CÂNCER DE MAMA: 20 anos depois.
Marina da silva
Antes de começar o "causo" câncer de novo?...
eu preciso lhe contar amigo, amiga, amiguix, que escrever, usar a escrita como forma de me ajudar a lidar com tudo vem sendo uma mão na roda, na massa, aliás, no concreto que criei ao meu redor para lidar com este novo evento, vinte anos depois (se contar só a partir da mastectomia em 2002), aos 59 e que me isolou do resto dos viventes. Voltei a psicoterapia para iniciar o processo de desconcretização, despetrificação, desgranitização,1 que claro, não foi construído somente pelo câncer de mama, mas antes dele, pela pandemia Covid-19 que matou mais de 683 mil pessoas; pelo golpe contra a presidenta honesta Dilma Rousseff, mulher eleita por dois mandatos consecutivos (2010-2018) e que sofreu um Coup d"État num processo infame de impeachment por pedaladas fiscais 31-08-2016.2 E ainda teve a prisão do presidente Lula por 580 em 20183...Afff Muito sofrimento mental para lidar.
Só para constar: o atual presidente reconhecido mundialmente como genocida,4 e que além de outros crimes, foi denunciado recentemente por compra de 51 imóveis (do total de 107) com dinheiro vivo5 - prática reconhecidamente de criminosos do narcotráfico - e ninguém bateu panelas, ninguém foi às ruas contra a corrupção da familícia; ninguém vestiu camisa da seleção, bonés e outros acessórios verde-amarelo como o fizeram para derrubar a presidenta honesta.6 Pronto, desabafei e destruí mais um concreto atravancando minha vida.
Você poderia me dizer:
"Deixa isto para lá amadinha, abençoada. Deus vai julgar lá no céu.
E eu muito educadamente lhe responderia:
"Vai tomá no seu cú!"6
Fonte
1. Neologismos feios que inventei para usar aqui. Mais feio que estes só o do genocida corrupto imexível, imcomível (sei), imorrível e imbroxável (viagra e prótese peniana) ;
2. Sobre o infame e desonroso impeachment por pedaladas assista: O processo, documentário Netiflix https://www.netflix.com/watch/81464323?trackId=255824129&tctx=0%2C0%2CNAPA%40%40%7C9af687f6-881b-4c95-b88b-b6ad9d2eedbe-6091820_titles%2F1%2F%2Fo%20processo%2F0%2F0%2CNAPA%40%40%7C9af687f6-881b-4c95-b88b-b6ad9d2eedbe-6091820_titles%2F1%2F%2Fo%20processo%2F0%2F0%2Cunknown%2C%2C9af687f6-881b-4c95-b88b-b6ad9d2eedbe-6091820%7C1%2CtitlesResults%2C81464323
3. Sobre #580diasLulaPresoPolítico ver o documentário 580dias
4. Sobre a condenação CRIMES CONTRA A HUMANIDADE do genocida corrupto pelo Tribunal Permanente dos Povos ver: https://www.brasildefato.com.br/2022/09/01/bolsonaro-e-condenado-por-crimes-contra-a-humanidade-no-tribunal-permanente-dos-povos; https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/09/01/bolsonaro-conhece-hoje-1-sentenca-internacional-versao-preliminar-condena.htm
5. Sobre as manifestações que derrubaram a presidenta Dilma Rousseff ver "Democracia em transe, documentário Netiflix https://www.netflix.com/watch/80190535?trackId=255824129&tctx=0%2C12%2CNAPA%40%40%7C9af687f6-881b-4c95-b88b-b6ad9d2eedbe-6091820_titles%2F1%2F%2Fo%20processo%2F0%2F0%2CNAPA%40%40%7C9af687f6-881b-4c95-b88b-b6ad9d2eedbe-6091820_titles%2F1%2F%2Fo%20processo%2F0%2F0%2Cunknown%2C%2C9af687f6-881b-4c95-b88b-b6ad9d2eedbe-6091820%7C1%2CtitlesResults%2C80190535
6. Sobre palavrões como uso terapêutico para recobrar saúde mental e lidar com as merdas, principalmente na política brasileira...Uso a palavrãoterapia, mas o tratamento existe mesmo, faça busca Google. Tambem indico a choroterapia, escritaterapia.
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ANTES DA CIRURGIA...O CIRURGIÃO
Então voltando ao causo...
Depois de zilhões de exames, diagnóstico fechado, chegou a hora de extirpar o trem da minha mama direita. Dr. Gabriel de Almeida Silva Jr., meu mastologista, encaminhou-me para Dr. Clécio Lucena, o cirurgião de reconstrução da mama. Se você não me acompanhou desde o início, saiba que na consulta para decidir o cirurgião, eu, com aquela cabeça de 20 anos atrás, avisei ao mastologista:
"Eu quero fazer mastectomia radical como em 2002, tirar tudo!"
Dr. Gabriel preencheu calmamente toda a papelada, apresentou-me uma "Equipe Navegadores" do hospital Orizonti que a partir dali cuidou de todas as marcações de consultas, exames, liberações do plano de saúde. Então, além de eu e Deus, Jesus, Maria, José, todos os santos, santas e santix e anjos, minha filha Amanda, minha sobrinha Aninha, minha irmã Tituca, meu time se completou com os Navegadores, um time de primeira divisão, show de bola! A minha experiência com eles, neste perrengue, em que estou solteira, linda, recatada e do bar, gol de placa.
Para Dr. Clécio Lucena levei também o rascunho da minha vida mamária desde o câncer em 2002, um rascunho de Dr. Gabriel. É interessante este rascunho, lembro que Dr. Gabriel também fez o mesmo rascunho da mama D no primeiro evento e o fato veio à minha memória. Mas, dez anos depois, toquei fogo em tudo que eu tinha relacionado ao câncer; estava curada. E sim, da mama direita estava curadíssima, mas eu tenho dois peitos...
Cheguei ao consultório, recepção lotada de mulheres, todo mundo mascarado (uso obrigatório nos consultórios, hospitais, busão) e ouvindo uma informação errônea trocada entre os presentes intervi, claaaaaaaaaaro.
"Câncer acontece mais com mulheres a partir dos 50 anos".
Vinte anos depois e regredimos à estaca ZERO nas informações sobre o câncer - culpa do fake impeachment da presidente Dilma, que em 2014 sancionava a lei que obriga a reconstrução de mama pelo SUS ou planos e seguradoras de saúde. Pedi licença e falei:
"Desculpe a intervenção, mas câncer de mama não é doença de mulheres velhas. Eu descobri um tumor na mama aos 37 anos..." E lá veio aula. Falei do grupo de mulheres de BH, do Rio de Janeiro, das meninas super jovens em tratamento, etc.
"Eu continuei trabalhando, estudando, fiz duas especializações, criei minha filha - apontei para a bela moça a minha frente - e não aposentei até hoje e estou novamente tratando um novo câncer de mama, agora na mama E."
Gente, estava um silêncio na sala e me lembro de um casal com dois filhos pré- adolescentes se entusiasmando com meu depoimento, entrando mais leve no consultório e saindo e se despedindo de mim aliviados. Uma senhora de mais de setenta anos sentada ao meu lado entabulou conversa e trocamos figurinhas, dei dicas, falei da fé e blá, blá e o médico me chamou. Lá fui eu com minha capanga Lula e uma pá de exames, relatórios e o desenho do mastologista. Apresentações iniciais, ele se debruçou no conteúdo da capanga, desenho incluso, e comentou:
"Ah, é a obra de arte de Dr. Gabriel. Então o que vamos fazer?"
"Quero mastectomia radical e tirar toda a mama ..." Este desejo estava escrito no rascunho da minha vida mamária.
"Então a senhora pode voltar para o Gabriel porque eu sou o cirurgião da reconstrução".
Uia! Que bofetão! Minha cara caiu no chão de vergonha.
"Me desculpe, é que passei por tudo isto antes e não me importa ter mama ou não!"
Sim amiguix, a tonta aqui disse esta frase com todas as letras para o cirurgião e ainda completei:
"já estou com 59 anos. O que o senhor decidir está tudo bem."
Lembra da capa de concreto, granítica, impenetrável? Na verdade era M-E-D-O. Aquela estória de "gato escaldado morre de medo de água fria" e anos sem olhar meu corpo no espelho, aceitar as cicatrizes. Dez anos de blindagem que se espatifou na campanha Outubro rosa, 2013 e fui convidada para ter um dia de princesa, num salão de beleza para Top models. Fiquei linda de doer e minha autoestima foi às alturas! Um dia conto sobre este causo. Mas voltemos ao Dr. Clécio:
"Por que a senhora quer fazer a mastectomia radical?"
"Medo e porque estou com 59 anos..."
Ele nem me deixou terminar:
"A idade não importa e a senhora é jovem!"
O cirurgião me desarmou, foi super paciente, e me explicou que nestes últimos 20 anos a ciência e tecnologia evoluiu muito, novas técnicas surgiram e hoje é possível preservar a mama. PUTaquipariu! E eu que me acho sabichona, comendo poeira neste tema câncer de mama? Peguei amor ao cirurgião na hora.
E lá fomos nós dois, eu e Dr. Clécio para a sala de exames. Sentada na cama ginecológica em frente a ele, fui submetida a uma super avaliação. E olha daqui, dali, pega aqui e acolá, faz exame clínico das duas mamas, pergunta sobre a reconstrução feita na mama direita vinte anos atrás; e eu conto tudo, falo de Dr. Élio, que Deus o tenha, da técnica TRAM - reconstrução com transposição do músculo do abdome, da tela no lugar do músculo que se rompeu e deu a hérnia, e blá blá blá e ele só no exame. Fez um estudo minucioso, olhou a cicatriz de cabo a rabo abaixo da linha do Equador e onde fiz uma tatoo que me ajudou muiiiiiiiiiiito na autoestima decaída. E o cirurgião estuda aqui na direita, e vai para as costas, avalia músculo dorsal lá trás e tenho impressão que já sabe tudo o que vai fazer ali neste momento. Aliás tive a impressão que ele me operou ali mesmo estudando a reconstrução anterior, as calcificações, a grande quantidade de tecido cicatricial que me causa muito incômodo no braço e mama e causa dor e eteceteras e tal também. E lá ficamos num trelelê: eu narrando o primeiro perrengue, a mastectomia, reconstrução, esvaziamento axilar, meu medo do linfedema e ele bolando o plano cirúrgico que me foi apresentado assim que voltei para a sala e me sentei frente a ele novamente.
A PROPOSTA CIRÚRGICA
(Continua no próximo capítulo porque não posso exagerar no pós cirúrgico)
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