TÉDIO
Acordei
assim
Noites na taverna
Uma
angústia fininha
Álvares
de Azevedo, tomando conta de mim.
Na
geladeira
Remédios
com lactobacilos
Me
informam os benefícios das bactérias
para o trato intestinal: defecação.
Uma
saudade profunda me invadiu
De
forma abissal, infinita
Pedacinhos
de morango no iogurte cheios de prazer e alegria
Preencheu-me.
A
comida dá saúde
E
eu quero prazer, gozo supremo
Sumo
escorrendo pelos cantos da boca
Laranja,
vermelho, amarelo, verde, violeta, anis.
Minha
água? H2...
Oh!
Impuseram gás, limões, tangerinas, maças artificiais.
A
cerveja, loura, encorpada, espumante, gelada
É
hoje um líquido insípido, insosso, frio
Que
desce redondo, insensível até meu estômago
E
me obriga a tomar um Engov antes e um depois
Para
digerir rótulos
Uma
arte, manha venal corrupção.
Meu
café, tipo exportação, tem gosto de cevada.
A marvada pinga não é mais uma boa ideia
Meus
grãos e carne, soja, milho, comida de gado.
Os
jornais me deprimem, a TV me engloba, internet...Opressão atroz!
O
cachorro do meu vizinho usa Chanel, D&G, Hemenergildo Zegma
Foi
adotado pelo pedigree e só late no Spa exigindo xampu com queratina,
condicionador com silicone, creme de pentear anti-frizz.
Abro
a janela e espio
O
dia passa nervoso
Buzinas
estridentes, palavrões, derrapagens.
Uma
briga sem sentido porque alguém deu preferência ao pedestre.
O
vermelho do sinal não suporta a pressa humana em carros aos pandarecos para o
nada!
Enfastiado
o sol se declina deixando para a entediada lua o plantão noturno.
E
o dia passou ou eu...
Tédio
Absoluto.
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