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sábado, 22 de agosto de 2020

BRAZIL COVID-19: um causo.

VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?

Marina da Silva


https://bhaz.com.br/2020/06/12/homem-atira-moto-discussao-transito/#gref Que é o agressor? Por que estava armado? Por que ele DEU UMA CHANCE DE VIDA ao trabalhador?

Sabe estas cenas humilhantes e  de intimidação que ocorrem no Brasil diariamente...Elas ficaram piores desde 2015  com a onda de raiva, rancor, ódio e vingança contra Lula e Dilma (antipetismo) e chegaram ao extremo com o mau-caratismo e intolerância travestidos no chavão "politicamente incorreto" da classe média descendente da casa real Orleans Bourbon Bragança  e  dos animalescos bolsonaristas. Pois então...
Você pode estar trabalhando ou se dirigindo ao supermercado ou feira ou shopping e do meio do nada um sujeito fecha sua moto, saca um revólver, dá  coronhadas na sua cabeça, costas  e  tiros... No pneu da moto.
 "Após briga de trânsito, motorista agride motoqueiro com coronhadas e atira em pneu"1 O agressor que fechou a moto num estreitamento de rua por obras na pista deu-se  ainda o direito  de zombar:  "O agressor teria dito ainda que estava dando mais uma chance de vida à vítima, depois de atirar no pneu traseiro, ainda segundo relato do motociclista." idem
O ataque foi filmado e está disponível, para a polícia, no Youtube. Parece, a primeira vista, apenas uma briga de trânsito, mas não, é a síndrome casa grande ressentida contra a senzala liberta. A escravidão no Brasil foi oficialmente extinta em 13 de Maio de 1888, mas as "zelites" brasileiras não estão nem aí e olha que em pleno século XXI. E é sempre assim: O agressor chega logo gritando: "você sabe com quem está falando?" 
O caso que vou contar aconteceu numa cidade do interior de Minas Gerais, destas tantas que existem nesta terra de meu Deus. O encontro se deu num cruzamento da rua de cima com a rua do meio de uma cidade com uma frota  de quinze mil veículos contando motocicletas, bicicletas, carroças de burro e carrinho-de-mão.
E tudo porque um casal que vinha da capital parecia não saber que as regras de trânsito valem em todo território nacional, incluso nas cidades do interior e o povo sabe disto.
Era ali pertinho da hora do almoço, que no interior pode ser lá pela dez, onze horas da manhã, num lindo sábado de verão no cerrado, quando um Audi avançou a parada obrigatória e rachou com a porta do Fiat Uno 1997, todo ajeitadinho, nos trinques, uma joia de tão bonitinho e bem cuidado e que o jovem casal acabara de adquirir com as economias de muito trabalho e suor.
De um lado um homem sessentão bem escovado e sua esposa do outro lado a professora da rede pública e o marido tecelão, mecânico, pau-pra-toda-obra, sua filha de sete aninhos e  uma irmã  da professora.
Na hora, mesmo em baixa velocidade, o susto foi enorme e o estrago, mesmo antes de ser visto, doeu fundo no coração. O casal da capital ficou um pouco atordoado e totalmente paralisado.
A jovem professora desatou o cinto de segurança, olhou a família para ver se alguém se ferira e desceu junto com o marido para ver a extensão do estrago. A porta do Fiat Uno virou um lixo! O rapaz coçou a cabeça enquanto observava o estrago e olhou para a esposa, ambos sentindo no coração um estrago muito maior do que aquele amassado. O carro era um sonho realizado.
Então eles se dirigiram para o Audi para  entabular a negociação. O homem estava colado ao volante do carro com aquela cara "oncontô, quencossô, proconvô"2; a esposa no entanto, refeita do choque, saiu do Audi nos seus saltos altos e olhando a professora com desprezo, num julgamento célere, como sempre acontece neste Brasil de pouca renda, deu a sentença do caso:
"Bem, os dois estão errados! O melhor é cada um dar conta do próprio prejuízo e fim de papo."
"Não senhora! Retorquiu-lhe  a professora. Seu carro avançou a parada obrigatória!"
Indignada com o atrevimento da Fulaninha, Dona Coisa3 no alto dos seus saltos vociferou:
"Você sabe quem é meu marido? É um coronel da polícia!"
Ao que a professa retrucou:
"Prazer. Eu sou uma cidadã mal remunerada que paga em dia seus impostos!"
O fuzuê estava armado. Apareceu gente de todo o lado, o furdúncio estava animado e a aglomeração tirou o coronel de polícia, aposentado, do torpor.
"Estou ligando para a polícia de trânsito porque quero uma perícia do caso." Informou a professora tirando o celular da bolsa.
Dentro do Fiat Uno, a irmã que morria de medo de andar de carro desde que o marido se envolvera num acidente contra uma moto, começou a tremer e chorar e a menina a consolava.
Nisto chegou um cabo, conhecido em toda a cidade, filho de dona Lulu e   Tião Labanca, professor de música e diretor da centenária bandinha da cidade, mas ao  se dar conta da superioridade do coronel aposentado cometeu a burrice de mandar a dona Coisa tirar do local o carro.
A rua agora estava lotada, a notícia correu a cidade. A irmã mais velha, recobrada do susto e medo chamou o marido, o cunhado e de quebra avisou o resto da família no "zazapis" para garantir um pé de igualdade. "Pois o homem não era coronel da polícia mineira?" Aposentado, diga-se de passagem, mas sempre coronel, um chefão da polícia.
Duas viaturas chegaram prontamente riscando o asfalto. Agora no evento eram,  dez policiais entre soldados e cabos.
Como pouca coisa de tal porte -um coronel da PMMG- ocorria na cidade, o dono da farmácia Brasil, muito curioso, baixou as portas e liberou os empregados para assistir o desfecho do sururu.
"Por que  ela tirou o carro do local do acidente?" Perguntou ao cabo a professora.
"Por que eu  mandei." Informou cheio de atrevimento.
"Mas assim o senhor cometeu um erro, pois sem marcar no asfalto com o giz o trabalho do perito fica impossibilitado." Completou o marido.
Pego de surpresa   e com as calças  na mão, o cabo ainda se fez de rogado:
"Os senhores estão alterados! Isto não é jeito de se dirigir a uma autoridade." Disse apontando para o coronel.
"Eu cheguei educadamente, cumprimentei a todos, inclusive ao culpado e se seu serviço estivesse correto, o motorista do Audi deveria ser multado e ter sete pontos da carteira de habilitação retirados." Informou a professora
O coronel nada falava. Sentiu simpatia pelo rapaz que lhe protegia, mas não concordava com o comportamento da esposa nem com a atitude do cabo, mas não  conseguia se mexer nem falar nada.
"A senhora está se achando muito sabidinha né?"
"Não senhor cabo." A professora tomou a palavra. "É que a gente já está acostumado com o Brasil. Se o pobre precisar de ajuda, se é preciso prender bandido, maconheiro, até tarado, estuprador, se for pobre a gente pode esperar sentado que a polícia nunca vem."
E completou triste já pensando no custo daquela porta amassada:
"Mas se acontece do assunto ser assim com um grande, coronel, juiz, delegado, vem mais de uma viatura e chove aos montes cabos e soldados. Quem está com a razão acaba preso e acusado de desacato."
Envergonhado, o coronel ressuscitou no seu Audi, silenciosamente foi até ao cabo e o mandou anotar corretamente os fatos, avisou aos policiais que era novo na cidade, mas que iria com o esposo da professora no seu carro levemente amassado no para-choque a qualquer concessionária da cidade para ambos resolverem o caso.
"Não é preciso não moço, tem bons mecânicos e lanterneiros na cidade e cobram de acordo, o que é justo." Acenou o rapaz.
"Mas vai desvalorizar seu carro..." 
"Não se lanterneiro martelinho de ouro da cidade é um chegado, meu compadre." Sorriu cordialmente.
Ambos deram-se as mãos e foram  resolver o caso  e os demais, cada um foi para o seu lado.


Fonte:

1. https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/ap%C3%B3s-briga-de-tr%C3%A2nsito-motorista-agride-motoqueiro-com-coronhadas-e-atira-em-pneu-1.790922

2. Dialeto mineirês conhecido por comer as palavras na fala (Minas Gerais): oncontô= onde eu estou; quencossô= quem que eu sou; proconvô= para onde vou.

3. Fulaninha e Dona Coisa. É uma peça teatral escrita nos anos Oitenta e trata das relações entre patroas e domésticas que no Brasil são tratadas ao arrepio da legislação trabalhistas e CLT- Consolidação das Leis Trabalhistas(1943). Crueldade, humilhações, assédio moral, sexual, trabalho análogo à escravidão e ao arrepio dos direitos constitucionais estendidos aos domésticos poucos anos atrás. A peça atual (2017-2018), embora cheia de boas intenções, a nova versão de Fulaninha e Dona Coisa não discute nem aprofunda a realidade do trabalho doméstico no Brasil. 

"Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), existem 67 milhões de trabalhadores domésticos no mundo, sendo 80% mulheres. O trabalho doméstico ocorre na esfera privada e por isso é invisível.Essas trabalhadoras limpam, cozinham, cuidam de crianças e idosos, muitas vezes sem um contrato ou com muito pouca proteção legal. Apesar de estarem na “linha de frente” da Covid-19, elas raramente estão incluídas nos planos de enfrentamento da doença.Durante a pandemia e sob medidas de confinamento para controlar o avanço da Covid-19, como é o trabalho das empregadas domésticas ao redor do mundo?" Leia a íntegra https://pt.globalvoices.org/2020/07/31/maos-invisiveis-como-e-o-trabalho-de-milhoes-de-empregadas-domesticas-durante-a-covid-19/

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