Sérgio Antunes de Freitas
Coloquei a sunga nova que ganhei de presente, o calção por cima e saí para caminhar.
Atualmente, sabe-que que a caminhada é um exercício imperioso contra acidentes cardíacos, isquemias cerebrais e outros fantasmas da idade adulta.
Tudo normal! Então, cumprimento os vizinhos e, lépido e fagueiro, mergulho no percurso tradicional.
Em questão de duzentos metros, sinto a sunga nova aprisionar um pelo, daqueles que ficam na posição vertical, pendurados. Coisa de peças novas que ainda guardam colas, movimentos duros, texturas inflexíveis.
Metros depois, parece que ela aprisionou outro pelo!
Como um beliscão de namorada nova, sinto puxar mais um pelinho, mas já sem muito romantismo.
Diminuo a amplitude do passo, pois o primeiro pelo apresenta um certo agravamento na dor.
Estou perto de andar feito uma gueixa!
A masculinidade é uma virtude que se deve cultivar a qualquer preço, mas a sunga é perversa. Não contente com três, apropria-se de mais um chumaço.
Embora importada, já não se importa com o mal que está causando nem com a região na qual incide sua cruel intromissão.
O passo torna-se muito lento, mas o raciocínio não pode se curvar à dor física.
Parei para ganhar tempo, levantei os braços, como se fosse um exercício aeróbico. As pernas fechadas, coladas na sunga, inertes.
Não há alternativa. Tenho que afastar a sunga do corpo e rapidamente.
Penso em usar as mãos, o que as mulheres detestam ver. E, coincidentemente, atrás de mim, estão a caminhar duas vizinhas casadas e religiosas.
Adentro para um gramado, com a desculpa planejada de observar o caule de uma árvore. Desculpa pronta na ponta da língua: “Olha, que beleza, dá até para ver os vasos liberianos!”
Aí, agacho, digo, arreganho, na esperança de sentir a sunga largar os pelos.
Eu me esqueci que os novos tecidos são feitos com formas e químicas inteligentes; que as texturas são mais fortes que a derme e a epiderme. Em resumo, o pano ganhou da pele no cabo de guerra.
Confesso: chorei!
Se, nesse momento, passasse por ali um escultor, ele poderia se inspirar na minha posição ridícula para fazer um trabalho denominado “O Pranto do Guerreiro”.
Agora, imbuído do espírito humanístico, surgido com tal experiência, sugiro que, jamais, ninguém compre a sunga da marca “Plumb”.
Crônica maravilhosa! Parabéns Sérgio! Bj. Marina
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