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sexta-feira, 4 de junho de 2021

BRAZIL: SENTIMENTO BOM DE RESSENTIR

 DÉJÀ RESSENTI

Sérgio Antunes de Freitas 

 

O “déjà vu”, que significa “já visto“, é um fenômeno intrigante! Principalmente quando traz a suspeita de uma premonição. Se for boa, tudo bem! Mas, se for má, é preocupante.

Entretanto, esse sentimento não procede e a ciência já sabe muito sobre essas ocorrências, embora não tenha definido perfeitamente ainda suas causas.

Trata-se de uma ilusão da memória, podendo ser chamada de paramnésia, uma perturbação da capacidade cerebral de guardar informações.

Observa-se uma cena e se tem a impressão de já tê-la visto antes, até com alguma previsão. Em rua movimentada, um veículo freia, quase atropelando um pedestre de terno e óculos escuros. - Eu já vi isso! – a gente pensa.

O pedestre, nervoso, chama a atenção do motorista com rispidez. – Eu sabia que ele iria dizer isso! – a gente pensa novamente com certeza.

Já conseguiram repetir o fenômeno em laboratório com ratos e com pessoas, em pesquisas distintas, mas não há consenso cabal sobre o assunto.

Uma tese bastante aceita estabelece o conceito no qual as mentes acessam as lembranças na mesma fração de tempo de sua gravação. Isso causa uma confusão e o presente fica parecendo uma memorização. 

Também há uma definição na qual o “déjà vu” pode ser “já visto” ou “já sentido”.

Contudo, há outra, discordante dessa generalização, por serem coisas distintas.  

Vamos apelidar de “déjà ressenti”, que significa “já sentido”, uma lembrança verdadeira.

Mantendo o francês, a coisa fica muito mais elegante e remete ao tempo da influência francófila na sociedade brasileira.

Chauffer, croissant, buffet, champagne, couvert, escargot, croquette, mayonnaise, omelette, pâté, champignon, chantilly, purée, sofflé. Très chic!

Há vários níveis do “já sentido”.

O cheiro de um perfume pode ser uma lembrança da infância: - Aí, esse é o cheiro da minha tia, quando ela era mocinha e saía para passear.

O gosto de um doce: - Esse doce de goiaba está igualzinho ao que minha avó fazia em um tacho de ferro.

A música é uma das causas mais fortes para as recordações, mormente da adolescência. E haja suspiros!

E as fotografias? Mais fortes são os filmes! Deixam sempre um sorriso, uma gargalhada, uma exclamação e, por vezes, uma lágrima.

Interessante, em vários momentos, é vir um pensamento em forma de lembrança, com formas abstratas, indefinidas, confusas, como em uma fase preliminar do sono, quando o cérebro está saindo do estado de alerta.

Se não entra o sono profundo, pode haver um pequeno retorno e a curiosidade preencher o vazio com elementos trazidos da realidade.

Esse evento pode acontecer também com a pessoa acordada, descansando ou em atividades leves.

Em um cenário de noite com luar, com uma música de festa junina ao longe, uma luz amarelada em uma rua deserta, um clima de frescor, o calor subindo pelo corpo, um perfume doce, um olhar de brilho molhado e uma boca semiaberta se aproximando para um beijo longo e enamorado. De repente, o susto da volta à realidade e a constatação: - Eu estive em um lugar do passado!

A emoção foi a mesma. Ou maior!

E surge a vontade de ouvir o tema da música do filme com nome semelhante, como se ela fosse trazer o tempo de volta.

 

Sérgio Antunes de Freitas

‎Junho de ‎2021

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