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domingo, 8 de junho de 2014

BRAZIL: rumorejando o Brasil com Sérgio Antunes...


A FIA DA VEINHA

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Sérgio Antunes de Freitas

Sua mãe morreu no começo do governo Lula e seus pés perderam o chão.
Não apenas pela falta materna, mas por todas as ameaças quer rodeiam a sua vida, assim como rodearam a vida de sua genitora. Veio um constante temor que só aumentou mais agora, no final do governo Dilma.
Ela vivia trocando ideias com a vizinha, pelo muro, para atualizar as informações.
Uma vez, à noitinha, conversavam:
- Já se foi o tempo que o Lula tinha só aquela aparelhagem de som. Agora, minha filha, ele tem “homem sitter”!
- Ah! Não me diga que ele é bicha!
- Não, minha filha! É um teatro na casa dele. Parece que tem até bilheteria. Imagina o preço que ele cobra!
Foram interrompidas por sua prima de Birigui, que, por telefone, garantiu ser o porto construído em Cuba, com recursos financeiros brasileiros, na verdade, uma base militar para os soviéticos.
- Ah! Mas os americanos vão descer bombas lá em cima. Você vai ver – comentou.
A prima também garantiu que os médicos cubanos são todos espiões de Fidel Castro.
Até aí, ela suportou bem! Mas quando a prima falou que estava sendo preparada uma revolução bolivariana pelo próprio governo brasileiro, precisou desligar o telefone. Ela não sabia o que era uma revolução bolivarina, mas teve que tomar remédios para dormir e, ainda assim, passou quase a noite toda acordada.
Quando pegava no sono, tinha pesadelos tenebrosos. Sonhava que os Sem-terra invadiam sua chácara de recreio, herdada da mãe e localizada a uns dez quilômetros de Taubaté. Tudo assistido por pessoas desmazeladas, mal amanhadas, com bolsa-família, de couro importado e envernizado, pendurada a tiracolo.
E não aparecia nenhum parlamentar da bancada ruralista, com chapéu de cowboy e dois revólveres nos coldres, para aniquilar os invasores e levá-la na garupa do manga-larga marchador, o que seria o início de um romance de sonhos.
Pior, continuaria solteirona!
Na chácara, com quase um hectare, fora construída uma casa, com banheiro azulejado, e uma churrasqueira. Por duas vezes, levou a turma da igreja para um churrasco nessa propriedade rural, sem economia de gastos: dois quilos de bifes, quarenta pães e doze pacotes de refresco em pó de vários sabores. A sombra da mangueira ficou lotada de cadeiras de praia. Na segunda vez, o toque negativo foi o de um garoto malcriado, que afirmou serem todos os refrescos de mesmo gosto, só variando a cor.
Mas toda essa riqueza poderia se perder, por conta do comunismo que sua mãe sempre temeu. Ela não acreditava que os comunistas comiam criancinhas, mas dizia que, “desse pessoal, pode-se esperar de tudo”.
Em uma hora da longa madrugada, foi até um esconderijo na área de serviço e conferiu se ainda estava por lá aquela arma que seu avô havia deixado para sua mãe: um revólver marca Webley, calibre 22, cujas quatro balas estavam em um saco com farinha, conforme o encanador havia recomendado, para conservação da qualidade dos projéteis. Ela nunca atirou, mas, se os Sem-casa resolvessem invadir a sua, com quase 80 metros quadrados e telhado de barro, “pregava fogo em todos”.
De manhã, ainda com olheiras, devido à terrível noite mal dormida, desabafou com a vizinha, citando a revolução bolivariana: - Se essa Dilma ganhar a eleição de novo, eu me mudo para Patrocínio, para ficar bem longe do Brasil!

Sérgio Antunes de Freitas
7 de junho de 2014

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