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sábado, 17 de dezembro de 2022

BRAZIL: "COMO O BRASIL CRIOU O RACISMO" ÓDIO AOS POBRES NA MÍDIA

 

TESTE POBREZA

Marina da Silva

Ansiosa para saber o resultado do jogo de quarta-feira e descobrir se meu time conseguira se manter no G4 – os quatro que sobem para a 1ª divisão, ou se a coisa tinha ficado russa lá no G8, comprei ao descer do ônibus, um tablóide, um jornalzinho de 0,25 centavos, febre em todo o estado.

De cara peguei no mínimo dez centavos do meu dinheiro: o placar favorável de 3x0! Poderia ter descartado o jornaleco ali mesmo mais ainda tinha direito a quinze centavos de notícias. E fui buscá-las no horóscopo, no resumão das novelas, na cruzadinha, na agenda cultural 0800 e na programação e horários dos cinemas.

Meus dez centavos de notícias prediletas cobriam o tema futebol. Na verdade, me interessava o resultado do jogo, quem fizera os gols, a posição dos times na tabela e lógico, saborear a derrota do nosso maior rival na Copa Sul-americana.

Em menos de cinco minutos dava cabo no jornal: meia dúzia de páginas de violência deixando marcas vermelhas nos dedos, o mesmo de páginas para as fofocas de televisão (economia de tempo e possibilidade de ver coisas diferentes em outras telas), outra meia dúzia para notícias de futebol entremeadas por anúncios para perda peso, sex-shop, frigidez e ereção precoce e velhas e batidas piadas MISÓGINAS, MACHISTAS, HOMOFÓBICAS.

Ainda sobravam dez minutos antes de iniciar a jornada quando dei de cara com um teste: você se acha pobre?  Meus 0,25 centavos já estavam lidos e super bem pagos, mas curiosa, aproveitei o tempo livre para dar uma olhada no teste. Nada de novo e a mesma tecla intolerante aos pobres, coroada por piadas de louras, mulheres, gays, machismo, essas coisinhas “naturalizadas”.

Eram 20 questões de pobrezas que exigiam sinceridade nas respostas, entre elas: passar miolo de pão no fundo do pote para aproveitar os últimos vestígios de margarina, usar cortina de plástico no chuveiro, fazer churrasco na calçada em final de semana, pendurar papel higiênico com arame no banheiro, levar trouxinhas de festa para casa.

Assinalando sim a mais de três questões, o cidadão automaticamente estava enquadrado na categoria pobre: ô pobreza! Era a observação final e muito coerente com o texto!

À medida que lia as perguntas comecei a me sentir imensamente pobre, e olha que na falta do que fazer já tinha lido uma pergunta cretina e sua resposta idiota, uma piada de gay e uma piada de loura. Bem feito-pensei- um tabloide que não tem cuidado nem com as regras de gramática ou a riqueza da língua portuguesa, não vale nem os vinte e cinco centavos. É mesmo... pobre!

 

 Belo Horizonte, MG. 2006

 

 

 

 

 

 

 

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