JOVENS, LEIAM JORNAIS
Há 60 anos, eu leio a Folha de São Paulo quase continuamente.
Comecei pela página de esportes, tirinhas do Maurício de Sousa e outros.
Aos poucos, fui lendo as manchetes e me interessando por assuntos nacionais e internacionais.
Ainda criança, vi o jornal se distanciando do Golpe de 64, o qual apoiara inicialmente. Entendi a razão de muitas matérias convencionais serem substituídas por receitas de bolos ou poemas de Camões. Era a censura dos militares em sua plenitude e de última hora.
Por experiência própria, quando alguém diz não ter existido a ditadura, ou que era coisa boa, deduzo de imediato ser uma pessoa sem nenhuma leitura ou com informações frágeis demais. Claro, há interessados em mentir contra a história, para obter vantagens e privilégios.
Mesmo tendo acesso a livros, menos do que gostaria, e bons professores no ensino básico, reputo a leitura jornalística fundamental para minha aprovação nos dois vestibulares que tentei. O primeiro foi para Arquitetura e Urbanismo, em 1972, aos 17 anos, na Universidade de Brasília; cursei com muitas dificuldades materiais. O segundo foi Direito, em 1978, na mesma Universidade, não cursado por absoluta falta de condições econômicas.
Diante da importância dada à Imprensa, resolvi verificar quantos brasileiros leem jornais diariamente.
A Folha, um dos melhores jornais entre os de grande circulação, tem menos de 350 mil leitores, inclusive os de acesso digital. É muito pouco!
O Globo diz ter mais, mas não deve ir muito além nessa escala. Em um levantamento feito, consta haver menos de 20 por cento da população brasileira lendo jornais diariamente. Menos de 40 milhões de pessoas!
Os jornais da televisão, muito supérfluos e mais tendenciosos, também alcançam algo próximo dos 20 por cento da população.
De qualquer forma, é muito pouco mesmo!
Para se ter uma comparação, o jogador Neymar, um excelente jogador de futebol, mas sem nenhuma formação cultural ou intelectual respeitável, tem 170 milhões de seguidores. Anitta, de boa formação, embora com uma obra sem tanto valor estético, vem em segundo lugar. Em ambos os casos, certamente, há uma porcentagem de estrangeiros nesses números, mas, pelo menos, um quarto é de nacionais.
Não tenho dúvidas de ser essa uma das fortes razões para tanta ignorância no Brasil, principalmente na classe média e alta, por terem recursos disponíveis para assinaturas de periódicos. E nem estou falando dos que se instruem pelo “zap-zap do tiozão”, pois, aí, já é incultura confessa e juramentada. É deprimente!
Eu devo reconhecer o esforço da Folha e de outros jornais para obter mais leitores, publicando matérias fúteis, como resumos dos capítulos de novelas, assuntos sobre “pets”, vidas de celebridades, programas de auditório da televisão, como também sobre os sofríveis “reality shows”.
Também se esforçam, usando linguagens para impressionar, com termos em inglês, por exemplo. Nesta semana, já li “stealthing”, significando furtividade, e “outsiders”, para os candidatos que “correm por fora” nas eleições nacionais.
A Folha está jogando contra seu patrimônio cultural, acredito, mas não sou seu “ombudsman” alertá-la.
Não podemos negar, aprendemos muito com os jornais, mesmo aqueles não muito bons, de cidades provincianas, que repercutem o conteúdo dos maiores, acrescidos de informações locais, como colunas sociais.
Hoje mesmo na Folha, li com tristeza sobre o encerramento dos trabalhos do cartunista Angeli, por conta de uma enfermidade, a afasia, uma disfunção na qual o paciente tem dificuldades de se comunicar na conversa, no desenho, na escrita.
Não sei se sou sugestionável, mas pensei estar acometido por esse mal no início.
Talvez este seja o último ou um dos últimos textos de minha lavra, composta por centenas de crônicas, versos e outros, ao longo de trinta anos.
Não estou conseguindo transmitir minhas preocupações com o futuro do País e do Planeta, mediante minhas manifestações políticas ou não, sempre com fulcro no humanismo, no cristianismo e nas demais filosofias pelas quais tenho simpatia.
Ou, então, a luta está desigual. Muito desigual mesmo!
Sérgio Antunes de Freitas
Abril de 2022
Obrigado, Marina da Silva! Eu adoro você e sua filha, a quem desejo tudo de bom na vida. Beijos pras duas!
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