MEIAS CRETINAS
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Sérgio Antunes de Freitas
Quando criança, ouvi pela primeira vez o ditado: “Toda a sabedoria do mundo não vale mais que um par de botas” - e imaginei esses calçados como bichos inteligentes.
Com o mesmo raciocínio infantil, sempre imaginei que as meias são animais cretinos. Mais que as ariranhas ou os macacos!
Essa ideia não me sai da cabeça e há explicações para o aparente absurdo da animada definição.
Meias são bichos que gostam de andar “de parzinhos” e a gente acaba confiando nessa relação de companheirismo. Porém, quando estamos com um par delas em um casamento, em uma reunião social exigente de elegância ou mesmo no trabalho, um dos pés costuma mudar de cor. Olha o nosso vexame!
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Pior é que essas rainhas da falsidade escondem seus defeitos físicos e de caráter!
Quando vamos comprar sapatos ou vamos em outro lugar nos quais precisamos tira-los, nesse momento, olhamos para baixo e vemos que uma das meias apareceu com um buraco na ponta. Ela se auto imola, só para nos fazer passar a vergonha.
E veja lá o dedão olhando pra cima com cara de paisagem!
As atrevidas ainda conseguem comparsas facilmente!
Quando tiramos os sapatos no trabalho, apenas para descansar os pés, sempre aparece um colega, do tipo “oreia”, para escondê-los.
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E justamente quando ele vai ao banheiro, sem chance de nos dizer onde é o esconderijo, o diretor nos chama com urgência. E lá vamos nós sem sapatos, pensando na justificativa.
(Vamos brincar de “preencha com a palavra adequada”.)
- Meu Diretor, me desculpe pela descompostura, isso porque aquele (palavrão aceito socialmente, mas que reflete toda a raiva do mundo) do (nome do inominável) escondeu meus sapatos.
O Diretor olha para baixo, dá uma risadinha compreensiva e comenta: - É! Nossos salários estão muito baixos!
Então, nós também olhamos para baixo e vemos que o dedão está pra fora do buraco, concordando com o diretor.
Há casos também em que, no meio da tarde, bate um sentimento de que estamos manquitolas, sem sentir dor nenhuma. Aí, percebemos que calçamos meias de mesmas cores, mas uma de cano longo, com punhos bordados, e outra de cano curto e sem punhos.
Contudo, é bom salientar, essas vestimentas também tem seu lado melancólico! Quando some seu pé companheiro, ficam tristes, amuadas, solitárias no canto da gaveta, até que seu par volte feliz ao seu encontro. Às vezes, por conta dessa viuvez, aceitam empregos menos nobres, como coador de café em república de estudantes. Nunca mais mudarão de cor!
E o problema da cor é sério mesmo! Muitas vezes, de manhã, quando pegamos um bolinho delas, vemos que os pés são de raças distintas. Ainda com sono ou em ambiente mais escuro, não conseguimos discernir a cor ou o tipo. E vem as dúvidas... É preta? É azul escura? É cinza? Tem punho? Está furada? É o mesmo bordado? Estão do avesso? Dá pra ir sem meias?
É o caos matinal!
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Entretanto, como dizem os grandes filósofos, quando você não tem mais esperanças, sempre aparece uma luz para retirá-lo das trevas.
Adquiri um exemplar do livro “Mil dicas para resolver problemas de vestuário”, da Editora Tabajara. Seguindo a sugestão apresentada, vou comprar um monte de pares de meias pretas, de mesmo tipo, sem bordados, sem punhos, sem nada, e descartar todas as outras, cinzas claras, cinzas escuras, bordôs, cafés, marrom claras, marrom escuras, pretas de cano alto, pretas de cano baixo. Ficarei só com as brancas, para usar com tênis.
Pronto! “Meus pobrema se acabaram-se!”
E se alguém me der meias de presente de aniversário, já sabe, vão pro lixo, sem dó nem piedade!
Ah! Dá livro, uísque escocês, passagem pra Europa... Tanta coisa!
Sérgio Antunes de Freitas
13 de junho de 2015
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