ENCONTRO ÀS CEGAS
Marina da Silva
Foi assim que te conheci, um encontro às escuras e com excessiva má vontade de minha parte. Já havia me esquivado de um primeiro encontro com você e a desculpa veio com a pandemia Covid-19 em 2020; mas agora vacinada com quatro doses de combinações esdrúxulas da guerra psico-terrorista biológica EUA X China e acusações de ambos os lados: duas Coronavac, uma Pfizer, uma Astrazeneca. Não sofri nenhuma reação além da dorzinha da picada. Novo encontro marcado e eu sem saída. Dentro de mim reinava a escuridão: depressão, um caroço suspeito no abdome percebido na longa e conturbada e mortífera pandemia Coronavírus.
"Você marcou?"
"Sim, próxima quarta-feira, até mudei o dia da terapia."
"É só uma tentativa. Não custa nada."
Passei bom tempo pensando no absurdo de um encontro às cegas, no escuro.
Mas você me veio, pessoa super recomendada, aliás, uma prescrição segura para mim, já testada e aprovada por ela.
"Ok. Não vai dar em nada. Vou lá e me desencanto de cara e pulo fora desta roubada."
"Pode um lugar predispor ao amor ou pelo menos quebrar minha terrível má vontade e forte disposição de sabotar nosso encontro?"
Você se tornou a minha pessoa, meu lugar seguro em meio a zilhões de instrumentos de percussão circulando ao me redor e me deixando tonta, zonza. Quis implicar, não deixar você entrar, quis fugir. Uma, duas, três, quatro vezes seguidas, mas tinha a promessa de tentar e suas pessoas aos poucos foram me entrando pelas fendas e rachaduras que todo aquele amarelo e azul provocara. Suas pessoas, muitas quebradas e feridas como eu, aos poucos foram se tornando minhas também e eu delas. Era a primeira vez desde 2012, quando se declarava abertamente uma "guerra abjeta" do império estadunidense contra o Brasil com o objetivo de derrubar do poder a esquerda petista que eu me via na rua, 2022, rodeada de gente, corpo e alma manifestando, gritando palavras de ordens, apoiando bandeiras partidárias, ideologias coletivas, sem medo das vacas fardadas que foram fortalecidas e vieram para ciberespaço trazendo seu discurso conservador, fascista, hipócrita, cheio de ódio e intolerância, racismo, homofobia, misoginia, feminicídio e muito mais.
Quase uma década (2016-2022) de retrocesso econômico-político-social-cultural surreal e inacreditável que foi agravada pela necropolítica negacionista da pandemia. País dividido, famílias divididas, colegas de trabalho e mesmo amigos e amiguis em pé-de-guerra fundamentados pelo olavismo e gabinetes de ódio em expansão nas redes sociais. A ciência, a filosófica e saberes e senso comuns importantíssimos de nossos ancestrais foram substituídos pelo falso guru e auto-intitulado filósofo olavo e demonizadas por milícias, muitas delas evangélicas, gente que se dizia pastores e pastoras pregando anti-lulismo e profetizando o genocida como novo Messias** no YouTube, Facebook e compartilhadas pelo tiozão e tiozona do zazapis.
Resistir e sobreviver e esperançar! Fui para a escola de Percussão Circular.
Então um encontro às cegas com você que como eu e milhões de sobreviventes deste século XXI, passou perrengues e lutou para sobreviver a tudo isto, confesso, não era muito atrativo. Eu esperava você, acadêmico, cheio de formalidades, professoral e você veio e me surpreendeu livre, linda, hippie, ensinando música e amor e acolhimento em zilhões de batuques. Eu quis fugir de você, mas tinha todo aquele azul e amarelo e instrumentos curiosos e sua família... Eu, mulher da transição, nascida na ditadura, interiorana e quase sexagenária, lutando para chegar ao século XXI descolonizando pensamentos, habitus e você pregando e vivendo uma "reforma agrária do amor".
XITÁM, POWER BAZUCA
TCHÁ CUM DUM
TUM TUM
TUM PÁ
Qual é a sua magia? O mar que vem do azul, a cura apolínea do seu amarelo, o delicioso som do agogô de côco, o Gonzagão que pula de minha memória com a zabumba e trinados do triângulo: tengo lengo tengo lengo; dedos fechados no GO e abertos no TEN LEN?
Gente é para brilhar. Di Souza regendo ENTÃO, BRILHA* e arrastando milhões no Carnaval de Belô.Internada, operada, em licença do trabalho eu só pensava: será que vou poder tocar zabumba sem dor? Senti falta de suas vozes, risos, sons, gargalhadas circulares, @percussãocircular circulando, eu deitada na rede enfeitiçada e me deixando enfeitiçar, zonza, hipnotizada nesta persecução mágica. Na volta resolvi te contar do câncer e você me abraçou e me desmontou. Foram muitos abraços e demonstrações de afetos e estes toques e abraços sem jalecos brancos ou uniformes me ajudaram e me ajudam no processo de cura. O que posso fazer ou falar para mostrar o amor que nasceu em mim? GratiTUM, obrigaDUM! É uma honra fazer parte da PERCUSSÃO CIRCULAR.
* Cris Di Souza. "Compositor, multi-instrumentista, arranjador e professor, também é maestro dos blocos É o Amor, Abre-te Sésamo, Circuladô (formado por alunos de sua escola, a Percussão Circular) e Haja Amor (de Divinópolis). O carnavalesco também fundou o Pisa na Fulô, primeiro bloco de forró do Brasil. “Foi o primeiro bloco que formei depois da experiência com o Brilha, e na companhia de pessoas que faziam aula de percussão comigo. Atualmente não faço mais parte, por escolha própria, mas guardo com muito carinho essa memória”, relembra. https://www.bheventos.com.br/noticia/01-28-2020-di-souza-de-maestro-do-entao-brilha-a-multiplicador-de-blocos-do-carnaval-de-bh
**Como a religião foi usada em movimento que culminou no 08-01-2023 https://youtu.be/QVLYafGRvA4
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