A QUARTA IDADE
Sérgio Antunes de Freitas
Com os avanços da ciência, a vida média das pessoas tem aumentado bastante!
Boa parte dos considerados anos da velhice, agora, foram parcialmente incorporados à idade adulta.
Antigamente chamados de velhos, com o estigma da incapacidade, da invalidez, acompanhado pela figura da cadeira de rodas, do andador ou utensílios e roupas semelhantes, hoje, muitos levam uma vida plena. Trabalham, produzem, fazem exercícios físicos, exercem uma vida social agradável, enfim, não têm as limitações da idade, exceto por causa de doenças ou da “indústria da obsolescência”, inaugurada com o surgimento das espécies.
A terceira idade, também chamada de melhor idade, tem sua dinâmica e pode satisfazer as pessoas, como na infância ou adolescência, guardadas as devidas diferenças. Algumas poucas, com vantagens, devido à experiência.
Mas, à medida do aumento dessa experiência, a capacidade física decresce, os hormônios aquietam-se e, então, a pessoa chega a uma outra idade, a quarta, a da sabedoria.
Por isso, não se deve chamar essas pessoas privilegiadas de velhas, idosas, caquéticas, gagás. Elas são sapientes!
E, devido a esse patrimônio cultural, reúnem o máximo de tolerância. Raramente discutem e, quando o fazem, é sempre com zelo, para não ofender o interlocutor e, também, aprender, pois sabem do famoso lugar comum: a vida é um eterno aprendizado.
O silêncio passa a ser o comportamento mais forte de seus dias.
Mesmo que suas preocupações diárias sejam a destruição da natureza, por exemplo, por condenar a humanidade a sofrimentos futuros sem paralelos, devendo atingir seus filhos, netos, descendentes de maneira geral, não enveredam mais por esses assuntos. Há uma clareza da desimportância dos seus discursos e de suas insignificâncias nesse campo de batalha, no qual se é um contra milhões.
A ignorância alheia já não incomoda tanto. O tempo mostrou ser isso uma constante, parcial ou total, na maioria das pessoas, principalmente em países subdesenvolvidos, nos quais os processos educativos não recebem atenção adequada, normalmente dirigida a futilidades, consumismo, passatempos exigentes de pouco raciocínio. Atenção negligenciada, é bom dizer, pela maioria e não somente por políticos.
Embora muitas dessas pessoas não cultivem o individualismo ególatra, não reclamam mais da falta do espírito público, da carência da fraternidade, da abdicação do amor ao próximo e do desapego a outros valores cristãos.
A resignação se torna uma rotina e já não se revoltam com rótulos de insensíveis, alienadas, inapetentes.
O humor dos sapientes passa a ser exclusivo. Divertem-se, observando o comportamento humano ridículo, considerado normal por muitos. E compreendem a normalidade das atitudes achadas estranhas pela maioria.
Aprendem a se comprazer sozinhos, fingindo-se de surdos ou abúlicos, para não responder a provocações ou comentários geradores de barafundas.
A quarta idade é o próprio nirvana, aquele estágio descrito nas religiões orientais, no qual a pessoa atinge um sentimento completo da paz interior e a compreensão das fragilidades do caráter e da alma humana.
Não vejo a hora de chegar nessa idade feliz!
Sérgio Antunes de Freitas (67 anos)
Outubro de 2021
Grato, Marina! Abraços
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