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quarta-feira, 29 de abril de 2020

BRAZIL: CORONAVÍRUS. UM POUCO DE PACIÊNCIA

DESACELERAÇÃO COVID-19
Marina da Silva

 Abril
Paciência, mas já se passaram quase dois meses e eu ainda estou acelerada.
A cabeça não fica quieta, mesmo que o corpo esteja inerte, jogado no sofá.
E cabeça vazia é oficina do diabo, diz um dito popular.
Todas as estratégias que inventei para vencer a quarentena coronavírus caíram por terra.
Culpa do medo, ansiedade, angústia, depressão e problemas de "junta", isto é, junta tudo num momento só.
Desabei, já lhe contei, e estou tentando me reerguer, não permitir a paralisia do medo.
Fiz dois dias de ginástica seguidos e depois parei.
Agora só durmo lá pela madrugada, duas ou três da manhã.
A medicação parece não fazer efeito ou o mesmo é anulado quando ligo a televisão.
Comi um côco seco inteiro em duas sentadas frente ao Jornal Nacional.
Agora estou com gengivas machucadas e dores maxilares da mastigação.
Sinto falta de caminhar pela cidade, tomar sol, ver gente tal qual formigas carregando fardos daqui para ali.
Sinto falta de pegar o busão e minha cidade tem um dos mais caro e terrível transporte público do planeta.
Ganhei dois quilos ou quase isso só no turismo cama/geladeira e sofá/geladeira e eles se acomodaram no meu abdome.
Escrevi uma nota para mim: desacelerar, fazer o imposto de renda.
Ontem fui obrigada a sair. Do meio do nada lembrei de uma fatura e desci correndo na caixa do correio do condomínio e...Claro, não enviaram meu boleto da Net.
Tentei pegar o código de barras na internet, mas tudo está no nome da minha filha.
Às 17H rumei para a Caixa Econômica mais próxima e tem gente nas ruas, carros, motos, bicicletas e o pessoal da prefeitura diminuindo minha rua com mais concreto. Suspeito que é para dar mais espaço para mesas do boteco que abriu outro dia.
Um grito me tira do devaneio: coisinha linda da ... Olho para o lado de onde veio o barulho. Um casal de máscaras conduzindo um bebê de uns dezoito meses ou menos, desmascarado, e a dona dos gritinhos que abaixou a máscaras e faz "gute-gute" no desprotegido anjinho. Que o anjo Rafael lhe proteja bebê, porque se depender dos seus pais já prevejo um caixãozinho branquinho.
Mudo para o outro lado da rua, passo em meio aos operários com máscaras no queixo, desvio do Carrefour cheio de gente do lado de fora, alguns são trabalhadores, outros, pedintes.
A Caixa econômica está vazia e tem "álcool em gel". Abro a porta usando o cotovelo e pé. Saio do mesmo modo esfregando as mãos no álcool.
Voltei desanimada de ver tanta gente que não dá a mínima para o coronavírus, seguindo o exemplo do governador zema, um homúnculo que está pagando para ver se abrir o comércio, serviços e demais empresas vai aumentar as mortes por coronavírus. Não tem testes Covid-19 para todos os mais de 800 municípios, nem máscaras, equipamentos, Epi's. O hospital de campanha ainda vai ser inaugurado este mês. E os dados de Minas Gerais? O homenzinho só trabalha no gerúndio: vamos estar fazendo, vamos estar pensando, vamos estar anunciando...
Um homem passa por mim correndo como se estivesse dando pulinhos e sem máscara. Avaliei o cidadão: uns cinquenta e poucos anos, barriga protuberante, pouco bumbum, coxas um tanto flácidas. Olho os braços e sorri ao pensar que ele era um típico levantador de peso; flexão de braço, chope na mão indo a direção a boca. Aquela corridinha claramente é uma forma de furar, burlar a quarentana, o isolamento social. Afff
Vou para o computador. Wall Street Journal. E donald trump mandou as pessoas usarem DESINFETANTE contra o coronavírus. Tudo bem, estou usando água sanitária. Mas o presidente norte-americano quer que americanos tomem desinfetante? Meu inglês está fraco, passo o texto para o português e realmente não tem nada errado com meu inglês.
Só o Brasil nega o coronavírus e quebra regras e tudo por disputas políticas. Lembro de uma canção ou algo que li em algum livro dizendo que crises são grandes oportunidades de lucro.
Meu estado só tem sessenta e duas pessoas mortas pelo coronavírus e desconfio dos dados. Tem outras duas centenas de mortes não diagnosticadas, não tem testes suficientes e são para os trabalhadores da Saúde. O governador, um inepto negacionista é contra as regras da OMS.
Os prefeitos que agem de acordo e declaram as medidas prescritas são sabotados diariamente.
Um dente doeu. Corri ao banheiro, vasculhei o local, passei fio dental, escovei dentes e língua. A gengiva está machucada. Culpa do côco.
Agora só levanto as dez ou 11 horas da manhã, mesmo acordando às seis para tomar medicamentos.
Parei de ver o Jornal Nacional no dia da demissão do juiz corrupto que fez parte do governo corrupto e de repente resolveu ou descobriu sintomas de corrupção na família de milicianos que governam o país atualmente.
Tento não pensar nisto, mas uma ideia toma conta do meu cérebro, então na hora me vem Brás Cubas, personagem de Machado de Assis que alega ter morrido por causa de uma ideia, a invenção de um emplasto anti-hipocondríaco para acabar de vez com a melancolia.
A minha ideia é bloquear as ideias que me deixam paralisadas; é assumir a total responsabilidade pela paralisia em que estou e me obrigar, nem que seja a tapas, reagir.

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