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sexta-feira, 8 de novembro de 2019

BRAZIL: FUGA

FUGIR
Marina da Silva

Um único pensamento para aliviar o sofrimento
Fuga, fugir!
Para longe de você que tanto sofrer e dor me traz.
O coração parou, emudeceu a voz
Um frio polar congelou o corpo, o pensamento, a ação
Pés de chumbo, pesada âncora me puxando para o abismo
Sombras, escuridão tenebrosa
Fez-se noite em pleno dia.
Assombro.
É preciso correr, fugir; onde estão minhas pernas?
Por que os pés desobedecem 
E me mantem preso ao chão?
Seu olhar frio, boca entortada, deboche, ironia
Nada de negação: o amor acabou.
Como aceitar o fim do amor se continuo amando 
Como na primeira vez que nos olhamos?
O brilho dos olhos se apagaram e aquele amor morreu
Ali, no momento, em que não negou.
Frieza, egoísmo, desdém.
Tive raiva, tive ódio, quis fugir, morrer.
Mas fiquei imóvel, coração petrificado jurando:
"Nunca mais vou passar por isto
Nunca mais quero sentir esta dor!"
Não lembro quando, mas comecei destruir tudo que me lembrava você.
Mas não esqueço a dor insuportável, lancinante, a angústia
ao saber que você tinha outro amor.
Procurei nas redes sociais, mas você me bloqueou qualquer pista
No Twitter, Facebook, What'sApp, Instagram.
Fiz perfis fakes, andei navegando a ermo, tonto, sem rumo
Em mares sombrios no ciberespaço.
Nunca mais lhe vi
E pedi aos céus, gritei, implorei a Deus
"Tire esta dor de mim!"
Fui ao fundo do poço por você
E me deixei ficar lá; fiquei dias, meses, anos...
Fui me blindando e me reconstruindo na sofrência insuportável de lhe perder
Criei uma couraça impenetrável ao seu poder Kriptonita.
Nenhum de nós tem culpa, percebi um dia,
O amor simplesmente mudou de coração.
O seu amor, não o meu, este morreu, matei, naquele poço onde tudo morre.
Um dia levantei, vesti minha melhor roupa
Fui ao shopping, comprei um jeans novo todo rasgado
E mesmo assim lindo.
Blue jeans, camiseta, tênis nos pés caminhei leve aspirando o dia
Dentro de um couraçado a prova de dor.
Andei livre, caminhar bobo, subi e desci ruas leve
Sem aquela opressão sem amor no coração
Ninguém jamais irá me fazer sofrer assim.
Só eu posso me infligir dor, só eu posso fazer isso comigo.
É minha escolha fugir do amor, nunca mais permitir a dor entrar.
Arranquei o coração do peito, alojei-o no cérebro,
Lóbulo direito sem acesso à inteligência emocional à esquerda.
E sigo em frente, passos leves, porém resolutos,  selvagens.

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