FESTA DO CÃO
Marina da Silva
Todo mundo sabe o que acontece quando um cão encontra outro. Isto mesmo, os cachorros se veem e logo vão tomando intimidades e cheirando as partes traseiras um do outro e outro de um. Mas por que será? Por que fazem isto? Instinto? Procuram alguma coisa?
Então...
Os fatos que se seguem foram contados a mim outro dia na pracinha do condomínio Village quando, voltando do passeio diário obrigatório que o cão faz comigo topamos com a vizinha do quinto andar e o cãozinho dela. E foi aquela festa tanto dos cães como nossa, senhoras da turma "zenta", eu a mais nova virando sex...sexagenária. E lá veio a estória do cão.
É pública e notória a adoração de cães por festas e fazer festas, salvo as com fogos de artifício que apavoram ouvidos caninos ultrassônicos supersensíveis. O cão desta estória não é "o cão chupando manga" nem "o cão danado, "o capiroto", mas o cão, cachorro, melhor amigo do homens e das mulheres, acrescento eu.
Conta-se que no céu e na terra há festas de arromba onde os bichos são convidados. Quem não se lembra do sapo na festa do céu para bichos de asas? Os sapos são conhecidíssimos por "brotar" em festa em que não são convidados e nesta festa de bicho alado o sapo penetrou usando o subterfúgio de se esconder dentro da viola do urubu. Quando o urubu descobriu ficou furiosíssimo e decidiu jogar o sapo céu abaixo, mas deu-lhe a oportunidade de escolher onde cair: na pedra ou na água. O anfíbio se safou com uma atuação digna de Oscar: ajoelhou-se e de patinhas postas e chorando horrores implorou ao amigo urubu para ser jogado na pedra porque sapos não sabem nadar.
Fato é que não se tem notícia de sapo na festa do cão, a tal festa onde só cães machos foram convidados. Mas ninguém sabe até hoje como a estória se espalhou, porém, contudo, todavia suspeita-se de algum penetra, isto é veja, o sapo. E foi assim que tudo aconteceu. Uma mega festa só para cachorros foi marcada e detalhe, só entrava cachorro mesmo, macho, verdadeiro clube do Luluzinho. No dia do evento a cachorrada estava toda eriçada e excitadíssima: banho, tosa, escovação de pelos, perfume, penteados extravagantes, unhas aparadas e esmaltadas, smokings e gravatas borboletas e gravatas Wall Street. Chegando ao local da festa dava-se com uma fila de três voltas no quarteirão. Dobermanns cuidavam da entrada, aplicavam carimbo e tatoos fosforescentes e pulseira anti-pulgas. São Bernardos mantinham a ordem e progresso e socorro nas filas trazendo ao pescoço, além de uísque doze anos, kit primeiros-socorros caninos; ambulâncias no local estavam aos cuidados de Dálmatas e a "turma do deixa-disto", Rottweillers, comandavam a patrulha canina.
Duas coisas, ou máximas, se sabe com certeza sobre cães: "o cachorro é o melhor amigo do homem e da mulher" e "cú de cachorro é igual de bêbado, não tem dono". Como é que sei? Só sei que é assim desde que me entendo por gente. Nunca entendi porém, esta mania de cachorro cheirar o fiofó um do outro e outro d'um. Na adolescência tomei ciência de mais uma máxima: "amigo é o cú do cachorro!" E esta estória sobre o orifício redondo e corrugado, o ânus do cachorro, conta-se, começou na tal festa do cão, um baile super hiper vale-tudo e rola-tudo e cheira-tudo, aonde a cachorrada perdeu a linha, desceu do salto, desmanchou a casinha de cachorro e a coisa toda terminou em um vergonhoso B.O. É daí então, dos fatos ocorridos na tal festa, que vem a fama do cachorro. Sabe-se que à época, pressentindo um desastre com tanto macho junto, para garantir a ordem, a moral, os bons costumes, a família, a tradição e a propriedade privada a cachorra da ministra da família canina, uma vira-lata metida a pastora decretou uma ordem absurda: na festa do cão todos deixam o cú na entrada, o cú fica na portaria!
Como cães obedientes, cada um que entrava dava o cú para os porteiros, gordos Bulldogs, sem qualquer latido ou queixume. Com a fama de amigo de festas, pouco importava com ou sem o orifício corrugado, a cachorrada queria mesmo era festejar! E seguiu o baile! Todos a caráter, etiqueta de práxis, comida a vontade: cascatas de camarões brasileiros, potes e mais potes de caviar russo, carnes brancas, vermelhas, amarelas, cruas, bem passadas, defumadas de várias partes da Europa, Ásia, África, Américas, Oriente Médio, Oceania, enfim, do mundo; e ainda presuntos de Parma, champanha francesa, vinho português, uísque escocês, cachaça de Salinas, vodka Absolut, tequila jose cuervo, gin Tanqueray, água Veen ligth em todos os bares secos e molhados comandados por Pinchers.
Na mansão alugada a cachorrada transbordava pelos inúmeros ambientes temáticos: Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público Canino, procuradorias, forças armadas, supremos e o STF. Em todos os imensos salões latia-se assuntos diversos e a droga corria solta, de molly a metanfetamina regadas com bebidas caríssimas e ao som de bandas sertanejas. O cantor do Cãozinho da porteira e Couro de cão, aquele Dogue alemão de quase dois metros quando sustentado em duas patas, era a atração principal.
Lá pelas tantas da madrugada, babando e trocando as patas e naquela situação: ninguém é de ninguém e festa estranha que cachorrada esquisita, a cãonalha misturada num único salão, entrou em pauta o assunto: lucros com a pandemia Covid-19 e os casos de preço inflacionado de máscaras, álcool em gel, sabonete e sabão de pedra; respiradores fakes, hospitais de campanha incompletos ou os que não salvaram uma vida sequer ao custo de mais de 7 milhões de reais em Minas gerais. E ainda, casos de fura-fila pela cachorrada rica, roubos e corrupção e superfaturamento na compra das vacinas. Tudo ia bem e terminaria bem se cada cachorro estivesse no seu quadrado e com a língua presa...E o assunto não fosse a Cãomissão parlamentar de inquérito da Covid-19, aberta em abril para investigar os crimes não tivesse sido jogado no meio do salão. Foi um tal de apontar patas, ranger de dentes de arrepiar pelos! O cachorro presidente da procuradoria geral, um Chihuahua terrivelmente evangelicão, ficou puto com acusações, limpava a barra, ops, os ossos do cachorro presidente, um Rascal miliciano fraquejado assim como seus filhos o que enfureceu o líder da cachorrada nas investigações do senado, um Minsk metido a comediante. O caldo entornou quando se descobriu que precisamente o cachorro dono da empresa que estava pagando propinas e superfaturando o preço das vacinas, com aval da cachorrada do estado maior das forças armadas dentro ministério da saúde passara a perna em milhões de dólares nos cachorros do Executivo, Legislativo, das forças armadas, da patrulha canina deixando de fora os cachorros do judiciário em peso. O caldo entornou! Empresas laranjas, empresas fantasmas, banco de mentirinha, vacina que nem estava sendo fabricada e superfaturamento até na compra e distribuição de hidroxicão-cloroquina e Yvermescãotina para a cura do Covid-19 somente para os vira-latas, maioria da população. Quinze dólares! O custo de uma só vacina para uma população de mais de duzentos e treze milhões de cães, dados atualizados pelo INCC - instituto negacionista de covid-19 em cães. Para uma doença que não existe, é só uma gripezinha, tinha cachorro prescrevendo no mínimo duas doses por cão e uma terceira dose de reforço. O bailão pegou fogo! Muitos estavam fora desta boquinha e cada um queria o seu osso ou ossos, leia-se dólares. A coisa ficou mais feia que briga de foice no escuro e tudo porque tinha vacina de dose única!
Choveu tapas, pescotapas, sopapos, murros, socos no focinho, nas costas e baixo-ventre; mordidas nas patas, rabos, orelhas, puxão de pelos do pescoço; dilaceração de smokings, gravatas, penteados e perucas; voadoras por todas as partes do corpo; rabos e orelhas foram arrancados e estraçalhados. Não ficou um cão sem partes do corpo decepadas. Foi uma grande cãonificina, verdadeira briga de cachorro grande e só não terminou em mortes porque a patrulha canina entrou em ação distribuindo mais porradão e gás e bombas de defeito moral sobre a cãonalha! Corre-corre danado e um fuzuê na debandada geral a cachorrada deu no pé pegando o primeiro cú que viu na frente! Vem daí a lenda: um cachorro cheira o "rabo" do outro à procura do próprio cú e as piadas: cú de cachorro é igual cú de bêbado, não tem dono, amigo é cú de cachorro e se o cachorro no governo é corrupto, melhor manter o cú-na-mão!
E a investigação da CPI Covid-19? Até hoje nenhum cachorro no poder foi preso, nem o cachorro do general ministro da saúde e nem o cachorro do presidente da república. Isto porque em país administrado e governado por cachorros tudo termina num "cheira-cú" desgraçado! Você pensou em pizza? Uau, au au au.
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