CÂNCER DE MAMA 20 ANOS DEPOIS...
CIRURGIA parte 3
Marina da Silva
Todas as orientações sobre cirurgia – pré e pós-operatório – me foram passadas pela anestesista.
"A senhora está agendada para uma consulta com anestesista".
"OI??? Tem certeza? “ Eu incrédula.
“Uai? -pensei- nunca conheci um anestesista antes de cirurgia.
Fui para a consulta curiosa e com grande expectativa; e sim, toda cirurgia merece uma pré-consulta com anestesista. Além de preencher uma ficha sobre minha pessoa (anamnese) com toda a minha história e depois de examinar todos os meus exames e relatórios, a anestesista descobriu que faltava um exame essencial: tempo de coagulometria ou seja, o tempo de coagulação do sangue.
"E agora José?" Lembrei o poeta Carlos Drummond.
Nenhum problema: foi só pegar o pedido do exame e me dirigir a outra sala ao lado da sala da anestesista para coleta do sangue.
Além de me dizer tudo o que podia e não podia fazer no pré-operatório, a anestesista me deu um folheto com todas as instruções e orientações. Tirei dúvidas e sai de lá agradecida e super tranquila para a cirurgia. O mastologista e o cirurgião da reconstrução me orientaram chegar no dia da cirurgia com uma a duas horas de antecedência. Cheguei com uma hora e meia, preenchi a ficha de internação e fui encaminhada para a ante-sala do bloco cirúrgico onde fiz a troca de roupas: camisola, touca, propés. Entreguei a sacola de exames para a enfermeira e mochila para minha filha. Dei um abraço apertado, beijei minha filha e disse para ficar tranquila: “Já deu certo, Deus no controle”. O rostinho dela não escondia a apreensão, o meu, no modo fingir, estava indo “ao infinito e além” num voo espacial.
A NAVE
Conduzida pela enfermeira entrei na sala de cirurgia e dei uma “batida“ geral enquanto subia a escadinha para alcançar a mesa cirúrgica. Gostei do tamanho, proporção e disposição do mobiliário. Aqui você deve estar se perguntando:
“Para que fazer blitz na sala de cirurgia? É importante?"
E eu:
“Claro… QUE NÃO!”
Apenas estava distraindo meu cérebro do nervosismo, tentando controlar a ansiedade e medão lembrando do curso técnico de enfermagem que fiz na Cruz Vermelha nos anos 1980; aos estagiários cabia a limpeza e desinfecção das salas após as cirurgias. E comparadas com aquela sala onde iam me operar, as outras eram gigantescas. Sim, eram salas enormes para limpar principalmente depois de sair de um plantão noturno de doze horas para um estágio não remunerado, sem lanche, seis horas e salário, uma fase conhecida como "escraviário". Já fui "escraviária", confesso; e quando chegávamos os trabalhadores comemoravam: “ Oooba, estou de férias!" Deste tamanho eu daria conta de limpar umas quatro salas… Mas voltemos à nave cirúrgica.
Observei junto aos monitores um tablet com meu corpo-tela desenhado, os médicos e médicas entrando, enfermagem, o anestesista me posicionando o braço, conversando comigo e apanhado feio da minha veia. Alguém se ofereceu para ajudá-lo, eu propus uma aposta, Dr. Gabriel rindo e contou que sou escritora e ia fazer uma crônica sobre a veia. Dr. Clécio pedindo as meias de compressão que esqueci na minha mochila, minha veia sendo derrotada e vitorioso o anestesista me pedindo...apaguei geral. A cirurgia foi longa e lembro apenas de acordar sentindo que estava afogando, lutando para respirar, muito agitada e me debatendo. Teve um "B.O" no pós-operatório: ouvi palavras ininteligíveis e senti um alívio imenso no oxigênio e urinando e lembro da palavra bexigoma. Que trem é esse? Não sei e nem quero saber; é coisa de médico(a)(s)(cxis).
Fiz merda? Só Deus poderá lhe contar o que aconteceu porque um novo apagão veio e só acordei no quarto, na cama e com uma médica me vestindo o sutiã pós-cirúrgico e orientando a minha filha como fazer o esvaziamento dos três drenos nas mamas. Fiquei muito grogue com tanta medicação e tentando ficar acordada e urinar na comadre o que não consegui nem com os truques de ficar sozinha, silêncio, concentração, ligar a torneira e deixar a água correr. Novamente me passaram mais uma sonda para esvaziar a bexiga e a ordem era urinar e andar. Comecei a andar na mesma noite, várias vezes, para liberar gases e consegui urinar! Ufa! Passei perrengue com gases. Tomei meu anti-gases que nunca sai da minha bolsa.
Um fato que preciso relatar: colocaram uma pulseira lilás no meu pulso e pensei que era para alertar a todos que eu sou diabética. Mas não, era alerta para risco de queda. Lá pela meia-noite a enfermagem descobriu que minha glicose estava nas alturas porque estava com o soro glicosado. Crendóspai! Aplicaram insulina para corrigir e coloquei minha filha para vigiar as medicações. Não aceitei dipirona para dor porque abaixa muito minha pressão, aliás, recusei remédios para dor a partir de então. Tenho alta tolerância para dor.
Na manhã seguinte fiquei ansiosa pela alta, resolvi ir ao banheiro e urinar e tomar banho. Pressão caiu, desmaiei e lá se foi minha alta. Quarto cheio de médicos e residentes e enfermagem e eu drogada de novo. Para encerrar o assunto: só tive alta no terceiro dia após cirurgia. Um médico comentou:
"A senhora gostou de ficar no hospital novo". Elogiou muito as acomodações, e eu concordei com tudo menos ficar internada um dia a mais em hospital por prazer e desfrute das acomodações. NÃO ERA HOTEL e sim hospital, falei. Gostaria de trabalhar aqui se fosse jovem, mas quem é que em sã consciência quer ficar em hospital, principalmente se está num tratamento de câncer? Lá é lindo e blá blá blá, mas é hospital! Fui embora estressada por ter que ficar um dia a mais. Em casa recuperei super rápido e no sétimo dia voltei para meu cafofo e dispensei todo mundo dos cuidados com minha pessoa. Cumpri rigorosamente as recomendações médicas, voltei ao cirurgião para retirada dos drenos, mastologista só em seis meses, no décimo quinto dia fui liberada para digitar no computador, e voltei ao trabalho ao fim da licença de trinta dias. A equipe Navegadores do hospital Orizonti sempre me ajudando com marcações de retorno, consultas, exames e me acompanhando o pós-operatório em casa para saber das dores, cicatrização, queixas. Agora era esperar a biopsia da mama retirada na cirurgia e voltar no oncologista. Mas esta parte conto depois. Bj
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