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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

BRAZIL: A PROSTITUIÇÃO DO CARÁTER

 

O BATISMO DO LEITE (REPUBLICANDO)

Marina da Silva

 

 

Não se assuste! Não é assunto de religião e batismo aqui não é o rito religioso de aceitação da fé cristã. O batismo do qual falo é o mesmo que falsificação, adulteração de mercadorias.

O leite sempre foi batizado e muitos acreditavam religiosamente, que somente com água. Batizar um produto é, além de abusar da fé do consumidor, um ato adúltero, uma fraude para conseguir lucros cada vez maiores.

Assim como o batismo cristão é um ritual histórico instituído por João Batista, o profeta que batizou Jesus nas águas do rio Jordão, o batismo como falsificação, adulteração de produtos pode ser rastreado em tempos remotos, especialmente ligados ao surgimento, ascensão e estabelecimento definitivo do modo de produção capitalista.

O batismo não ocorre somente em tempo de vacas magras, mas principalmente com o aumento da competição e não se prende somente ao leite, mas ao pão, vinho e a hóstia sagrada.

Chevalier, químico francês, citado por Marx no Capital (1998:289), cita processos de adulteração de mercadorias: “Para o açúcar, há l6 métodos de falsificação; para o azeite de oliva, 9; para a manteiga, 10; para o sal, 12; para o leite, 19; para o pão, 20; para aguardente, 23; para a farinha, 24; para o chocolate, 28; para o vinho, 30; para o café, 32 etc. Nem mesmo o bom Deus escapa dos falsificadores”. E isto no século XIX!

O recente batismo do leite descoberto pela polícia federal, Operação Ouro Branco, em cooperativas do estado de Minas Gerais, também conhecido como república do leite e pão de queijo e que deixou graves suspeitas sobre toda a linha de produção Láctea no país, é apenas mais um processo de falsificação entre milhares de outros que sofrem os laticínios. Soda cáustica, água oxigenada são apenas substâncias da fórmula de fazer dinheiro fácil ainda no balde batismal, desrespeitando e abusando da boa fé e impotência do consumidor.

Tudo o que é verdadeiro pode e é falsificado: alimentos, bebidas, produtos de limpeza, de beleza, remédios, drogas, roupas, calçados, jóias, CD’s, DVD’s, livros, brinquedos, os selos de inspeção e fiscalização dos órgãos do governo, carteira de motorista, diplomas do prezinho ao doutorado, informação.

Adulteração, falsificação, contrabando, pirataria, saem da fábrica e povoam os lares e todas as relações humanas da sociedade numa prostituição inimaginável no século XXI. Pode se resistir a uma ou outra falseta, mas não a avalanche que tomou conta do mundo atual, onde a produção de mercadorias cada vez mais se vale de ações ilegais, corruptas, fraudulentas, formas precárias e desumanas de trabalho e muito do trabalho escravo de adultos, jovens, crianças.

Rascunho este texto com caneta e caderno Made in China, uso roupas suspeitas de trabalho escravo em confecções de São Paulo e enquanto digito o computador me alerta que meu software pode ser pirata. E o mais grave, lembro-me bem, assisti o senador mais votado na última eleição, do alto plenário, defender com extremo fervor e santidade o contrabando e a pirataria visando tornar constitucional a ilegalidade, a imoralidade. Misericórdia!

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