João e Joana
www.google.com.br/images
Zé
Pí
O casal era uma graça. João,
felicíssimo, voava pra lá, voava pra cá, descia até ao pé da árvore e sempre,
pacientemente esperava cantando até que a Joana descesse também. A lindinha se
fazia desinteressada, era só umas olhadelas fingindo que “não é comigo”, até
que um dia não resistindo mais ao charme do rapaz, cedeu, ou melhor, ela
desceu.
www.google.com.br/images
Foi a dica para que eles começassem a batalhar para conseguir numa
árvore, um ponto alto, forte e oposto ao vento; um ipê, um jatobá, pequizeiro,
não muito longe do córrego que alagava a várzea.
Coitados, naquele lugar essas árvores já haviam
virado carvão, ensacado e vendido para siderúrgicas ou churrascaria. Sobrou
apenas arbusto e capinzal. Voaram, voaram por toda a região e quase um dos dois
foi alcançado por um gavião que ao primeiro mergulho e grito forte do João,
desistiu da caçada.
É assim na natureza, uns devem morrer
para que a cadeia da vida se sustente. O casal também é predador de grilos,
minhocas, borboletas, lagartinhas e besouros.
www.google.com.br/images
Ao final da tarde o casal decidiu construir a casa
na travessa do poste de eucalipto da rede elétrica rural que acompanhando a
estrada, estava fincado no topo da colina dando do alto, uma vista geral da
região. Agora, ainda antes de anoitecer, o João aconchegou a companheira na
casa dos pais dela e começou a tarefa de fazer bolinhas de barro, amassando
detritos de grama seca e lama e tome pisadinhas para misturar tudo muito bem.
Foram quase duas semanas de vai e vem trazendo bolinhas de barro, colocando
umas sobre as outras e com o bico, dando a forma arredondada que todas as casa
de”João de Barro” têm.
www.google.com.br/images
Essas aves
aprenderam coisa ruim com os humanos, construindo uma casinha sobre outra e
outra; verdadeiros condomínios; talvez falta de árvores ou gosto duvidoso...
Dos passarinhos...
Já
se foram dois meses e hoje encostou ao lado do poste o caminhão de manutenção
da rede elétrica, para observar o estado dos isoladores e da madeira. O funcionário teria de trocar a travessa.
Ficou por quase uns trinta minutos encantado, olhando fixo para a portinha de
onde dois corpinhos pelados, olhos ainda fechados, mas de biquinhos bem
abertos, esperavam o papai ou a mamãe com alguma comida. Retirou um bloquinho
do bolso, lambeu o toco de lápis e anotou com autoridade:
www.google.com.br/images
Atenção: A travessa do P 3468 do Brejinho da Serra
só poderá ser substituída daqui a 45 dias, quando os filhos do Senhor João e
Dona Joana de Barro já estiverem voando.
Curvelo, 14 de fevereiro de
1979.
João
de Barros e Silva
Marina, amiga querida, não é surpreendente como a natureza se renova, se adapta, apesar de nós, os seres humanos, arrogantes, que nos julgamos donos de tudo e vamos empurrado nossos irmãozinhos, os animais, de seus habitats, obrigando-os a manobras inteligentes para sobreviverem nesses novos tempos conturbados? Deveríamos aprender com eles e respeitar mais a nossa casa, o lindo planetinha azul onde nos foi permitido viver. Linda crônica. Você me permite compartilhá-la com meus amigos virtuais? Se der o seu sim, vale a pena fazê-lo. Beijinho, Angela
ResponderExcluirhttp://noticiasdacozinha.blogspot.com
Angela,
ResponderExcluirClaro que vc pode compartilhar e estou autorizando em nome do autor Zé Pi que certamente ficará honrado com seu apreço pela linda crônica!Abrço. Marina
Alô Angela,
ResponderExcluirUm super muito obrigado pela atenção aos meus textos.Você, eu e felizmente a maioria da humanidade preservamos o que temos de melhor, principalmente, o amor à natureza e à todos os seus componentes.Use e abuse dos meus rabiscos e, como você entender correto como é o natural dos educadores como nós!
Um abraço fraterno.
Zé Pí