Marina da Silva
De todas as fases históricas de
acumulação capitalista, a atual, - conhecida como Acumulação Flexível - se dá
amparada nas novas tecnologias de produção, economizadoras de trabalho vivo;
novas formas de gerenciamento e de relações de trabalho; na evolução dos meios
de transporte, comunicação, informatização e paradoxalmente tem como fundamento
basilar a extração de mais valia absoluta, a expropriação e exploração da mão
de obra de bilhões de indivíduos em todo o planeta.
www.google.com.br/images. "Deus fez o mundo, O RESTO É PRODUZIDO NA CHINA".Autor desconhecido.
A possibilidade de fragmentação do processo produtivo e sua dispersão geográfica geraram uma disputa por empresas permitindo a obtenção de matérias primas, isenções fiscais e outras benesses dos Estados competidores e mão-de-obra barata em contratos precários, driblando a legislação trabalhista, desregulamentando a parca proteção social, camuflando a relação de emprego, reavivando a escravidão. Esta acumulação torna-se ainda mais potente e ganha robustez com a sedução e alienação da farsa verde: um discurso ecologicamente correto, politicamente sustentável, responsavelmente social.
Mosaico a partir de www.google.com.br/images
Capitalismo verde, produção verde,
produto verde, economia verde! Forjados pela consciência enviesada verde, os
consumidores (antes, cidadãos e cidadãs) padecem do encantamento verde e não se dão conta que o discurso do
desenvolvimento e negócios sustentáveis, cada vez mais se escora na exploração
predatória e irresponsável dos recursos do planeta. Nunca se produziu tanto,
nunca se usou tanto a mão-de-obra de baixa qualificação, nunca se usou tão
avidamente os recursos naturais, nunca se consumiu tanto fomentando a obsolescência programada dos produtos.
Um exemplo: Minas Gerais sustém o crescimento de 10% da economia capitalista
chinesa (que vende ao mundo inteiro produtos 1,99 - leia-se, baixa qualidade,
descartáveis, além da suspeita cancerígina), queimando toda a riqueza
do cerrado nas inúmeras siderúrgicas, substituindo-o por gigantescas florestas
homogêneas de eucalipto!
Isto sem falar na depredação das montanhas como a belíssima serra do Espinhaço, cartão postal dos mineiros. Hoje se grita pela salvação do planeta, patrulham-se crianças ainda no útero das mães usando ecobags, roupas, sapatos, chinelos, bolsas, acessórios, bijuterias, móveis e tudo... de plástico; tanto de altas grifes como os genéricos, falsetas, pirateados!
www.google.com.br/images. Belo Horizonte. Serra do Curral. Décadas de degradação ambiental sustentam economicamente a MBR.
Isto sem falar na depredação das montanhas como a belíssima serra do Espinhaço, cartão postal dos mineiros. Hoje se grita pela salvação do planeta, patrulham-se crianças ainda no útero das mães usando ecobags, roupas, sapatos, chinelos, bolsas, acessórios, bijuterias, móveis e tudo... de plástico; tanto de altas grifes como os genéricos, falsetas, pirateados!
www.google.com.br/images. A febre chinelos Havaianas, um produto de borracha criado para pobres e hoje vendido a peso de ouro!
Ao lado da falácia verde impera outra
maior: o empreendedorismo individual,
que pode ser traduzido no individualismo exacerbado, na alta competitividade e
principalmente no desapego aos direitos trabalhistas, à proteção social do
trabalho, conquistas históricas que envolveram muitas lutas e mortes ao longo
de séculos! O empreendedorismo a la Eike Batista, o X-man, que em 1 ano - 2009
- triplicou seus 7.5 bilhões de dólares
e se transformou no 8º homem mais rico da galáxia é para predestinados,
os eleitos do deus capital!
Para os mortais o jeito é ser inovador,
criativo, sem apego a salário, jornada, local de trabalho e outros direitos
sociais. Os indivíduos são comprimidos pelo espaço/tempo: o trabalhador vai
onde o trabalho está, acompanhando o movimento de horizontalização das
empresas. Correr risco sem nenhuma contrapartida e se responsabilizar pelo
fracasso é o que se exige do trabalhador na atualidade.
A exploração se dá tanto na apropriação da força física (cumprir metas, ser polivalente, multifacetado o mesmo que fazer a sua tarefa e de outros dez ou mais trabalhadores) como da capacidade intelectual dos indivíduos (capital intelectual). O absurdo virou show de TV: para que RH-recursos humanos se podemos recrutar e selecionar os melhores e colocá-los para competir ao vivo e a cores com transmissão 24 horas nas TV? Big Brother; O Aprendiz e 1 contra 100 de Roberto Justus; Ídolos, etc. O setor de RH, mais do que nunca, darwiniano, sai aos poucos das empresas e ocupa a telinha: atores, cantores, chefs de cozinha adultos e crianças, estilistas, jornalistas, dançarinos, modelos, prostituição masculina/feminina de luxo. Milhões de internautas disputaram “o melhor emprego do mundo”, um big salário para cuidar de uma ilha paradisíaca e mesmo Steve Spielberg seleciona roteiristas em reality show.
Explode no mundo inteiro o trabalho precário quase sempre divorciado dos direitos trabalhistas (terceirizado, subcontratado, estagiário, cooperativas ilícitas, voluntarismo ideológico/religioso, trabalho parcial, temporário, pejotização, isto é, trabalhador transformado em empresa e na maioria das vezes envolvendo muita informalidade e mesmo ilegalidade, trabalho informal, empreendedorismo social, análogo a escravo (seja lá o que for que isto signifique), trabalho escravo.
www.google.com.br/images. Mini masterchef é a versão júnior do Masterchef, reality show australiano de 2010 exibido na Discovery Home & Health 2014.
A exploração se dá tanto na apropriação da força física (cumprir metas, ser polivalente, multifacetado o mesmo que fazer a sua tarefa e de outros dez ou mais trabalhadores) como da capacidade intelectual dos indivíduos (capital intelectual). O absurdo virou show de TV: para que RH-recursos humanos se podemos recrutar e selecionar os melhores e colocá-los para competir ao vivo e a cores com transmissão 24 horas nas TV? Big Brother; O Aprendiz e 1 contra 100 de Roberto Justus; Ídolos, etc. O setor de RH, mais do que nunca, darwiniano, sai aos poucos das empresas e ocupa a telinha: atores, cantores, chefs de cozinha adultos e crianças, estilistas, jornalistas, dançarinos, modelos, prostituição masculina/feminina de luxo. Milhões de internautas disputaram “o melhor emprego do mundo”, um big salário para cuidar de uma ilha paradisíaca e mesmo Steve Spielberg seleciona roteiristas em reality show.
Mosaico a partir de www.google.com.br/images No Brasil terceirização é o mesmo que precarização do mundo do trabalho.
Explode no mundo inteiro o trabalho precário quase sempre divorciado dos direitos trabalhistas (terceirizado, subcontratado, estagiário, cooperativas ilícitas, voluntarismo ideológico/religioso, trabalho parcial, temporário, pejotização, isto é, trabalhador transformado em empresa e na maioria das vezes envolvendo muita informalidade e mesmo ilegalidade, trabalho informal, empreendedorismo social, análogo a escravo (seja lá o que for que isto signifique), trabalho escravo.
E se tudo pode ser pior; a acumulação
flexível não só apropria como se faz baluarte da ecofarsa: ampara-se no
ecodesenvolvimento sustentável do capital verde que se expande sem o menor
esforço e com altíssimos lucros, ora associando-se sob os auspícios dos
governantes nas PPP’s (parceira público privada) ora criando novas empresas
para tomar posse de uma riqueza até então inimaginável: o lixo!
RRR: reciclar, reutilizar, reduzir! É a
economia verde que só no Brasil em 2005 gerou um faturamento de cerca de US$ 7
bilhões, 500 mil empregos de catadores, 50 mil funcionários da indústria
recicladora. O Brasil está entre os 10 maiores recicladores de papel e papelão
do mundo. Em 2005 o país foi pentacampeão em reciclagem de latinhas: 89% do
descarte, 9.4 bilhões ao ano, 26 milhões de latinhas recicladas por dia! É
pouco! Propalam.
O lixo vem sendo disputado no braço: de
um lado catadores versus urubus, ratos, escorpiões e outros
bichos; do outro, empresas que cada vez mais adotam o “compromisso empresarial
para a reciclagem”. O principal feito histórico vem da “exploração inteligente
do gás do lixo”, uma energia “limpa” que será vendida, no caso do aterro de
Gramacho na cidade de Duque de Caxias/RJ à Reduc- refinaria Duque de Caxias da
Petrobrás.
O lixo é luxo e lucro: papel, papelão,
latas de aço, vidros, garrafas pet, latinhas de alumínio, tetra park, lâmpadas,
monitores, pneus, lixo orgânico, gás do lixo, móveis, artefatos de decoração,
etc, etc e tal e o escambal também! Em Gramacho, o maior lixão (aterro
sanitário) da América do sul, cerca de 1300 catadores se pegam nos tapas com
urubus, correndo o risco de doenças, de atropelamento pelos tratores e
caminhões ou serem soterrados pelo lixo!
”Não é lixo é trabalho” proclama a
mídia, a porta voz dos capitalistas verdes, “o novo conceito do lixo _ diz sem
esconder sua euforia André Trigueiro, apresentador do “Cidade e
Soluções”/GloboNews – deixa de ser problema e passa a ser insumo energético”.
Empresas verdes recebem o brasão da responsabilidade social, compromisso
ambiental e créditos...de carbono, papéis com valor de mercado para serem
negociados com empresas não tão verdes, aliás, sujas! Reciclar é pura magia,
uma alquimia que transforma toneladas de lixo das classes abastadas do país (ou
comprado do exterior como os 64 containers de lixo inglês vendido a empresários
brasileiros) em ouro verde e diplominha
de responsabilidade ambiental.
www.google.com.br/images. Se a Melissa criou o plastic paradise a rede Globo, apesar do fracasso, criou a novela a base de plástico: Meu pedacinho de plástico, ops, recicláveis, oooops, chão! Dá pra reciclar todo o cenário e principalmente figurino!
Para os catadores, o elo mais
importante, o portador da mais valia, reciclagem é trabalho duro, pesado, sujo,
insalubre, que lhes garante meramente a sobrevivência no dia a dia, uma
cidadania às avessas, de lixo, que não lhes confere nenhum valor social e
apenas os torna mais e mais invisíveis. O repórter André Trigueiro que conduz o
programa e seus entrevistados transitam daqui para ali no aterro de Gramacho
sem dar mostras de que, apesar de enxergarem muito bem, vêem as centenas de homens, mulheres e urubus
revirando mais de 7 milhões de toneladas de lixo que chegam diariamente no
lixão de Gramacho!
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