CALEIDOSCÓPIO
Sérgio Antunes de Freitas
Os registros históricos indicam que esse aparelho ótico foi inventado, em 1817, pelo físico escocês Dawid Brewster, a partir de seus estudos em laboratório.
Tornou-se um brinquedo, comprovando ter a ciência várias faces de bom conhecimento para a humanidade.
Há registros não oficiais, dando conta de sua existência desde o Século XVII. Não importa!
Todos os utensílios humanos sempre têm um significado prático e outro imaginário ou diferente de sua natureza material.
O vidro é especial nesse quesito! Ele brilha de diversas maneiras, como nos vitrais de Marianne Peretti ou nas músicas infantis.
“O anel que tu me destes
Era vidro e se quebrou;
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou.”
No caleidoscópio, as pedrinhas de vidro são comparáveis às pessoas.
Há delas em tipos diferentes, cores diferentes, formas diferentes, tamanhos diferentes. E personalidades diferentes, refletidas nos espelhos do cotidiano também de diversas maneiras.
E todos, vítreos e humanos, precisam de luz para ter sua existência iluminada!
Um Menino, de mão invisível, gira esse mundo e nós, ao longo do tempo, vamos mudando de lugar, formando grupos sociais distintos sem cada um perder a sua singularidade.
Às vezes, estamos próximos de outras pedras afins. Às vezes, nos distanciamos, com alguma tristeza, mas sempre formando outras composições desejáveis e harmônicas.
Nessas voltas, as pedras se chocam, em conflitos inconvenientes, podendo perder pedaços. Ou se tornarem mais polidas! Mas podem continuar nas mesmas composições, de maneira diversa ou mesmo adversa.
Se há poucas pedras, não se cria cenários tão admiráveis. Entretanto, pedras em demasia podem inviabilizar os movimentos. Como nas cidades, no campo e nas florestas, há densidades ideais para os seres vivos.
Muitas pessoas chamam de fractais as imagens formadas pelas pedras no caleidoscópio. E há uma certa razão para isso, pois nesse conceito geométrico, as partes guardam similaridade com o todo. No caso, pela natureza do vidro ou pela essência da condição humana.
E o Menino levado, além de nos girar, balançar, chacoalhar, como bem entende, também muda as pedras de um caleidoscópio para outro. Depois, torna como era! É normal haver reencontros!
E, quando se encanta muito com uma pedra, ele a retira do caleidoscópio e não coloca em nenhum outro.
Apenas guarda no seu bolso para sempre.
Sérgio Antunes de Freitas
Agosto de 2022
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