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sábado, 7 de agosto de 2021

BRAZIL: PAI

 ELE, O PAI

Sérgio Antunes de Freitas

A paternidade tem quatro fases!
Na primeira, o sujeito não tem noção do porvir. Às vezes, tem um receio distante, quando pensa na responsabilidade de zelar por outra pessoa incapaz nos primeiros anos de vida. Mas, geralmente, o desinteressado nem pensa nisso, diferentemente da mulher, envolvida pela hipótese da maternidade desde criança.
Na segunda, surpreendido com a gravidez da companheira, passa a temer pela vida do filho a cada segundo. E com o seu futuro, bem antes do nascimento. Virá com saúde? Será um bom esportista? Vai se formar em uma boa faculdade?
Começam os sonhos também. Eu vou andar de bicicleta com ele. Ou ela! Vou comprar álbuns de figurinhas. Vou levar à praia, ao cinema, ao parque de diversões.
Chega a terceira fase, na qual recebe o definitivo e honroso título de “papai”. É o tempo da realização dos sonhos, mas acrescida de muitas tarefas: trocar fraldas, pentear os cabelos, escovar os poucos dentes, tudo no maior mau jeito! E levar para a escola, perguntar como foram as aulas, dar os parabéns pelas boas notas nos exames, colocar para dormir, contando histórias e cantando músicas suaves. Nem parece aquele troglodita do futebol aos sábados.
Tudo isso vai passando, deixando rastros indeléveis de saudades emocionantes, até quando deixa de ser o pai, no formato convencional, e passa a ser “ele”, em uma quarta fase.
Um mundo paralelo começa a surgir!
- Mãe, eu vou acampar com meu namorado neste fim de semana.
- Pede para ele.
- Mas, Mãe, eu sou maior, vou com o meu dinheiro, não preciso pedir nada para ninguém.
- Pede para ele, eu já disse!
Dali a pouco, volta a própria felicidade: - Mãe, ele deixou!
- Ele é um banana! Faz todos os seus desejos.
E lá vai a filha, feliz pela expectativa do passeio e por se sentir amada e prestigiada por ele.
Quando está chegando a famosa data, a conversa é outra.
- Mãe, o que você vai fazer para o almoço no Dia dos Pais.
- Não sei ainda. Qual a sua sugestão?
- Eu adoro aquele macarrão com queijo catupiry.
- Boa ideia, vou fazer isso mesmo. Está decidido!
- Mas ele gosta?
- Ele come!
No fundo, a sábia mulher está dando o melhor presente para ele, a felicidade dos filhos.
Há outros diálogos entre mãe e filhos, nos quais ele é sujeito também.
- Mãe, eu vou fazer aquela coisa. Você sabe qual, né?
- Não vai, não!
- Por quê?
- Porque ele não vai gostar!
Assunto encerrado! Decisão tomada! Qual seria a coisa? Ninguém jamais saberá. Muito menos, ele. Mas a mãe atingiu seu objetivo com eficácia, usando o pronome trivial.
Na verdade, existe uma fase anterior a todas essas descritas.
Ainda no paraíso, também há diálogos assim: - Altíssimo, tem um indivíduo aí fora, querendo nascer para ser pai.
- Deixa comigo, Pedrão!
Uma luz se aproxima do pretendente e pergunta: - Você quer isso mesmo, meu filho? Tem certeza?
- Sim, Senhor!
- Você sabe das dificuldades, das responsabilidades, dos riscos desse desejo?
- Sim, Senhor!
Então, uma mão invisível acaricia a sua cabeça, enquanto é liberada a porta: - Vá, meu filho! Vá ser feliz!
Sérgio Antunes de Freitas
Agosto de 2021

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