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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

BRAZIL COVID-19: LAMENTO

TÉDIO


Acordei assim

Noites na taverna

Uma angústia fininha

Álvares de Azevedo, tomando conta de mim.

Na geladeira

Remédios com lactobacilos

Me informam os benefícios das bactérias  para o trato intestinal: defecação.

Uma saudade profunda me invadiu

De forma abissal, infinita

Pedacinhos de morango no iogurte cheios de prazer e alegria

Preencheu-me.

A comida dá saúde

E eu quero prazer, gozo supremo

Sumo escorrendo pelos cantos da boca

Laranja, vermelho, amarelo, verde, violeta, anis.

Minha água? H2...

Oh! Impuseram gás, limões, tangerinas, maças artificiais.

A cerveja, loura, encorpada, espumante, gelada

É hoje um líquido insípido, insosso, frio

Que desce redondo, insensível até meu estômago

E me obriga a tomar um Engov antes e um depois

Para digerir rótulos

Uma arte, manha venal corrupção.

Meu café, tipo exportação, tem gosto de cevada.

A marvada pinga não é mais uma boa ideia

Meus grãos e carne, soja, milho, comida de gado.

Os jornais me deprimem, a TV me engloba, internet...Opressão atroz!

O cachorro do meu vizinho usa Chanel, D&G, Hemenergildo Zegma

Foi adotado pelo pedigree e só late no Spa exigindo xampu com queratina, condicionador com silicone, creme de pentear anti-frizz.

Abro a janela e espio

O dia passa nervoso

Buzinas estridentes, palavrões, derrapagens.

Uma briga sem sentido porque alguém deu preferência ao pedestre.

O vermelho do sinal não suporta a pressa humana em carros aos pandarecos para o nada!

Enfastiado o sol se declina deixando para a entediada lua o plantão noturno.

E o dia passou ou eu...

Tédio

Absoluto.

 

 Marina da Silva

 


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