UMA CRÔNICA A SER ODIADA
Sérgio Antunes de Freitas
Imagens de um casal jovem e simpático! Saem do carro novinho, brilhando, e se abraçam sorrindo. Abrem a porta de casa e aparece um gracioso cachorrinho, abanando o rabinho. Eles abraçam o cachorrinho e todos os três saem correndo para um quintal cheio de flores coloridas. E continuam os abraços e as brincadeiras.
O roteiro da propaganda está pronto.
Mas para vender qual produto? Qualquer um: lâmina de barbear, margarina, analgésicos, peças íntimas de roupas, seguros de vida, serviços de telefonia. Sucesso garantido!
Os clichês vendem e as pessoas não os questionam, pois esses são os objetivos e resultados das propagandas.
Na verdade, por trás de tudo isso, ainda há uma intenção subliminar conservadora: manter as coisas como estão. Pobres, continuando pobres, resignados, mas sonhando; ricos, continuando ricos, satisfeitos, enriquecendo cada vez mais. E a classe média servindo de amortecedor entre os dois extremos e evitando que os de um lado passem para o outro. Raramente, há falhas nesse impedimento.
Outro clichê? O Brasil é um país abençoado! Não tem furacões, maremotos, vulcões, nevascas. E, por cima, é campeão de futebol! Melhor terra, não há!
Claro, vamos tapar os ouvidos para as notícias sobre a fome, a miséria, as doenças, as enchentes, os desmoronamentos, os incêndios florestais.
Aliás, elas também servem ao mesmo propósito, juntamente com o que se costuma chamar de mundo-cão, aquilo que é visto na televisão todos os dias, de manhã, de tarde e de noite. Violência contra a mulher, pedofilia, corrupção, furtos, roubos, afogamentos, acidentes de trânsito, assassinatos, violência policial e todas as formas de patologias sociais servem para acalmar as pessoas: - Nossa, como somos felizes, por não termos sido vítimas disso. Vamos orar sempre, para continuar protegidos!
Nesse binômio, consumismo & alienação, as pessoas não questionam a situação política, econômica e social do país nem do seu próprio modo de vida. Só pensam no seu futuro individual em curto prazo. Ou melhor, pensam apenas nos seus sonhos de consumo!
Cães, gatos, motocicletas, automóveis têm muita coisa em comum. Exercem fascínio sobre as pessoas, que não veem os males causados por eles, para o planeta e para a humanidade.
Vai dizer que, se eu tiver um gatinho e uma moto, isso vai comprometer o futuro do universo?
Não, se fosse só um caso, mas são milhões, centenas de milhões. E os efeitos dessa escala são perversos. São invisíveis, pois são pouco divulgados, devido aos interesses econômicos.
Para se fabricar veículos, é necessário a exploração mineral, como a do aço e a do petróleo, que ferem, alteram e poluem a natureza perigosamente. Até mesmo para a produção de combustíveis “sustentáveis”, de milho ou cana-de-açúcar, é preciso destruir as matas, extinguindo animais e vegetais, a fim de se impor os modelos dos perversos agronegócios. A imprensa mostra apenas o “lado bom” dessas coisas, também em razão dos seus desejáveis lucros.
Mas e os cachorrinhos e gatinhos, que mal eles podem causar à natureza, da qual fazem parte?
A primeira pergunta a ser feita é: eles são predadores exóticos, trazidos pelo homem para o ambiente natural de outras espécies? No caso do continente americano, a resposta é sim.
Segunda pergunta: eles concorrem fortemente para a extinção das espécies não queridas pelo “marketing”? A resposta também é sim. São uns 150 milhões deles no Brasil, matando as espécies da fauna brasileira diariamente. Além de outras que são mortas para alimentá-los.
Mas, então, devemos acabar com a fabricação de automóveis e eliminar cães e gatos do território nacional? A resposta é não, mas tudo isso precisa de freios urgentemente.
Nas cidades, é fundamental a prevalência dos transportes coletivos, a fim de se buscar melhores condições de vida urbana para todos, no que se refere à mobilidade.
E os bichos de estimação precisam ser criados com responsabilidade, principalmente com a castração, para deixarem de ser as pragas em que se tornaram, com péssimas consequências para a higiene e salubridade familiares e públicas, para a ecologia e, também, para a redução da crueldade contra eles mesmos, por conta da restrição de suas liberdades ou do abandono.
Assim como esses, há muitos outros clichês nocivos a serem observados e evitados.
Um grande escritor afirmou que a inteligência de uma pessoa pode ser medida em razão de sua preocupação com o futuro. Quanto mais distante é esse futuro, mais inteligente é a pessoa.
Mas quem não quiser se preocupar com isso, tudo bem! As próximas gerações que se virem, que se lasquem, que se explodam. Nós não vamos estar aqui mesmo!
Sérgio Antunes de Freitas
Outubro de 2021
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