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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

BRAZIL. DE NOVO CÂNCER...20 ANOS DEPOIS?

 

Novembro de 2001 descobri um caroço na mama. De fevereiro de 2002 a abril de 2003 fiz o tratamento de um carcinoma invasivo. Quase morri de tanto medo de morrer e dei um puta trabalhão!

CADA UM É CADA UM

Marina da Silva

... e cada qual é cada qual. Eis uma frase basilar, fundamental nos perrengues da vida. Cada um reage do seu próprio jeito que, pode até ser o mesmo num primeiro evento e é parecido como reação natural de qualquer um. 

Mas quando o trem vem de novo, surge do meio do nada e vinte anos depois? Não descabelei, não pirei, não deixei o medo me levar para o fundo do poço. Ando fingindo muito bem que não é nada comigo, que não é nada não, e não conversando com ninguém. Como se tivesse feito uma  das minhas promessas: não vou falar disto com ninguém, não vou incomodar ninguém, não vou dar trabalho a ninguém, não vai ter desmaios, lágrimas, crises de pânico! Me encapsulei tal qual o bicho da seda, entrei numa capsula temporal espacial e fugi para Nárnia onde ninguém me conhece e não sou amiga de ninguém.

"Mas não é você quem vive defendendo socializar o perrengue, participar de grupos de apoios e bláh?" Você cobertíssima de razão me questionando.

"Sim." Eu lhe respondendo sem conseguir esboçar qualquer resposta que justifique meu comportamento de me afastar das pessoas.

"Gente, não sei me explicar, só sei que estou agindo assim contrária a todos os conselhos que venho dando às pessoas no perrengue câncer desde que criei o blog Câncer de mama em 2006."

Não sei o porque, mas sei que não é saudável e necessito voltar o mais rápido possível para a psicoterapia. Apenas finjo que não é nada, que não é comigo, MAS estou fazendo o tratamento e obedecendo religiosamente os meus médicos. Dr. Gabriel ficou espantado com minha calma e tranquilidade e creditou tudo a minha maturidade.

Publiquei aqui um apanhado de textos do blog, dez anos de cura mostrando como ia levando a vida trabalhando, estudando- fiz duas especializaçãoes, criando minha filha, publicando artigos em outro blog. Vivendo acelerada e muito produtiva e me divertindo.

 

Eu, hoje, 59 anos estou madura, já enfrentei um câncer e venci; 20 anos sem qualquer intercorrência e sei tudo sobre o tratamento e o que pode me acontecer. Então só pode ser a tal maturidade né? SQN

Penso que é uma estratégia defensiva para enfrentar o câncer novamente; estou mais para uma criança amedrontada.

Lembrei-me de um caso "o câncer voltou". Conheci uma mulher muito jovem, paulista e enfrentando o câncer pela segunda vez num curto espaço de tempo num ENMAP- RJ ( Encontro Nacional Meninas de Peito) e ficamos amigas depois de passar um final de semana num lugar mágico na Ilha Grande a convite de outra amiga de peito Lúcia S. Passamos momentos maravilhosos na Ilha, Lúcia é uma das mulheres que me inspiram, sempre digo a ela: "Se um dia eu crescer quero ser como você." Altíssimo astral, auto-estima nas alturas, curte a vida adoidado, adora festa e viagens, educadíssima. Depois de um passeio mágico, ficamos três mulheres no quarto e enquanto eu lia um livro, duas secavam os cabelos e se arrumavam para dormir. Então começamos a falar do perrengue e a paulistinha estava no segundo câncer poucos anos após terminar o tratamento e ela nos contou como foi receber o diagnóstico pela segunda vez:

"A primeira vez foi igual a todo mundo, um choque, correria, medo de morrer e eu queria ver meu filho formado. Da segunda vez fiquei brava demais, tirei a roupa e pulei em cima e briguei com Deus"! E ela, nos contando tão séria, nos fez cair na gargalhada refazendo os gestos dos pulos nas roupas e acabou gargalhando também. Imagine a cena, disse-nos:

"Você recebe a porra do diagnóstico dumeidunada e fica feliz? Se sente abençoada? Acha que ganhou na loteria duas vezes? Não, você fica puta da vida, é o cú do caralho! Tirei a calça e pulei em cima xingando tudo e fiquei brava com Deus!"

A conversa rendeu, cada uma contou como foi que ficou no primeiro diagnóstico, e gargalhávamos numa altura escandalosa que rendeu queixas dos vizinhos de quarto na pousada. Mas foi tão bom falar assim, rir assim, liberar aqueles sentimentos.

Eu, no primeiro diagnóstico, fiquei paralisada, cheia de medo, veio a depressão, pânico, ideias suicidas e só melhorei quando chamei Deus na xinxa, no braço e xinguei horrores, na verdade, escrevi tudo em papel e queimei para não deixar provas no julgamento final. Neste segundo perrengue usei o sarcasmo e ironia, o mesmo que desrespeito:

"Ô  Deus? Sério? Me erra caralho! Putaquipariu Cara! Putaquipariu!"

#bolsonarogenocida

Que porra de loteria é esta? Elegeram o diabo para presidente do Brasil, o verme trouxe ódio, baixaria, burrismo, grosseria, violência, mau-caratismo para governar a nação; é um genocida que com sua necro-política deixou morrer quase 700 mil pessoas retardando compra de vacinas, roubo do dinheiro público, receitando cloroquina e ivermectina como cura precoce, negando a pandemia, sabotando a quarentena, espalhando fakenews contra vacina e  muito ódio. Com o vagabundo, tchutchuca do Centrão (políticos mais corruptos) e tchutchuca dos Estados Unidos tudo piorou para a população. Liberação de armas, aumento de assassinatos da população jovem, negra, favelada, aumento dos assassinatos, estupros e violência contra mulheres, desmandos das polícias... O isolamento social, a quarenta e lockdown ESPALHOU a pandemia?

"Oi?"

O genocida sabotando a quarentena, o distanciamento social, o lockdown

Sim, o genocida vagabundo verme repetiu no debate eleitoral nacional da rede Globo agora na segunda quinzena de agosto 2022. Quem precisa de um diagnóstico de câncer para endoidecer com um genocida e seus comparsas militares no poder?

Por isto é que, ao desconfiar que era câncer, passei a agir desta forma estranha, surreal como estamos vivendo no Brasil do bolsonazistas negacionistas, mentirosos. Me sinto presa num quadro distorcido de um pesadelo Salvador Dali e nem sei se consigo ou quero sair. Mas é esta estratégia que está me mantendo de pé, seguindo firme o tratamento, muito otimista, positiva e resolvendo meus trem sozinha, "madura, inteligente, decidida".

Se parar para me analisar caio, mas me levanto imediatamente e volto ao "fingimento": I'm UNSTOPPABLE! Recorro à prisão Salvador Dali e de lá escrevo absurdos para dar conta do absurdo de estar vivendo quase quatro anos deste governo genocida, miliciano, vagabundo e ao mesmo tempo tratando outro câncer de mama invasivo. Este tem sido meu "novo normal": fugir e fingir, mesmo sabendo que estou sendo horrivelmente DESLEAL com as meninas, mulheres, garotas dos grupos de apoio que participo. Mas é única forma que criei para lidar com o novo perrengue.

Encontro Nacional Meninas de Peito- RJ. Ilha Grande com Lúcia, a loira de brinco azul. Linda. Todas lindas, eu inclusa!


Não tenho orgulho do que estou fazendo, da forma como estou agindo, só sei que está me ajudando. Tenho vergonha, remorsos, culpa, todavia os espanto e abafo logo que vem a tona:

"Eu não estou dando conta, eu não dou conta!"

Eu não consigo conversar com ninguém, além do anjo que Deus me enviou, Denise Paiva, que, acredite, está às voltas com um terceiro tratamento e é meu porto seguro, é quem vai no grupo e me justifica e limpa minha cara e dá notícias do tratamento. A única forma que encontrei para justificar com todas as amigas do perrengue câncer vem sendo através da escrita, desta escritaterapia que me salvou no primeiro perrengue.

II Encontro Nacional Meninas de Peito. RJ. 2012

"Meninas, mulheres, girls: EU NÃO ESTOU DANDO CONTA! É demais para mim neste momento. Vou ficar aqui em Nárnia e mando notícias nestas escritas!. Obrigada pelas orações, rezas, preces, ondas de positividade, por tudo. 

28 de Agosto de 2022.

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