicas, as boas poesias, os bons textos, muitas vezes se aproximam bastante da perfeição. E isso já deveria ser satisfatório, mas o homem é um eterno insatisfeito, como dizem, se é que será eterno como o mar.
Tentei galgar uma escala mais agressiva de valores intangíveis e já estava a ponto de desistir, quando uma voz infantil, ingênua, cochichou em meu ouvido uma pequena alteração na frase de meu filho: - Amar é perfeito.

Sérgio Antunes de Freitas
20 de janeiro de 2013

domingo, 20 de janeiro de 2013

BRAZIL: uma história do Amor...

Há 50 anos?

 

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Zé Pi



            E ele foi se aproximando, aos poucos, olhando para os lados, para o céu e...
 -Pode ficar perto, de você?
         Ela se afasta e, como se já soubesse:
-Você é velho.
-Sou não.
-É sim, já tem onze, né?
-Você também não é novinha...
-Só doizinho menos, tá?
-Não parece.
-Não sou neném.
-Não falei isso.Também acho que você já é menina grande.
-Bobão, o que tanto olha?
-Bobona.
-Feioso.
-Eu sei. Lá em casa tem espelho.
-Engraçadinho, tô brincando, mas tô com raiva.
-De mim, de quem, de quê?
-Detetive?
-Não. Só saber...
-Minha mãe mandou usar sutian.
-Ficou linda.
-De verdade?
-Claro.
-Por que?
-Por que...Porque... Gosto de você... Muito.
-Mentira.
-Cê que acha.
-Por que?
-O quê?
-Que você disse antes.
-Eu disse que gosto muito de você.
-Diz de novo.
-Precisa?
-Não, mas fala?
-Gosto...
Ela ficou vermelha, olhando bem para ele, ajeitou o cabelo que já estava amarrado e com uma fita rosa.
-Mãe tá me chamando.
-Nem ouvi.
-Vou embora, tá?
E ele rápido no gatilho:
-Amanhã vou te esperar aqui.
-E eu vou esperar chegar amanhã, tá?
 Ela correu e foi embora e ficou de lá, olhando pela porta entreaberta, até que ele, como Carlitos, girando em torno de si, uma, duas, três vezes, virasse a esquina, felissíssimo da vida.
 
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E começou assim, desde...Uma história que ainda se chama amor, tá?
 


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

BRAZIL: BELO HORIZONTE: UMA VITRINE PARA A WORLD CUP 2014.

BELO HORIZONTE NO CAMINHO DA WORLD CUP 2014!
 Marina da Silva


             
    www.google.com.br/images. http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/4532-obras-e-projeto-do-mineirao. Alguns gatos pingados que foram assistir discurso de inauguração do Mineirão em 21-12-2012. O ingresso era só 1kg de alimento e lógico um cabresto eleitoral!


A bela, mas mal administrada capital do estado de Minas Gerais, é uma das sedes da Copa Mundial de Futebol em 2014! Estamos com um pé na Copa, super Dilma prometeu que faríamos a melhor Copa; o Brasil está na mira do mundo, pois nós somos a bola da vez, ops, o BBB+ dos países capitalistas emergentes!
 O gigante acordou, a copa do mundo é nossa, mas a quantas andam as obras de infra-estrutura INDISPENSÁVEIS, URGENTES, NECESSÁRIAS para sediar um evento de tal porte, por exemplo, em BELO HORIZONTE, umas das cidades-sedes?
MINEIRÃO:  a inauguração.
 
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Dois presidenciáveis (aécio/dilma), o já reeleito governador de Minas Gerais (anastasia) para o pleito de 2014, dois ministros (pimentel e aldo rabelo). Ao fundo o estádio lotado 360°...de lugares vazios! 

Fotos de uma semana antes da inauguração: corre-corre; mutirão de limpeza, armação de palanque, pintura de faixas de trânsito, rampa de acesso ao Mineirinho inacabada, passeios esburacados, gradil que não aguenta uma soprada, asfalto pela redondeza um ...xapralá! veja com seus olhos:

Mais de 300 milhões de dólares, DOIS ANOS para execução e inauguração de obra inacabada...coisas do Brasil e de Minas Gerais!

E AS OBRAS DE MOBILIDADE??

Foto. 08-01-2011 Av. Antônio Carlos, Belo Horizonte, 2ª etapa inaugurada inacabada e às pressas, para aécio se canditar ao pleito de 2010 que elegeu Dilma presidenta! Desmoronou nas primeiras chuvas de verão: obra meia-boca que levou milhões dos cofres públicos!

TODA A PRIMEIRA ETAPA DE DUPLICAÇÃO da Antônio carlos (início em 2002, inaugurada em 2007 por lula para reeleger prefeito pimentel) FOI DESTRDA: erro na trincheira Santa Rosa, cortes de mais árvores e troca de asfalto novo por concreto para implantação do bus rapid transport iniciada em março de 2011: um tsunami de desperdício de dinheiro público!
E NÃO É SÓ ISSO!

VEJAMOS AS OBRAS DE IMPLANTAÇÃO DO BRT: FORNINHOS, OPS, PONTO DE BUSÃO, REVITALIZAÇÃO, EXPANSÃO(KKK) DOS VIADUTOS DA LAGOINHA, ESTAÇÃO DE EMBARQUE AVENIDA SANTOS DUMONT.
 
 A CONSTRUÇÃO DOS FORNINHOS, OPS, ESTAÇÕES DE EMBARQUE E DESEMBARQUE A LA DUBAI!
Avenida Antônio Carlos ponto de ônibus (mesmo modelito da Av. Cristiano Machado que foi duplicada e destruída para implantar o BRT), BUS STOP OU PONTO DE BUSÃO em dez de 2012 e ontem, jan 2013! ESTÁ ASSIM... DE CIMA A BAIXO DA AVENIDA!

COMPLEXO DE VIADUTOS DA LAGOINHA: a obra inclui pintura anti-pixo, troca da murada de proteção por muradas novas, blocos de concreto armado de encaixe, e alargamento de 7 palmos de largura no olhometro!
MAIS DE OITO MESES PARA PINTAR, SUBSTITUIR MURADAS PRÉ-FABRICADAS E FAZER UM ALARGAMENTO DE TALVEZ 100 CENTIMÊTROS!

AGORA VAMOS A ESTAÇÃO DE EMBARQUE E DESEMBARQUE QUE COMEÇOU EM MAIO DE 2012, ATRAPALHOU A VIDA DA POPULAÇÃO INTEIRA, PRINCIPALMENTE DOS COMERCIANTES DA SANTOS DUMONT E AINDA NÃO ESTÁ PRONTA! O MUNDO NÃO ACABOU EM 2012 E MUITO MENOS AS OBRAS DE INFRA-ESTRUTURAS URGENTÍSSIMAS DE DUPLICAÇÃO DE DUAS AVENIDAS ANTONIO CARLOS/CRISTIANO MACHADO, SUA DESTRUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO DO BRT!

ESTAÇÃO  DA AVENIDA SANTOS DUMONT 06-10-2012



ESTAÇÃO  DA AVENIDA SANTOS DUMONT0 5-12-2012
 DOIS FATOS IMPORTANTES NESTE MOSAICO DA ESTAÇÃO SANTOS DUMONT:

PRIMEIRO:  a obra se arrastou de maio de 2012 a outubro de 2012 para manobrar as ELEIÇLÕES E REELEGER lacerda; E a obra acelerou após a reeleição para não atrapalhar o comércio do NATAL.
SEGUNDO: O VALOR DA OBRA MUDA DE UM CARTAZ PARA OUTRO SUMINDO COM MILHARES DE REAIS!
CONCLUSÃO: AS OBRAS PÚBLICAS NO BRAZIL, BELO HORIZONTE INCLUSA, TEM DOIS OBJETIVOS: CABRESTO ELEITORAL PARA GARANTIR O VOTO DO CIDADÃOS E CIDADÃS COMO GADO; E O MAIS IMPORTANTE, FONTE DE DESVIOO DO DINHEIRO PÚBLICO POR POLÍTICOS E EMPRESÁRIOS CORRUPTOS QUE PARASITAM A ADMINISTRAÇÃO E CONTROLAM AS VERBAS PÚBLICAS! 
A CORRUPÇÃO NO BRASIL APROFUNDOU COM O PAC/2007; COM O PAC/COPA E TORNOU-SE DEFINITIVAMENTE UM PAC(TO) DE CORRUPÇÃO!

PARA NÃO DEIXAR DÚVIDAS DESTAS FUNÇÕES:

NÃO ESTAVA COMBINADO DISPUTA DA PREFEITURA DE BH: um pacto entre os partidos PT?PSDB e aliados já tinha REELEITO lacerda! MAS HOUVE TRAIÇÃO E  Patrus entrou na disputa e se a manobra do METRO DE BH não fosse jogada no cocho do gado belohorizontino era bem possível haver segundo turno e até eleição de Patrus! DEU CERTO, lacerda reeleito.AGORA OBSERVE O NOME DO METRO DE BELO HORIZONTE: MetroMinas! POR QUE? PARA GARANTIR VOTOS NAS ELEIÇÕES 2014 PARA GOVERNADOR (anastasia já esta reeleito pelo pacto) e presidente da república, o grande sonho de aécio neves!
E TENS AQUI O MEU OLHAR! É MEU, ASSIM COMO MEU VOTO...NULO! QUEM SÓ APERTA BOTÃO OU COLOCA O DEDÃO NÃO É CIDADÃ(O) E ESTÁ MUITO PRÓXIMO DOS MACACOS (que me perdoem a ofensa, os símios)!PRONTO, FALEI!

 


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

BRAZIL: Ainda que eu falasse a língua dos homens, sem compaixão eu nada seria


El mejor antídoto contra la crisis


www.google.com.br/images. Vientos de Brasil.



Por:  14 de enero de 2013
El lector Israel, en un comentario a este blog, escribe que lo que hoy ven nuestros ojos, son “la destrucción, las matanzas, los abusos de todo tipo”, y que lo que nos puede rescatar de la crisis y que es más invisible, es la compasión.
Más aún que el conocimiento, dice Israel, la compasión,  la preocupación por los otros, el ponernos en el lugar del que sufre, que es en el fondo lo que hizo un día grande a la Humanidad volverá a sacarnos del pozo negro en que nos hemos hundido.
Podría hacer sonreír a algunos proponer como antídoto contra la crisis que nos azota, no la violencia contra los verdugos de la misma sino la compasión a favor de sus víctimas. Y sin embargo es algo muy serio. Tiene razón el lector.
Leonardo-boff (5)Teólogo de la ecología, el brasileño, Leonardo Boff, condenado por el Vaticano al silencio, en su libro sobre la compasión, recuerda, por ejemplo, que “sabemos por la antropogénesis que nos hicimos humanos cuando superamos la fase de la búsqueda individual de los medios de subsistencia y empezamos a buscarlos colectivamente y a distribuirlos entre todos”.
Boff, concordando a distancia con el lector, escribe que “lo que nos humanizó ayer, nos humanizará de nuevo hoy”. Y ese talismán es la compasión. Y el gran peligro de nuestros días es, justamente, la acelerada deshumanización en curso.
Antes del teólogo disidente brasileño, el Nobel de Literatura Anatole France, seguidor del racionalismo humanista, algunos de cuyos escritos fueron colocados en el Índice de Libros prohibidos de la Iglesia, escribió que “la compasión nos hace verdaderamente humanos y nos impide convertirnos en piedra”.
Sin compasión, el corazón se seca, nos convertimos en un bloque de cemento, insensibles a la pena ajena. Quedamos ciegos ante la realidad que nos rodea. Nos envolvemos en la más cruel de las soledades.
La compasión es un estado mental de conciencia y comprensión no sólo del dolor, la angustia o el abandono ajeno, sino que nos empuja al mismo tiempo a aliviarlo.Es la conciencia de que también los otros tienen derecho a ser felices y que la desgracia no es una fatalidad.
Anatole franceLa compasión me lleva a sentir en mi carne lo que sería de mi si estuviera en la situación del prójimo desgarrado por la desfortuna. Es más que “sentir pena”. A veces el sentir pena de la desgracia del otro puede llevar camuflado un sentimiento de superioridad de no estar en el lugar del que padece.
La compasión, por definición, es “la conciencia profunda del sufrimiento del otro aliado al deseo de aliviarlo”. Es querer y actuar para que el que sufre por haber perdido la casa que era lo único que tenía, o el trabajo y con él el sustento, o la salud, o incluso la dignidad, consiga aliviar su pena como nos gustaría que aliviasen la nuestra.
En el relato de los evangelios, hay un episodio en Mateo (14,14) que retrata con claridad la esencia de la compasión, considerado el más sublime de los sentimientos humanos. Cuenta que Jesús llegó en barca a la orilla del Lago de Tiberiades y se encontró con una gran multitud que le esperaba. Era una multitud de pobres y lisiados. Escribe Mateo que el profeta judío “compadeciéndose de aquella multitud, curó a sus enfermos”. No se quedó sólo con la pena, con el dolor del pesar ajeno, sino que actuó para librarlos de él: “curó a los enfermos”.
Dalai LamaEl monje budista, Dalai Lama recuerda que la compasión “es universal y no tiene credo religioso”. La compasión no es religiosa, es laica, es humana. No se alivia con ella al prójimo a cambio de algo. Es gratuita. De ahí su nobleza.
La compasión, además o quizás por eso, no juzga. Siente sólo el dolor ajeno, la crisis de los otros, como propia.
La compasión no pregunta al que sufre cual fue la causa de aquel dolor. Ayuda a aliviarlo y punto. La ética de la compasión lleva en su entraña la tolerancia.
También el filósofo iluminista Jacques  Rousseau, insistió en que la compasión "contribuye a la preservación de la propia especie" y que se trata de un "sentimiento natural" innato al ser humano no menos que el de la violencia o el egosimo.
Mientras escribía este post leí un artículo en este diario de Manuel Vicent, escritor agudo y siempre profundamente humano, acerca de los nuevos “resistentes” de hoy, los que no se doblan ante los verdugos del momento, “para no romperse para siempre por dentro”. Es un eco de la frase de Anatole France: “Para no trasformarnos en piedra”.
Se me ocurre que la mayor forma hoy de resistencia frente a la tiranía moderna, por ejemplo de los mercados y de las víctimas que deja en su camino, es enarbolar el arma de la compasión. Nadie es en efecto hoy, mayor resistente que el que lucha contra la infelicidad impuesta. Los que empuñan el arma de la compasión son invencibles, porque no tienen un precio. Son incomprables. El que cura las llagas de una víctima es más fuerte que el asesino.
La única teología del perseguido obispo Casáldaliga es la de la Compasión. Tan peligrosa que está condenado a muerte por los que prefieren la venganza a la misricordia con los pobres y desheredados.
Y  si era poco, hoy la medicina, asegura que la compasión cura, es un antídoto contra la enfermedad. Que mueren, por ejemplo, más de infarto, los egoístas y siempre enfadados con ellos y con el mundo que los serenos y compasivos.
Es, pues, la ausencia de compasión, el mirarnos sólo al ombligo, lo que “nos convierte en piedra” como dice el Nobel francés, o “nos rompe por dentro para siempre”, en expresión gráfica y dura del escritor español.
Rousseao

sábado, 12 de janeiro de 2013

BRAZIL: JOÃO DE BARRO, O PEDREIRO DA FLORESTA!

João e Joana

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Zé Pí

        O casal era uma graça. João, felicíssimo, voava pra lá, voava pra cá, descia até ao pé da árvore e sempre, pacientemente esperava cantando até que a Joana descesse também. A lindinha se fazia desinteressada, era só umas olhadelas fingindo que “não é comigo”, até que um dia não resistindo mais ao charme do rapaz, cedeu, ou melhor, ela desceu.

                                         
 
    
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Foi a dica para que eles começassem a batalhar para conseguir numa árvore, um ponto alto, forte e oposto ao vento; um ipê, um jatobá, pequizeiro, não muito longe do córrego que alagava a várzea.
Coitados, naquele lugar essas árvores já haviam virado carvão, ensacado e vendido para siderúrgicas ou churrascaria. Sobrou apenas arbusto e capinzal. Voaram, voaram por toda a região e quase um dos dois foi alcançado por um gavião que ao primeiro mergulho e grito forte do João, desistiu da caçada.
         É assim na natureza, uns devem morrer para que a cadeia da vida se sustente. O casal também é predador de grilos, minhocas, borboletas, lagartinhas e besouros.
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Ao final da tarde o casal decidiu construir a casa na travessa do poste de eucalipto da rede elétrica rural que acompanhando a estrada, estava fincado no topo da colina dando do alto, uma vista geral da região. Agora, ainda antes de anoitecer, o João aconchegou a companheira na casa dos pais dela e começou a tarefa de fazer bolinhas de barro, amassando detritos de grama seca e lama e tome pisadinhas para misturar tudo muito bem. Foram quase duas semanas de vai e vem trazendo bolinhas de barro, colocando umas sobre as outras e com o bico, dando a forma arredondada que todas as casa de”João de Barro” têm.

                                              
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 Essas aves aprenderam coisa ruim com os humanos, construindo uma casinha sobre outra e outra; verdadeiros condomínios; talvez falta de árvores ou gosto duvidoso... Dos passarinhos...

         Já se foram dois meses e hoje encostou ao lado do poste o caminhão de manutenção da rede elétrica, para observar o estado dos isoladores e da madeira.  O funcionário teria de trocar a travessa. Ficou por quase uns trinta minutos encantado, olhando fixo para a portinha de onde dois corpinhos pelados, olhos ainda fechados, mas de biquinhos bem abertos, esperavam o papai ou a mamãe com alguma comida. Retirou um bloquinho do bolso, lambeu o toco de lápis e anotou com autoridade: 
                                 

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 Atenção: A travessa do P 3468 do Brejinho da Serra só poderá ser substituída daqui a 45 dias, quando os filhos do Senhor João e Dona Joana de Barro já estiverem voando.
Curvelo, 14 de fevereiro de 1979.
         João de Barros e Silva

         Técnico de manutenção de rede e motorista da Cia de Luz e Força.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

BRAZIL: VIENTOS DE BRASIL por JUAN ARIAS.

La peligrosa fiebre de consumo de los brasileños

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Por: | 07 de enero de 2013

Cerca de 40 millones de brasileños han salido del infierno de la miseria para ingresar en el club de la llamada clase media, aunque se trate de una clase media en muchos casos con un sueldo base de menos de 300 euros.Ya no son miserables.
Gracias a la apertura del crédito y a las facilidades para comprar electrodomésticos y coches a pagar en varios años, esas familias salidas de la pobreza han entrado de lleno en el mundo del consumo, a veces hasta frenético.
De un punto de vista económico, ello ha supuesto un avance para la industria y el comercio creando nuevo empleo. Y gracias a esa corrida al consumo le fue posible a Brasil, con 200 millones de ciudadanos, atravesar casi indemne la crisis financiera internacional.
Y ha supuesto un avance en la lucha contra la feroz desigualdad social, un verdadero cáncer de esta sociedad. Que en el país los pobres hayan disminuido 40 millones es, sin duda, una bendición, casi un lujo social.
Sin embargo, todo tiene su revés. Y ese avance indiscutible, del que tanto mérito tuvo la intuición del expresidente Lula, puede acabar apagado ahora por la tentación de no saber parar ese nuevo hábito de consumir que puede acabar malogrando ese salto social.
Eso, porque según datos oficiales, las familias de esos millones de nueva clase media pobre, se hayan de repente endeuda en un 40% de su presupuesto mensual, al mismo tiempo que se la siga empujando a continuar en esa corrida al consumo a cualquier precio.
Los economistas alertan que esa medida del consumo interno contra la crisis se está agotando y está haciendo disparar la inflación, al mismo tiempo que impide el ahorro.
Los últimos datos de la economía brasileña no son, en efecto,  halagüeños. Este año el PIB puede que no llegue a un 1%, el menor por primera vez de América del Sur. El resultado de la balanza comercial ha sido el peor de los últimos diez años y la inflacción se ha salido de madre. La producción industrial ha caido en el 2012 un 2,5% y Dilma se ha visto ob ligada a llevar a cabo una maniobra de 200.000 millones de reales con los bancos públicos para cumplir la meta fiscal.
Hay hasta quién empieza a ver un peligro de burbuja, en el el campo de la inmobiliaria, donde los precios de casas y pisos se ha triplicado hasta el punto que los ricos están comprando casas en Miami porque Brasil es ya más caro que los Estados Unidos o que Europa. Todo ello ha puesto en alerta al gobierno.
Lya-luft-andamos
Días atrás, la escritora Lya Luft, ha lanzado su alarma desde su columna en la revista VEJA con estas duras palabras:

“Se habla mucho de la ascensión de las clases menos favorecidas. En teoría sería positivo, un paso adelante para reducir la catastrófica desigualdad social” y añade: “Lo que veo, sin embargo son multitudes consumiendo, estimuladas a ello como si se tratase de un bien en sí mismo y promoviese un crecimiento real del país. Compramos con los intereses más altos del mundo; pagamos los impuestos más altos y contamos con los servicios (salud, educación, comunicación, transportes, energía, etc.) entre los peores del mundo. Y sin embargo la palabra de orden nos empuja a gastar, las autoridades nos piden que consumamos más, nos convocan a comprar hasta lo superfluo, hasta lo dañino, como abarrotar de coches nuestras carreteras agujereadas y peligrosas”.
Es casi un grito de angustia. Y mientras la Europa en crisis sufre de falta de consumo, Brasil, al revés, empieza a sentir la calentura del consumismo desenfrenado. El de los ricos en el exterior, y el de los pobres en el interior.En las fiestas pasadas, un  diputado que hace campaña para ser Presidente del Congreso aprovechó su estancia en Miami para hacer una reunión con un montón de diputados que estaban allí divirtiéndose y comprando.
Un día Lula dijo con toda la razón del mundo que “también los pobres tienen derecho a tener un coche”. Es cierto. Pero deberían poder tenerlo sin que la gasolina, en un país que suda petroleo por todas partes, sea de las más caras del mundo. Y sobretodo debería poder tener la posibilidad, junto con el coche, o antes, si fuera preciso, de poder llevar a su hijo a una buena  escuela, como los ricos, ya que la pública es hoy sólo para pobres. O de poder tener un seguro de enfermedad, porque la sanidad pública sólo teóricamente es para todos.En ella se puede uno morir esperando para poder ser operado o hacer un tratamiento contra el cáncer.
Como me decía un sociólogo, lo que hará un día de Brasil un país verdaderamente más igual, más justo, más democrático y más rico es sólo la educación. Las ayudas económicas a los pobres y las facilidades para poder comprar un utilitario o una televisión digital o un teléfono móvil son justas, pero el verdadero salto social, lo que les sacará de la pobreza no sólo económica sino cultural, es la educación y sólo la educación.
Los hijos de esa clase media pobre sólo darán el salto social con educación digna, profesionalizándose, para no tener que perpetuar la pobreza no sólo material sino intelectual y de falta de oportunidades de sus padres. La hija de una empleada doméstica, sólo dará el salto social con el estudio.
De lo contrario, aún con todos los electrodomésticos en su casa y la moto o el utilitario a la puerta, continuará, como su madre, fregando suelos toda la vida.
Dilma lo sabe porque tiene sensibilidad social. Por ello ha exigido que todas las compensaciones del petróleo vayan exclusivamente para mejorar la educación, en vez de servir para embellecer las ciudades o levantar nuevas pirámides de Egipto para pura exhibición superflua de los administradores públicos.
Ella ha ya afirmado que quiere un Brasil rico no sólo en su PIB sino también en educación, en posibilidades de superación cultural y en fuente de oportunidades para todos, de un modo particular para los que vivieron ya demasiado tiempo en la angustia de la pobreza económica y espiritual, perpetuada por generaciones desde los tiempos de la esclavitud.

Sobre el autor

es periodista y escritor traducido en diez idiomas. Fue corresponsal de EL PAIS 18 años en Italia y en el Vaticano, director de BABELIA y Ombudsman del diario. Recibió en Italia el premio a la Cultura del Gobierno. En España fue condecorado con la Cruz al Mérito Civil por el rey Juan Carlos por el conjunto de su obra. Desde hace 12 años informa desde Brasil para este diario donde colabora tambien en la sección de Opinión.